Quando Redd e eu chegamos na escola não havia ninguém nos corredores, todos em completo silêncio em suas respectivas classes, pensamos até ter chegado atrasadas, mas ainda faltavam dez minutos. O completo silêncio era por causa da prova final, todos tinham medo dessa tão temida prova que poderia destruir nossas vidas.

— Hoje é o seu último dia de aula pra sempre – redd comentou.

— Finalmente – retruquei, andando em passos longos para a sala.

— Sério? Nenhuma nostalgia?

— Muita nostalgia, mas não quero chorar antes da prova. – soltei fazendo-a gargalhar.

— Boa prova, Malu! – falou, afastando-se em seguida.

Assim que cheguei na porta da classe todos estavam sentados, encarando o relógio. Avistei Noah sentado em uma carteira atrás da minha, aproximei-me sorrindo de leve, ele sorria também.

— Adams – cumprimentei como uma completa imbecil, enquanto me sentava em sua frente.

— Cooper – devolveu, sem deixar de sorrir.

— Silêncio, turma – a professora ordenou – a partir desse momento, podem começar suas provas. Quem sequer olhar pro lado, terá a prova anulada e repetirá o último ano todo outra vez.

Durante as próximas três horas ninguém soltou um pio, eu fui uma das últimas a terminar a prova, mas tinha certeza que tiraria nota máxima. Não estava preocupada com Noah também, estudamos juntos sobre cada um desses temas.

Após o tempo determinado um sinal anunciando o fim tocou, todos poderiam ir para casa, voltaríamos as cinco da tarde para a entrega dos resultados.

Assim que saímos da sala de aula Noah me prensou contra a parede do corredor, beijando-me.

—  Noah – repreendi, gargalhando – você não pode fazer isso aqui.

— Me desculpe, eu não resisti – sorriu de volta, sem se afastar de mim.

— Você foi bem na prova? – perguntei.

— Na verdade não sei, fiquei admirando você o tempo todo – respondeu, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

— Nem brinca com isso – encarei-o, séria.

— Relaxa, o bom de te olhar o tempo todo é que acabei vendo suas respostas.

— Idiota – bati em seu ombro, fazendo-o rir outra vez.

Foi quando de repente o celular de Noah apitou, assim que ele leu a mensagem franziu o cenho, fitando-me.

— Que porra é essa? – ele apontou o celular pra mim.

“Venha pra casa da Malu logo, urgente! De: um admirador secreto”

— Eu não faço ideia – respondi, encarando-o.

Obedecemos a mensagem e fomos para minha casa rapidamente, mesmo sabendo que provavelmente foi Redd que enviou aquela mensagem por algum motivo bobo, afinal, ela é a única além de Harry que sabe das cartas.

Assim que Noah e eu entramos pela porta, ambos ficamos estáticos ao ver minha mãe em pé, com um sorriso amarelo no rosto e Redd e Harry parados ao seu lado.

— Mãe? Não era pra você estar em Paris? – indaguei, confusa.

— Eu voltei – soltou, e foi o suficiente para que eu corresse até ela, abraçando-a.

— Por que não me disse? Eu teria ido te buscar no aeroporto.

— Eu tenho algumas coisas importantes pra contar pra você e o pro Noah – anunciou.

— Nós também temos – avisei, sorrindo.

 – E você não vai ficar nada feliz, considerando que não é minha maior fã – Noah completou.

— Vocês finalmente estão juntos, sim, eu sei – ela soltou, e Noah e eu nos encaramos ainda mais confusos – eu sei até que você perdeu a virgindade ontem, filha, espero que tenha usado preservativo!

— MÃE – berrei, constrangida enquanto Noah gargalhava feito uma hiena – como você sabe disso?

— Eu contei pra ela – Redd quase sussurrou, fazendo qualquer timidez que eu sentisse ser substituída por uma raiva enorme.

— Por que você faria isso? – continuei berrando – aliás, desde quando vocês conversam?

— É sobre isso que quero falar, mas antes vocês deviam se sentar, eu fiz até um bolo – minha mãe disse.

