Primeira missão escrita por Benuzinha


Capítulo 2
A assistente perfeita




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Antes que Kiki se colocasse em posição de combate, Syaoran deu um passo à frente e se colocou no caminho da criatura. Com movimentos rápidos das mãos, ele uniu as palmas e, de dentro de uma delas, tirou uma espada. A arma, um instrumento mágico, também continha tons de preto e verde na empunhadura, com um pingente de linhas vermelhas pendurado. O garoto tirou um ofuda e encostou nele a ponta da lâmina.

— Raitei Shourai! – entoou o jovem mago.

Uma forte descarga elétrica saiu do talismã, atingindo em cheio Xingtian e fazendo-o parar de andar. Antes que eles pudessem comemorar, o gigante divino voltou a se mover e, com um impulso, jogou o machado na direção de Syaoran, que se desviou por muito pouco, jogando-se no chão. O machado voltou para a mão do dono, que voltou a balançá-lo.

Sem perder mais tempo, Kiki abriu a caixa e rapidamente a armadura o envolveu, como se ela também percebesse a urgência da situação. Na atual conjuntura, não havia mais como esconder a verdade da assistente Wang. E Xinyue, que já ficara bastante chocada com a performance de Syaoran, agora achava o surgimento da armadura de Áries ainda mais impressionante.

— Quem são vocês? – o deus perguntou, enfim. – Um mago e um cavaleiro, por que estão se intrometendo no meu caminho?

— Nós é que queremos saber! – Kiki respondeu na mesma hora. – O que você está planejando?

— Que moleque malcriado. – Xintiang lançou novamente o machado.

Kiki, que já esperava aquele movimento, ergueu sua Muralha de Cristal para se defender.

— Ora, você tem seus truques – a deidade gigante murmurou. – Mas eu tenho coisas para fazer, não pretendo perder meu tempo com vocês.

Xintiang se virou e pegou algo que eles não haviam visto antes. Um pequeno espelho de mão, de cabo comprido e feito em madeira ricamente entalhada com diversos símbolos. Ele colocou o objeto no chão e ergueu o machado no alto, recitando um encantamento antigo. Um raio desceu dos céus e caiu sobre a superfície de vidro. Para surpresa do trio, o espelho continuou intacto e, de dentro dele, saiu uma luz esverdeada. De dentro dessa luz, um magnífico peixe dourado surgiu e, diante de seus olhos incrédulos, aumentou gradativamente de tamanho, até ficar com a envergadura de um peixe-boi.

— Mas o quê? – Kiki olhava com assombro.

— Não pode ser... – Syaoran murmurou, preocupado.

— O que foi?

— A Fauna dos Espelhos... Ele quer liberar a o povo do espelho.

— Ah! – o peixe exclamou, satisfeito. – Finalmente estou livre. O selo foi quebrado – olhou para o espelho. – Fui o primeiro e logo os libertarei, meus irmãos.

— Ei, espera aí! – Kiki achava cada vez mais difícil manter a compostura calma e serena de seu mestre – Você não vai sair libertando ninguém, não!

— Quem você acha que é? – o animal olhou para ele com os olhos sem pálpebras.

— Eu sou um cavaleiro de Atena! Não vou permitir isso.

— Por que Atena se intrometeu nos meus planos? – Xintiang perguntou.

— Por que Atena protege a humanidade. Por isso ela me mandou aqui.

— Um garotinho para proteger a Terra – Xintiang avançou para cima de Kiki. – Patético!

Pego de surpresa pelo movimento inesperadamente veloz daquele deus gigante, Kiki foi arremessado para trás. E no instante em que Xintiang erguia o machado para acertá-lo, Syaoran usou novamente sua magia. O peixe, vendo isso, investiu para cima do mago, definindo assim que seria o seu oponente. Kiki aproveitou a pequena distração para se colocar de pé e entrar novamente na luta, dessa vez, ele mostraria do que era capaz.

Enquanto o cavaleiro entrava em um combate direto com Xintiang e Syaoran usava diferentes magias para enfrentar o peixe, Xinyue se esgueirava discretamente para longe deles e para perto do espelho. Instantes antes, quando Kiki, Xintiang e o peixe discutiam sobre quem era cada um, Syaoran disfarçadamente dera a ela um ofuda.

