Por que não se senta? Eu lhe ofereceria chá e biscoitos, se tivesse.

Não estou sendo irônica. Eu costumava brincar aqui, neste mesmo cubículo, quando era criança… Quando meus pais estavam vivos. Lembro ainda dos encontros animados entre minhas bonecas.

Eu fui feliz. Até que um dia, conheci o inferno. E pouco tempo depois…

Morri.

Como é seu nome mesmo? Helena?

Você também morrerá um dia, Helena. Todos nós morremos. Só que alguns se vão aos oitenta e poucos anos, tranquilos, cercados pela família.

Outros, como eu, têm a vida ceifada aos catorze.

Talvez seja mais fácil explicar se eu começar do início. Aproximadamente no ponto em que meus pais foram atropelados diante dos meus olhos, e meu tio Ernesto recebeu minha guarda.

Ele estava mais interessado nesta propriedade, que um dia valeu muito. E em fazer garotas da minha idade sofrerem.

Mas eu não conhecia essa última faceta, até não ter escapatória.

Você está tremendo?

Eu me lembro da sensação.

Não tenha medo, por favor. Já fui bonita e corada, como você.