A Última Chance escrita por Caroline Oliveira


Capítulo 10
O baile


Notas iniciais do capítulo

Olá!!!! Tudo bem? Prontos para mais um capítulo?
Ele provavelmente vai estar bem longo, mas eu sempre faço capítulos com mais de 3000 palavras então acho que vocês não vão se importar muito, né? Espero que gostem! Boa leitura!



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À noite...

Lúcia Pevensie

O salão de baile estava deslumbrante. Ouro, cristais e flores copo-de-leite compunham a ornamentação requintada. O local estava relativamente cheio quando desci. Avistei a família real de Arquelândia, bem como a do duque de Galma. Edmundo conversava com o noivo da princesa Neriah, Tácito.

— Está linda, Lu – Pedro surgiu ao meu lado, trajando azul quase preto, cinza e prata. Sorri para ele, feliz com o elogio.

Havia escolhido um vestido marfim dourado de busto trabalhado em pedras e brilho. Era marcado em cintura império por uma faixa cintilante de cetim claro. Os cabelos estavam soltos em cachos nas pontas, exceto pelas mechas da frente, presas pela tiara dourada.

Caminhamos em direção a Caspian e Liliandil, que estavam no altar baixo que precedia as escadarias. O noivo trajava marfim, dourado e vermelho profundo, contrastando com o vestido azul claríssimo de Liliandil. A coroa real cravejada de joias repousava na cabeça de Caspian, ao passo que os cabelos de Liliandil estavam presos num coque trabalhado em tranças que deixaram mechas loiras caídas emoldurando seu rosto.

— Tenho que te parabenizar pelo noivado – Disse Pedro e trocou um abraço com Caspian, com as típicas tapinhas nas costas.

— Espero que sejam felizes – Eu disse a Liliandil, pegando suas mãos – E espero que nos tornemos amigas.

Fui sincera ao dizê-lo, apesar de não ter certeza de sua felicidade. Lembrei-me da primeira coisa que Caspian me disse quando perguntei sobre uma rainha: “nenhuma se compara à sua irmã”. Ele amava Susana, até um cego podia notar isso.

— Que ocasião auspiciosa! – Fomos surpreendidos pela voz do Tisroc, que descia as escadas atrás de nós com sua primeira esposa – É grande a satisfação de Tashbaan testemunhar a união de um companheiro monarca com sua bela noiva!

— Nós agrademos pela gentileza de suas palavras – Caspian respondeu e Pedro e eu nos entreolhamos. Caspian estava ciente, assim como nós, de termos que pisar em ovos quando se tratava dos discursos amistosos da realeza calormana.

Ahadash se aproximou de nós.

— Deixe, portanto – Ele indicou uma das entradas do salão de baile – que eu lhes ofereça os presentes de noivado de Calormânia, como prova não somente de nossas felicitações, mas da esperança de uma aliança entre nossas nações!

Uma música diferente começou a ser tocada pela orquestra talentosa de faunos e telmarinos.

Da entrada indicada, saiu um grupo de dançarinas calormanas, vestidas com diferentes modelos de blusinhas – que deixavam a barriga reta à mostra – e saias – fluidas, com várias camadas de tecido que acompanhavam seus movimentos -, todas na mesma paleta de cores: roxo, laranja e rosa, como um pôr do sol.

Cada uma das moças trazia baús de madeira ou bandejas de prata, com joias e objetos de ouro, prata, bronze e porcelana.

Ao pousarem tudo ao seu respectivo lado, elas começaram a dançar, uma coreografia sensual e artística que usava muito os braços, ombro e principalmente os quadris. Elas estavam adornadas com muitas joias, os olhos bem marcados de preto. A maioria delas era bastante bronzeada, de beleza sedutora e marcante, os cabelos geralmente muito pretos.

Aos poucos, os convidados foram animados com a coreografia das moças, acompanhando a música com palmas. Entrei na onda e até sorri, era realmente muito sincronizado e encantador.

— Rainha Lúcia – Chamou-me uma voz feminina. Deparei com Neriah, princesa da Arquelândia, que me reverenciou.

— Olá, alteza – Cumprimentei.

— A vossa irmã, rainha Susana, não virá ao baile?

É, eu sabia que uma hora ou outra iam reparar. Ela não viria, eu tinha certeza. Não ia querer ver Caspian e Liliandil comemorando – se é que eu podia chamar a expressão de Caspian de festiva – o noivado.

