Conectando-se escrita por Dri Viana


Capítulo 18
Capítulo 18 - Acerto de contas Pt.2


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui! Quanta saudades eu senti de vocês e de postar aqui. Infelizmente eu precisei me afastar para o bem da minha saúde. Vivi um período bem difícil e conturbado, onde achei real que não voltaria a escrever nada, felizmente graças aos céus as coisas foram se ajeitando dia após dia e agora tudo está bem na medida do possível. Tanto que devagar já dá pra retomar gradativamente a escrita. A bem da verdade é que eu já tinha começado, mas não com GSR e sim outro shipp. Agora que vou retomar pra cá e essa fic será a primeira. Vou finalizar essa e depois vemos as outras sem pressa.

Espero que vocês não tenham me abandonado e nem a fic, porque ela vai ser finalizada assim como todas as outras, pois como diz a minha frase preferida: Finalize seus começos! E eu costumo finalizar todos os meus começos, ainda que isso demore.



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Foi impossível para Sara não se atentar para o som da voz de Arthur, bem como o sotaque. Ambos eram muito similares ao usado por Grissom durante as ligações que trocaram quando ela sequer imaginava que seu chefe e o amigo virtual por quem se apaixonou, tratavam-se da mesma pessoa.

Por Deus como esta situação ainda lhe soava louca e um tanto perturbadora. Nem nos seus sonhos mais absurdos ia imaginar que o destino fosse armar dela conhecer pela internet um amigo de Grissom e depois, que seu chefe fosse se passar justamente por esse amigo para ficar trocando mensagens com ela.

Ainda em silêncio, Sara mediu Arthur com certa minúcia. Ele era alto (indo contra o que havia lhe dito sobre ser de altura mediana). Muito provavelmente, passava dos 1.90m. Estava vestido de maneira elegante e formal em um conjunto de terno marinho, camisa branca e sapatos pretos, sem gravata.

Os cabelos com alguns discretos fios grisalhos em suas têmporas estavam muito bem penteados para trás, deixando em evidência o rosto escanhoado. Sem dúvida alguma, ele era um ótimo colírio para seus olhos. Todavia, ela achou que ia sentir uma 'animação extra' por estar diante dele, o que não foi o caso.

— Oi, Arthur... Ou seria Bartholomew?

A perita questionou em tom divertido e viu um sorriso menos 'engessado' surgir na face do reitor enquanto ele caminhava em sua direção a passos cautelosos. Assim que Arthur parou bem diante dela foi que Sara teve a oportunidade perfeita de vê-lo melhor.

Rosto bonito, traços marcantes, algumas rugas de expressões nos cantos dos olhos acinzentados, boca de lábios pequenos, nariz fino e exalava um perfume amadeirado muito agradável.

Ela reforçou mentalmente o pensamento de que de fato ele era um colírio para os olhos femininos!

— Pra você é Arthur!

De maneira cortez e ainda mantendo o sorriso, ele estendeu a mão direita para Sara em cumprimento.

— Muito prazer em te conhecer pessoalmente... Arthur.

Ela apertou sua mão grande e de dedos compridos.

— Estou ainda bastante chocado com sua presença.

Ela não conseguiu conter o riso diante de tal comentário. De fato dava para notar ainda o choque escancarado na face um pouco pálida de Arthur, sem contar em sua mão gelada.

— Está dando pra notar!

O comentário em tom brincalhão teve o poder de relaxar um pouco Arthur, deixando esvair de seus ombros toda a tensão de segundos atrás.

Por uma breve fração de segundos, seus olhos acinzentados se permitiram uma discreta olhada em Sara.

Ela era linda!

Grissom, seu filho da mãe sortudo!, Pensou Arthur rindo por dentro.

Sentiu até um pouco de inveja de seu velho amigo. Sara era tanto ou até mais linda pessoalmente do que na foto, que Arthur ainda mantinha salva na galeria de imagens de seu celular.

Mesmo tendo decidido parar de falar com a amiga virtual, Barth não conseguiu apagar a foto e tampouco, o número de contato de Sara da sua agenda telefônica. Vez ou outra, ele se pegava olhando para a foto dela ou então seu número de contato no aplicativo, tentado em lhe mandar uma mensagem de texto. Porém sabia que não devia, por conta do plano.