Com aquele pequeno pedaço de papel em mãos, ela andou até o lugar de onde saía a luz verde. Eles não viram quando ela se abaixou ao lado do espelho, assim como também não viram quando ela hesitou, assustada e, num impulso, colou o talismã na superfície de vidro.

A luz imediatamente cessou e nessa hora, os quatro combatentes se voltaram naquela direção.

— O que você fez? – Xintiang urrou.

— Eu selei esse espelho! – ela respondeu, com as mãos na cintura, orgulhosa por ter conseguido fazer alguma coisa naquela batalha sobrenatural.

Xintiang se voltou para ela, tomado pela ira e avançou. Xinyue gritou, apavorada e começou a correr, sendo salva do machado voador pela magia do vento de Syaoran, que a trouxe flutuando para perto dele.

Antes que o gigante pudesse alcançá-la novamente, Kiki se colocou em seu caminho, abrindo os braços em uma atitude protetora.

O cavaleiro de ouro hesitou por um instante. Ele deveria agora usar todo seu poder. Deveria agir como o verdadeiro Cavaleiro de Áries e elevar seu cosmo ao máximo. No entanto... No fundo, ele receava não conseguir ser como ele. Como Mu.

Ao mesmo tempo, Syaoran e Xinyue eram encurralados pelo peixe.

— Não sei mais o que fazer – o garoto falou para a assistente. – Minhas magias não funcionam contra ele.

Ele invocou o fogo, que prontamente foi repelido pela criatura.

— Nenhum dos elementos funcionou. – Syaoran bagunçou os próprios cabelos, consternado.

— E se você tentar usar sua espada contra ele? – ela indagou, pouco antes de ter que se jogar no chão para escapar de mais uma investida do estranho ser do mundo dos espelhos.

— As escamas dele são muito duras – o jovem mago correu até ela e usou sua magia de vento novamente contra o inimigo, mesmo sabendo que não faria nada além de retardar seus movimentos por um período.

— E se você o mandasse de volta?

— De volta?

— É, para o mundo dele.

Aquilo fez a mente de Syaoran se iluminar e, se ele não fosse tão apaixonado por sua namorada, Sakura, ele daria um beijo na garota ao seu lado.

— Eu preciso de água – ele falou consigo mesmo, enquanto remexia em seus pertences. – Um lugar com bastante água.

— Tem o chafariz – ela respondeu. – Mas fica um pouco longe, na praça Promenade.

— Não tem problema. Aquele chafariz será perfeito – ele parecia cada vez mais encantado com a proatividade dela. – Mas vamos ter que correr.

Antes que ela pudesse perguntar o que era, ele a puxou pelo braço e começou a percorrer todo o caminho de volta, para retornarem ao chafariz do início do parque. O peixe não demorou a segui-los.

— Parece que seus amigos estão tentando fugir – Xintiang comentou com desdém.

— Ei, Syaoran! Wang! – Kiki gritou.

— Está tudo bem! – o garoto gritou em resposta. – Tenho um plano!

Dividido entre ficar aliviado ou ir atrás deles, Kiki se preparou para mais um golpe do adversário e, decidindo que não havia mais tempo a perder, começou a elevar seu cosmo cada vez mais alto. Usaria a técnica secreta de Áries e honraria seu mestre.

— Você vai desaparecer de novo, monstro sem cabeça! – ele abriu os braços. – Extinção Estelar!

A galáxia brilhante surgiu ao seu redor e os choques múltiplos envolveram o deus, fazendo-o desaparecer em meio à luz intensa. Sem perder mais tempo, Kiki correu na direção dos inesperados aliados.

Syaoran e Xinyue estavam já no chafariz e, enquanto ela puxava assunto com o monstro, perguntando todas as maneiras pelas quais ele pretendia acabar com os humanos e assim distrair sua atenção, o jovem mago desenhava diversos símbolos no chão, sendo o principal deles a lua, a maior fonte de seu poder mágico.

— Posso ser um peixe, mas não sou estúpido, humana – o peixe abriu a boca, mostrando os dentes pontiagudos. – Sei que está querendo me distrair para que seu amigo termine essa magiazinha qualquer. Mas não vai funcionar!