— Eu creio que ela não virá – Informei com pesar.

— O quê? – A princesa exclamou indignada – Ah, mas ela virá, sim! Ou eu não me chamo Neriah!

E me deu as costas, segurando as barras do vestido verde escuro e caminhando rumo as escadas com determinação.

— Neriah! – Tentei chamar discretamente, mas ela ou não me ouviu por causa da música, ou me ignorou. Balancei a cabeça em negativa e fui atrás dela.

Pedro Pevensie

Vi Lúcia deixar o meu lado e subir as escadas atrás da princesa arquelandesa. Ignorei a pressa das duas e continuei apreciando a apresentação das meninas. A sacerdotisa Katrizia as observava da plateia, a expressão rígida, que não denunciava se ela estava satisfeita ou não com a performance.

Como parte da coreografia, as moças abriram o círculo entre elas e passaram a rodopiar e a dançar pelo salão, aproximando-se da plateia que as admirava. Uma delas veio até nós, Hiandra, abaixando-se para se equilibrar em uma perna e lançar o tronco para trás enquanto movia os braços e as mãos. Ela era com certeza a mais habilidosa delas: a mais delicada, flexível, sincronizada com a música, um verdadeiro talento. Seus olhos castanhos encontraram os meus e esboçou um sorriso discreto enquanto eu sorria como um bobo para ela.

Hiandra se voltou para as outras dançarinas para continuar a coreografia e eu a teria seguido com o olhar se o semblante do Tisroc não tivesse me chamado a atenção. Era um olhar consumidor que ele direcionava a ela. Foi nesse momento também que percebi a expressão raivosa da rainha calormana, que fulminava de Ahadash a Hiandra, como se a garota tivesse alguma culpa.

Era como Caspian havia dito: infidelidade era normal para aqueles monarcas e as mulheres que sofressem com seu desprezo e desejo sem fim. Era um absurdo.

 

Susana Pevensie

Eu encarava o céu estrelado através das portas de vidro da sacada. As horas passaram mais rápido do que eu gostaria. O sol se pôs como se tivesse atrasado para um compromisso noturno, pois correu o céu numa velocidade assombrosa.

Tentei não pensar em Caspian, tentei de verdade. Pensei nas descobertas que fizemos sobre o rio Ruidoso, que abrigava uma gruta profunda que podia abrigar a lança que a profecia mencionava. Ponderei sobre os relatos de que o rio Beruna estava muito, mas muito abaixo da capacidade, sobre a seca se alastrava por Nárnia em ritmo frenético e que Caspian estava cada vez mais preocupado. Olha só. Caspian outra vez.

— Que motivos eu tenho para ir a esse baile? – Caminhei para o guarda roupa. Ao chegar, abri suas portas e joguei o peso do corpo para a perna esquerda. – Ver Caspian rodopiar pelo salão com Liliandil nos braços como fez comigo no seu baile de coroação? Aturar a corte de Calormânia me fulminar com os olhos a cada passo que dou?

Uma batida rápida e contida na porta interrompeu meu monólogo com o guarda roupa.

— Rainha Susana, sou eu! Neriah! – Anunciou a voz da princesa.

— Neriah, o que está fazendo? – A voz de Lúcia inquiriu.

Franzi o cenho, mas caminhei até a porta para abri-la. Sorri quando vi Lúcia e Neriah resmungando entre elas, discutindo algo que não discerni.

— Viemos levar você para o baile – Anunciou Neriah e as duas invadiram o quarto.

— Me... levar? – Repeti confusa e fechei a porta. Minha irmã disparou para o guarda roupa, enquanto a princesa da Arquelândia caminhou para o porta joias e para as maquiagens. – Esperem, para que isso tudo? Eu não vou!

— Ah, você vai sim! – A voz de Neriah soou mais como um pedido do que como uma contestação – Aquela festa não vai ter a menor graça sem você. Aliás, eu não entendo: o rei Caspian é tão amigo de vocês! Por que deixaria de prestigiá-lo num momento tão importante? Tem algo contra a noiva?

Eu conhecia Neriah havia dois dias no máximo. Dois dias. Tentei não ficar ofendida com o fato dela estar se comportando como minha amiga íntima.

