Quando as Cortinas se Fecham escrita por rosecoloredJ


Capítulo 2
Parte II




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Com a chegada da segunda-feira, vinha também a retomada dos compromissos - e dores - cotidianos dos quais ninguém poderia mais fugir. Jun-myeon havia combinado com Lu Han de ir ao Teatro naquela tarde para ler a peça que ele havia escrito. A peça era muito interessante para ele e tinha um público alvo diversificado, até porque haveriam personagens de idades variadas. Tinha um enredo interessante, que certamente chamaria atenção de muitas pessoas, falando de três personagens em momentos diferentes da vida: fim da escola, fim da faculdade e um adulto desempregado. Todos sem saber como prosseguir e sem conseguir seguir com a vida de acordo com o planejado. 

A segunda parte do “plano” era conversar com as turmas de teatro do local sobre as causas daquela peça e se aceitariam atuar nela gratuitamente. Mas isso vinha depois da pior coisa que Lu Han deveria fazer. 

— Fiquei encarregado de fazer o comunicado oficial sobre o fechamento do Teatro dentro de alguns meses - disse ele, olhando em volta, para a grandiosidade do local com os olhos castanhos transbordando tristeza e decepção - Não sei como vão reagir. Será que vão me acusar de não ter feito o suficiente por esse espaço? - Olhou para Jun-myeon ao seu lado. - Será que eu lutei o suficiente por esse espaço?

— Han, eu tenho certeza absoluta que você fez tudo o que podia por esse Teatro. Você sempre fez. Peitou secretários várias vezes por isso aqui e sei que dessa vez não foi diferente.

— Então porque eu sempre me sinto insuficiente?

— A gente sempre acha que não faz o suficiente por quem ou pelo o quê amamos. Eu também tenho, também acho que deveria ter gritado mais mesmo, tendo feito campanhas dentro da universidade. 

Lu Han sorriu triste.

— Você poderia me ajudar com isso? - perguntou. Jun-myeon respirou fundo.

— Posso. 

*

Mesmo sob a luz do dia, o Teatro Municipal não parecia se apagar entre os prédios. Seus ricos detalhes e grandiosidade ofuscavam os prédios comerciais insípidos, dando um pouco mais de cor e vida àquela parte da cidade. 

Chan-yeol parou de frente para a escadaria com a câmera na mão,sentindo-se repentinamente intimidado. Buscou uma visão privilegiada do espaço para que a câmera capturasse toda a beleza do lugar e bateu algumas fotos, seguindo pela escadaria para registrar melhor os detalhes. Não se lembrava de tudo aquilo na primeira e única noite que estivera ali, talvez por seu tédio e impaciência costumeiros, e se sentia indiferente com os problemas que o local enfrentava, mas de repente algo nele parecia minimanente sensibilizado. Ao ver a parte de dentro, ainda mais colorida com pinturas, lustres e vidraças desenhadas, pensou no possível desperdício que poderia ser seu fechamento, mas logo os pensamentos se dissiparam quando se lembrou de seus motivos para estar ali.

Olhou para ambos os lados, perguntando-se para onde deveria ir naquela imensidão de escadas e portas. Seguiu a que estava a sua frente, olhando em volta vislumbrado com detalhes e bustos espalhados pelo local. 

Esgueirou-se por um determinado corredor, cheio de portas que pareciam de auditórios e Chan-yeol pensou que pudessem ser salas de aulas. Até que uma delas se abriu de maneira violenta, assustando-o, e ele viu uma menina saindo de lá às pressas com os braços cruzados, fungando. Logo atrás dela, uma figura familiar chamava por seu nome, pedindo que olhasse para ele para conversarem. Jun-myeon. 

— Lalisa, me escuta por favor - suplicou Jun-myeon, e ela parou, mas continuou de costas para ele - Nós fizemos de tudo, Lu Han fez de tudo, mas-

— Mas dessa vez nós perdemos? - Lalisa o interrompeu, com a voz embargada, virando para ele. Tinha os olhos vermelhos e o rosto molhado pelas lágrimas. - Jun-myeon, eu saí de meu país para conseguir uma oportunidade aqui e tudo está sendo jogado fora! - disse ela, chorando - Dançar aqui era tudo o que eu tinha! 

Chan-yeol viu Jun-myeon perder as palavras pela primeira vez. Foi quando algo pareceu doer em si por ter enfim se dado conta do erro que era se omitir daquela questão. Lalisa não deveria passar dos 19 ou 20 anos. Era uma estrangeira que havia deixado tudo para trás para seguir um sonho que estava desmoronando bem na sua frente. Ela não era a pessoa mais jovem que tinha alguma ligação com aquele espaço e nem Jun-myeon, e ver adolescentes, jovens e adultos saindo do auditório minutos depois chorosos e desesperançados fez Chan-yeol de repente sentir tristeza, empatia e revolta, e perceber que um mísero artigo sobre o assunto não era suficiente para que as pessoas soubessem do que mais estava sendo deixado para trás com o fechamento daqueles portões. 

Lalisa passou por si deixando Jun-myeon para trás. Aos poucos, o movimento naquele pequeno corredor cessava e foi quando ele percebeu a presença de Chan-yeol ali.

— Está perdido? - perguntou, aproximando-se.

— Na verdade não - respondeu - Min-seok me pediu um artigo sobre o fechamento do Teatro e eu vim aqui para fotografar e talvez entrevistar alguém.

— Não já viu o suficiente? - As palavras de Jun-myeon eram ríspidas. 

Chan-yeol pensou em responder a altura até perceber algo diferente no olhar de Jun-myeon. Não era mais o estudante com notas boas e com tudo na sua vida perfeitamente equilibrado e controlado. Estava desolado e decepcionado.

— Estou de saída - disse, de maneira calma - Quer uma carona? Estou voltando para os alojamentos.

— Agora decidiu ser gentil? - Arqueou a sobrancelha.

— Você não consegue mesmo ser agradável, não é? 

Jun-myeon bufou, cruzando os braços. Uma mania que tinha quando estava sendo confrontado. 

— Só vá embora, por favor. 

Chan-yeol levantou as mãos em rendimento e se virou para embora, ouvindo Jun-myeon fungar atrás de si. 

*

Min-seok estava distraído demais com a escrita de uma matéria que mal notou Chan-yeol entrando em seu quarto e puxando uma cadeira para se sentar ao seu lado. 

— Terminei o artigo.