Com uma sacudida da cauda, ele tirou a jovem do caminho e avançou sobre Syaoran. Entretanto, o curto tempo que Xinyue havia conseguido havia sido o suficiente e, invocando o vento mais uma vez, o garoto flutuou até ficar acima do espelho d’água. O peixe não percebeu que havia caído na armadilha até que, quando estava a poucos centímetros do alvo, o círculo mágico foi ativado e uma luz rodeou seu perímetro.

Ele estava agora diretamente no o local onde o reflexo da lua crescente incidia sobre as águas calmas do chafariz desligado  e era incapaz de se mover. Kiki chegou nesse momento e correu para o lado da assistente, ajudando-a a se levantar, enquanto ambos observavam a cena que se desenrolava.

— Não vai ser dessa vez, peixe – Syaoran estendeu um pergaminho e o colou na testa da criatura aquática. – Você está em cima de um reflexo agora. Volte para o mundo dos espelhos.

A luz verde surgiu de dentro da água e o bicho foi diminuindo de tamanho gradativamente, até se igualar a uma inofensiva carpa e foi sugado para dentro dela, desaparecendo.

— Você conseguiu! – a moça pulou e os fios de seu coque, antes tão eficientemente arrumado, agora emolduraram seu rosto.

Antes que pudessem comemorar de verdade, Kiki sentiu os pelos em sua nuca se arrepiarem e se voltou na direção do castelo. Xingtian estava novamente ali, de pé e vindo em sua direção.

— Como ele está vivo? – perguntou, sem acreditar.

— Xingtian é o símbolo da perseverança – Syaoran respondeu, enfraquecido. A forte magia que usara havia esgotado suas forças.

— Eu sabia – Kiki sentia o pânico tomando-o. – Eu não consegui usar a técnica direito. Eu não sou digno de ser o Cavaleiro de Áries.

— Kiki, calma... – Xinyue colocou uma das mãos sobre o ombro dele. – Esse deus conseguiu se levantar mesmo sem cabeça. Ele enfrentou a divindade suprema, o Imperador Amarelo, não é qualquer um.

— Mesmo assim. Eu fui enviado para essa missão, Wang – ele balançou a cabeça. – E eu falhei.

— Ainda não acabou – ela o animou.

— Está acabado, eu não posso vencer! Eu não sou bom o bastante.

— Kiki! – ela respirou fundo e o puxou com determinação, para que ela olhasse para ele. – Eu não quero morrer. E o Syaoran está sentado no chão, sem forças. – ela apontou para o menino, que de fato estava caído, com as costas apoiadas nas pedras que rodeavam a fonte. – Você é o único aqui que pode deter esse monstro. Então vai lá e acaba com ele.

Sem nenhum pudor, ela o empurrou na direção da criatura decapitada, que parecia recuperar sua força a cada passo que dava. Kiki apertou os olhos com intensidade para dissipar os pensamentos pessimistas e voltou a encarar o terrível adversário.

Novamente elevou seu cosmo e ergueu a mão direita no alto. Ele tinha que conseguir. Tinha passado no teste da armadura, afinal. Aquela lembrança o impeliu a continuar e, decidiu que tentaria a outra técnica de Áries.

— Agora você vai desaparecer de verdade, Xintiang! – o cosmo se acumulou em sua mão direita. - Revolução Estelar!

Kiki abaixou o braço na direção do inimigo e os inúmeros feixes de luz o atacaram, assemelhando-se a estrelas cadentes. Dessa vez, o cavaleiro viu o corpo do gigante sendo atingido diretamente por seus golpes, mesmo usando o escudo para se proteger. Não havia como ele resistir.

Porém, a despeito de todo o poder de seu ataque, a lenda de Xintiang não mentia sobre sua característica mais marcante. Ele levantou novamente, mesmo com o corpo castigado pela poderosa técnica.

— Mas não é possível – Kiki arregalou os olhos cor de ametista. – Ele não morre. Você está vendo isso, Wang? Ele não está morrendo, o que eu faço?

— Eu não sei! Eu não sei como o imperador derrotou ele!

— E você me diz isso agora?!