Sara realmente havia lhe encantado em tão pouco tempo de conversa. E olha que ele já havia conversado com algumas outras mulheres interessantes naquele site, mas nenhuma lhe agradou tanto como a mulher a sua frente.

Ela se mostrou alguém fora da curva. Era agradável de conversar, inteligente e deixar de falar com ela foi uma decisão difícil, mas necessária. Caso contrário, ele podia apostar que mais um pouco e o encanto que sentia por ela viraria 'algo mais' caso continuassem de papo.

A última vez que ele se simpatizou tanto assim por alguém do sexo oposto, foi quando conheceu sua ex-mulher. O encanto tinha sido instantâneo com Alana como havia sido com Sara.

Mas ao contrário de anos atrás, desta vez havia um empecilho: seu melhor amigo. Se ele não fosse apaixonado por Sara, Arthur não hesitaria duas vezes em tentar alguma coisa com a perita. Porém, tinha Grissom e uma amizade com mais de duas décadas que o reitor prezava demais com o ex-supervisor. Sem contar, que ele podia apostar que era só questão de tempo e um empurrãozinho para seu amigo e Sara se acertarem. Portanto, ele não ficaria no meio daquela história mal resolvida entre aqueles dois.

— Vamos sentar ali para conversarmos.

Arthur convidou já apontando para o sofá cor de café que havia na sala. Com um pequeno gesto de cabeça, Sara concordou e o acompanhou até o móvel.

— Grissom podia ter me avisado que você viria.

— Na verdade ele nem sabe que estou aqui. - Sara esclareceu ao se acomodar no sofá de três lugares, para depois concluir: — E apreciaria muito se ele continuasse sem saber.

O reitor apenas assentiu em concordância. Um silêncio se fez presente entre eles por um curto período, quando ambos decidiram se pronunciar coincidentemente ao mesmo tempo.

— Eu...

— Você...

Eles acabaram por rir logo em seguida a fala junta.

— Primeiro as damas.

Gentil como a criação que recebeu em casa e carregava consigo até hoje, Arthur cedeu a Sara o direito a falar primeiro.

Ela suspirou, apertando as mãos enquanto buscava palavras que simplesmente fugiram de sua cabeça no momento. Tinha tantas coisas a dizer ao homem diante de si, perguntas a fazer, esclarecimentos a pedir. Só que agora não conseguia sequer formular nada. Tudo virou uma tela branca dentro de sua cabeça.

— Nossa!... Não sei o que te dizer.

O sorriso nervoso dela denunciou bem seu estado no momento.

— Então posso ser o primeiro a falar?

Ela consentiu.

Ao contrário de Sara, Arthur sabia bem o que devia lhe dizer. Havia tanto, mas o primeiro de tudo era um pedido sincero de desculpas.

— Antes de qualquer coisa, eu quero... Na verdade, eu PRECISO... te pedir desculpadas, Sara. Essa situação toda foi culpa minha. Eu tive a ideia do Gil se passar por mim e...

— Espera aí... - ela ergueu a mão direita interrompendo na mesma hora a fala do reitor. — Grissom me disse que a ideia foi dele.

Arthur não havia ficado nenhum pouco surpreso com aquela revelação de Sara. Era de se supôr que Grissom teria uma atitude daquela. Seu velho amigo era capaz de colocar a cabeça a prêmio, ao invés, de colocar a de um amigo. Arthur sempre achou esse comportamento de Grissom louvável, mas ao mesmo tempo idiota.

— Bem que eu imaginei que aquele tapado ia fazer isso.

O termo usado por ele para se referir ao amigo, arrancou um discreto sorriso de Sara. Tapado combinava com seu supervisor, que por anos foi um completo tapado com ela.

— Não foi ele, Sara... Fui eu. Grissom jamais me derrubaria. Ele prefere se afundar sozinho na lama a ter que jogar um amigo no lugar dele, mesmo esse amigo merecendo afundar na lama.

— Pelo visto vocês são bem amigos para ele ter uma atitude dessas.

Ninguém faria algo semelhante se não fosse amigo de verdade.

