Marinette entrou pela janela do seu quarto e desfez a sua transformação. Tikki, então, foi direto para o pote cheio de biscoitos que havia na escrivaninha da garota. Já a azulada foi direto deitar em sua cama, estava totalmente cansada.

Tudo bem que eles não tinham mais Hawk Moth para se preocupar, porém os criminosos normais ainda circulavam pela cidade – até mais do que o normal ultimamente –, e era dever dos portadores protege-la.

Então se antes a garota já chegava atrasada para as aulas, depois de ficar quase a madrugada inteira nas ruas lutando contra bandidos, ela chegava a faltar as aulas por não conseguir nem acordar pela manhã. Nos primeiros dias que fez isso, recebeu algumas advertências, portanto Adrien começou a busca-la todos os dias, pois assim a levaria nem que fosse no colo – o que já chegou a acontecer.

Marinette estava refletindo seriamente sobre a situação fazia alguns dias. Tudo bem que Ladybug e Chat Noir normalmente são invencíveis juntos, no entanto eles não estavam mais dando conta pelo cansaço. Se continuasse com o seu sono atrasado por tanto tempo, entraria em colapso. A garota mal conseguia ver o seu namorado se não fosse na aula ou em horário de patrulha – os momentos que tinha livre, usava para descansar.

Mestre Fu ainda estava na China, logo não pode pedir conselhos para ele. Onde quer que o guardião estivesse, o sinal de celular não era muito bom.

A garota bocejou, cansada demais para alongar os seus pensamentos. Então digitou uma curta mensagem de boa noite para o namorado – por mais que tivesse desejado pessoalmente há poucos minutos atrás –, virou para o lado e logo dormiu.

***

— Então nós salvamos a senhora e o cachorrinho dela. – disse Adrien – Não foi nada demais, mas ela ficou tão feliz que deu um doce pra mim e pra Marinette. – bocejou e em seguida alisou o vidro, o qual sua mãe estava dentro. – Preciso ir dormir agora, amanhã tenho aula. Boa noite, mãe. – beijou o vidro de leve e se dirigiu até o elevador.

Adrien se escorou na parede e suspirou pesadamente. O dia tinha sido muito cansativo, mesmo sem akumas. Ao que parece os criminosos da cidade estava meio que brigando por quem seria o novo maior vilão, como seu pai tinha sido.

Ladybug e Chat Noir sempre estariam à disposição, porém na visão do garoto, toda essa baderna parecia cansativa. Por exemplo, eles mal tinham tempo para encontrar algum jeito de trazer a sua mãe de volta. Tudo bem, Marinette tinha oferecido sua ajuda e se ele pedisse para ela vir agora mesmo o ajudar com isso, Adrien tinha certeza que ela viria. Mas não podia fazer isso com ela, sabia que ela estava tão cansada quanto ele.

A vida de super-herói não era nada fácil e se antes o garoto se sentia livre sendo Chat Noir, agora ele se sentia preso. Os motivos para ele continuar não estavam mais claros em sua mente. O que ele mais queria era trazer a sua mãe de volta, então pela primeira vez, queria ser Adrien Agreste por tempo integral.

Mas não podia. Não podia fazer isso com Marinette. Não podia fazer isso com Paris. Não podia fazer isso com Plagg.

E foi assim a sua vida toda. Sempre deixava de fazer algo porque magoaria alguém – principalmente seu pai. Dessa vez não seria diferente.

***

Marinette vestia as suas roupas para ir à escola, enquanto Adrien estava parado de costas para ela. O loiro ficava no mesmo cômodo, pois se ela inventasse de tentar cochilar enquanto deveria se vestir ele saberia e a acordaria.

— Terminei. – ele sorriu e se virou, porém seu sorriso foi desfeito assim que olhou para os pés dela.

— Não é uma boa você ir sem sapatos, sabe? Ainda mais chovendo! – Marinette olhou para baixo, notando somente agora.

— Ah! – se atirou na cama – Não quero colocar os sapatos! – parecia uma criança, o que fez o loiro rir. Em seguida, ele rapidamente a puxou, fazendo-a ficar sentada.

— Deixa que eu coloco então, Cinderela! – Adrien pegou um par de botas que pareciam perfeitas para a ocasião e colocou nos pés da sua namorada. – Pronto. – a segurou pela mão e a ajudou a ficar de pé. – Vamos?

— Aham. – Marinette colocou os braços ao redor do pescoço dele e se inclinou, beijando os seus lábios levemente – Obrigada por isso, amor. – provavelmente ela estava com tanto sono que nem havia notado que disse a última palavra, contudo Adrien notou, ficando levemente corado.