— Não! – Esclareci, mas me contive depois – Não tem nada errado com ela. É mais complicado do que imagina.

— Então depois você me explica – Disparou – Agora vá se trocar!

— Susana – Lúcia chamou e se aproximou de mim – Eu também pensei que a ideia da princesa era uma loucura, mas... – Ela pegou minhas mãos – Vá ao baile. Se arrume, se perfume, e se divirta! No mínimo, você vai conhecer várias pessoas diferentes, inclusive algum príncipe gato – Soltei o ar, sorrindo – E no máximo... é uma oportunidade de você e Caspian virem se isso é realmente o que querem.

— Acha que Caspian vai desistir do noivado apenas por me ver bonita? – Ergui uma das sobrancelhas.

— Não é que um vestido vá resolver o problema – Falou com obviedade – Mas os homens costumam ser muito visuais. Talvez um pouco de ciúme caia bem.

Eu não estava acreditando que iria dizer isso, mas...

— Está bem, eu vou! – Respondi.

Lúcia exclamou um “isso” antes de voltar ao guarda roupa. Escolheu para mim um vestido ombro a ombro com um leve decote, cujas mangas eram justas até o pulso. Sua cor era vermelha; o busto e as mangas eram trabalhados em dourado e a saia era genuinamente vermelha e armada, com bordados na barra.

— Minha ama me deixava brincar com seus cabelos desde criança – Comentava Neriah enquanto escovava meus cabelos – Então, tenho um pouco de prática com penteados.

Ela fez uma espécie de tiara de tranças, deixando o restante dos meus cabelos soltos em cachos. Ela colocou alguns adornos dourados em cada nó da trança e escolheu um par de brincos de flores e uma pulseira dourada para combinar.

Com mais alguns poucos toques finais, como uma maquiagem leve, ressaltando a cor dos lábios, eu estava pronta. Sequer sabia o que me esperava, mas enfrentaria.

— E Caspian que te aguarde – Lúcia decretou por fim.

 

Caspian X

A dança das moças acabou e todos fizemos questão de parabenizá-las com merecidas salvas de palmas. Ahadash não comentou, mas eu imaginava que fossem sacerdotisas de Tash, o deus da Calormânia.

— Deixe que eu apresente duas mulheres ilustres e excepcionais! – Anunciou o Tisroc quando os ânimos se acalmaram.

Uma das moças era a aparente protagonista do número artístico das dançarinas. Era uma bela moça, podia ter a idade de Susana ou um pouco mais que isso.

A outra mulher, que deveria ser mais velha que eu pouca coisa, era um pouco mais enigmática. Ela era bastante pálida, de um jeito doentio, não devia ser calormana. Os cabelos eram muito cacheados e longos, adornados com tranças e muito ouro. O que mais me intrigou foram seus olhos, estranhamente cintilantes e cuja íris tinha um formato ligeiramente oval.

— Esta é a minha joia – Ahadash estendeu a mão para a primeira, a dançarina – Hiandra.

— É uma honra, majestades – Reverenciou a mim, Liliandil e Pedro.

— A honra é nossa – Pedro respondeu. Hiandra demorou o olhar no dele, como se já se conhecessem. Era nítido o encanto de Pedro por ela.

— E esta é a Grã Sacerdotisa de Tash – Indicou o Tisroc a mulher misteriosa. – Katrizia.

Hiandra desviou o olhar quando a sacerdotisa foi apresentada, eu não saberia dizer por quê.

— É um prazer conhecer figuras tão lendárias – Sua voz era grave e cortante, um misto de agradável e incômoda ao ouvir – Sua fama corre o continente, rei Caspian. O título de Navegador lhe cai muito bem.

— Obrigado – Respondi.

O Tisroc pigarreou.

— É uma pena que a rainha Susana não esteja conosco – A menção de Susana vinda por sua boca me trouxe uma sensação péssima. Ahadash tinha consciência disso, tive certeza. – Seria uma honra para mim que ela compartilhasse uma dança com meu filho mais velho.

— A rainha deve ter tido seus motivos para não vir – Liliandil retrucou.

Foi quando o Tisroc olhou além de nós, para as escadas. Ergueu uma das sobrancelhas.

— Quais sejam os motivos – Sorriu de canto – Creio que foram superados.

— Não acredito que ela veio – Pedro murmurou e eu segui seu olhar até as escadas.