— Amigos de longa data. Da faculdade para ser mais exato. E foi me valendo dessa amizade antiga, que eu insisti para ele fazer parte do meu plano nada brilhante. Grissom desde o início teve receio em fazer parte disto, porque achava muito errado te enganar assim, Sara. Além disso, temia que no fim das contas, você acabasse por odiá-lo.

Ela lembrou de imediato do pedido de Grissom no dia em que a verdade veio à tona: não me odeie.

— Mas aí, eu coloquei tanta pilha nele, que o pobre do meu amigo acabou topando por livre e espontânea pressão. Portanto, a culpa de toda essa situação só é minha, não dele. E se alguém merece seu ódio pela mentira criada, este alguém sou eu, Sara. Não o Gil!

Tudo que ele pudesse fazer ou dizer para eximir seu amigo tapado de uma culpa que o próprio tomou estupidamente para si, Arthur faria e diria. Grissom era uma boa pessoa, só que na maioria das vezes, complicava as coisas e metia os pés pelas mãos com uma facilidade que Arthur achava incrível para um sujeito tão inteligente como seu velho amigo era.

— Se me permitir... Eu quero te contar a história como ela foi e não, como o meu amigo 'editou' para não me derrubar. Posso?

Ela apenas assentiu, porque tinha vindo, justamente para ter a verdade.

— Então é o seguinte...

***

Grissom vinha de cabeça baixa, andando pelos corredores do laboratório e com a atenção voltada para os papéis que carregava em uma das mãos, quando escutou seu nome ser chamado quase em um grito. Virou-se para trás e viu seu amigo capitão vir em passadas largas até onde havia parado.

— Aconteceu alguma coisa, Jim?

— Não. Apenas te vi e resolvi dá um 'oi'. Mas você não ouvia que tive que gritar.

O capitão estava passando lá pelo final do corredor, quando avistou Grissom e não pensou duas vezes em ir até ele para cumprimentá-lo.

— Desculpe. Estava olhando isso aqui. - Grissom ergueu os papéis em uma de suas mãos.

— Tudo bem. Mas e aí... Quanto tempo?! Não nos falamos mais direito desde que virou diretor.

Jim podia contar nos dedos de uma das mão as vezes em que trocou uma ou duas palavras no máximo com seu amigo pelos corredores do laboratório: três. Grissom sempre parecia apressado e com alguém em seu encalço.

— Novo cargo e muitas atribulações para resolver.

— Imagino. Antes você só era responsável por uma equipe do turno da noite. E, então, passou a ter sob sua responsabilidade um laboratório inteiro. Deve estar sendo um tanto extenuante esse excesso de trabalho.

Ele não disse nada em resposta, apenas balançou a cabeça de leve enquanto forçava um sorriso amarelo.

A verdade é que Grissom no momento até achava bom o excesso de trabalho que vinha tendo. Ocupar sua cabeça e seu tempo com o trabalho e os problemas do laboratório, estava sendo sua válvula de escape para não enlouquecer diante do silêncio de Sara. Sem contar também, que lhe desviava ainda que momentaneamente a atenção da incerteza de um futuro com a mulher que ama.

— Ecklie como Xerife deve estar no seu pé mais assiduamente, assim como o prefeito não é?

— O que acha?

Pela careta que seu velho amigo fez ao falar, Jim concluiu que a resposta era um enorme "sim". Inevitavelmente o capitão esboçou um sorriso.

Nesse momento Sofia que vinha pelo corredor, passou perto dos dois amigos e os cumprimentou, direcionando um largo e gigantesco sorriso a Grissom, algo que não passou despercebido por Jim.

— Que sorriso foi esse que ela te deu? - Jim encarou seu amigo de maneira cínica.

— Um sorriso de cumprimento?!

— Foi mais que isso. Acho que essa moça tem interesse em você.

Grissom olhou de cara feia para seu amigo e antes que pudesse dizer algo, Jim emendou:

— Devia investir nela. É uma moça agradável, bonita, inteligente...

— Eu não sou pra ela... - se pronunciou Grissom, interrompendo a fala de Jim. — E nem ela é para mim, Jim.

— Então, me diz, quem é para você?