— Ótimo - respondeu Min-seok, de maneira monótona, sem tirar os olhos da tela do notebook.

— Não estou satisfeito. Quero estender o tema e escrever uma matéria - anunciou, fazendo com que Min-seok finalmente se virasse para ele.

— Quer escrever uma matéria sobre o fechamento do Teatro Municipal? - Arqueou uma sobrancelha - Desde quando se importa? Só te pedi para escrever o artigo porque os outros estavam ocupados. 

Chan-yeol suspirou, revirando os olhos. 

— Desde que eu vi que isso está destruindo sonhos.

— E desde quando você é sensível a isso?

— Min-seok, vai publicar essa merda ou não?

— Veremos. De quanto tempo precisa?

— Uma semana.

— Feito. 

A porta do quarto se abriu e Jun-myeon entrou, atraindo olhares dos dois. Tinha os olhos inchados de tanto chorar e mal olhou para os que estavam ali. 

— Quer conversar sobre isso? - perguntou Min-seok e ele negou com a cabeça, sem olhar em sua direção. Abriu o guarda-roupas e tirou um moletom e uma camisa simples e em seguida se dirigiu para o banheiro.

Jun-myeon tomou um banho quente, sentindo os músculos relaxarem com o toque fervente das gotas de água contra sua pele. Ter dado apoio a Lu Han para conversar com as turmas, ver seus rostos decepcionados e chorosos pareceu ter levado suas energias que não voltariam nem com um doce. Sua última esperança estava em Lu Han e em seu trabalho, que foi apoiado incondicionalmente pelos alunos e alunas de teatro e que aceitaram atuar na peça. Jun-myeon não saberia dizer como estaria se não houvessem voluntários para o projeto, não saberia dizer o que seria de si se não houvesse algo no qual se agarrar. 

Saiu do banheiro com a toalha no pescoço, secando os cabelos úmidos, quando viu Chan-yeol saindo do quarto que Jun-myeon dividia com Min-seok e caminhando até o final do corredor. Sentiu uma pontada no peito ao se lembrar de grosseria que dirigiu ao outro mais cedo. Tinha seus motivos, mas Chan-yeol definitivamente não tinha nada a ver com eles. 

— Chan-yeol! - chamou, interceptando-o na metade do caminho. Puxou os cabelos da própria nuca envergonhado com o olhar curioso do outro sobre si. - Ér… Sobre o modo como falei hoje mais cedo… Queria me desculpar. 

Jun-myeon tinha o corpo encolhido e a cabeça baixa, esperando a voz grossa de Chan-yeol xingá-lo ou chamá-lo de coisas de que não gostava de ser chamado. Depois de um tempo, achou que Chan-yeol iria apenas lhe dar as costas e voltar a seu quarto, sem se dar ao trabalho de dizer qualquer coisa - o que também era muito de seu feitio. O que se seguiu, porém, foi uma inesperada gentileza por parte dele, externada por seu tom de voz calmo, como Jun-myeon nunca ouvira antes e nem pensava em ouvir. 

— Está tudo bem, Jun-myeon. Eu compreendo suas razões.

— Como? - Levantou o olhar, vendo a sombra de um sorriso mínimo nos lábios de Chan-yeol. 

— Disse que está tudo bem. Você estava estressado. - Passou a mão pelos cabelos castanhos. - Eu… Fiquei incomodado com o que vi lá e decidi que quero escrever uma matéria sobre. 

— Uma matéria? - O tom de voz de Jun-myeon aumentou com a surpresa - Mesmo?

— Mesmo. Eu ainda não comecei, mas… Vou precisar da sua ajuda. - O tom de voz de Chan-yeol era baixo e Jun-myeon se perguntou se não estava vendo coisa pois, de repente, ele parecia um pouco desconcertado.

— Claro que te ajudo! 

Chan-yeol não conseguiu deixar de reparar no brilho repentino que tomou os olhos de Jun-myeon com a notícia e no sentimento que aquilo lhe causou, mas que não sabia definir. 

— Vocês estão planejando fazer alguma coisa? - perguntou a Jun-myeon.

— Lu Han, diretor do teatro, escreveu uma peça há algum tempo e está desengavetando ela. Estamos definindo atores dentre outras coisas - contou e Chan-yeol confirmou com a cabeça

— Eu poderia… Hum… Acompanhar vocês e conversar com alguns alunos? - perguntou Chan-yeol, de maneira cautelosa.

Jun-myeon ponderou. 

— Não tinha pensado sobre isso. Pode sim. Amanhã eu estarei conversando com outros alunos. Se quiser, poderá ir amanhã mesmo. 

Chan-yeol meneou a cabeça confirmando e Jun-myeon sorriu sem graça. 

— Até amanhã, Chan-yeol.

— Até. 

*

 

Chan-yeol observava todo o acontecimento quieto e calado, absorvendo os sentimentos das pessoas presentes. A aura da sala mudou com a confirmação do que parecia ser o maior pesadelo dos que estavam ali pelas palavras de Jun-myeon. Chan-yeol via que ele sofria genuinamente ao ter que repetir a notícia para as turmas, pois Lu Han não aguentou fazê-lo no segundo dia, para as turmas de crianças. 

— Crianças, vamos ficar bem, ok? Eu acredito no potencial de cada um aqui - disse Jun-myeon, lentamente, varrendo o olhar pelos alunos sentados no chão a sua frente, assim como ele. - Acredito que muitas portas se abrirão para cada um. Acreditem também. 

Havia algo de muito especial na forma como Jun-myeon falava com as turmas que chamava a atenção de Chan-yeol e foi quando o assistiu falar com aquelas crianças que ele soube o que era: Jun-myeon falava genuinamente com elas. Nenhuma palavra era falsa ou da boca para fora. Ele tinha os pés no chão ao falar, não dizia que tudo iria milagrosamente dar certo e eles recuperariam o teatro. Era sensato e realista, mas acreditava em cada palavra que proferia. E sofria com elas, com as mais pessimistas, e Chan-yeol notou que, por mais que tentasse, Jun-myeon não conseguia esconder nada. Era como um livro aberto. 

Jun-myeon contou sobre a peça que estavam planejando e disse que contava com a presença de todos para dali a alguns meses. Foi impossível não perceber a leveza que tomou a sala, ver a expectativa no rosto de cada criança e o alívio em Jun-myeon. 

— Será que vamos conseguir o teatro de volta, Suho? - Uma menininha de uns 10 anos perguntou. Tinha muitas expectativas em seu olhar.