— Você só faz bolo quando quer que eu não fique com raiva – falei – o que foi que você fez?

— Eu vou querer o bolo – Noah soltou, dando pouca importância pros acontecimentos ao redor.

— Você não está ouvindo-a? – repreendi, fitando Noah.

— Elas vão explicar, enquanto isso vamos comer bolo – deu de ombros – Eu só quero saber o que o Harry está fazendo aqui, eu sou o novo namorado, cara. Supera. Você saiu de cena. – Noah brincou, mas o rosto de Harry não se moveu.

— Eu não namoro com ninguém – respirei fundo, fitando minhas unhas.

— Ah é? – ele ergueu a sobrancelha, puxando minha cintura para si.

— Bom, ninguém me pediu em namoro – continuei, sem encará-lo.

— Eu entendi o recado – ele sorriu, então sorri de volta.

— Tem como vocês flertarem outra hora? – Redd pediu.

— Estou tentando contar uma coisa aqui – minha mãe completou.

E então todos nós fomos para a sala, sentamos em cima do tapete, em volta da mesinha onde tinham várias comidas além do bolo, o que só provava que minha mãe realmente aprontou alguma.

— Eu vou contar logo – minha mãe respirou fundo.

— Provavelmente a Malu não vai te perdoar – Redd avisou, fazendo-me franzir o cenho.

— Perdoar pelo quê? – indaguei, realmente com medo do que ela iria responder.

— Eu sabia que o Noah era o admirador secreto.

— Como assim você sabia? – Noah cuspiu, agora parecia confuso também.

— Eu vi você parado meia hora na frente da mochila dela, colocando o bilhete, depois tirando, colocando e tirando um milhão de vezes, como uma criança insegura – respondeu, fazendo Redd e até Harry gargalharem.

— Ok, entendi – Noah abaixou a cabeça, envergonhado.

— Por que você não me contou? – indaguei, fitando-a.

— Eu precisava deixar você viver sua própria história de amor – disse com a cabeça levantada, tentando passar a credibilidade de um poeta.

— Isso é lindo, mãe – revirei os olhos – agora tenta contar a verdade.

— Até então está tudo bem? Preciso saber que você não me odeia.

— Só conte o resto – pedi.

— Por que acha que fiquei tanto tempo aqui dá última vez?

— Talvez por ter descoberto como ser uma boa mãe? – Noah ironizou, mas assim que o olhar raivoso de minha mãe desceu sobre o mesmo, ele enfiou um pedaço de bolo na boca, calando-se outra vez.

— Eu já conheço você e o Noah há muito tempo, sei cada detalhe de como vocês se conheceram e todo o resto, qualquer idiota sabia que vocês gostavam um do outro. E quando descobri isso do admirador secreto, eu soube que seria a grande história de amor clichê que minha carreira precisava.

— O que você disse??? – berrei outra vez, tentando levantar-me, mas Noah me impediu.

— Eu te avisei que ela ia ficar uma fera – Redd sussurrou.

— Você quer escrever um livro sobre a Malu e eu? – Noah franziu o cenho.

— Na verdade...

— Ela já escreveu – redd soltou, animada.

— Eu fui embora para escrever tudo, sem você desconfiar e atrapalhar meu final, e enquanto isso, deixei a Redd de espiã pra me contar como iria terminar.

— Então você sabia que ele era o admirador secreto e mentiu pra mim quando perguntei? – indaguei, fitando Redd.

— Não, eu não sabia – ela disse rapidamente. 

— Ela só sabia que você estava apaixonada pelo Noah, todo mundo sabia disso.

— Por que ninguém me contou? Teria facilitado muito – Noah retrucou, fingindo que sua cabeça estava explodindo.

— Você simplesmente contou tudo que eu te contava pra minha mãe? – fitei Redd, que mordia o lábio inferior.

— Ai, me perdoa Malu, é que ela disse que ia até colocar meu nome no livro se eu ajudasse, eu vi a minha chance de ficar famosa, sabe?

— Eu não contei pra ela sobre o admirador secreto por que queria que tudo acontecesse da forma mais natural possível – minha mãe explicou.

