Minha Luz é Você escrita por Lilly Belmount


Capítulo 4
Capítulo 4




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A primeira semana num novo Estado estava sendo difícil, pois Helise se sentia entediada. Por mais que quisesse sair para conhecer aos arredores do bairro sua mãe não permitia. Havia algumas regras impostas que a impediam de seguir o seu caminho livremente. Já que não tinha muito o que fazer por ali, Helise as vezes ficava na sala assistindo aos seus programas favoritos. Em outros momentos deitava-se no chão do quarto com uma música de fundo. Escolhia um momento do dia para colocar a sua escrita em prática. Isso acontecia entre as cinco da tarde e sete da noite, pois era o momento em que Geórgia ficava ocupada cuidando do jantar.

Apoiada em seus próprios cotovelos, Helise folheava com atenção cada uma das paginas que estavam preenchidas com a sua caligrafia, suas dores e pensamentos desconhecidos até mesmo por ela. Tornava-se fácil saber qual era o seu estado de espírito quando escreveu cada um daqueles textos. De vez em quando ela esboçava um sorriso fraco diante do que lia.

"Hoje foi um dia bem divertido! Bem mais divertido do que eu poderia imaginar. Meus pais e eu fomos a um parque de diversões. Minha mãe era a que menos demonstrava animação, mas ela fazia o que estava ao seu alcance para não nos desanimar. Ela detestava qualquer brinquedo que fosse de alturas extremas. Ela se recusava a participar da montanha russa. Foi com muito custo que ela se deu por vencida. Ela sorria divertida para o meu pai. Até parecia que eles eram adolescentes de novo. Gostava de vê-los felizes por tudo o que fosse mais simples. A nossa união era a preciosidade de nossa vida. Brincamos durante o dia todo. Não queria voltar para casa, pois sabia que a nossa felicidade seria interrompida pela responsabilidade. Na minha mente de criança eu queria que os dias fossem sempre alegres, com minha mãe dando atenção e carinho que merecíamos".

O som da campainha foi o suficiente para fazer com que Helise guardasse o seu caderno azul e fosse verificar o que estava acontecendo. Desceu as escadas sem fazer muito barulho, pois não queria atrapalhar a conversa que acontecia. A voz que vinha do lado de fora parecia bem empolgada com o que estava para acontecer. Não levou muito tempo para que a porta fosse fechada novamente.

Helise olhava curiosa para a mãe.

— Qual é a novidade dessa vez? — tentou Helise.

Georgia sorriu amarelo.

— Não é nada demais, minha filha.

Helise levantou a sobrancelha.

— Já que não é nada tão importante posso voltar a ficar trancada no meu quarto. — ela foi andando lentamente, pois sabia que sua mãe a chamaria novamente.

— Helise? Fomos convidadas para uma confraternização amanhã.

A garota olhou incrédula. Não poderia ser verdade.

— Sério mesmo?

— Querida, temos que participar dessa confraternização com os vizinhos. — disse Geórgia simplesmente — Essas pessoas querem nos conhecer melhor.

— Nada disso é necessário, mãe. Só uma vez não queria ter que lidar com as pessoas.

— Pense que será um passo muito importante, pois não conhecemos quase nada por aqui, apenas a escola, a igreja, mercado e farmácia. — insistia a mulher — Façamos um acordo. Ficaremos por pouco tempo, mas se não se sentir a vontade pode sair antes.

A garota ficou pensativa por alguns segundos. Temia que algumas daquelas pessoas pudessem saber a respeito do que aconteceu com o seu pai. Não estava ponta para socializar com o mundo lá fora.

— Preciso pensar antes de te dar uma resposta definitiva. — murmurou ela — Só não crie tantas expectativas.

E assim a garota deixou a mãe mais uma vez com os seus afazeres. Obviamente que a mulher já estaria pensando no que deveria levar para a tal confraternização. Georgia nunca perdia tempo. Helise ponderava todos os lados positivos e negativos sobre se aproximar de seus vizinhos. Nenhuma de suas idéias se encaixava em um momento como aquele. Tinha que ter muita calma e paciência para as surpresas que poderiam surgir.