— Eu sinceramente não sei, querida. Nenhum de nós sabemos, mas esperamos que sim. 

A menina sorriu fraco e Jun-myeon a puxou para um abraço forte, sacudindo seu corpo pequeno e lhe arrancando um sorriso. 

Foi vendo aquelas pequenas coisas que fez Chan-yeol perceber que queria acompanhar aquela trajetória, precisava de mais tempo e fez o possível para enrolar Min-seok, prometendo a matéria para semana que vem, e então para outra e então para outra. Até que Min-seok perdeu totalmente a paciência e deu seu ultimato. 

— Você tem até sexta, ou nada feito! Já é a terceira vez que adio isso! - gritou.

— Okay! Okay! Pare de gritar! 

Min-seok semicerrou os olhos pequenos. 

— Você está mesmo escrevendo essa matéria?

— Por que não estaria?

— Tenho a impressão de que está gostando de lá e se envolvendo com a causa.

— Deixa de ser babaca e termina de editar suas merdas.

— Olha a boca, palhaço! - acusou, e então se voltou para o monitor. 

O que Chan-yeol não queria admitir era que Min-seok estava certo: estava se envolvendo, mais do queria. Criou empatia com a causa. Pegou-se com raiva ao ver alunos e professores com raiva da situação, triste ao ouvir choros pelos corredores e feliz com qualquer faísca de esperança que via surgir entre eles e elas. 

Mas havia algo mais, algo que Chan-yeol tinha dificuldade de entender e mais ainda de aceitar: Jun-myeon. 

Não eram amigos, mas a relação entre ambos havia mudado, aos poucos, de maneira significativa. A frequência das discussões diminuíram consideravelmente, Chan-yeol já não via mais prazer em ofender Jun-myeon ou provocá-lo para vê-lo irritado, mas havia algo de satisfatório em vê-lo conversar com as turmas, liderar projetos no grupo de teatro da faculdade e, principalmente, em vê-lo cantar. Passou a observá-lo pelos corredores da faculdade, estudar seus detalhes de longe, sua forma quieta e introspectiva, a forma como suas sobrancelhas se juntavam quando lia, como sorria. 

Percebeu que Jun-myeon ia para o teatro com frequência e ficou a se perguntar o que tanto fazia por ali. Estudava? Lia? Fugia de alguém? Passou a segui-lo, escondido nas sombras, vendo-o ser iluminado pela luz central do palco, olhando para todo o espaço, como se fosse rei. Às vezes cantava de maneira impressionante, em outras, apenas se sentava no centro do palco e ficava em silêncio com seus próprios pensamentos. Naquele dia, Chan-yeol o viu fechar os olhos e ouviu sua voz grave soar, bonita, limpa, porém melódica. Havia uma certa tristeza em seu tom que já era familiar a Chan-yeol.

Por semanas, Chan-yeol havia conseguido se esconder para observá-lo. Naquele fatídico dia, porém, esqueceu seu telefone fora da função "Silencioso" e recebeu uma inoportuna ligação de Se-hun. Buscou pelo telefone no bolso da jaqueta de maneira desesperada, mas já não importava. Jun-myeon abriu os olhos alarmado, olhando em volta. 

— Quem está aí? - perguntou - Não pode estar aqui essa hora! 

Jun-myeon desceu do palco e viu a figura alta de Chan-yeol se levantar e ficar de pé no meio do corredor entre as fileiras de poltronas.

— Chan-yeol? - O tom de voz era de surpresa - O que faz aqui? Já disse que não é permitido ficar aqui.

— Já disse que não ligo, Jun-myeon - respondeu, calmo e Jun-myeon suspirou irritado.

— Eu definitivamente não vou discutir isso. Mas ainda não me disse o que faz aqui. 

Chan-yeol pareceu estranhamente desconfortável, mudando o peso de seu corpo de um pé para outro e passando a mão pelos cabelos, então pintados de vermelho. 

— Não há um motivo em especial. Eu só estava passando e decidi entrar. - Deu de ombros. - A propósito… Você canta muito bem, Jun-myeon. 

O rosto de Jun-myeon estava contra a luz do palco, mas Chan-yeol podia jurar que estava vermelho conforme seu corpo se encolhia desconfortável. 

— Ouviu aquilo? - murmurou Jun-myeon.

— Ouvi. Você é realmente talentoso. A forma como cantou no Teatro Municipal não se compara a como costuma cantar aqui.

— Quer dizer que já veio aqui outras vezes? - perguntou e vi Chan-yeol arregalar os olhos grandes.

— Não! N-não foi o que eu quis dizer!

— Chan-yeol… - Seu tom era de advertência.

— Talvez… 

Jun-myeon arqueou uma sobrancelha, irredutível. 

— Ok, ok! - Irritou-se Chan-yeol - Eu vim aqui outras vezes e te assisti!

— Céus, Chan-yeol, eu precisava de privacidade!

— Como eu ia saber?

— Não é difícil entender que se eu quisesse companhia teria pedido! 

Várias coisas se passaram pela cabeça de Chan-yeol naquele momento, mas que se entalaram em sua garganta. Pensou no quão bom era ouvir aquela voz, no privilégio que era poder ouvi-la, somente ele, e como aquela ideia o deixava ansioso. Pensou no quão lindo era ver Jun-myeon cantando com toda sua energia mesmo sozinho, no brilho que via em seus olhos e nos sorrisos que dava para o vazio ao final de cada canção - o mais bonito dos sorrisos que parecia ficar trancado naquela sala. 

Porém, limitou-se a levantar as mãos em rendimento e dar-lhe as costas para sair do teatro. 

 

*

 

Os meses estavam sendo difíceis para Jun-myeon. Quiseram antecipar o fechamento do Teatro Municipal, e Lu Han lutava para que lhe dessem mais 3 meses para apresentar a peça que queria, fazer publicidade por onde conseguisse e quem sabe mudar os planos da Secretaria. Foi difícil, mas conseguiu o tempo que precisava alegando que era uma peça de despedida do espaço por parte de alunos, administração, professores, músicos… Enfim, todo o tipo de artista que passava por aquela escadaria algumas vezes na semana. 

Jun-myeon dividia as tarefas com Lu Han nos ensaios que já começavam, negligenciando assuntos da faculdade em prol do que era mais importante e urgente para si no momento, incluindo o grupo de teatro da universidade, cuja liderança passou para Jong-dae momentaneamente. Não se dedicou tanto às aulas na faculdade naquelas semanas que antecipavam a peça, e numa sexta, após o almoço, foi para o teatro recarregar as baterias com um tempo a sós que não tinha há dias e sabia que precisava. 

