Fazia uma tarde sol abafada e eu ainda caminhava,minha pele antes morena,já estava pálida.Meus cabelos,muito longos e uniformes,se aderiam á minha pele de um jeito irritante,deveria mantê-los presos.Os carros passavam por mim aparentando pressa para chegar em algum lugar...naquele momento eu também gostaria de saber a verdadeira direção que deveria tomar.

A verdade é que aquelas imagens não saíam da minha mente.Sempre me disseram que o tempo apaga tudo e no final as coisas se resolvem,mas já se foram quase seis meses e nada...talvez até o tempo tenha concluído que não é capaz de apagar algo tão vívido.

Tudo bem que hoje eu acordei querendo menos tempo ocioso para lamentar e me afogar na minha piscina de revoltas,mas ainda sim,sinto que preciso dedicar um certo tempo ás minhas confusões,compartilhar meu desespero com uma letra de música,enfim,que me dê a impressão de que não sou a única a passar por isso e nem serei a última.

Ele me respondeu um "que bom,seja feliz" seco,quando eu disse que deveríamos seguir vidas diferentes.Não pude ver sua expressão,por que seu rosto estava oculto,como uma parede de ressentimentos,mas agora me dei conta de que estava realmente sozinha e que a possibilidade de felicidade havia morrido junto com ele.

Cheguei em casa,não havia ninguém,provavelmente meu pai havia esticado o horário no trabalho.Contemplei aquela sala,com poucos móveis e muito espaço.Me aproximei do espelho mal iluminado que havia em frente á porta de entrada.Meu reflexo parecia uma distorção baseada no que eu fora e no que sou agora.Meus olhos úmidos enfrentaram minha própria imagem.