Senti meus lábios entreabrirem, meus olhos fixos nela. Estava entre Lúcia e a princesa Neriah, usando um vestido vermelho e dourado. Os cachos acompanhavam os movimentos delicados ao descer os degraus, a feição gentil e simultaneamente imponente que o rosto trazia... Susana estava linda.

Logo percebi que não fui o único a admirá-la, já que todos os cavalheiros do salão também pararam para vê-la descer, o que me incomodou.

Ao chegar à metade da escadaria, nossos olhares se encontraram. Ela parou de andar por um brevíssimo momento, mas continuou e desviou o olhar do meu ao passo que um sorriso leve surgia em seu rosto.

Neriah se aproximou primeiro, sorrindo.

— Não tive oportunidade de felicitá-los, majestade – Ela reverenciou a Liliandil e a mim. Senti-me envergonhado. Com certeza a estrela deve ter percebido a forma que olhei para Susana. – Que a vossa união seja próspera.

Assenti e Liliandil disse “obrigada”.

Lúcia se colocou ao meu lado e Susana veio de frente até nós.

— Também quero parabenizá-los – Assumiu uma expressão séria. Eu odiava com todas as forças quando ela me olhava daquele jeito. Era o mesmo olhar fatal de quando eu quase ressuscitei a feiticeira branca... decepção, ressentimento... eu não saberia definir.

Não imaginei que seria uma situação tão difícil... ter minha noiva à minha direita e a mulher que eu amava bem ali, na minha frente...

Não consegui dizer nada.

— Rainha Susana – Pronunciou o Tisroc, seu tom de voz me causando ânsia. – Pensei que não teríamos o prazer de tê-la conosco.

Susana sorriu o mínimo possível.

— Espero que estejam aproveitando a festa – Falou simplesmente.

— Com licença – O filho mais velho do governador de Galma se aproximou – Vossas Majestades – Nos reverenciou – A rainha Susana me daria a honra de uma dança? – Eu não estava ouvindo aquilo.

Lúcia prendeu um riso ao meu lado e Pedro sorriu, erguendo as sobrancelhas.

— E por que não? – E ela aceitou. Desviei o olhar quando Susana deu a mão àquele... moleque irresponsável. Todos sabiam que Maximino era um mimado mulherengo, mesmo não tendo nada de especial, nenhuma conquista da qual se orgulhar. O que ela viu nele?

Susana e Maximino saíram rumo ao centro do salão, onde alguns casais se posicionavam para uma dança a dois animada. Neriah se afastou de nós para encontrar o noivo. Naim, o rei de Arquelândia, levou a filha mais nova, irmã da princesa, para dançar também. Ahadash levou Hiandra para longe, visivelmente contra a vontade dela.

— Sugiro que se acalme, Caspian – Liliandil sussurrou apenas para mim – Está apertando o meu braço – Advertiu, assustando-me. Liliandil estava de braço entrelaçado com o meu e eu o estava pressionando com o meu próprio, contra meu corpo. De raiva.

— Perdoe-me – Pedi e ela negou com a cabeça, como se dissesse que não fora nada. – Quer dançar?

Ela piscou um par de vezes.

— Posso tentar – Liliandil trocou um olhar com Edmundo ao dizer – O rei Edmundo tentou me ajudar com isso, mas não sou muito boa...

— Não tem problema, eu ajudo você – Assegurei, já mais calmo.

 

Lúcia Pevensie

— Acho que Neriah não teve não teve uma ideia muito boa, no fim das contas – Falei quando Caspian levou Liliandil para dançar, visivelmente tentando combater os ciúmes que Susana lhe provocara. Avistei Edmundo caminhar até nós quando Tácito, noivo da princesa da Arquelândia, parou de conversar com ele para ir dançar com a amada.

— Acha que isso vai dar problema? – Pedro falou – Caspian tomou a decisão dele, não é justo que sinta ciúmes.

Franzi o cenho.

— Não seja tão intransigente – Pedi sem qualquer exigência – Você seria contra caso ele voltasse atrás para ficar com a Su?

Maneou com a cabeça.

— Não é que eu fosse ser contra; só não quero que brinque com ela. Claro que eu faria muito gosto de vê-los juntos – Sorri, vendo Pedro dar o braço a torcer – Ele me inspira confiança, tenho certeza de que a faria feliz. Mas, devido às nossas curtas estadias aqui... não quero que vivam uma ilusão.

