Eram seis horas da tarde, o apartamento de Redd e Harry havia se tornado uma bagunça. Eu e Noah estávamos deitados um do lado do outro no teto do prédio.

— É proibido subir aqui – Redd avisou.

— Você não devia ter nos contado que tinha como – Noah retrucou.

— Tem pessoas fazendo sexo em todo lugar – a baixinha reclamou.

— É o que acontece em festas – o loiro ao meu lado constatou o óbvio, enquanto acariciava meu cabelo. 

— Eu sei eu sei, só estou com medo da minha mãe chegar cedo – um vento forte me atingiu, fazendo-me ir para trás, juntando meu corpo ao de Noah involuntariamente.

— Eu gosto disso – Noah brincou, fazendo-me corar.

— Desculpe-me, só está frio – expliquei, eu devia me afastar, mas não queria, essa parte que eu odeio em mim não permitia.

— Tudo bem – ele sussurrou, aproximando-se ainda mais, abraçando-me.

— Sei que é difícil, mas tentem não transar aqui em cima – Redd falou.

— Você só fala besteira – retruquei, revirando os olhos.

— Não finge que é mentira, essa tensão sexual entre vocês está insuportável.

— Ela tem razão – noah concordou, então tentei afastar-me, mas ele não permitiu.

— Você é um idiota – bati em seu ombro, fazendo-o sorrir – e precisa parar de me segurar quando me afasto de você.

— Eu nunca vou parar, sempre vou te forçar a ficar perto de mim – brincou, fazendo-me sorrir igual uma imbecil. Qual é o meu problema? Não consigo me controlar.

— Ok, eu vou vomitar – redd implicou – Malu, você está com essa roupa da escola até agora? Vem comigo que vou te deixar decente para uma festa. E Noah, essa festa é basicamente pra você se sentir melhor, então desça e converse com as pessoas – completou e desceu ás escadas antes que pudéssemos responder.

— Eu não quero ir – reclamei, virando-me para Noah, ficando cara a cara.

— Então não vamos – ele sussurrou, encarando-me – vamos ficar deitados aqui, vendo o céu estrelado, e quem sabe, finalmente conversarmos sobre nós dois. — disse em tom de brincadeira, mas eu sei que no fundo é verdade.

— Ok, eu já vou descer – pulei, ficando-me de pé.

— Malu...

— Não, Noah – interrompi – eu mal consigo ficar perto de você agora sem me sentir uma garotinha idiota que ri de tudo que você fala.

— Sério? Por que na verdade isso é ótimo pra mim – retrucou, levantando-se também.

— Para com isso – pedi, sorrindo outra vez – tá vendo? Uma idiota! – dessa vez ele quem sorriu, gargalhou na verdade.

— Eu só quero saber se o que eu sinto por você é recíproco, ou se eu realmente fui o imbecil que me apaixonei e destruí nossa amizade.

— Eu nem consigo levar a sério nada disso – ele fitou-me decepcionado – quer dizer, você nem faz o tipo que seria admirador secreto de alguém, Noah.

— Não faço o tipo? – o maior franziu o cenho – às vezes parece que você me colocou em uma caixa igual o resto dessa escola. Esse estereótipo ridículo de popular da escola nunca nem se encaixou em mim de verdade, você sabe disso, é quem me conhece melhor, não sei por que age assim.

— Desculpe-me, eu sei. Eu só não entendo por que você se apaixonaria por alguém como eu.

— Você tá brincando? – ele aproximou-se de mim – sabe a primeira coisa que pensei quando vi você? Primeiro: por que essa garota louca está gritando comigo? – gargalhei – e depois, eu pensei, meu deus, é a garota mais linda que eu já vi – levantei os olhos, fitando-o – e quanto mais eu te conhecia, eu percebia o quão incrível você é, de todas as formas, até nos detalhes bobos. A forma que você se empolga assistindo seu seriado preferido, e chora vendo Titanic pela milésima vez, como suja a boca inteira enquanto come literalmente qualquer coisa, e quanto melhor eu te conhecia eu só conseguia pensar: eu nunca vou merecer uma garota dessas.

— Noah – sussurrei, engolindo seco.