A imagem de Sara se pintou de imediato na cabeça do diretor, como a mais bela das obras de artes. Ela era para ele e vice-versa! Ainda que por anos ele tenha tentado negar isso por medo, nada parecia mais certo do que eles serem um para o outro. Ela era a mulher que habitava seu coração e mente, talvez pelo resto da vida.

— Seu turno já não acabou?

O diretor se esquivou do questionamento de seu velho amigo. Em hipótese alguma ia responder a pergunta de Jim. Sem chance!

— Como sempre fugindo desses tipos de perguntas, né?... Tudo bem!... Um dia ainda arranco essa resposta. E sim, meu turno se encerrou fazem... - consultou seu relógio de pulso para se certificar do tempo exato. — vinte minutos.

— Então já devia ter ido descansar.

— Esse era o plano. Mas antes ia com o pessoal a casa de Sara tomar café com ela. Estávamos combinando quando Greg contou que ela viajou ontem.

— Viajou? - Grissom tentou não transparecer sua surpresa pela notícia. — Sabe pra onde ela foi? - desviando o olhar para os papéis em sua mão, o diretor indagou Brass despretensiosamente.

— Greg não disse. Mas segundo o garoto, ela precisou viajar pra espairecer a cabeça. Queria eu também viajar pra espairecer a cabeça depois de quase três meses de licença médica. - O capitão esboçou um sorriso sarcástico. — Vou indo. Até, velho marujo!

Grissom nem se deu ao trabalho de responder. Estava mais ocupado digerindo essa história de Sara ter saído de viagem.

Em passadas rápidas, ele seguiu para sua sala com a cabeça fervilhando sobre o possível destino da perita. As hipóteses eram infinitas, mas sem muito esforço uma logo ganhou sua mente: Alabama. Parecia um destino bem pertinente levando em conta o ocorrido recente.

Assim que entrou em sua sala, o diretor jogou sobre a mesa as papeladas que segurava e resgatou do bolso da calça o celular. Sem demora, já discava os números de seu velho amigo. Somente Arthur poderia confirmar suas suspeitas. Cinco toques e a chamada caiu na caixa postal. Ele tentou por mais duas vezes e o mesmo aconteceu.

— Por que você não atende, Barth?

Mal sabe o diretor que seu amigo sequer estava vendo suas ligações. Arthur tinha posto o celular no silencioso momentos antes de receber a notícia da presença de Sara, para evitar de ser importunado por Alana que logo cedo achou de lhe perturbar a cabeça pedindo dinheiro para um novo procedimento estético.

— Com licença, Doutor Grissom... - o diretor se virou para a porta e avistou a recepcionista do laboratório. — O Secretário do prefeito está aqui. Disse que tem uma reunião marcada com o senhor para agora.

Droga!

Ele suspirou em desgosto. Havia até se esquecido dessa reunião.

— Mande que entre, por favor.

Deixaria para entrar em contato com seu amigo reitor depois dessa reunião, ou melhor, quando estivesse em casa.

***

Barth havia contado tudo como foi, sem as edições feita por Grissom. Explicou e reiterou por diversas vezes que sua intenção não foi e nunca tinha sido magoar Sara quando teve a ideia de seu amigo se passar por ele e seguir o papo com a perita. Na verdade o que ele queria com aquilo era juntar dois amigos apaixonados, que já sofreram demais por estarem separados.

— Não foi a ideia mais brilhante, admito. No entanto foi com a melhor das intenções nunca o contrário, Sara.

Um tanto receoso, o reitor tomou a liberdade de se aproximar mais de Sara no sofá onde estavam acomodados. Olhando nos olhos dela, ele voltou a se pronunciar.

— Se lembra quando cheguei atrasado para a conversa que marcamos no site? Foi logo depois que nos conhecemos.

Como ela não ia lembrar?! Na ocasião chegou a pensar que ele lhe daria um bolo e nem apareceria mais.

— Você disse que estava em um happy hour com um amigo.

— O amigo em questão era o Grissom. Naquela noite, ele me contou não só sobre você, mas como também do gigantesco amor que sente e da grande dificuldade que aquela altura estava sendo pra ele não ceder aos sentimentos que nutre. Ele te ama, Sara. E não é pouco.

Era isso que ela não entendia. Seu chefe a amava, mas em diversas ocasiões a fez acreditar no contrário com suas sucessivas atitudes em mantê-la longe dele.

