Os Sentinelas escrita por Hurricane


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Obrigado por me ceder seu tempo para ler esta história. Foi minha primeira tentativa verdadeira de escrever terror e eu só melhorei desde então.

Se, por acaso, você entra aqui e já me acompanha de outros tempos, então quero dizer que as outras histórias prometidas - continuações e reedições - estão, por enquanto, em pausa.

Não posso dizer que estou lutando contra a depressão, pois ainda não fui diagnosticado, mas pretendo ir logo ao médico e os sintomas estão presentes. Ultimamente, ando deprimido demais para escrever qualquer coisa nova ou reeditar as antigas, e, por isso, espero que possam me dar um pouco mais de tempo.



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Imprevistos acontecem.

O nome já diz muito sobre eles: são impossíveis de prever. Uma miríade de fatores pode causar um imprevisto — a distância da Lua, a força do vento, um encontro ao acaso numa rua lotada, entre tantos milhares de outros exemplos.

Se você sair na rua por tempo o suficiente, pode vivenciar e presenciar muitos destes tais imprevistos, em maior ou menor escala.

Mas existe, também, outro tipo de imprevisto: o que se pode prever.

Foi o tipo de imprevisto que acometeu dois amigos que faziam uma viagem de férias à praia. Diego avisara, com certeza. Se não enchessem o tanque da picape, correriam sério risco de ficar na estrada.

— Confia em mim, tem um posto mais barato ali pra frente — afirmou Rique.

Não tinha.

Esse imprevisto não só podia ser previsto como de fato o fora. E Diego fez questão de reiterar. Várias vezes.

— Cala a boca, Diego! Pelo amor de Deus! Olha, tem uma placa aqui que diz que não estamos longe de uma cidade. Abastecemos lá.

Então fizeram um desvio. A estrada para a cidade era um caminho suspeito e até meio escondido. Buracos faziam com que os dois pulassem a cada dois minutos, e o mato ao redor começava a ficar cada vez mais malcuidado, cada vez maior.

Diego sentia que aquilo era um lugar perfeito para uma emboscada; para que alguém saltasse sobre eles e lhes levasse o dinheiro, o carro, as malas e a vida.

Quando fizeram o desvio, era uma tarde clara. Sem que eles percebessem, em algum momento, uma escuridão começou a se espalhar no céu. De repente, antes de o relógio marcar 18h, já era noite.

— Rique, eu tô ficando doido ou já é noite?

Henrique olhou para o céu, também desconfiado. Não havia estrelas nem luar.

— Não… Deve ser alguma tempestade ou… Sei lá.

A verdade era que Henrique sentia algo no fundo de sua mente que o deixava ligeiramente perturbado. Diego tinha total razão de suspeitar daquele breu súbito.

Acendeu os faróis do carro e ligou o rádio. Legião Urbana começou a tocar, e ele desligou rápido. Quando chegaram à cidade, ficaram apenas um pouco aliviados. Não havia viva alma nas ruas. Rodaram por pouco tempo antes de encontrar um posto quase tão abandonado quanto.

Um frentista se aproximou, com cuidado. Ele os encarou hesitante, viu que eram de fora e abanou sua cabeça rapidamente. Seu semblante era partes iguais de pesar e surpresa.

— É uma noite ruim para estarem aqui, senhores. Hoje é noite sem luar. O que vai ser?

— Enche o tanque, por favor. Álcool.

Quando ele foi fazer seu trabalho, Diego virou-se para Rique:

— O que acha que ele quis dizer com isso?

— Que hoje não vai ter lua no céu.

— Não, idiota. O que acha que ele quer dizer com hoje ser uma noite ruim?

— Vai ver é porque é mais fácil alguém nos assaltar quando a noite não tem luar? Eu vou saber, droga!

— Ah, não. Ninguém vai te assaltar aqui, senhor — o frentista disse, surgindo à janela. — Temos a menor taxa de criminalidade do mundo. Desculpem, não pude não escutar a conversa.

— Então… Por que hoje é uma noite ruim?

O frentista deu um suspiro curto.

— Olha, demoraria demais para explicar. Apenas esqueçam e vão embora. Agora. Deixa isso por conta da casa.

Os dois amigos se entreolharam e deram de ombros. Não insistiriam no contrário. Henrique ligou a picape e dirigiu na direção da saída da cidade. Estavam quase deixando a área residencial para trás quando Diego viu uma pessoa em uma esquina. Estava vestido inteiro de preto. Uma piada com Rique passou pela sua cabeça, mas refreou-se. Sabia que o amigo não gostava disso.

Distraído com aquela figura, nem viu quando o motorista assustou-se e meteu o pé no freio. Os pneus cantaram enquanto o carro guinava. Diego soltou um grito, Henrique o acompanhou. Então, um salto pequeno.

— Mas que droga foi essa?!

— Um maluco pulou na frente do carro!

Henrique saiu do carro, furibundo; não fosse a melanina, estaria inteiro vermelho. Olhou de um lado para o outro, buscando a pessoa que fora motivo de seu susto. Nem sinal.