— Você é a pessoa mais incrível que eu já conheci – ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, nossos rostos estavam próximos, eu conseguia sentir sua respiração tão perto, o que aconteceria se eu avançasse?

— Malu – era a voz de redd, afastei-me de Noah rapidamente – você vem ou não?

— Já estou indo – retruquei, e então encarei Noah.

— Vai lá – ele disse – depois terminamos isso – sorri e afastei-me sem dizer nada.

Desci as escadas rapidamente sentindo meu coração acelerado, eu nunca havia me sentido desse jeito, era incrível e ao mesmo tempo horrível. Assim que desci todos os degraus avistei redd, parada em frente a porta de seu apartamento, ela me puxou pelo braço e levou-me para seu quarto.

— Você precisa conversar com meu irmão, ele pensa que vocês ainda vão voltar e ter dois bebês nerds – ela soltou, enquanto passava um pó em meu rosto – e a coisa entre você e o noah, obviamente não é só amizade.

— Eu já falei com o Harry – digo, fechando os olhos enquanto ela passa algo em meu olho.

— Só deixe claro. Eu sei que você não o deve nada, ele foi um tremendo idiota com você, mas faça isso por mim. Não quero que ele se machuque.

— As vezes eu esqueço que você é irmã dele – retruquei, fazendo-a sorrir.

— Eu só quero poder torcer pra você e o Noah em paz, sem ter que suportar o Harry reclamando e ouvindo música triste o dia todo.

— Ele ouve músicas tristes? – gargalhei, uma parte em mim estava feliz por fazê-lo sofrer.

— Claro que sim, Harry está competindo com o Noah  pelo seu coração, ele sabe que não tem chance alguma. 

— Pare de repetir isso, não tá rolando nada entre o Noah e eu. Ele mentiu pra mim também, esqueceu? 

— Eu dou uma semana até vocês fazerem sexo selvagem – soltou, fazendo-me arregalar os olhos.

—Você está louca – retruquei.

— Pense pelo lado bom, pelo menos vai perder a virgindade com seu melhor amigo, e não podemos esquecer o fato dele ser Noah Adams. Eu amaria ter perdido minha virgindade com ele.

— Meu Deus, você é tão suja! – gritei, empurrando-a.

— Tanto faz – ela deu de ombros – você está pronta – olhei-me no espelho, Redd faz uma maquiagem como ninguém, em poucos minutos eu parecia uma deusa.

— Eu amei – exclamei.

— Eu sei, agora coloque o vestido que deixei em cima da minha cama pra você – ordenou, arrumando os peitos dentro do vestido – preciso ir transar com alguém – completou, saindo em seguida.

Coloquei o vestido vermelho super ousado e me senti outra pessoa, uma pessoa decidida que fazia o que bem entendesse. Segundos depois que sai do quarto, um garoto veio em minha direção.

— Você é tão gostosa – o moreno que eu não conheço soltou – me dá uma chance? – completou com um sorriso torto.

— ah, é, bem – gaguejei enquanto ele me encarava – eu preciso ir – e então sai andando em passos longos.

Ok, definitivamente um vestido sensual não vai mudar minha personalidade. Uma garota que honrasse seu vestido vermelho o beijaria imediatamente, mas eu, apenas questiono quando se tornou normal chamar uma garota de gostosa em uma festa.

 Continuo andando por alguns segundos, observando várias pessoas se beijando, sentia-me em um motel, ou um site pornô, tanto faz. Uma música eletrônica alta soava no fundo, continuei andando por mais alguns segundos, até que avistei Noah. Ele não estava sozinho, tinha uma garota, uma garota beijando-o. Ele estava beijando alguém.

Sinto meu coração disparar e um nó se forma em minha garganta, viro-me de costas antes que pudesse ver tal cena por mais de dois segundos, e volto a andar em passos longos pra longe dali. Qual é o problema do Noah? Em um minuto tem todo um discurso e finge que é apaixonado por mim e depois beija outra? Não faz o menor sentido. Sinto-me uma estúpida por ter, por um segundo, acreditado em algo que ele disse. De repente paro de andar, respirando fundo.