— Me ama tanto que por mais de anos...

Ela se calou e baixou os olhos, não completando a frase, mas Arthur fez isso por ela.

— Foi um perfeito idiota com você?!

Ela encarou com um semblante surpreso ao reitor assim que escutou tais palavras saindo de sua boca.

— Acredite, eu também não consigo entender isso desde que ele se abriu comigo, Sara. Grissom é complicado quando se trata de amor. Lembro que na faculdade era assim também. Conheço aquele cara muito bem e posso te afirmar... O bugboy é uma boa pessoa, um cara fora do sério, amigo incrível, cientista brilhante e renomado, mas cá entre nós... Também é um perfeito tapado.

Ela concordou com um leve movimento de cabeça.

— Eu é que não vou discordar de nenhuma dessas suas últimas palavras.

Tanto ela quanto Arthur abriram um sorriso diante do que fora dito pela morena.

E quando os risos cessaram cinco segundos depois, o silêncio se instaurou entre o reitor e a perita.

Arthur tinha feito sua parte. Contou a verdade dos fatos e defendeu seu amigo com a gana de um advogado que ele nem sabia que habitava dentro dele. Agora cabia a Sara o próximo passo. Se era para um final feliz entre ela e seu amigo bobão, o reitor não sabia. Apenas torcia pela primeira opção. Nada lhe deixaria mais contente do que ver que seu plano maluco deu certo e não arruinou de vez a oportunidade daqueles dois corações apaixonados se conectarem de vez, e ficarem juntos para sempre, quem sabe.

***

Os olhos amendoados encaravam pela janela do quarto o céu carregado de nuvens cinzas. Era questão de minutos, quiçá segundos, para um aguaceiro grande desabar e muito provavelmente, sua saída para jantar com Arthur não rolaria nessas condições. Ele havia feito o convite enquanto se despediam em frente a porta de sua sala, após mais de uma hora de longa conversa. O reitor ainda se prontificou em lhe mostrar um pouco da cidade amanhã, já que ele não iria ter trabalho.

Ela observou o primeiro pingo de água molhar a janela de vidro, logo em seguida vieram outros de maneira rápida e em menos de quinze segundos a chuva já havia tomado conta da cidade lá fora naquele início de noite nublado.

"Grissom desde o início teve receio em fazer parte disto, porque achava muito errado te enganar assim, Sara. Além disso, temia que no fim das contas, você acabasse por odiá-lo."

Ela levou a mão ao rosto e com o dedo polegar e indicador, apertou o canto dos olhos ao se recordar outra vez de um fragmento da longa conversa que teve com Arthur aquela manhã. O tempo em que passaram de conversa, ela mais ouviu que falou, tendo todas as suas dúvidas esclarecidas sem ao menos tê-las externadas ao reitor, já que Arthur parecia estar lendo sua mente.

Arthur fez questão de deixar muito bem claro que a autoria do plano tinha sido SUA e somente sua, eximindo Grissom da culpa como o supervisor havia dito a perita.

"Grissom já estava para ceder a você, Sara. Ele na verdade já queria se aproximar de você só não sabia como. Na visão dele, ele não era certo para você antes e menos ainda agora, depois desses anos de negação."

Aquela 'escolha' de 'ser certo ou não' não era dele. Não cabia a Grissom! Ela quem sabia daquilo. ELA e SOMENTE ela! Grissom não tinha que tomar a decisão de escolha no lugar dela.

Sentia raiva dele por isso. Assim como pela mentira desses últimos meses.

"E se aproximar de mim através de uma mentira não foi a escolha mais sábia!"

"Mas isso aí, eu já te disse foi minha culpa. Eu tive a ideia."

"E ele aceitou e concordou em participar. Grissom podia ter se aproximado sem mentira alguma. Sendo honesto!"

"Você o aceitaria assim naquele momento? Depois de tanto sofrimento? Seja sincera!"

Ela desviou os olhos de Arthur e se levantou do sofá. Calada, circulou pela sala até parar diante da estante bem abastecida de livros.

"Se o meu amigo aparecesse naquela época em sua porta e pedisse uma chance... Você daria?", Insistiu Arthur.