— De nada, my lady. – pegou a mochila dela com uma mão e usou a outra para segurar a mão da namorada. – Plagg? Tikki? – chamou a atenção dos kwamis, que logo foram para dentro das bolsas dos seus portadores.

— Esperem! – Sabine chamou a atenção do casal, que estava prestes a sair pela porta – Fiz um lanchinho para os dois. – entregou um saco de papel para cada e Adrien sorriu, guardando o seu.

— Obrigada, mãe.

— É, obrigado, senhora Cheng.

— Não há de quê. Tenham uma boa aula. – os dois acenaram e saíram.

— Sua mãe é muito legal comigo. – disse o loiro.

— Você fala isso só porque ela te alimenta. – o casal riu, enquanto atravessava a rua. Para a felicidade de ambos, a chuva tinha parado ao menos um pouco.

— Não deixa de ser mentira. Mas não é só por isso.

— Ah é?

— É, Bugaboo. – Marinette revirou os olhos. – Mas mudando de assunto, você fez o dever de matemática? – ela arregalou os olhos, fazendo Adrien rir – Sabia que a sua resposta seria essa, então fiz uma cópia do meu.

— Você é o melhor namorado do mundo! – beijou a bochecha dele.

— Sei disso, sei disso. – falou em um tom convencido.

— Como consegue? Digo, você é bem mais ocupado que eu e consegue fazer muitas coisas. Parece até que os dias são mais longos pra você. Como? – questionou realmente intrigada. 

— Não sei. – deu de ombros – Minha vida sempre foi assim, na verdade. Sempre cheio de responsabilidades e eu acho que meio que me acostumei com o ritmo.

Marinette desanimou ao ouvir isso. Tudo bem que Adrien lidava muito bem com toda a pressão que sempre teve em cima dele, só que ela sabia que aquilo não era escolha dele e ele meio que aprendeu a conviver com isso.

A garota se aconchegou mais perto de Adrien e deu um beijo na bochecha dele, mas dessa vez um beijo mais demorado e com ternura.

— Acho que você precisa desacelerar um pouco.

— O que você quer dizer?

— Sei lá, tipo tirar umas férias. – Adrien riu, enquanto eles paravam em frente ao colégio.

— Férias? E quem protegeria a cidade? Esqueceu que eles contam com nós, Bugaboo? – sussurrou no ouvido dela.

— É, eu sei disso. Mas você não concorda que nós precisamos descansar um pouco? – da vida como super-heróis, sim. Porém de tentar encontrar uma solução para trazer a sua mãe de volta, não.

— Mais ou menos. – respondeu. – Quero dizer, eu acho que... – o sinal tocou, interrompendo o loiro – Vamos logo, não quero me atrasar, diferente de certas pessoas.

— Há há! – sorriu e foi conduzida para a sala de aula.

O casal chegou e sentou em seus devidos lugares, Alya cumprimentou Marinette com um abraço rápido. E então as duas voltaram a atenção para a professora, que havia entrado na sala de aula.

***

— Marinette... – Adrien chamou a atenção da namorada enquanto os dois caminhavam lado a lado para a cantina.

— O que foi?

— Eu pensei sobre o que você disse antes da aula. E bem, eu queria falar algumas coisas sobre isso.

— Sobre as nossas férias? – brincou, porém Adrien assentiu com uma expressão séria.

— Eu estive pensando... Será que vale a pena tirar férias? Ou não é melhor deixar tudo de lado?

— Como assim? – Marinette parou de andar repentinamente, sem entender aonde seu namorado estava querendo chegar.

— Sabe, deixar de ser a Ladybug e o Chat Noir. – disse sem conseguir encará-la.

— Por que você está dizendo isso? – ela se aproximou preocupada, fazendo com que ele a olhasse. – Você... Quer desistir? – questionou receosa.

— Não é bem isso. Eu sou... Hã....

— É sobre a sua mãe, não é? – assentiu em silêncio – Eu imagino que você queira ela de volta e eu sei que temos ficado muito ocupados sendo Ladybug e Chat Noir. – disse em um tom mais baixo – Mas o Mestre Fu confiou na gente. Eu entendo que precisamos organizar o nosso tempo, só que não podemos desistir.

— É, você tem razão. – Marinette segurou o rosto de Adrien com as suas duas mãos.

— Vamos dar um jeito nisso, eu prometo. Mas só vamos conseguir juntos. – o loiro sorriu – Promete que vamos ficar juntos?

— É claro, my lady. Eu prometo.