Sentou-se no palco, apoiando as costas numa estrutura no canto, fechando os olhos. Queria pensar que estava sozinho, mas o perfume familiar estava bem perto dessa vez. Nos últimos meses sua presença havia se tornado mais frequente ali e em sua vida - tão frequente que Jun-myeon não se via sozinho naquele teatro e já sabia que iria para lá para encontrá-lo. Apesar de certa dificuldade, com o tempo passou a segredar parte de seus anseios e inseguranças e viu nele não só um bom ouvinte, mas a pessoa compreensiva que jamais esperou encontrar.

Suspirou. 

— Sei que está aí, Chan-yeol - disse, sem abrir os olhos. - Não adianta ficar em silêncio para me fazer parecer um idiota. Eu vi você me seguindo. 

Ouviu a risada seca de Chan-yeol e então seus passos indicando que se aproximava. Chan-yeol havia acompanhado de perto todo o estresse pelo qual estavam passando. Dizia que era para a matéria que estava escrevendo, apesar de haver um tempo considerável desde que anunciou o que estava produzindo. Com isso, Jun-myeon foi até Min-seok para saber se a matéria já havia sido publicada e soube que essa fora rejeitada pela demora de Chan-yeol para entregá-la. Assim, a matéria foi publicada em seu próprio blog, que tinha uma boa quantidade de leitores - o que atraiu a atenção de muitas pessoas para o projeto que até mesmo buscavam por Jun-myeon pelos corredores para saber mais sobre o que estava acontecendo. O que Chan-yeol continuava fazendo ao acompanhá-los Jun-myeon não sabia dizer, e nem o questionava sobre o assunto. Estava tão atolado de coisas para fazer que também não o havia confrontado sobre sua mentira. Deixava-o estar nos ensaios e naquele teatro, pois sua companhia era o que fazia Jun-myeon se sentir menos solitário. Sentiu seu perfume forte perto de si e abriu os olhos, vendo-o agachado a sua frente, a uma certa distância. 

— Por que se escondeu hoje? - perguntou Jun-myeon.

— Parecia precisar de um tempo sozinho - disse, de maneira calma - Você está bem com a aproximação da peça?

— Não. - Suspirou.

Os dias até a apresentação se esgotavam a medida que a agonia de Jun-myeon crescia com medo de todo aquele plano ir por água abaixo. A tensão dos alunos também crescia e era perceptível a cada ensaio. Os questionamentos emergiam junto ao medo, e com isso, muitos procuravam ele ou Lu Han para conversar. 

Chan-yeol se sentou ao seu lado e Jun-myeon fechou os olhos, inalando seu perfume. Demorou para perceber que havia algo de aconchegante na companhia dele, mesmo que fosse de poucos sorrisos que nunca se estenderam. Havia uma amizade não declarada ali, afirmada nos pequenos atos de companhia ou nos silêncios. 

— Os alunos estão estressados e chorosos… Não sei o que fazer ou o que dizer a eles - contou, suspirando pesadamente. - Eu não minto para eles, não consigo mentir nem para mim mesmo, mas coloco neles uma esperança falsa que nem eu sei se tenho mais.

— Suas esperanças não são falsas, Jun-myeon. Você não ilude eles afirmando que as coisas vão mudar de fato, mas você acredita na possibilidade. Se não acreditasse, não continuaria com isso. 

Jun-myeon deu um sorriso fraco encarando seus dedos se mexendo nervosamente em seu colo e o agradeceu baixinho. 

— Faz tempo que não te ouço cantar aqui - murmurou Chan-yeol ao seu lado, fazendo Jun-myeon olhá-lo, sentindo o rosto corar. Foi quando Chan-yeol percebeu o quão bonito ele ficava quando tímido.

— Você me ouvia?

— É claro. - confessou Chan-yeol, um tanto nervoso, mas Jun-myeon mal notou. - Não é todo dia que se ouve uma voz tão bonita. 

Jun-myeon se virou para ele, sustentando seu olhar. Havia algo pairando entre eles de maneira perceptível, mas que Jun-myeon não conseguia definir o que era. Não sabia se era porque havia se dado conta de que gostava de ouvir a voz de Chan-yeol baixa daquele jeito e que gostava de quando ele estava por perto como estava naquele momento. Ou se era a forma como sentia a ansiedade lhe despertar ao encontrar aqueles olhos castanhos que pareciam esconder tantas coisas e ao mesmo tempo mostrar tantas outras. Fazia algum tempo que Jun-myeon negava aquilo, aqueles estranhos sentimentos que há muito não sentia por uma pessoa. Mas definitivamente soube que não tinha mais como fugir quando sentiu os lábios de Chan-yeol sobre os seus, calmos e quentes num beijo tímido demorado, mas cheio de medos de estar cometendo um erro. 

Jun-myeon sentia tudo ao seu redor se desligar ao toque de Chan-yeol. Sentiu os dedos do outro receosos em sua cintura, deixando ali uma carícia tímida, enquanto seus lábios se moviam de maneira lenta. Deixou que seus dedos vagassem pelos braços de Chan-yeol e se preencherem pelos cabelos de sua nuca, sentindo-o arrepiar e o aperto em sua cintura se tornar mais firme. De maneira desajeitada, Chan-yeol o trouxe para perto, deixando beijos curtos em seus lábios antes de se afastar, tão confuso quanto Jun-myeon. 

— E-eu tenho aula agora - gaguejou Chan-yeol, levantando-se, mesmo Jun-myeon sabendo que era mentira.

— Tudo bem, eu… Eu tenho que encontrar Lu Han. - Passou a mão de maneira nervosa pelos cabelos. 

Chan-yeol hesitou por um momento, e então deixou um beijo rápido em sua testa antes de lhe dar as costas e sair. Jun-myeon, com um sorriso bobo nos lábios, não podia deixar de pensar no quão curioso era esse lado desconhecido de Chan-yeol e no quanto estava gostando de conhecê-lo. 

 

*

— Não acredito! Você está gostando do Palestrinha! -  gritou Baek-hyun, empolgado, e Chan-yeol teve que se segurar para não bater nele. 