Sara não ousou responder por não saber o que dizer. Ou melhor, por saber, mas não ter coragem de dizer.

"Não precisa me responder, porque eu sei a resposta."

Essa frase de Arthur dita quase dez longos segundos depois de o reitor estar no aguardo de uma fala de Sara que não veio, fez a perita se virar quase que instantaneamente para o homem.

"Sabe?", Ela indagou com uma explícita desconfiança quanto ao conhecimento dele àquele respeito.

"Sei!... Você não o aceitaria!"

Ele revelou se levantando do sofá e indo se juntar a ela diante da estante.

Então, ela se recordou que desabafou com ele suas amarguras, insatisfações e até raiva sobre Grissom e suas atitudes idiotas de lhe rejeitar na semana em que aquele homem diante dela foi o seu real amigo virtual. Então se supõe que Arthur saiba mesmo a verdade que Sara não teve coragem de dizer.

"Você na época estava muito magoada, cansada, desgostosa e com o coração ferido por Grissom e suas atitudes, que não daria chance a ele. Não estou certo?"

É, ele estava! E ela apenas assentiu em concordância.

Meses atrás ela provavelmente lhe diria um "não". Estava emocionalmente esgotada e calejada de tanta rejeição e recusa da parte dele, que negar uma chance de tentar, seria na verdade um ato de autopreservação. Por mais amor que sentisse por seu supervisor, ela já havia entregado os pontos quanto a eles.

"E é compreensível até esta sua recusa", Arthur tocou com a mão direita o ombro da amiga.

Para Arthur tentar ajustar as coisas era o que lhe restava. Consertar a burrada e unir aquela mulher incrível com seu amigo tapado era sua missão. E ele não desistiria! Usaria todas as suas cartas e argumentos neste propósito.

"Grissom te machucou. Mas ele também se machucou, tanto quanto você. Sofreu tanto quanto você pelos "não's" dados e pelas atitudes idiotas. Porque no fim tudo isso se resumiu a: medo. Medo pelos anos de diferença idade. Medo de não ser o suficiente pra você e não te fazer feliz. Por ser seu chefe e eventualmente manchar sua carreira quando descobrissem que você, a subordinada dele, estavam de romance. Eu, particularmente, acho essas coisas desculpas esfarrapadas, mas foram as razões que ele me contou, olhando nos meus olhos. Neles, eu captei a dor e o sofrimento do Grissom enquanto falava essas coisas, Sara."

Ela baixou os olhos para seus pés, digerindo cada palavra que ouvira. Sabia daqueles medos dele, não era novidade alguma aquilo. Mas o que foi novo se diz respeito a última frase proferida.

"Posso te fazer uma pergunta e promete ser franca?"

A perita ergueu os olhos do chão para encontrar o rosto bonito de Arthur, que lhe olhava com carinho.

"Sim!"

"O que sente pelo Grissom?"

Se a pergunta tivesse sido feita um tempo atrás, Sara talvez soubesse responder ao certo. Agora, depois de tudo o que aconteceu nos últimos meses, a perita não fazia idéia do que dizer.

"Eu não sei ao certo.", Ela se pronunciou e viu Arthur assentir em compreensão. "Estou confusa quanto aos meus sentimentos, Arthur. Até antes de ontem, eu achei que tinha superado o que sentia pelo Grissom e me apaixonado pelo Arthur. Mas aí, acabo descobrindo que o Arthur... Trata-se na verdade do Grissom, o mesmo homem que eu vinha amando desde de São Francisco e que me rejeitou por inúmeras vezes lá em Vegas."

Saber que seu chefe era seu amigo virtual bagunçou sua cabeça e coração de um modo completo, que a perita não era capaz de falar com exatidão qual eram seus reais sentimentos. Precisaria de tempo para as coisas se ajeitarem dentro dela e foi isso que mencionou em complemento a sua fala para Arthur.

"Tome esse tempo mesmo. É mais que nescessário isto. Mas tenha em mente uma coisa... que no fim das contas... Você se apaixonou duas vezes pela mesma pessoa! Porque foi o Grissom quem mais falou com você. Eu e você só nos falamos por uma semana. Você e ele foi quase três meses. Isso é algo muito significativo e que merece ser visto com carinho, Sara!"