— Ele pode ter perdido o combate pela divindade suprema, mais ainda assim é um ser divino. Nós temos que encontrar um jeito de selá-lo – Syaoran se pronunciou, esforçando-se para ficar de pé. – Temos que unir nossas forças.

— Então eu vou levar o Xintiang até o chafariz e lá você faz a mesma coisa que fez com o peixe. – Kiki decidiu.

— Vamos!

Kiki avançou para o gigante, sentindo-se novamente centrado e focado em vencer. Xintiang atirou o machado, mas o cavaleiro desviou com facilidade e usando sua velocidade sobre-humana, ele deu a volta no adversário e prendeu os braços do monstro pelas costas. Em um impulso, ele lançou ambos para o alto, em um perfeito arco na direção da água. Uma onda de nostalgia o invadiu ao lembrar que já vira Seiya fazendo aquilo.

Os dois se separaram dentro do chafariz e rapidamente, Kiki deu um salto para fora da fonte. No mesmo instante, Syaoran lançou o encantamento para selá-lo. A luz prateada rodeou novamente o círculo mágico e cercou a criatura.

Antes que os três pudessem pensar em comemorar, a luz se desfez bruscamente e, para desespero deles, Xintiang continuava ali.

— Li! – Kiki e Xinyue correram para o garoto, que cambaleou por ter usado magia tão forte duas vezes seguidas.

— Eu estou bem – assegurou ele, e apertou os olhos. – Ele deve estar ligado ao espelho. Quem o conjurou deve ter usado aquele espelho.

— Você acha que alguém invocou o Xintiang? – Kiki perguntou, preocupado.

— Tenho quase certeza. Havia alguns rastros da magia de invocação em volta do castelo. Mas eu não faço ideia de quem seja. – ele olhou para o cavaleiro com urgência. – Ele ainda não despertou completamente, temos que pegar aquele espelho para podermos lacrá-lo antes que ele libere todo seu poder.

— Eu trouxe o espelho! – Xinyue falou.

— O quê? – os dois rapazes olharam para ela, estupefatos.

— Aquela hora que o Xintiang veio pra cima de mim e você usou sua magia de vento – ela falou para o mago. – Eu agarrei o espelho antes de sair correndo e o coloquei dentro da bolsa. – e mostrou a bolsa a tiracolo que usava.

— Você é mesmo um gênio, Wang! – Kiki a encarou com imensa admiração.

Syaoran tentou se erguer, para realizar a magia, mas teve que se apoiar com dificuldade na espada mágica.

— Você não vai ter forças para mais um ritual – Kiki franziu a testa.

— Mas...

— Nesse estado você não vai poder fazer nada, Li. – Kiki o interrompeu e seu olhar agora irradiava determinação. – Eu vou derrotá-lo. Vou vencer esse Xintiang, mesmo sendo um deus.

Xintiang os encarava com seus olhos malignos e pareceu aumentar sua própria energia, fazendo movimentos que se assemelhavam a uma dança de combate. Uma dança marcial. Uma forte labareda saiu de sua espada, diretamente na direção dos três. Kiki rapidamente ergueu a Muralha de Cristal para protegê-los. Outra rajada de fogo veio em seguida e o Cavaleiro de Áries percebeu que a proteção não aguentaria por muito tempo aqueles ataques. Ele tinha que agir ou não conseguiria salvar seus companheiros.

— Xintiang! – Kiki bradou, elevando seu cosmo ao máximo. – Vou usar todo meu poder! Não vou desapontar Atena, nem meu mestre Mu. Revolução Estelar!

A luz dourada brilhou forte na noite e rodeou o jovem cavaleiro, o ataque atingiu em cheio o alvo, arremessando-o para trás, destruindo bancos e postes na bela praça Promenade. No entanto, Kiki nem sequer piscou. Porque ele sabia, apesar de tudo, que o inimigo não havia sido derrotado. E não estava errado, pois, mesmo tendo sofrido tantos danos, o obstinado deus voltava a se erguer.

Nesse momento, outro elemento apareceu naquele terrível cenário. Voando pelos céus, montada em um vistoso felino mágico dourado, se aproximava uma menina e, ao vê-la, Syaoran deu um grito de alegria e surpresa.

— Sakura!