Estavam no quarto de Chan-yeol, que era no mesmo corredor que o de Jun-myeon e Min-seok. A facilidade para as outras pessoas ouvirem o que se passava dentro dos quartos era grande, mesmo que o seu ficasse localizado no final do corredor. Uma coisa era ouvirem Se-hun e Jong-in transando, outra era alguém ouvir a conversa que estava tendo com Baek-hyun naquele momento sobre a confusão de sentimentos que sentia por Jun-myeon. 

Baek-hyun não conteve a gargalhada quando ligou os pontos sobre o que Chan-yeol queria dizer. Conheceu-o na faculdade e demorou consideravelmente para saber que Chan-yeol tivera uma namorado no último ano da escola. Ele não falava sobre ele e só o fez porque uma dia, bêbado em uma festa que foram, recebeu uma ligação dele e, por insistência de Baek-hyun, acabou contando ainda que com impaciência sobre o relacionamento que tiveram. 

Baek-hyun se perguntava se havia sido Chan-yeol o estopim para o fim. Seu jeito grosso de ser espantava os mais gentis que não sabiam lidar e nem mesmo Baek-hyun sabia como se deram tão bem. No início, teve dificuldades de reconhecer que significava para Chan-yeol até entender que ele só tinha seu jeito de expressar isso, e não era com sorrisos ou abraços, como Se-hun, mas muitas vezes era indo contra sua própria vontade e acompanhando uma pessoa queria numa programação que não o interessava - como uma ópera. 

— Não estou gostando dele! - disse, mais baixo, olhando para Baek-hyun de maneira desesperada. Esse, porém, tinha um sorriso travesso no rosto.

— Chan-yeol, se isso não é gostar então eu não sei o que é. - Riu - Você sempre segue ele pra aquele teatro.

— Como é? - Chan-yeol arregalou os olhos. Sempre checava se não estava sendo observado por ninguém antes de entrar lá.

— Você passa batido por outros olhos, mas não pelos meus.

— Eu nã-… Eu não… Não é o que parece! Eu… Eu gosto da voz dele! - disse, mas viu nos olhos de Baek-hyun que ele não estava convencido.

— Não minta para si. Está interessado no Palestrinha!

— Não estou! 

Baek-hyun arqueou uma sobrancelha, colocando um cigarro na boca. 

— Vai admitir isso em algum momento - disse, com o cigarro entre os lábios, e então notou que Chan-yeol parecia desconfortável e nervoso, mudando o peso do corpo de uma perna para outra e mexendo os dedos de maneira ansiosa. - Que há, Channy? Parece até que se beijaram. 

O rosto de Chan-yeol ficou completamente vermelho e Baek-hyun arregalou os olhos, estarrecido. 

— Vocês se beijaram - afirmou, olhando no fundo dos olhos do outro - Channy está apaixonado! Oooowwwn! - Fez bico.

— Eu não estou apaixonado ou gostando de Jun-myeon! Foi apenas um beijo, como qualquer outro!

— Você odiava ele!

— Ele não é tão chato quanto parece.

— Por que você foge dos seus sentimentos? - questionou Baek-hyun - Por que negar o que sente?

— Não estou negando - disse Chan-yeol, sem olhá-lo nos olhos. - Estou dizendo a verdade.

— Não pode se esconder para sempre, uma hora ou outra vai ter que admitir o que sente por ele. 

*

 

Jun-myeon voltou tarde para seu quarto naquela noite. Claramente tinha mentido para Chan-yeol sobre encontrar Lu Han. Assim que esse deixou o teatro, Jun-myeon voltou a se sentar, com o indicador sobre os lábios, tentando digerir o que havia acabado de acontecer. Por muito tempo recusou-se a acreditar que poderia estar gostando muito mais do que apenas da companhia de Chan-yeol. 

Depois de tanto rolar na cama, finalmente caiu no sono, tendo sonhos doces com Chan-yeol naquela noite chuvosa que precedeu uma estranha semana entre os dois. 

No dia seguinte, após os ensaios no Teatro Municipal, Jun-myeon voltou ao teatro. Estava cansado e queria um tempo a sós, nem sempre estava a fim de ouvir Min-seok tagarelar, mas havia sim uma parte de si com expectativas de ver Chan-yeol. No entanto, após algum tempo sentado no palco, percebeu que estava de fato sozinho. Ficou a pensar no que Chan-yeol poderia estar fazendo para não estar ali como fazia quase todos os dias para então se sentir um total idiota. Ele não é nada seu!, pensou, mas não conseguiu conter a ansiedade.

Ficou no teatro pelo o que foram 40 minutos até decidir sair e ir para o seu quarto estudar alguma coisa sem, no entanto conseguir se concentrar no que quer que se pusesse a ler. Algum tempo depois, simplesmente desistiu e fechou tudo, deitando-se na cama, com a cabeça apoiada no braço, pensativo. E então adormeceu. 

E foi assim que a semana seguiu, e também a semana seguinte, que era finalmente a semana que antecedia a peça. Os ensaios eram intensos, assim como os ajustes e reajustes. Os alunos piravam com a pressão que exerciam em si, cheios de esperanças e também com medos, assim como Jun-myeon, que fazia o possível para que a ansiedade não o fizesse cometer nenhuma loucura.

Vez ou outra, durante os ensaios, olhava para as poltronas do Teatro, que pareciam infindáveis quando apenas a luz do palco estava acesa. Buscava por Chan-yeol, que não ia aos ensaios desde a semana anterior, assim como também não ia ao teatro da faculdade lhe fazer companhia como outrora. Por mais que soubesse que não tinha o direito, sentia algo semelhante a decepção por ter tentado falar algumas vezes com ele durante a semana pelos corredores da universidade mas ter percebido que Chan-yeol visivelmente o evitava. Expectativas foram criadas e Jun-myeon sabia que deveria colocar as cartas na mesa com Chan-yeol.

Na véspera da peça, quando Jun-myeon voltava para seu dormitório tarde da noite após os ensaios, viu Chan-yeol entrando em seu quarto no final do corredor. Correu até ele, que se surpreendeu ao ver o outro ali, parado a sua frente. 

— Oi. - Jun-myeon sorriu tímido, passando a mão pelos cabelos. - Está tudo bem?

— Sim… Está… Por que não estaria?

— A gente não se fala há uma semana. Não te vi mais nos ensaios e nem… No teatro.

— Estive ocupado - respondeu, seco.

— Ah, sim. Ér… Chan-yeol, sobre o que houve na semana passada…

— Do que está falando?

— Do que houve no teatro… - murmurou. 