Um clarão tomou o céu cinza rápido e segundos depois o estrondo alto de um trovão, fez Sara encolher os ombros, tirando-a de suas lembranças da conversa de mais cedo.

A chuva caía àquela altura torrencialmente lhe dando mais certeza ainda de que o jantar com Arthur não tinha mais a menor chance de acontecer.

Pouco tempo depois, a certeza se confirmou, quando o reitor ligou, alegando que com aquele aguaceiro todo o jantar deles teria que ser adiado e propôs que trocassem por um almoço amanhã depois de ele lhe mostrar a cidade, o que Sara concordou sem problema.

***

— Grissom me ligou ontem querendo saber se você estava por aqui, Sara.

Com certa cautela, Arthur revelou tão logo o garçom se retirou após tomar nota dos pedidos deles para o almoço.

Em vários momentos do passeio pelos pontos turísticos da cidade, o reitor quis fazer aquela revelação a perita, mas sempre havia uma distração que lhe fazia dar para trás. Porém, agora que estavam ali naquele calmo restaurante e sem as distrações da paisagem ou afins, Arthur achou que era a ocasião propícia de contar aquilo.

Foi uma surpresa enorme para Sara saber daquilo, tanto que ela levou alguns bons segundos para digerir aquela informação.

— Você não disse que eu estava aqui, não é? - preocupou-se em saber.

— Obviamente que não. Você havia me pedido pra não dizer e assim o fiz.

Mas bem que ele gostaria de ter dito.

— Obrigada. - Agradeceu mais aliviada. Tudo o que ela não precisava agora era de um novo confronto com Grissom. O anterior que tiveram ainda estava muito recente. — Mas como ele chegou a conclusão de que eu estaria aqui? - ficou curiosa.

— Um capitão Jim comentou com Grissom. Parece que esse sujeito e outros amigos seus estavam combinando de irem a sua casa de surpresa para tomar café com você, quando um tal Greg revelou ao grupo que você tinha viajado no dia anterior.

Sara levou uma das mãos ao rosto e suspirou, sentindo vontade de esbofetear Greg por abrir seu bocão.

— Greg e sua boca grande. - Resmungou a morena arrancando um sorriso de Arthur.

— Acredito que ele não fez por mal. Só quis evitar que os outros dessem com a cara na porta.

— É, vendo por esse lado... Você tem razão.

Mas seu melhor amigo bem que poderia ter lhe avisado que havia contado aos outros que ela tinha viajado.

Houve um breve instante de silêncio até que Arthur voltasse a se pronunciar.

— Grissom parecia bem preocupado com o seu paradeiro, Sara. Inclusive, ele deixou escapar certo temor que essa sua viagem seja só de ida. Na cabeça dele, você talvez resolveu ir embora ao descobrir a verdade.

Arthur se recordou do angústia do amigo durante a ligação. Lhe deu dó de esconder a verdade sobre o paradeiro de Sara para Grissom, mas Arthur não iria contra ao pedido que a morena havia lhe feito ontem.

Pela segunda vez, Sara se viu pega de surpresa por mais esta nova revelação de Arthur. A perita ia se pronunciar em resposta ao que ouviu, porém o garçom retornou com as bebidas que pediram antes do almoçar vir. O funcionário do restaurante serviu o vinho na taça de cada um e em seguida se retirou. Só então a morena tratou de dizer algo.

— Não nego que deixar Vegas ao descobrir a verdade realmente me passou pela cabeça. - Admitiu antes de levar sua taça a boca e dar um gole em sua bebida. Em seguida ao depositar a taça de volta a mesa, Sara continuou sua fala. — Mas tão rápido quanto veio essa ideia, ela se foi.

— Fico aliviado e feliz que você não levou em frente essa ideia. - Arthur piscou, esboçando um sorriso que foi retribuído por Sara.

O almoço entre eles foi leve e descontraído. Arthur achou por bem não tocar ou comentar mais nada referente a Grissom, porque notava Sara ficar desconfortável com o assunto. Certamente, ela ainda levaria algum tempo para deixar de lado a mágoa pelo ex-supervisor. Arthur só torcia para não demorar tanto para aqueles dois se acertarem. 