— Syaoran! – a menina gritou em resposta, enquanto descia ao seu lado, preocupada por vê-lo tão enfraquecido.

— O que você está fazendo aqui?! – ele perguntou, incrédulo.

— Eu senti que você corria perigo, Syaoran. Por isso vim o mais rápido que consegui. Eu não tinha como comprar uma passagem de avião, então o Kero me trouxe voando até o parque.

O felino agora havia se transformado no bichinho de pelúcia amarelo e caía no colo da dona, ofegante.

— Acho que nunca mais vou conseguir me mexer – Kero gemeu.

Kiki, que olhava aquela cena insólita com assombro, logo teve que voltar à posição de combate e erguer mais uma muralha para protegê-los de outro ataque de fogo.

— O que é aquilo?! – a menina perguntou, apavorada, ao finalmente reparar em Xingtiang.

Syaoran explicou resumidamente o que estava acontecendo e, assim que ele terminou de falar, ela já se preparava para ajudá-los, segurando a chave mágica nas mãos e recitando o encanto para ativá-la. O báculo mágico surgiu e a o segurou, apontando-o para Xintiang. A cardcaptor estava pronta para ajudar com meu poder mágico.

Xinyue pegou o espelho e o estendeu para Syaoran.

— Senhorita Wang – Syaoran olhou para a moça com toda seriedade. – Você estaria disposta a nos ajudar?

— Claro! – ela mal piscou, ansiosa.

— Preciso que fique ao lado do Kiki e aponte o espelho para o Xintiang. A Sakura e eu vamos criar um círculo mágico em volta dele, com a nossa magia. Você aponta o espelho pra ele e nós recitamos o encantamento. Depois que ele for sugado, você cola mais esse ofuda – e garoto estendeu o talismã. – Você pode fazer isso.

— Acho que sim. – ela sentiu que começava a tremer e se encaminhou para o lado do cavaleiro.

— Vamos, Sakura!

— Vamos!

Os dois magos uniram as mãos e, com os instrumentos mágicos, abriram o círculo, que brilhou dourado e prateado sob todos eles. Xingtiang urrou, na tentativa de intimidá-los e Xinyue estremeceu ao lado de Kiki, que mantinha bravamente a defesa do grupo.

— Ei, Wang, não precisa ter medo. Eu estou aqui do seu lado.

— Eu sei. – ela respondeu, olhando nervosamente para o deus à frente deles.

— Eu vou te proteger – ele insistiu. – Vai dar tudo certo.

Xinyue respirou fundo e olhou para ele. Sua admiração por aquele adolescente crescia cada vez mais, desde que o vira pela primeira vez.

— Kiki, agora! – Syaoran gritou.

Na mesma hora, Kiki cessou a Muralha de Cristal, enquanto Syaoran lançava o feitiço. Xinyue levantou o espelho e Xintiang, percebendo o que estava prestes a acontecer, investiu para cima da assistente. A jovem arregalou os olhos, diante da figura hostil que vinha em sua direção, mas não se moveu, segurando o objeto com tanta força que as juntas dos dedos ficaram brancas.

O cavaleiro de ouro não teve dúvidas e se lançou contra o deus, impedindo-o de avançar mais. Xintiang ergueu sua espada e a cravou no ombro direito do defensor de Atena, causando uma rachadura na armadura e atingindo-o na carne. Kiki soltou um grito de dor e se desvencilhou da lâmina. O deus guerreiro começou a ser puxado para dentro espelho e o garoto voltou para o lado da companheira, que  se mantinha firme.

Syaoran, enfraquecido, sentiu que sua energia diminuía e se ajoelhou, esforçando-se para não quebrar o encanto. Sakura se concentrou para liberar ainda mais magia, ainda assim não era o bastante.

E foi nesse momento que, triunfante, Kero surgiu ao lado da mestra, em sua forma verdadeira. O enorme felino, com toda pompa, se dirigiu à Sakura.

— O grande Kerberos aqui vai ajudar a derrotar o monstro.

— Achei que estava muito cansado, Kerberos. – Syaoran comentou.

— Tsc, veja e aprenda, fedelho.