— Enquanto você monitorava e escrevia tudo, não é? Agora estou com medo, você instalou câmeras secretas aqui? – ironizei, entretanto todos estavam sérios agora, imaginando que eu iria surtar em qualquer momento e bem que eu queria, mas a situação era ridícula demais pra isso – Meu Deus – comecei a gargalhar sem parar.

— O que foi? – Redd indagou, provavelmente confusa com minha bipolaridade.

— Isso é patético – contei, sem deixar de rir.

— Você não está com raiva? Tudo bem eu publicar o livro?

— Por mim, tudo bem, contanto que mude meu nome – Harry soltou.

— Mãe, nenhum de seus dez livros foram publicados, e tinham até viagem no tempo, por que meu romance clichê com o Noah vai dar em algo?

— Se até eu que odeio o Noah torci por vocês, meus leitores também irão.

— Legal – noah retrucou, como uma criança.

— Eu não acho que vá dar em nada, então tanto faz – dei de ombros.

— Já tem cinco editoras interessadas, então pense bem antes de permitir que eu publique.

— Você é inacreditável – gargalhei outra vez.

— Qual foi o final? – Noah indagou.

— Ainda não escrevi. Vai ser naquela festa, quando a Malu finalmente te beijou, mas vamos ignorar a parte do sexo – soltou, fazendo-me corar outra vez.

— Como assim vai deixar de lado a parte mais legal? – Noah disse, fazendo minha mãe fingir que estava vomitando.

 – Eu preciso da ajuda de vocês pra escrever sobre a festa – ela pediu.

— Basicamente, a Malu disse que era loucamente apaixonada por mim e me beijou – noah soltou, fazendo-me revirar os olhos.

— Não foi assim, primeiro ele beijou outra menina – soltei.

— O QUÊ? – minha mãe e Redd berraram.

— Ela que me beijou e eu rapidamente me afastei e aí a Malu surtou de ciúmes, tratou a menina mal e tudo mais, foi igual a Regina George – Noah falou, fazendo-me gargalhar.

— Aí ele começou a dizer como se sentia um garotinho apaixonado quando eu falo qualquer coisa, e depois ficou igual uma criança dizendo que a música que estava tocando era nossa música tema.

— Outra? E a das duas serenatas? – minha mãe indagou, realmente curiosa, anotando cada coisa que dizíamos em seu celular.

— Ele não entende o que é limite – ironizei.

— Isso é injusto – noah reclamou – já contamos a parte que ela disse chorando que é loucamente apaixonada por mim?

— Já contamos que ele ameaçou ir embora pra sempre enquanto chorava também? – impliquei de volta.

— Isso depois que ela disse que eu despertava o pior lado de quem ela era.

— O que era mentira, por que ele é o melhor de quem eu sou – completei e Noah sorriu de modo fofo.

— Vocês são adoráveis – minha mãe disse, enquanto Redd gargalhava.

— A gente é mesmo – Noah disse, puxando-me para si pela cintura, deitei-me em seu ombro.

— Isso é um ótimo final, se vocês puderem descrever exatamente os sentimentos e falas agora – minha mãe pediu, enquanto gesticulava.

— Estamos atrasados, precisamos buscar os resultados finais na escola – levantei-me rapidamente.

— Faz outro bolo, de preferência com cobertura de chocolate, aí você me chama que posso falar de sentimentos por horas – Noah disse – mas hoje não vai rolar, sogrinha – completou, levantando-se também.

— Nunca mais me chame assim, garoto – minha mãe repreendeu, fazendo Noah sorrir.

— Nós também precisamos ir para a escola Redd, o mais rápido possível, tem alguma surpresa hoje! – Harry avisou, exageradamente animado.

— Corre Redd, antes que o nerd infarte – noah debochou, fazendo com que Harry apontasse o dedo do meio para ele – que coisa feia, menino de ouro, não vai mais ganhar surpresinha da escola se continuar nesse caminho – Noah continuou implicando com Harry, enquanto saíamos da minha casa.

— É por isso que ele te odeia – soltei, quando Harry e Redd entraram no carro do outro lado da rua.