A casa do vizinho era sempre mais animada, independente do horário que fosse. Só em ouvir a alegria que os rondava Helise sentia vontade de se juntar a eles para enfim poder colocar um sorriso no rosto. Como agora só era ela e a mãe tudo era diferente. Ambas dividiam o mesmo teto, mas viviam em mundos completamente diferentes. De vez em quando Helise percebia uma movimentação no quarto de frente para o seu. Não conseguia descobrir a identidade de seu morador. Tinha que deixar de ser curiosa. Talvez não fosse alguém da sua idade e sim uma pessoa mais velha e tímida. Onde é que ela estava com a cabeça para pensar em tamanhas loucuras?

Dizer que a relação entre mãe e filha estava melhorando era uma mera ilusão. Ambas estavam apenas respeitando o espaço uma da outra. Já tinham problemas a serem resolvidos. O jeito seria esperar pelo novo dia que se aproximava para incluir uma socialização mais tranqüila.

***

A claridade que invadia o quarto incomodava Helise. Não conseguiu dormir a noite com pesadelos. Nunca tivera problemas para dormir, mas dessa vez nem mesmo ela entendeu o porquê de ter acontecido o oposto. Tentou ignorar o fato de que seu corpo insistia em permanecer por mais tempo no colchão macio. Saiu de sua cama e foi logo tomar um banho para despertar por completo.

O café da manhã já estava servido quando Helise foi para a cozinha. Sua mãe ainda cuidava de alguns pratos diversificados para a tal confraternização. Quem visse a dedicação daquela mulher não conseguia imaginar que talvez ela tivesse passado a noite em claro só para conseguir deixar tudo pronto. Sentou-se para desfrutar do que tinha na mesa com calma. Ainda levaria algumas horas para que a festa começasse na casa dos vizinhos ou talvez fosse o que Helise pensava.

Em poucos minutos Georgia saiu da cozinha e foi para o quarto se trocar. Normalmente ela levaria muito tempo para escolher uma roupa que combinasse com cada evento, mas desta vez ela estava decidida a usar algo mais simples.

— Como estou? — perguntou a mulher se mostrando.

Helise não via nada demais.

— Está ótimo — disse ela simplesmente.

— Que bom! Agora pega um desses pratos e me ajuda a levar para a casa ao lado.

A garota olhou estranhamente para a mãe.

— Não é muito cedo? — questionava.

— Já são mais das duas da tarde.

Helise não acreditava que havia dormido tanto. Nem se deu conta de olhar em seu celular as horas.

— Perdi a noção do tempo.

— Só me ajude a levar essas coisas.

Imediatamente Helise colocou os fones de ouvido antes de pegar um dos pratos. Juntas elas saíram em direção a casa que estava movimentada recebendo os outros convidados. Uma senhora com traços orientais se aproximou quando viu que elas deixaram os pratos em cima da mesa. Havia muitas variedades.

— Estamos felizes por terem vindo! — exclamou a mulher animada — Sou a Min Jung. — ela se apresentava reverenciando Georgia. Olhou na direção da garota — E quem é essa princesa?

Georgia deu um toque gentil na filha para que ela tirasse o fone de ouvido.

— Essa é a minha filha Helise. — apresentou Georgia.

Helise exibiu um sorriso tímido.

— Seja bem vinda! Também tenho um filho da sua idade. Quem sabe um dia sejam amigos.

— Claro! — concordou Helise por contragosto.

Min Jung começou a apresentar as suas novas vizinhas para o restante do pessoal. Até então todas aquelas pessoas eram mais velhas e não havia alguém da idade de Helise para que ela pudesse interagir. Pela garota estava tudo bem, pois ela gostava de ficar isolada de todos. A vizinhança estava em êxtase e sempre lhe perguntavam sobre os planos para a sua vida dentro de alguns anos, mas nem ela sabia responder com exatidão o que desejava. Tudo o que ela respondia era que ainda teria algum tempo para tomaras decisões corretas. Se fosse ponderar todas as suas vontades talvez o mundo literário fosse o que mais lhe convinha. Gostava de estar no meio de belas histórias, de mensagens e personagens que nunca encontraria na vida real.