— Ah… - Chan-yeol passou a mão pelos cabelos - Aquilo?— Deu uma risada seca - Foi só um beijo. 

— Só um beijo?

— Não foi nada demais, Jun-myeon. 

Jun-myeon se encolheu, desviando o olhar dos olhos de Chan-yeol, sentindo a vergonha queimar seu rosto. Mas não era idiota, sabia que não era somente aquilo. 

— Fui uma piada para você? - perguntou, fazendo Chan-yeol olhar para ele.

— Nã-

— Então o que foi aquilo? Quer mesmo me fazer acreditar que não foi nada? A gente nem ao menos se dava bem, Chan-yeol! - disse - E então do nada você me beija e quer que eu acredite que não nada, absolutamente? 

— E porquê deveria ser algo? - perguntou, irritado por Jun-myeon ser tão questionador. Irritado por Jun-myeon fazê-lo confrontar a si mesmo quanto ao que sentia por ele, por fazê-lo encarar os fatos que se esforçava para esconder. 

Jun-myeon não queria dar o braço a torcer, mas as palavras de Chan-yeol o atingiram em cheio. Sequer abriu a boca para tentar dizer qualquer coisa, apenas se virou e voltou para seu quarto para tentar dormir. 

*

Jun-myeon estava trancado no camarim há cerca de uma hora. Massageava as têmporas, sentindo a dor de cabeça começando a se instalar. Não costumava ser assim, não costumava ser tão estressante, mas ele sabia que não era mais uma peça, como qualquer outra, mas sim, que era bem provável que fosse a última. 

Ouviu batidas contidas na porta e apesar de não querer companhia naquele momento, permitiu que quem quer que fosse entrasse. Lalisa tinha um sorriso vacilante no rosto ao se esgueirar pela porta e parou na frente de Jun-myeon, receoso. Interpretaria uma estudante no fim do Ensino Médio sem saber o que fazer enquanto que ele, um universitário em crise. 

— Vim te desejar uma boa sorte, mas não que você precise - disse ela, arrancando um sorriso de Jun-myeon, que acariciou seus cabelos e pousou a mão em seu ombro.

— Tenho certeza que se sairá bem. Qualquer coisa…

— Olho para você no canto do palco. - Sorriu, mas Jun-myeon percebeu que havia algo a mais.

— Que há, querida?

— Representantes da Secretaria de Cultura estão aqui - disse ela, nervosamente - Não é nada demais.

— Lalisa, eles são apenas pessoas assistindo a uma peça.

— Isso pode mudar tudo.

— Pode, mas a princípio, são apenas telespectadores. Você já se apresentou aqui antes e em outros lugares, não será nada. - Jun-myeon sorriu carinhoso. 

Os dois se abraçaram brevemente e então ouviram a voz tensa de Lu Han. 

— Está na hora. 

A casa estava cheia. Tão cheia e tão animada como Jun-myeon jamais havia visto - e foi isso que levou dele a insegurança e a ansiedade que antes sentia. Qualquer cansaço ou consequência de estresse que sentia se esvaiu naquelas uma hora e meia que passou no palco, indo e vindo. Era a emoção do público que parecia alimentá-lo. Era o receio, era a tristeza, era a emoção que a combinação de atores, momentos, música e palavras causava que o fazia sentir vivo. Era  o que fazia tudo valer a pena. Como se fosse possível, olhou fundo nos olhos de todos ali em uma cena pessoal na qual fazia um número de canto. Foi quando sentiu que não importava o resultado, não importava se o Teatro fechasse as portas de fato, nada naqueles quatro meses teria sido em vão, e nem nunca seria enquanto pudesse fazer as pessoas sentirem algo.

Ao final da peça, todo o elenco se reuniu no palco e deram as mãos, curvando o corpo para o público, que os aplaudia de pé. Lu Han tinha as mãos geladas e molhadas de suor. Procurou controlar seu nervosismo ao pegar o microfone para falar com o público. Olhou toda a sala, respirou fundo e então disse:

— O Teatro Municipal prosperou por 200 anos, entre idas e vindas. Esse palco realizou sonhos,  fez o público rir e chorar e pessoas serem ouvidas. Peças foram encenadas, espetáculos de balé, óperas. Somos referência, somos lembrados e somos visitados. Somos honrados não só por quem sobe ao palco, mas por quem procura e assiste. Infelizmente, a história do Teatro Municipal acaba por aqui. - Lu Han olhou de maneira ressentida para os representantes - Mas não a nossa enquanto artistas e nem a de vocês enquanto público. O Teatro pode estar fechando as portas, mas sua história vive em cada um de nós, sendo protagonizadas por cada um de nós. Não deixem que isso morra, não deixe que isso seja silenciado. 

Palmas e assobios reverberaram por todo o enorme salão após as palavras de Lu Han que, emocionado, tentava encontrar forças para continuar suas palavras. 

— Gostaria de agradecer a Kim Jun-myeon, ou Suho, - disse, virando-se para Jun-myeon ao seu lado - por ter acreditado nesse projeto e ter se dedicado a ele durante os últimos meses, aos atores que aceitaram as propostas, a toda a equipe por trás. Acreditem em vocês, no potencial de vocês e nos sonhos que carregam. Obrigado a todos que vieram fechar esse capítulo conosco. Boa noite.

Em meio às lágrimas, risos, aplausos, eles se curvaram uma última vez, dando seus melhores sorrisos, os olhos vagando pela plateia. Foi quando Jun-myeon o viu. Estava na primeira fileira das poltronas que ficavam no primeiro andar, com uma ampla e privilegiada vista. Chan-yeol. 

Sustentou seu olhar, vendo-o de pé, aplaudindo-o. Sorrindo genuinamente. Era a primeira vez que Jun-myeon via aquele sorriso e não conseguiu deixar de pensar no quão lindo Chan-yeol era com ele estampado em seu rosto. Acenou brevemente para ele lá baixo e as cortinas se fecharam. 

*

A despedida do enorme grupo havia sido emocionante. Jun-myeon não conseguiu conter suas lágrimas, por mais que tivesse tentado se manter forte entre os alunos. No final das contas, acabou consolado por eles e recebeu, junto a Lu Han, um buquê de flores que o fez chorar ainda mais. 

