Vidas Secretas escrita por Srta Poirot


Capítulo 6
Ultimato (Master of Puppets)


Notas iniciais do capítulo

Meu capítulo preferido até agora! Aproveitem!

Dica de música: Metallica - Master of Puppets (1986)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/780001/chapter/6

Master of puppets I'm pulling your strings

Twisting your mind and smashing your dreams

Blinded by me, you can't see a thing

Just call my name, 'cause I'll hear you scream

Master (Master)

Just call my name, 'cause I'll hear you scream

Master (Master), yeah.

.

.

.

Malibu, 06 de setembro de 1985...

Peter chegou à mansão Stark após uma semana de nascido. Isso mostrou o quanto Howard tinha influência até sobre os médicos. Um prematuro deveria passar mais tempo no hospital, certo? Mas Howard conseguiu que Peter fosse transferido para a mansão em apenas uma semana.

A chegada dele foi uma... alteração de rotina. Tony não tinha como explicar melhor.

Tony ficou extremamente feliz quando seu amigo Rhodey veio lhe visitar três semanas depois. Com Peter tendo quase um mês de vida, Tony percebeu que ele sabia nada sobre bebês. A babá, cujo nome era Natalie, já lia historinhas para Peter e o bebê só tinha quatro semanas.

Tony ficou imaginando por vários dias como seria apresentar Peter ao Rhodey. Ele deveria apresentar como Tio Rhodey ou só Rhodey? De qualquer forma, o bebê não iria entender mesmo.

Os dois amigos combinaram um horário que nem Howard nem Maria estariam presentes. A campainha da porta tocou e Tony atendeu.

“Que bom que você veio, Rhodey!”

“Eu prometi e aqui estou.”

Os dois amigos se abraçaram e Rhodey entrou na mansão, ambos felizes.

“Como estão suas férias?” Rhodey perguntou.

“Que férias? Eu estou acompanhando meu pai na empresa e faço alguns projetos também.” Tony suspirou. “E ainda tenho que estudar à noite.”

“Por quê? Estamos de férias! As aulas só retornam próxima semana.”

“Eu e minha mãe conseguimos convencer Howard de que eu poderia trancar esse semestre.”

Rhodes instantaneamente lhe lançou um olhar surpreso. “O quê? Por quê?”

“Por causa de Peter. Eu praticamente fiz um escândalo no hospital e, desde então, meu pai permitiu que eu passasse esse semestre em casa, embora eu tenha as obrigações que lhe falei: trabalho e estudos. Mas em troca, eu tenho que retornar no próximo semestre e fazer disciplinas dobradas para recuperar o ‘tempo perdido’ do MIT. Resumindo: Howard controla meus horários.”

Rhodes balançou a cabeça em entendimento. “Cara, eu não queria estar no seu lugar. Deve ser muito cansativo, mas essa é a sua vida agora. Não sei muito sobre bebês, mas eu tenho uma irmã e quando ela era um bebê, só chorava.”

“Peter é bonzinho, só chora quando sente fome. Ele é surpreendentemente quieto. Vamos ao berçário, quero te apresentar a ele.”

Rhodey seguiu Tony ao 1º andar da mansão, observando a decoração, algumas artes penduradas nas paredes e um tapete que com certeza era mais caro que todos os móveis da casa de sua mãe. Tony se deteve na porta de um dos quartos e disse que Rhodey podia entrar.

O berçário era muito bonito e tinha tudo que um bebê pudesse precisar. Havia uma mulher lá dentro e Rhodey deduziu que fosse Natalie, a babá.

“Você pode descansar agora, Natalie.” Disse Tony entrando no quarto de Peter.

A babá em questão fez uma expressão de surpresa, ou por ver um de seus patrões ali presente ou por receber um tempinho de descanso. Ela hesitou, mas deixou o quarto logo.

“Ela pareceu surpresa.” Rhodey comentou.

“É que eu não devia estar em casa. Fingi estar com enxaqueca para não ir pra empresa hoje.” Tony explicou enquanto se aproximavam do berço.

Peter estava bem acordado no berço, agitando as perninhas e enunciando sons que só os bebês entendem. Ele já havia crescido bastante, embora ainda esteja um pouco abaixo do tamanho normal de bebês de um mês de vida.

Tony levantou Peter com cuidado. Ele aprendeu muita coisa observando a babá durante a madrugada e se sentia mais confiante em pegar no bebê. Os olhinhos redondos de Peter encaravam o rosto de Tony como se o reconhecesse, como se ele fosse familiar.