A besta do lacre, o protetor das poderosas cartas Clow, se fundiu ao báculo de Sakura e a força da magia imediatamente aumentou. Xintiang voltou a ser sugado para o espelho, que tremeu violentamente na mão de Xinyue. Vendo a dificuldade da aliada, Kiki uniu sua mão à dela, ajudando-a a aguentar a pressão causada pelo encantamento do selo.

E, com um último grito de ódio, Xintiang foi completamente puxado para dentro do espelho. Xinyue pegou o ofuda que Syaoran havia lhe dado e o prendeu na superfície de vidro, sem pensar duas vezes. E, ao ver que realmente havia dado certo, ela pulou mais uma vez, muito feliz e abraçou o cavaleiro, que se mantivera ao seu lado até o fim.

Syaoran desabou pesadamente no chão e Kerberos voltou a se materializar fora do báculo. Enquanto Sakura voltava sua atenção para o namorado, ajudando-o a se recompor, Xinyue soltava Kiki com uma exclamação de preocupação.

— Kiki, você está sangrando.

— Isso é normal, estou bem – apesar de tudo, ele conseguiu exibir uma expressão tranquila. – Você foi muito corajosa.

— Eu fiz o que pude – ela corou com o elogio. – Obrigada.

— A Saori me mandou a assistente perfeita.

Ver o belo sorriso do cavaleiro a fez corar ainda mais e ela se recriminou por se deixar afetar por um rapaz três anos mais novo.

— Kiki, senhorita Wang – Syaoran havia conseguido se levantar e se aproximou. – Foi uma ótima parceria. Obrigado.

— Eu tenho que agradecer também, não sei se teria conseguido fazer essa missão sem ajuda de vocês.

— Sabe, eu já li nos registros da minha família sobre os cavaleiros que servem a Atena. Foi uma honra poder conhecer um deles.

— E para mim, foi uma honra conhecer um mago tão habilidoso e inteligente.

Kiki estendeu a mão direita e Syaoran a apertou. Um laço de camaradagem se firmou naquele gesto. Depois de todos se despedirem, Syaoran e Sakura montaram nas costas de Kerberus, que saiu dizendo o quanto adoraria contar toda aquela aventura a Yue, o outro guardião das cartas Clow, que não pudera ir.

— Bem... – Kiki estalou o pescoço e olhou na direção do castelo. – Vou pegar a urna da armadura de ouro e depois vamos para o hotel.

— Tudo bem – Xinyue bocejou, cansada e caminhou ao lado dele. – Você disse que era Cavaleiro de Áries. O que isso quer dizer?

Kiki olhou bem no fundo dos olhos dela.

— Esquece – ela sacudiu as mãos. – Pensando bem, acho que não quero saber. Já vi coisas estranhas demais por toda uma vida.

Ele deu uma risada e agradeceu silenciosamente aos céus por não ter que explicar tudo. Do lado de fora, Zheng os esperava pacientemente dentro do carro.

— Você ficou! – Kiki exclamou, surpreso.

— Sempre às ordens. – o experiente motorista respondeu calmamente.

— Podemos parar para comer alguma coisa? – Kiki perguntou, sem saber como os dois reagiriam, já que os mantivera muitas horas além de um expediente normal de trabalho.

— Claro, estou morrendo de fome. Não é, Zheng?

— Eu comeria um urso inteiro – ele respondeu.

Kiki recostou no banco, com um sorriso satisfeito no rosto e olhou para o espelho. Havia decidido com Syaoran que o levaria para a Grécia, para que Atena o guardasse e o garoto concordara. No fim, mesmo com tantos percalços, sua primeira missão havia sido cumprida. E ele estava, finalmente, sentindo-se digno de usar a armadura de seu mestre.


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Notas finais do capítulo

Kiki arrasando corações mundo afora hahaha Danadinho
Esse deus sem cabeça deu trabalho kkkk quase o seiya, só que decapitado
Ps: ofuda são aqueles talismãs de papel
Ps2: botei o peixe-boi por motivos de viva a nossa fauna hahaha
Ps 3: a fauna dos espelhos é uma lenda que diz que existe uma outra dimensão paralela à nossa com seres fantásticos, que um dia tentaram atacar a Terra e foram lacrados (resumindo bastante kkk)



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