Em outro dia eu iria embora e choraria a noite inteira, mas não hoje. Hoje eu sou a Malu sensual e decidida que usa um vestido vermelho e recebe cantadas.

Esse idiota vai se ver comigo.

Dei meia volta e voltei a andar em direção a Noah que agora apenas conversava com a garota insuportavelmente bonita em sua frente.

— Oi – cumprimentei, mas não os dei tempo de responder – então Noah, você se lembra de um dia atrás? Quando você estragou nossa amizade dizendo que era apaixonado por mim?

— Você quer falar disso agora? – indagou, estreitando os olhos.

— Por quê? Estou atrapalhando seu flerte? – impliquei, cruzando os braços.

— Do que você está falando? – Noah pareceu ainda mais confuso, irritando-me ainda mais.

— Do que eu estou falando? – berrei, impressionada com a cara de pau – Eu vi vocês se beijando, seu falso.

— Sobre isso – a garota começou a dizer algo.

— O assunto não é com você, lindinha – interrompi sentindo-me a Regina George e de repente Noah sorria.

— Você está com ciúmes? – o loiro perguntou, olhando-me daquele jeito insuportável, com aquele sorriso bobo, deixando suas covinhas irritantemente fofas a mostra.

— Por que eu estaria com ciúmes? Eu só gosto de pessoas constantes em suas decisões. Você não devia falar que é apaixonado por alguém e depois beijar outra – falei como se fosse óbvio.

— Era sobre isso que a Lú estava tentando te explicar – Noah disse, ainda sorrindo, sem tirar os olhos de mim.

— Eu o beijei, mas ele me interrompeu logo – explicou-se e eu senti meu rosto queimar de vergonha no mesmo instante – Eu só não resisti depois de vê-lo tão triste no velório, eu sinto muito.

— Eu sou uma idiota – sussurrei, fechando os olhos com força e Noah gargalhou.

— Está tudo bem, eu também iria surtar se alguém beijasse o meu namorado. Enfim, já vou embora, boa festa pra vocês! – ela disse, parecendo ainda mais envergonha que eu.

— NÓS NÃO NAMORAMOS! – eu gritei, enquanto a moça se afastava.

— Você quer conversar sobre isso? – Noah indagou, ainda me encarando feito um bobo.

— Definitivamente não – respondi, sem encará-lo.

— Ok – ele concordou, claramente segurando o riso – você está gata demais.

— Cala a boca – segurei o riso também, ainda sem encará-lo.

— Me senti em um daqueles filmes em que a mulher gata e fodona fica com ciúmes do cara bobinho apaixonado por ela, daí ele fica super feliz e ela fica com raiva – brincou, enquanto gesticulava super animado.

— Não tem filmes assim – retruquei, esforçando-me muito para não rir.

— Bom, isso daria um ótimo filme – retrucou.

— Fique quieto enquanto eu me recupero desse momento constrangedor, Noah – pedi e ele sorriu outra vez.  

— Sei que não quer ouvir isso agora, mas essa é nossa nova música tema – referiu-se a música What About Us que tocava em alto som.

— Eu te odeio – soltei, finalmente cedendo e gargalhando, ele ria também.

— Você sabe que isso de música tema sempre foi uma indireta, não é?

— Eu só percebi no dia do baile. Antes achava que você era apenas um amigo muito dedicado – falei, parando de rir.

— Sério? Mesmo com as duas serenatas? E todas as músicas românticas? – indagou, franzindo o cenho.

— É, pensando agora faz sentido.

— Um dia você vai me perdoar? – perguntou de repente – Eu preciso saber, esqueça que meu pai está morto, não precisa pegar leve, apenas seja sincera comigo.

— Você quer a verdade? Eu não faço ideia, Noah. Por que eu olho pra você, eu flerto com você, como sempre fizemos, e então me lembro que você mentiu pra mim.

— Eu sei, eu sou um idiota, um grande idiota. Mas eu não ligo de esperar, eu posso esperar você conseguir me perdoar por anos, eu só quero saber se existe alguma chance.

— Chance de sermos como antes ou outra coisa?

— Nessa essa altura eu aceito qualquer coisa, ser seu escravo até minha morte, seu servo mais leal – sorri, revirando os olhos – até mesmo voltar a ser só seu amigo, mesmo que isso doa mais que tudo.