— Não – Noah me entregou o capacete – ele me odeia por que eu ganhei o maior presente de todos, o maior troféu por qual ele já lutou, o coração da garota mais linda do mundo – brincou quase em um sussurro, enquanto me encarava, juntando seu corpo ao meu.

— Entendi – sorri, sentindo meu rosto corar e um frio enorme em minha barriga, sempre achei idiota usar essa expressão, mas agora faz sentido, pareciam ter borboletas voando em meu estômago todo momento que Noah me encarava ou falava essas coisas bobas.

— A nossa história de amor virou um livro, como você se sente?

— Eu me sinto loucamente apaixonada por você – repeti essa frase que ele tanto gostava, fazendo-o sorrir.

— Eu sou loucamente apaixonado por você – sussurrou em meu ouvido, fazendo aquele frio na barriga percorrer por todo o meu corpo.  

— Sem a parte da pegação na moto hoje – brinquei, afastando-me.

— Que droga, eu estava iludido – brincou de volta, e então finalmente subimos na moto e fomos em direção a escola outra vez.

Assim que Noah e eu entramos na sala, nossos resultados estavam em cima da mesa, Noah havia tirado um sete e eu um dez.

— Devia mesmo ter olhado minhas respostas – exibi-me.

— E ganhar fama de nerd? Jamais! – brincou, fazendo-me rir – sete já dá pra passar de ano.

— Primeiro quero dar parabéns para todos vocês, fizeram uma excelente prova – a professora começou a dizer – Resolvemos presentear o aluno com as maiores notas durante todo ensino médio, o aluno mais dedicado aos estudos. E hoje, temos definitivamente uma vencedora oficial: Maria Luiza Cooper – soltou, deixando-me realmente surpresa. Ser uma nerd excluída me deu alguma recompensa no final – Venha aqui, querida! – ela pediu e então levantei-me da cadeira, segurando-me para não cair para trás, definitivamente não estou acostumada a receber tanta atenção.

Todos os alunos aplaudiam, especialmente Noah que soltava uns assobios estranhos.

— Obrigada – disse sem graça, enquanto ela me entregava um certificado.

— Obrigada você por ser essa aluna exemplar – ela tinha um sorriso orgulhoso no rosto, nem minha mãe já me olhou com tanto orgulho assim – e o seu prêmio é algo que todos nós sabemos que é o seu sonho e na verdade, é o de qualquer um. Uma bolsa integral na faculdade de Harvard. Parabéns! – nesse momento tudo pareceu parar, sinto um nó em minha garganta.

 As palmas haviam diminuído, todos deviam estar pensando agora: que droga, eu devia ter estudado mais e ganhado essa bolsa, contudo, eu não consigo sentir felicidade, nem orgulho de mim mesma, a única coisa que consigo pensar é em como eu não quero receber esse prêmio.

 Levei meus olhos para Noah que tinha o mesmo olhar confuso que eu, eu não quero ir pro outro lado do mundo. Eu definitivamente não quero. Sinto aquele nó em minha garganta se intensificar, meus olhos ardem mas não consigo chorar, apenas tem algo preso aqui, não sei como me sentir.

Sabe aquele sonho que você acha que é impossível demais pra chegar um dia? E quando chega você percebe que definitivamente não pensou a respeito sobre?

A verdade é que esse é o pior momento de todos, isso significa o fim de tudo entre mim e Noah. Não existe meio termo ou relacionamento a distância quando se trata de morar em um campus do outro lado do mundo em uma faculdade tão rigorosa.

Minha cabeça está girando, a professora diz algumas palavras que não consigo ouvir, aquele certificado de melhor aluna em minha mão parece estar pesado demais, e em frente aos meus olhos, Noah me encara com um sorriso fraco, não posso culpá-lo por não estar feliz de verdade, nem eu estou.

Sinto minhas pernas ficarem fracas e então caio no chão, várias pessoas correm preocupadas, aproximando-se de mim e a professora está gritando algo que não consigo entender, antes de fechar os olhos totalmente, vejo Noah correr para perto de mim, pegando-me no colo e depois tudo ficou escuro.