P.O.V. Daniel.

Eu sei que a minha mãe é uma víbora. E eu pessoalmente me pareço muito mais com ela, fisicamente.

Sou loiro de olhos azuis. Mas, meu cabelo é um loiro meio escuro.

Meu pai está sempre trabalhando, em qualquer lugar menos em casa. Fui basicamente criado pela minha empregada, Maria.

É claro que a minha mãe é a Emily Grayson, mas sempre que eu precisava de alguma coisa eu iria direto para a cozinha.

—Vai me dizer o que tá perturbando você, meu filho?

—Como é possível eu ter sentimentos por alguém que nem é da mesma espécie que eu?

—Oh, certo. As garotas gêmeas, eu acredito que há um propósito para tudo o que Deus cria, mas não se engane. Elas são criaturas predatórias.

—Ela está certa. Oi Daniel.

—Oi, Hayley. Somos predadores também.

—Não, bem sim, mas não neste nível.

—Que nível?

—Lobos não conseguem se controlar em seu estado primal, o instinto de caça prevalece sob tudo, vampiros são movidos pela necessidade de se alimentar, atraídos pela matança. O sangue e bruxas... bem, bruxas quando provocadas são responsáveis por algumas das piores atrocidades da história. As bruxas são a raiz de tudo. Elas vieram primeiro, os outros são apenas cria de bruxa. De um jeito ou de outro. Vó Esther, uma bruxa, uma mãe desesperada que amava tanto seus filhos que não podia imaginar a ideia de perdê-los, ai transformou eles em vampiros. Inadu Labonaire, uma bruxa vingativa que era basicamente um bebê de Rosemary que amaldiçoou a própria mãe e toda sua tribo á quebrar cada osso de seus corpos e se transformarem em... lobos. E tem a bruxa que ajudou criar o Malivore, então... é. Adorável.

Ela estava sentada na bancada, remexendo e comendo um pedaço de torta de creme e maçã.

—As bruxas de conto de fada, existem de verdade?

—As bruxas de conto de fada não são bruxas. Elas são Hexenbiest. Mas, eu já vi feitiços do sono, minha tia Freya me ensinou. Mas, é mais complexo do que vocês pensam. Não é picar o dedo ou comer uma maça. Precisamos de algo, um objeto eterno da natureza para servir de âncora. Ou a pessoa envelhece e morre.

—Espera então, o feitiço da bela adormecida existe de verdade?

—Sim. Minha mãe escreveu uma variação, não era só um feitiço do sono, era um feitiço de ocultação. Posso comer mais?

—Claro.

Ela comeu uma torta inteira sozinha.

—Como cabe tanta comida dentro de alguém?

—Fome insaciável, está meio que implícito no conceito de vampirismo.

—Essas meninas de hoje morrem de fome de propósito. Por Dios, queria ver se elas tivessem que passar fome de verdade, sem o opção de ter comida na mesa, se iam ficar contando caloria.

—Você tem razão. 

P.O.V. Hayley.

Isso está me dando nos nervos, não sei exatamente o que ela quer, mas ela quer alguma coisa. Sei disso.

Emily Grayson. Uma socialite de trinta e três anos com dois filhos adultos. E acho que tenho uma boa ideia do que ela quer.

Imortalidade.

É óbvio que ela não tem a menor noção do que é ser vampira. É claro que não. Não é apenas a necessidade insaciável, a sede de sangue, tem também os sentimentos ampliados.

Mais monstros virão. Sei disso, posso sentir. Agora que Malivore morreu, todas as criaturas foram vomitadas, estamos rastreando e alguns nós salvamos, outros nós matamos. Mas, ainda assim são séculos de criaturas engolidas e esquecidas. Portanto nem faço ideia de quantos ainda vagam por ai.

Ou que tipo de monstro vamos enfrentar.

—No que está pensando?

—Em que tipo de criatura vamos ter que matar da próxima vez. Monstros vomitados por Malivore. Já tivemos um gênio, dragões, Caríbidis, uma Dríade, entre outras coisas. E aposto que ainda há mais por ai.

—O que é Malivore?

—Meu avô. Paterno. Ele era um Golem, criado com o sangue de uma bruxa, um lobisomem e um vampiro e muita magia negra. Foi criado para consumir seres sobrenaturais fora aqueles que eram membros das espécies de seus criadores e apagá-los do consciente coletivo.

—Minha mãe vai dar um evento de gala esta noite.

—É claro que vai. Talvez seja isso. Talvez as multidões, a música, a agitação... talvez tudo isso atraia os monstros. Agora eles estão livres num mundo desconhecido, cheio de coisas diferentes. A única coisa que existia todos aqueles séculos atrás e que ainda é uma constante é... vocês.

—Nós?

—Humanos. Humanos existiam antes e ainda existem. Só Deus sabe como. Mas, ainda existem. E ainda são considerados... comida.

Comida.

—Então, somos comida?

—Sim. Pense á respeito, o demônio do sonho se alimentava de humanos, de seus sonhos bons, de seu medo, vampiros se alimentam de sangue humano, os lobos caçam humanos se eles atravessarem seu caminho, a Jeenie se alimentava da ganância humana, usando seus desejos contra você, até mesmo a dríade ficava puta quando os humanos cortavam árvores para que suas casas fossem maiores que outras casas. Caríbidis afundava navios e comia o que sobrava.

Duma forma ela tinha certa razão.

—Consegue imaginar? Passar séculos dentro dum poço negro de perdição que é basicamente o inferno, ser esquecido por todos que você ama e que te amam de volta e então um dia... você sai. E o mundo que conhecia não existe mais. Deve ser desorientador, apavorante.

Disse com verdadeira pena.

—Como você sabe como é?

—Minha mãe. Ela se jogou no poço para destruí-lo. A única razão pela qual você e todos os outros estão aqui vivendo esta vida boa é porque depois que o meu tio Clark pegou o artefato final e jogou no poço, minha mãe se atirou dentro do golem para destruí-lo. Foi apagada da existência. Ela não gosta de falar á respeito, mas tem pesadelos até hoje.

P.O.V. Narrador Onisciente.

Nossos personagens nem podiam imaginar que enquanto estavam conversando... o monstro já estava vagando e sem saber indo em sua direção.

Algo me diz que esta festa... vai ser memorável.