— Eu recordo de você ter dito que adorava Shakespeare, certo? - Arthur lançou um olhar a Sara enquanto dirigia rumo ao hotel onde ela estava hospedada.

— Sim. Você também, não é?

— Bem... - ele sorriu sem jeito. E com o olhar atento a avenida, desfez aquela mentira. —  Na verdade não. - Arriscou uma olhadela a mulher no banco do carona e a encontrou lhe encarando com uma cara confusa. — Eu só disse que gostava de Shakespeare para te impressionar. Desculpe.

Ele viu a amiga sorrir e balançar a cabeça de um lado para o outro.

— Tudo bem. Acho que posso lidar bem com essa sua mentira. - Retrucou a morena ainda sorrindo.

— Que bom!

— Mas por que mencionou sobre Shakespeare?

— É que hoje a noite o grupo de artes da universidade vai fazer sua última apresentação da peça "Sonho de uma noite de verão" lá no teatro da universidade. Aí, queria te convidar para ir assitir comigo essa sessão de encerramento. Topa? - ele fez o convite após desligar o motor do carro em frente a hotel.

— Topo, claro. Eu li o livro é lindo. Vou adorar assistir a peça.

Eles combinaram o horário certinho de Arthur vim buscar Sara a noite e se despediram, com a perita agradecendo ao dia agradável que o reitor e amigo lhe proporcionou.

***

Ela ficou encantada com o espetáculo. Uma comédia moderna, leve e divertida. A adaptação teatral era totalmente focada no público infanto-juvenil, através, da dança contemporânea, deslocando os personagens para o universo escolar. O resultado disso tudo? Um sonho dentro das páginas de um grande livro, uma viagem poética entre a realidade e a imaginação, o humor e a criatividade.

Arthur lhe contou que a professora e coreógrafa da peça era uma brasileira, naturalizada na França, Alexandra dos Santos, que tem formação em dança contemporânea, moderna e clássica. Segundo ele, a mulher adorava pegar clássicos da literatura e trazê-los para os tempos atuais.

Sara ainda teve o prazer de conhecer a coreógrafa, já que Arthur a levou até Alexandra após o espetáculo se encerrar sob muitas palmas.

A noite dos dois mais novos amigos terminou com eles comendo pizza e conversando ainda sobre a peça e outros assuntos.

Já era quase dez da noite quando Arthur deixava Sara na porta do hotel.

— Acho que eu não tinha um dia e uma noite tão leve e divertida assim desde que minha ex-mulher e eu éramos apenas namorados. - confessou o reitor com um sorriso. Durante a pizza, ele acabou contando sobre Alana, já que a mulher ligou e ele teve uma pequena discussão com ela por chegar rápido aos ouvidos da ex sobre o reitor estar acompanhado de uma mulher desconhecida na universidade.  — Obrigado, Sara.

— Quem tem que agradecer aqui sou eu.

Tanto pela manhã quanto agora a noite, ele lhe proporcionou momentos alegres e divertidos que fizeram com que ela esquecesse por alguns instantes que fosse, a situação envolvendo Grissom e a sua mágoa pelo ele e o plano dele ter se passado por outra pessoa para ela.

— Foi muito bom te conhecer, Sara.

— Digo o mesmo.

— Torço do fundo do coração que você e Grissom se acertem futuramente.

Ela não ousou rebater aquelas palavras. A mágoa ainda era recente demais para ela pensar na possibilidade dela e Grissom juntos. O tempo se encarregaria de curar a ferida que havia em seu coração e dizer se Grissom e ela juntos, ainda era possível.

— Uma pena eu ter um compromisso inadiável amanhã pela manhã, senão te levaria ao aeroporto.

— Não se preocupe. Te aguardo em Vegas pra uma visita.

— Pode ter certeza que vou nas próximas férias de verão.

Eles trocaram um demorado abraço.

— Se cuida, Sara. E vamos manter contato agora.

— Com certeza. E você também se cuida.

No dia seguinte, as dez da manhã, Sara estava embarcando em um vôo de volta para Las Vegas. Enquanto isso, no mesmo  horário na cidade do pecado, Grissom  embarcava para Los Angeles.


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Notas finais do capítulo

Até semana que vem.



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