O soldadinho de chumbo escrita por Misu Inuki


Capítulo 1
Introdução - Cilada




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“Em que roubada que eu fui me meter!” Pensava enquanto olhava para pedaço de pano elástico, pequeno demais para ser considerado uma meia que dirá uma calça.
O camarim era apertado e estava caótico com pessoas correndo de um lado para o outro meio peladas, meio fantasiadas. Incrível como o ser humano perdia a noção de vergonha ao mal passar a cortina da coxia. Fazia com que eu, sentado de cueca, bufando de desânimo num banquinho bambo, a pessoa mais descente e respeitável no raio de 1 quilometro. Afinal quando a primeira garota invadiu nosso espaço, procurando apresada um grampo, alfinete ou sabe se lá o que, fiz questão de virar minha cadeira manquitoleta de costas para porta.
Ri ao pensar que meu melhor amigo Miroku nos seus tempos de solteirisse, doaria os dois rins e o pâncreas para estar no meu lugar.
Alias, toda essa história tinha a carinha do maior Safadão desde que Wesley se aposentou, mas não era ele que teria que vestir meia calça colada à vácuo na frente do arrogante irmão mais velho. Era eu, que tentava inutilmente prender a sapatilha que provavelmente me odiava tanto quanto eu a ela, pois escapava do meu pé como sabonete na pia.

“Pra que tudo isso, meu rapaz?” Você deve estar pensando. “Para que abrir mão do seu orgulho, do seu amor próprio? Porque razão, oh alma perdida, que você não aperta a tecla F, e vaza daí, mais rápido que seu Madruga em dia de pagar aluguel?

A razão é única e muito simples: eu fiz uma promessa. E Inu no Taisho não criou seus filhos para serem homens sem palavra e...

—Inuyasha!

Me virei e encontrei com braços na cintura uma bailarina bastante irritada. Uma bailarina que eu conhecia muito bem, por sinal. Seus lábios pintados em forma de coração estavam franzidos pela zanga, mas nem de longe estragavam sua delicadeza. Os cabelos escuros como nanquim, estavam presos no topo da cabeça, com a franja caindo na testa alva. Aliás, sua pele era tão alva que se não fosse os detalhes bordados em rosa do corpete ela teria se misturado com o tecido. Uma boneca de porcela. Zangada. Mas sem deixar de ser boneca.

—Falta dez minutos para o primeiro Ato começar e você nem começou a se vestir!

Só quando ela abaixou para desembolar a calça que eu percebi. Ela estava ali linda na minha frente. E eu estava ali com nada além das minhas roupas de baixo. Mais vermelho que minha fantasia, arranquei o tecido das mãos dela me cobrindo de qualquer jeito.

 -Inuyasha, sem drama.- Ela suspirou- Deixa eu te ajudar a se arrumar.

—Não! Sai daqui!- rebati tão pateticamente quanto minhas afilhadas de cinco anos. Se fosse uma das minhas  sungas box, com estilo e que valorizasse meu... meu bronzeado natural. Seria menos vergonhoso. Mas nããão, era um pedacinho de pano bege, apertado e deprimente.  

—Você não é o primeiro homem que eu vejo de cueca, sabia?

—Que seja! - Mentira, depois você vai me explicar essa história direitinho. Quero nomes e endereços.- Só que isso não muda nada.

Ela rolou os olhos, exasperada.

— Lembre que eu sou sua professora. A gente tem licença para fazer isso. É tipo médico, só que sem a parte das vacinas. Pense que é profissional!

—Não tem nada de profissional em vestir uma calça. Sou bem grandinho, professora.- Falei sarcástico.- Já sei me vestir sozinho.

E como prova recomecei o serviço, passando a calça rapidamente até a batata da perna – que era o máximo que eu conseguia colocar- e tratei de colocar as sapatilhas.

—O elástico é para frente, Inuyasha. – Ela comentou como se segurasse a risada.

Desvirei o sapato e coloquei novamente.

—Estão trocados, Inuyasha. – Dessa vez ela riu na cara de pau.

Enquanto eu encarava as sapatilhas de courino, com as mais complexas fórmulas matemáticas girando na minha cabeça, um par de mãos delicadas tocou as minhas.

Olhei para frente, e ela estava ela, na mesma altura dos meus olhos. Me encarava com suas íris intensas como chocolate derretido. Nunca fui muito chegado à doces contudo ela era uma maravilhosa exceção.  E com o sorriso mais brilhante do que comercial de pasta de dente ela me pediu.

—Me deixa te ajudar, por favor?

Olha, não me leve à mal.  Eu normalmente sou bem durão. Mesmo. Não choro nem cortando cebola, sou o mais forte de academia, e... e... Enfim, sou um perfeito espécime de macho alfa. Mas essa criatura deve praticar altos feitiços entre as aulas de ballet. Porque só magia negra poderia explicar a velocidade em que ela terminou de me vestir. Quando dei por mim, ela já estava abotoando os últimos botões dourados do colete.

Animada, ela me girou para ver o resultado em frente ao amplo espelho no canto esquerdo da sala. Entre o caos das pessoas que se arrumavam e praguejavam a nossa volta estávamos, os dois, no centro da moldura. O soldadinho de chumbo, segurava em uma das mãos seu chapéu de papelão, e seu outro braço servia de ponto de equilíbrio para agitada bailarina que resolvera que aquele era o melhor momento para amolecer suas sapatilhas do ponta. Ou talvez queria, como eu, olhar a imagem como se de fato fosse parte da história.

De um jeito ou de outro, ver nós dois juntos naquele espelho, me deu uma sensação boa. Como se estivesse ansioso o tempo todo e só percebera quando foi embora. Não demorou muito para que essa pequena tranquilidade fosse interrompida.

—Senhorita Higurashi!- Viramos em direção a porta. Encostado no batente, Houjo continuou.- Faltam dez minutos para a apresentação começar.

—Ué?

A garota saiu quase saltitando dos meus braços tão rapidamente que eu tive que gritar para perguntar o que me encucara.

—Kagome!

Ela virou só o rosto na minha direção, o resto do corpo já perdido no corredor escuro.

— Você não tinha me dito que faltava dez minutos há um tempão atrás?
 
Kagome colocou a mão no queixo pensativa por meio segundo. Somente para dar de ombros e responder com a cara mais lavada do mundo:

—Eu menti.

Então com beijo soprado, ela me largou no camarim como se nada tivesse acontecido.
Kagome era impossível, uma diaba teimosa, geniosa que sempre dava um jeito de tudo ser da maneira que ela queria que fosse. Sorri automaticamente ao lembrar do sorriso travesso da minha professora de ballet. Kagome de fato tinha uma personalidade e tanto, refleti enquanto prendia meu chapéu na cabeça.

— Mas eu também tenho. – Ri ao dar uma última olhada no espelho- Vamos ver quem vai vencer quem nesta história.


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