Voltou para o seu dormitório com lágrimas silenciosas rolando por seu rosto e Min-seok olhando para ele a cada cinco minutos para saber se estava tudo bem. No banco de trás, Kyung-soo, Jong-in e Jong-dae ficavam em silêncio, vez ou lhe dando um tapinha no ombro ou mexendo em seus cabelos. Subiram todos juntos para seu quarto para passarem um tempo, comendo alguma besteira e se possível conversando, mas Chan-yeol o esperava na porta, com um buquê de rosas nas mãos, surpreendendo a todos. 

— Oi.

— O que faz aqui? - perguntou Jun-myeon, de maneira seca. 

— Vim conversar.

— Hum… Nós vamos esperar por você lá dentro, tudo bem? - disse Min-seok, e Jun-myeon confirmou. 

Os quatro entraram, deixando-os a sós. Chan-yeol tinha dificuldades em olhar para Jun-myeon, sentia vergonha do que havia dito no dia anterior. 

— Eu fui um idiota.

— Com certeza.

— Eu não sabia como me expressar!

— Não precisava ter sido um babaca insensível! 

Chan-yeol suspirou, procurando se acalmar e explicar tudo da melhor maneira possível. Era péssimo com palavras, principalmente quando deveria confrontar as pessoas com elas.

— Eu me magoei antes - disse, calmamente - Eu me apaixonei por uma pessoa que me machucou muito e tinha medo disso acontecer de novo. Estava me protegendo.

— Sua maneira de se proteger era me machucando? - perguntou, olhando-o nos olhos.

— Foi a minha maneira estúpida de fazer isso. - Sua voz ficou baixa. - Eu estava apaixonado por você. 

Jun-myeon sentiu o coração acelerar. Tudo o que sabia de Chan-yeol, ou achava que sabia, acabava ali, com uma simples frase. Tudo o que achava que ele era também. 

— Talvez a gente pudesse ter resolvido isso juntos— disse, olhando para o chão. 

— Eu deveria ter sido sincero com você. - Chan-yeol tocou-lhe o braço por cima do paletó que usava, acariciando-o de leve. - Desculpe. Desculpe ter dito aquelas coisas. 

Jun-myeon o olhou nos olhos, receoso. Apesar de ter visto neles a sinceridade das palavras de Chan-yeol, ele também tinha seus próprios medos e dificuldades de sair de sua zona de conforto. 

Sentiu os dedos de Chan-yeol subindo para seu rosto, deixando um carinho de leve em sua bochecha. Fechou os olhos, inclinando o rosto na direção de sua mão e o sentiu beijar sua testa da maneira carinhosa. 

— Eu quero estar com você - disse Chan-yeol.

— Precisamos estar dispostos a fazer a isso dar certo. Precisa ser sincero comigo como serei com você. Você entende isso?

— Entendo, e quero fazer isso funcionar. 

Ficaram um tempo apenas se olhando, até Chan-yeol puxar Jun-myeon para si e abraçá-lo forte, sentindo os braços do outro rodear sua cintura. Pela primeira vez em muito tempo se sentia de fato feliz por ter se aberto novamente àquele estranho sentimento para o qual se fechou tantas e tantas vezes. Era estranhamente bom, mas também medonho. Quantas coisas teria que reaprender a partir dali? Quantas vezes teria que aceitar perder uma briga, aprender a ter empatia e a conviver com outra pessoa tão diferente de si como era Jun-myeon? 

Quantos momentos incríveis teriam juntos? 

— Você estava incrível hoje - sussurrou, abrindo um sorriso ao ver o rosto de Jun-myeon corar.

— Não imaginava que fosse te ver lá…

— Não perderia o Palestrinha se apresentando por nada. - Riu, recebendo um olhar enviesado de Jun-myeon.

— Tome. São suas - disse ao estender o buquê de rosas para Jun-myeon, que abriu um sorriso bobo com tê-las em mãos.

— São lindas. Obrigado, Chan-yeol. 

Com sorrisos bobos e ao cheiro de rosas, beijaram-se, olharam-se, abraçaram-se e trocaram carícias como se fosse a última das primeiras vezes que o fariam. 

*

 

A peça repercutiu durante todo o mês, recebendo resenhas positivas pela internet e bons comentários pelas ruas, lojas e pelos corredores da faculdade. Mesmo uma faísca era suficiente para manter viva a esperança de reabertura dos portões, mas mesmo com a insistência de Lu Han, a decisão definitiva era a mesma. A notícia não fora bem recebida por ninguém, o próprio Jun-myeon ficou recluso, sem saber muito bem como lidar com tudo aquilo. Era a última carta que tinham e apostaram tudo nela. 

Depois de um encontro choroso com Lalisa numa cafeteria, aceitou de bom grado o abraço que Chan-yeol o ofereceu sem lhe dizer nada. Suspirou contra seu peito, permitindo-se relaxar na quentura de seus braços. Gostava de como Chan-yeol entendia que precisava de um abraço, mas que não queria conversar, não no momento. De início, fora um pouco estranho, Chan-yeol se preocupava de maneira excessiva, sentindo que talvez estivesse sendo rude em não perguntar se estava tudo bem até entender que era só a maneira de Jun-myeon de lidar com as coisas. 

O decorrer das semanas foi de bastante aprendizado para ambos, mas de momentos bons. Chan-yeol tinha que controlar seu temperamento e seu mal humor, e depois descobriu que era super protetor. Tudo era uma novidade outra vez, e assim teve que entender que Jun-myeon precisava de momentos para si mesmo, mas que este gostava de ler seus livros abraçado a Chan-yeol nas sextas-feiras ou de dormir em seu colo e que também gostava de cafunés. Era manhoso e tinha o mais bonito dos sorrisos. 

Jun-myeon gostava de ver o sorriso de Chan-yeol e fazê-lo rir se tornou um hobbie, assim como ouvi-lo tocar no quarto e nos shows esporádicos da Elyxion, da qual se tornou fã número um. Seu jeito controlador e perfeccionista rendeu algumas discussões com Chan-yeol. Se soltar era difícil, ainda mais quando era também uma pessoa muito tímida, mas a passos pequenos, permitiu-se grandes feitos, como dançar uma música lenta agarrado a Chan-yeol em um das festas de Lay até transar com ele dentro do carro num estacionamento qualquer. Aprendeu a ser menos incisivo e largar mais os livros para assistir aos estranhos filmes do mal humorado Chan-yeol, até sair um pouco mais cedo das aulas às vezes para vê-lo na redação do jornal finalizando uma matéria e entrelaçar seus dedos aos dele para irem ao teatro passarem um tempo juntos trocando beijos, carícias ou simplesmente conversando. 