Tive que concordar.

Susana aceitou dançar com mais dois rapazes, eu não saberia dizer se eram príncipes ou apenas aristocratas. Ela rejeitou as investidas do príncipe da Calormânia por duas vezes. Ele logo desistiu, graças à Aslam – não que eu achasse que ele seria um Rabadash, extasiado por sua beleza; parecia apenas uma provocação ministrada pelo Tisroc.

Eu não tinha notado, mas Caspian abrira a festa para os aldeões e para todas as criaturas que viviam em Nárnia. Não vieram todos, mas nas ruas o povo festejava também.

Passei os olhos pelo salão e avistei um garoto de vestes nobres sentado entre duas mesas de banquete. Ele se encostou no vaso largo de plantas e parecia emburrado, não queria estar ali.

— É o sobrinho do lorde Macrino, Erlian – Edmundo se aproximou – Trouxeram-no sob as ordens de Caspian. Não encontraram o irmão mais velho ainda. Desapareceu mesmo.

— Hum – Murmurei. Era muito estranho que justo quando sua família vem a Nárnia, Rilian sumisse daquela forma, abandonando o irmão em casa e desaparecendo sem deixar rastros. – Você viu Gael? Talvez ela pudesse me ajudar a animar o menino.

— Acho que ela estava dançando com o Sr. Rince – Edmundo os procurou com os olhos – Ali! – Apontou para os dois em uma das mesas, jantando enquanto descansavam da dança.

— Vou falar com eles – Declarei e me pus a andar em sua direção.

 

Liliandil, a estrela

Caspian e eu dançamos algumas músicas, as mais calmas possíveis para que eu acompanhasse o ritmo. Ainda era péssima em dançar, apesar dos esforços do rei Edmundo.

Fui servida de um copo de vinho, que ainda era uma bebida forte para mim, mas bebi mesmo assim. Devia ter suco em algum lugar, mas me com tanta sede que não resisti.

— Está sendo difícil para você? – Caspian perguntou – Viver entre os humanos?

Deixei o copo na mesa e me aproximei dele.

— Admito que estou tendo dificuldades de adaptação, mas... logo será natural.

Ele nada mais disse. Continuamos a observar o baile em silêncio. O olhar de Caspian, obviamente, repousava sobre Susana e o lorde Maximino, que voltaram a dançar depois de um tempo. Como as músicas eram curtas e Susana já deveria estar acostumada, pensei que talvez não fosse cansativo para ela dançar tantas vezes seguidas.

Peguei-me questionando se aquilo era uma boa ideia. O casamento. Caspian fora sincero quando disse que tinha sentimentos sobre a rainha gentil, mas que estava disposto a me fazer feliz, honrando a promessa que fizera ao meu pai. Ali, porém, com Susana de volta e tão perto... eu imaginava que seu coração humano, tão sujeito a paixões, se colocasse em dúvida. E não o culpava.

Foi quando Susana e Maximino se fizeram reverência, terminando mais uma dança. Ela dispensou os outros cavalheiros que a solicitavam para sentar-se junto a Lúcia, Gael e o Sr. Rince.

— Por que não vai falar com ela? – Indaguei a Caspian, que me olhou surpreso e ligeiramente envergonhado.

Cruzou os braços.

— Falar o que com ela? – Resmungou, mordido de ciúmes.

— Caspian, você está se comportando como um adolescente – Falei exatamente o que ele temia. – Eu sempre respeitei os seus sentimentos, mas é um tanto quanto desconfortável ser sua noiva e vê-lo se corroer de ciúmes por outra mulher.

Ele descruzou os braços.

— Perdoe-me, Liliandil – Pediu ele – Eu pensei que conseguiria lidar com isso de outro jeito, ignorar o que sinto por ela, mas... eu não consigo.

— Eu sei que seu coração não está comigo, Caspian. Resolva isso de uma vez por todas.

— Sabe o que está me pedindo? – Alertou calmamente. Eu sabia do que ele estava falando. Sem dúvida a aproximação entre os dois acarretaria comentários e... se nós realmente decidíssemos terminar o noivado logo após o baile... seria um escândalo. Sua frase era a proposta de aceitação do desafio que enfrentaríamos, consequência da luta por nossas felicidades.