— Eu só não quero ser a pessoa que sou ao seu lado, não quero sentir ciúmes, não quero agir feito louca assim, eu não sou essa pessoa, você despertou o pior lado de quem eu sou – digo sem pensar, e ao notar seu olhar, entendo o que eu disse.

— Eu entendo. Prometo que vou te deixar em paz – soltou em baixo tom e então afastou-se e eu apenas fiquei ali, parada vendo-o sair dessa festa.

Eu sempre digo a coisa errada, sempre faço a coisa errada. Sinto minha cabeça girar, de repente aquela música estava muito alta.

Eu não sei por que disse algo tão cruel, quer dizer, não posso culpá-lo por minhas reações a qualquer coisa que ele faça serem extremamente exageradas. Não posso culpá-lo por ser loucamente apaixonada por ele.

Eu não deveria conta-lo isso? Não devia conta-lo que sou completamente apaixonada pelo jeito que ele recita friends de cor enquanto assiste? Ou como ele come literalmente qualquer comida em menos de trinta segundos? Não devia conta-lo que eu morro de ciúmes por que dói mais que tudo vê-lo com outra?

Quando me dou conta estou correndo em direção a saída dessa festa, preciso contá-lo o quão apaixonada por ele eu sou.

— Noah – chamei, ouvindo minha voz ecoar por aquele estacionamento gigante e vazio.

— A gente tinha uma coisa boa, sabe? eu nunca quis ser quem desperta seu pior lado.

— Eu falei isso sem pensar...

— Não foi, eu destruí tudo me apaixonando por você e sinto muito – seus olhos estavam cheios de lágrimas, o que fez com que eu me sentisse ainda pior –  Sinto muito pelo primeiro bilhete até o último, sinto muito por não ter sido sincero quanto aos meus sentimentos, eu sinto muito por tudo isso. Você sempre vai ser a melhor parte de mim, mas eu não quero ser ruim pra você e é tudo que eu tenho sido ultimamente. Eu vou me mudar, hoje mesmo. Meu pai não está mais aqui e não tem mais nada que me prenda.

— O que foi que você disse? – senti meu coração congelar.

— Eu já estava pensando sobre isso, e é melhor assim. Você vai ficar bem, Malu, eu sei disso. Se você fugir de mim, ficar o mais longe que conseguir, ficará bem – Uma lágrima caiu por seus olhos.

— Você não vai fazer isso comigo – de repente tinha lágrimas escorrendo por meu rosto também – você não vai fugir, Noah, não vai ser um covarde. Eu nunca vou te perdoar, está me ouvindo?

— Eu sinto muito – ele pegou seu capacete e a chave da moto que estava em seu bolso.

 Foi então que fui completamente irracional, andei até ele feito louca, meus pés pareciam pegar fogo e não me deixavam parar, a ideia de ele partir me alucinava. Quando estava perto o bastante o beijei, com desespero e anseio, sem pensar em mais nada, após poucos segundos ele passou a retribuir com desejo, e eu me perguntei por que nunca tinha feito isso antes. Após algum tempo o beijo tornou-se calmo só então notei o que estava fazendo e tudo pareceu fazer sentido. Sabe o momento da sua vida que todas as peças parecem se encaixar e você pensa: poxa, era aqui que eu sempre devia estar. Era essa a sensação.

Ficamos por longos minutos nos beijando, e quando o ar faltou, afastei-me o mínimo possível deixando nossos narizes ainda colados, e então praticamente sussurrei:

— Você não vai pra longe de mim por que prometeu que nunca faria isso, você prometeu – coloquei minhas mãos em seu rosto – Eu te amo, Noah Adams, eu sou loucamente apaixonada por você e isso desperta o meu pior lado, esse lado insano que eu sequer sabia que estava aqui dentro, mas a pessoa que eu sou ao seu lado, essa pessoa é o melhor que eu posso ser. Você é o meu melhor, sempre foi.

— Eu pensei que você nunca fosse dizer – ele sussurrou e nós dois rimos – eu também te amo, eu sempre vou te amar – continuou e então voltou a me beijar. Não pararíamos tão cedo.