Ao longo das horas Helise deu espaço para que a sua mãe pudesse interagir com as pessoas sem que se preocupasse com ela. Precisava de um pouco de espaço. Só observar aquelas pessoas já estava de bom tamanho. Mesmo de longe Helise via o quanto sua mãe estava adorando estar no meio de tantas pessoas, de estar recebendo a atenção que ela sempre tanto amou. De vez em quando ela se servia de algo e voltava para a sua máscara de seriedade. Ficava preocupada com a quantidade de bebidas que sua mãe estava ingerindo sem parar. Coisa boa não poderia sair depois de todas aquelas doses.

A garota ficou preocupada ao ver que sua mãe começava a se atirar para cima dos homens. Os perigos da bebida começavam a se apresentar. Georgia já estava sem controle. Percebeu que alguém havia lhe dado uma cadeira para sentar-se. Foi a oportunidade perfeita para manter uma aproximação.

— Mãe! — repreendia Helise — Para com isso. Já está passando dos limites.

— Deixa eu me... divertir... filha.

Georgia se agitou muito a ponto de não se agüentar mais em pé. Helise queria enfiar a cabeça debaixo da terra diante da vergonha que sentia.

— Vamos para casa agora. Está agindo como se fosse uma adolescente sem escrúpulos. — resmungava a garota — Nem eu me comporto dessa maneira ridícula.

Helise tentou levantar a mãe sozinha, mas não obteve sucesso. Sentiu uma mão pousar levemente em seu ombro. Olhou rapidamente para o rapaz sem saber de onde ele havia saído.

— Eu te ajudo.

O sorriso que ele exibiu causou um arrepio na garota. Para alguém que estava presenciando uma cena constrangedora o rapaz se mostrava bem alegre. Seus olhos se transformavam em pequenas linhas quando sorria. Helise queria entender o que estava acontecendo com o rapaz. Caminharam lado a lado. Não estava fácil conduzir Georgia naquele estado. Parecia que o seu corpo pesava cada vez mais. Sem dizer nenhuma palavra o rapaz ajudou Helise a deixar a sua mãe na sala. Sentia-se constrangida por tudo o que havia acontecido. Seus olhos ardiam. Não queria derramar uma lágrima que fosse.

Com um pouco de esforço ela abriu a porta e mostrou onde o rapaz deveria deixar a sua mãe. Ela o observou o jeito delicado em que o rapaz ia deixando Georgia no sofá.

— Obrigada por me ajudar... e desculpa por toda a loucura que a minha mãe causou. Estou morrendo de vergonha.

O rapaz sorria docemente para Helise tocando em seu ombro.

— Não precisa se preocupar. Depois de muito tempo foi que vi essas pessoas se divertindo de verdade.

— Agradeça ao mico da minha mãe.

— Não é somente por esse fato, mas aqui somos felizes quando alguma mudança acontece. — explicava o rapaz encantado por Helise — Você vai acabar gostando daqui.

Ele não conseguia desviar o olhar. A observava com muita atenção.

— Eu não sei. — ela deu de ombros.

—Só nos dê uma chance de te provar o quanto vai ser bom.

— É o jeito, não é? —indagou Helise.

Ele olhou rapidamente em seu celular

— Preciso ir. Cuide bem da sua mãe.

Ele saiu rapidamente sem dar tempo para que Helise lhe oferecesse algo. Ela se contorceu ao ouvir a sua mãe vomitar.

— Me ajuda, filha. — pediu Georgia.

— Não dessa vez. Quero que você se afogue no seu próprio vomito. Eu te disse para ir com calma, mas você nunca me ouve. — murmurou ela com a voz embargada — Eu queria que fosse mais cuidadosa.

 


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