— Estou pedindo que seja sincero consigo mesmo e tome uma decisão da qual não se arrependa – Em outras palavras, eu o estava liberando.

O rei de Nárnia respirou fundo. Eu imaginava o que ele estava passando. Caspian aprendera sozinho, com a graça de Aslam, a ser muito responsável em suas decisões. Pensar, repensar e não se arrepender. Isso era bom, mas em excesso talvez o estivesse tornando inseguro, pelo menos nas questões do coração. Estava na hora de ele assumir uma posição perante Susana e perante todos. Mais do que uma rainha, o povo queria que Caspian fosse feliz.

Vi Caspian fechar as mãos em punho como se esse fosse o impulso para dar o primeiro passo. À medida que ele caminhava até Susana, Edmundo se aproximou de mim.

— O que houve? Se é que posso saber – Seu tom era mais preocupado que curioso.

— Foi um erro eu ter vindo – Respondi, sentindo um bolo na garganta. – Caspian merece ser feliz, eu não deveria ter aceitado isso...

Senti o olhar confuso e complacente de Edmundo para comigo. Ele hesitou em falar.

— Você o ama? – Senti temor em seu tom, não sabia bem o porquê. Eu não costumava experimentar as emoções humanas, tudo ainda era novo para mim, apesar dos dois anos em que vivia entre eles, mas por algum motivo eu era sensível a seus sentimentos, os percebia em simples palavras.

— Não, não é isso – Respondi, com um meio sorriso – Não é de ser deixada que tenho medo.

Ele continuou não compreendendo. Eu sequer sabia se queria que ele o fizesse.

 

Caspian X

Caminhar até a mesa de Susana foi difícil. Eu a conhecia bem, sabia que me evitaria por estar magoada, mas eu tinha que tentar.

Vi-me sentindo medo de coisas... simples. Receava trair o compromisso com Liliandil, não queria magoá-la, nem queria ser visto como um garoto inconsequente. Era doentio demais, no entanto, ter Susana tão perto e não me dar a chance de sentir um pouco da felicidade que tanto sonhei desde que a conhecera.

Cheguei a me sentir indigno dela, inferior a ela, e quando quase destruí tudo pela qual ela lutou apenas pelo ódio que sentia de Miraz, vi que não tinha chance alguma. Mas quando ela se despediu de mim, quando me beijou sem se importar com as pessoas em volta... eu soube que sim, eu era digno. Que ela podia me amar. Que ela me amava.

— Susana – Chamei atrás dela. Vi suas mãos congelarem ao segurar os talheres do jantar quase terminado. Por um momento, senti medo de ela me ignorar completamente, mas ela se virou para mim.

— Ah, olá... Caspian – Senti sua hesitação ao pronunciar meu nome, apesar de tentar manter a cordialidade. Ela sorriu minimamente para mim – O que deseja?

— Na verdade, eu... gostaria de conversar com você – O silêncio fúnebre na mesa tornou toda a situação ainda mais constrangedora, até que os faunos foram inspirados por Aslam ao me dar a ideia perfeita quando voltaram a tocar – Quer dançar?

Ignorei o sorriso que Gael e Lúcia trocaram, evitando sorrir de nervoso junto a elas. Mesmo após cinco anos, eu me via exatamente como no meu baile de coroação, como um jovem apaixonado que nunca sentira emoções tão fortes por alguém.

— Claro – Reprimi com muita força o transparecer do alívio que me preencheu quando ela disse isso.

Esperei que ela degustasse a última garfada de seu prato enquanto Lúcia e Gael voltaram a conversar para atenuar as tensões.

Susana se levantou e eu mais uma vez me vi encantado pelo quanto ela estava bela naquela noite. A beleza era apenas o que as pessoas tinham dela, mas ela era muito mais que isso. Ela era corajosa, habilidosa, inteligente, prestativa e altruísta, além de sublime.

Era inevitável sentir o coração acelerado quando nossos corpos se aproximaram para dançar.


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Notas finais do capítulo

IIIIIIHHH eles vão dançar, gente!!! Será que eles vão se entender? O que acharam da atitude da Liliandil? Me contem tuuuudo o que acharam!!
Desculpem se o capítulo ficou grande, eu me empolguei kkkk querendo ou não, por mais que a fanfic seja mais suspian e tal, eu pretendo desenvolver os outros personagens também!
Até a próxima!



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