Apesar da timidez, permitiu-se ser apresentado aos amigos de Chan-yeol que já estavam mais que envolvidos com os seus próprios. Baek-hyun era um piadista de língua afiada e que gostava de irritar os amigos. Ele e Jong-dae acabaram por assumir o relacionamento não definido que tinham e que rendia muitas risadas ao grupo. Se-hun, apesar dos cabelos coloridos e as roupas pretas, era doce e sensível. Estava namorando Jong-in havia mais de um mês e Jun-myeon não evitou o tapa no braço do amigo por não ter contado a ele de seu relacionamento. Foi com a ajuda de Jong-in que Se-hun havia tomado coragem para confrontar o pai e deixar claro que odiava a faculdade de Engenharia. Depois de muita discussão, ele finalmente começou no que realmente queria, ingressando na Escola de Artes Dramáticas. Era um grupo estranho, mas funcionava de uma maneira que ninguém esperava. 

Estava quase dormindo no colo de Chan-yeol recebendo cafuné quando um número estranho o ligou. Despertou rapidamente, esfregando os olhos. Tentava se levantar, mas após a intensa semana de provas que tivera, a preguiça era maior do que tudo. 

— Boa tarde. Falo com Kim Jun-myeon?

— Sim… - respondeu receoso. Chan-yeol chamou sua atenção e sussurrou a pergunta "quem é?", mas Jun-myeon deu de ombros.

— Olá, senhor Kim. Sou Huang Zitao, coordenador da Academia de Artes de Seul. Estou ligando porque o vi como Fausto na opera… 

Jun-myeon ficou ereto, sentando-se na cama. O Teatro Municipal era um grande sonho, mas ser reconhecido por alguém da maior academia de artes da Coreia do Sul, referência mundial em dramaturgia, balé e canto… Não era todo dia que acontecia. E nem com todo mundo. 

— Vou direto ao ponto: Gostaríamos de saber se o senhor tem interesse em ingressar na nossa academia. 

Chan-yeol olhava preocupado para Jun-myeon, percebendo, mesmo que esse estivesse de costas, que parecia ter dificuldades em respirar. Pousou a mão em seu ombro, fazendo-o virar e viu que Jun-myeon tinha lágrimas nos olhos. 

— Jun… O que está acontecendo?

— Eu aceito! - disse Jun-myeon ao telefone, eufórico.

— Ótimo! Tem disponibilidade para vir aqui nessa quarta para acertarmos detalhes? - perguntou Zitao.

— Sim! Sim! Quarta está ótimo!

— Certo. Às 16h?

— Perfeito!

— Muito obrigado pela atenção, senhor Kim. Nos vemos na quarta.

— Até quarta!

— O que tem quarta? - perguntou Chan-yeol, totalmente confuso.

— Chan-yeol, eu fui chamado para ser aluno da Academia de Artes de Seul! - disse. Chan-yeol arregalou os olhos.

— O quê?

— Sim! - gritou, pulando no colo de Chan-yeol, abraçando-o pelo pescoço e o fazendo cair para trás rindo com Jun-myeon.

— Eu sabia que você seria notado - disse Chan-yeol. Acariciou o rosto de Jun-myeon, limpando suas lágrimas e beijando-o. - Estou orgulhoso de você - sussurrou contra seus lábios, arrancando aquele sorriso de orelha a orelha de Jun-myeon que gostava de ver quando ele estava feliz. 

Ainda naquela semana, Jun-myeon recebeu uma ligação de Lu Han contando que havia recebido uma proposta de dar aulas em uma escola de teatro conhecida. Não conseguiu conter o berro no corredor da faculdade quando soube e a vermelhidão com os olhares estranhos sobre si. 

Brindou com os amigos no bar que Chan-yeol tanto ia com Se-hun e Baek-hyun após fazer sua matrícula na Academia com o sentimento de que as coisas estavam finalmente voltando para os eixos. Naquela noite, junto aos amigos do teatro, dos novos amigos que fez e do cara que gostava pensava no estranho e inesperado recomeço depois do momento conturbado que passou. 

Naquela noite, Elyxion tocaria no bar. Apresentaram uma canção nova, delicada e romântica chamanda Un Village. Foi composta por Baek-hyun e Chan-yeol e caía tão bem na voz do vocalista , mas não era para ele que Jun-myeon tanto olhava. 

— Acho que o guitarrista está muito na sua. - A voz baixa de Min-seok o despertou. - Ele não para de te olhar.

— Que bom. Porque eu estou muito na dele também. - Sorriu.

— Então peça o telefone dele. 

Jun-myeon percebeu naquele momento o quanto não se cansava de assistir Chan-yeol tocando - o quanto, definitivamente, gostava dele. De tudo nele. No jeito carinhoso que o olhava e ousado que o beijava; o olhar que lhe dava quando tocava violão em seu quarto, sem camisa, reencostado na cama, com aquela voz rouca que Jun-myeon tanto gostava de ouvir pronunciando seu nome em uma serenata não declarada. Gostava até mesmo de quando discutiam, de quando aprendia algo novo com Chan-yeol, sobre Chan-yeol ou sobre si mesmo. 

Quando a música acabou, colocou-se de pé para aplaudi-lo e o viu sorrir. Jong-in gritava o nome de Se-hun e Jong-dae, bobo como era, jogou uma rosa no palco para Baek-hyun. 

Voltando para o alojamento, sozinhos em silêncio no quarto de Chan-yeol, Jun-myeon sentiu o toque dele em seu rosto. 

— No que está pensando?

— Em você.

— Em mim?

— Sim. Em mim também. E em nós. 

Chan-yeol arqueou uma sobrancelha. 

— Estou pensando em tudo o que fizemos até agora. - Sorriu de canto - No fato de que nos odiávamos e hoje…

— E hoje…

— Somos o que somos.

— O que somos, Jun-myeon? - perguntou Chan-yeol, suavemente. Um sorriso afetuoso estampava seu rosto.

 

— Não sei, Chan. Me diz você. Parece que somos tantas coisas.

— Somos o que quisermos.

— Quero ser namorado do guitarrista da Elixyon. Ele é tão gato. - Brincou.

— Ele? - Chan-yeol entrou na brincadeira. Puxou Jun-myeon para si, sentando-o em seu colo. - Ele me disse que também quer ser seu namorado.

— Então eu e ele vamos ser namorados.

— Ele vai tocar para você todas as noites. E tocar você também. - Beijou-lhe o pescoço.

— Estou ansioso por isso. 


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