Deu uma volta no veículo e soltou um sonoro impropério.

— O pneu foi pro saco!

Uma pessoa colocou a cabeça para fora da janela e olhou, estarrecida. A surpresa duplicou quando viu que eram forasteiros.

— A cidade tá praticamente abandonada. Não vamos achar nenhuma borracharia hoje e não dá pra botar o estepe aqui. Hoje, pelo visto, dormimos aqui. Não viu nenhum hotel enquanto procurávamos o posto não, viu?

Diego abriu a boca para responder, quando uma filipeta voou até o para-brisa. Anunciava um hotel não muito distante.

— Tá legal… Isso é estranho. Pra caramba — ele disse.

— Esta cidade inteira é estranha, Diego. Não quero ficar aqui um segundo mais que o necessário.

Em meia hora, chegaram no hotel panfletado. Diego entrou, e encontrou o lugar silencioso. Atrás do balcão, havia apenas uma garota, loura como ele, com um sorriso no rosto. Foi quando se aproximou que percebeu que o sorriso tremia levemente. Seus olhos azuis estavam circulados por bolsas roxas, e tinha um ar assustado. O rapaz quase temeu que ela saísse correndo dali.

— Vou precisar de um quarto para dois, por favor. Camas de solteiro.

Ela acenou que sim, e fez os registros em um livro. Ele assinou o que precisava assinar, entregou seus documentos.

Quando Rique e ele começavam a se dirigir para o quarto, puderam ouvi-la murmurar:

— Essa é uma noite bem ruim para aparecerem…

Henrique trancou a porta do quarto, Diego sentou na cama. Eles se olharam por um segundo, então, em uníssono, constataram:

— Tem coisa muito errada aqui.

— Menor taxa de criminalidade no mundo? E a gente nunca ouviu falar dessa cidade? — começou Rique.

— E qual é o problema com a noite de hoje?

— Aliás, por que ficou noite de repente?

— E por que essa cidade é deserta?

— Mais importante: aonde foi o maluco que pulou na frente do carro?!

— Olha, talvez isso seja como aquelas praias do nordeste onde amanhece quatro da manhã e fica escuro três da tarde. Se esse é o caso, vamos sair daqui bem rápido.

— Sua teoria só tem uma falha, Diego: estamos no Centro-Oeste. Não é assim que o dia funciona por aqui.

— Então qual é a sua teoria?

— Que tem coisa muito errada.

— Isso não é uma teoria, gênio. É uma constatação.

Ficaram em silêncio. Diego pegou o celular e ficou consternado quando percebeu que não tinha sinal algum. Mais uma pra lista de esquisitices da cidade.

Depois de duas horas assistindo televisão – um modelo pequeno e antigo – e fazendo nada, dormiram. No dia seguinte, trocariam o pneu furado e iriam embora dali.

Foi durante a noite que a esquisitice final aconteceu: Diego sentiu uma pressão sufocante sobre seu peito, abriu os olhos e encarou uma máscara de gás antiga – modelo da Primeira Guerra – com olhos vermelhos brilhantes. Ele tentou gritar, mas uma luva de couro cobriu sua boca.

Os olhos vermelhos queimaram suas pupilas, mas ele não conseguia fechar os olhos. Então, aquele homem enfiou dois dedos em sua boca e os desceu até a garganta. Diego começou a sufocar, a engasgar. Finalmente, seus olhos fecharam.

E ele se levantou da cama, assustado. Engolia o ar como se fosse um alimento sólido. Acreditou, por um segundo apenas, que aquilo fora algum tipo de paralisia do sono. Sua crença durou tão somente até ele olhar para o lado e ver que Henrique passava por algo parecido. Ele gritou e saltou da cama.

Mas a coisa sumira. Rique levantou, também engolindo o ar. Diego acendeu a luz e sentou de frente para o amigo.

— Que diabo foi isso?! — inquiriu o que por último sofrera o ataque.

— Acho que foi isso mesmo, Rique: o diabo. — Ele se benzeu, supersticioso.

Não levou mais que cinco minutos para a garota entrar correndo no quarto deles. Ela olhou ao redor, encarou o céu lá fora.

— Essa é uma noite ruim. Muito, muito ruim. Parece que vocês conheceram os guardiões dessa cidade. — A palavra “guardiões” foi dita com um tom quase jocoso ou irônico. Não dava para discernir com certeza.

— Mas o que foi que aconteceu aqui, droga? Por que ninguém responde? — Henrique já estava gritando.

— Bom, pra resumir: vocês foram punidos. A história é longa, e vocês vão querer descansar agora. De manhã, explicamos tudo.

— Não vai ter “de manhã”. Nós vamos sair daqui. Vamos sair daqui agora! Eu vou botar a merda do estepe na merda do carro, e vou sumir daqui!

Rique correu até a garagem, pronto para botar o estepe.

E seu carro não estava mais lá.

Sobrara apenas as malas e um pneu furado.


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Notas finais do capítulo

Espero que se interessem pela história, e até mais



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