Tony virou Peter para Rhodey e o apresentou. “Este é Peter. Peter, este é Rhodey. Mas você deve chamá-lo de Tio Rhodey.” Tony viu seu amigo se sentir agradecido e teve uma ideia. “Quer segurar ele?”

Rhodey ficou surpreso com a oferta. “Oh, eu não acho que-”

“Não tem problema. Ele só morde às vezes.”

Rhodey riu da brincadeira, mas Tony já estava transferindo o bebê para seus braços. Ele sentiu como se estivesse segurando algo terrivelmente frágil.

“E então?” Tony perguntou.

Rhodey observou o bebê e Peter o observou de volta. Rhodey fez uma expressão de deleite quando disse, “Não acredito que você fez algo tão fofo.”

Tony riu. “Vai por mim, ele não é tão fofo assim de madrugada. Ou quando suja a fralda.”

“E você sabe trocar fralda?”

“Sim, eu sei. Eu ajudo a babá na madrugada. É quando meu pai está dormindo. Ele não quer que eu me distraia com o bebê, por isso que ele inventou que eu tenho que acompanhá-lo às Indústrias Stark.”

Os dois conversaram mais sobre Peter e sobre as férias. Tony se sentiu bem naquele momento, vendo duas pessoas importantes em sua vida interagindo e se conhecendo. Ele desejou mais momentos como aquele.

—----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Malibu, 12 de novembro de 1985…

O problema de fazer promessas era que você teria que cumpri-las.

Tony não sabia em que momento prometeu ao seu pai que iria a todas as reuniões do conselho das Indústrias Stark, mas sendo sincero, ele não tinha escolha.

Quando chegaram à empresa neste dia, Tony teve uma ideia para variar sua rotina na empresa. “Pai, eu estava pensando...” Tony começou a dizer enquanto eles subiam pelo elevador, “que talvez eu pudesse pular a reunião de hoje e observar o que estão fazendo nos laboratórios, ver as coisas que estão produzindo.”

Howard olhou para ele e levantou uma sobrancelha. Sua resposta não era novidade para Tony. “Você não vai trabalhar nos laboratórios quando estiver gerindo a empresa. Eu acho inútil mandar você lá pra baixo quando você deveria estar aprendendo a lidar com o conselho apropriadamente. Agora, deixe de ideias sem cabimento e use sua cabeça para se concentrar no conselho.”

Desde este momento, Tony ficou calado. Ele passou a manhã inteira participando de pequenas reuniões e vendo seu pai preencher e assinar papeladas. À tarde eles teriam a reunião mais importante do dia.

Tony estava pensando em Peter enquanto observava os executivos falarem de finanças, dinheiro, contratos... Estava na cara que eles também temiam Howard Stark e cada palavra que falavam eram cuidadosamente pensadas.

Peter já estava com três meses de vida – dois dias atrás ele fez três meses – e o desenvolvimento dele era visível. Ele recuperou bastante peso e tamanho, e Tony sentia que estava perdendo muita coisa. Tony estava perdendo tempo de ver seu bebê crescer, pois estava sentado na mesa de reunião das Indústrias Stark. Isso porque ele não tinha escolha, não podia desagradar seu pai mais uma vez.

Uma das pautas era sobre um novo acordo e isso despertou a atenção de Tony. Howard detestava gastar à toa e com coisas inúteis, e as propostas que os executivos fizeram nas reuniões passadas eram absurdas. Mas esse acordo em particular deixou Howard extremamente interessado.

“Precisamos fechar esse acordo”, disse Obie, “mas para assinarmos o contrato nós precisamos fazer alguns cortes de custos... talvez no setor de manutenção elétrica. Sério, não precisamos de tantas pessoas para se fazer manutenção e eles só são chamados quando temos problemas. Ou seja, eles mal trabalham, para que mantê-los? Demitir metade deles vai nos trazer bastante economia.”

Tony se encheu de indignação. Era lógico que o setor de manutenção era muito importante para garantir o pleno funcionamento da rede elétrica do prédio inteiro e Tony duvidava que eles ‘mal trabalhassem’. Sem contar que seriam muitas pessoas sem trabalho. Sem dinheiro. Quem precisava de faculdade para entender isso?

Mas Obie não parou por aí. “Outra ideia melhor seria remover todo o setor e terceirizar o serviço quando necessário. Muitas empresas estão fazendo isso.”

Tony não aguentou calado. “Você está mesmo falando essa merda, Obie?”

Todos os olhares se voltaram para ele. Inclusive o de Howard.

Anthony.” A voz de Howard soou como um aviso, um aviso que dizia: É melhor você calar agora ou vai sobrar pra você. Tony não ligou, afinal, já estava acostumado a esse tom.

Tony se inclinou para frente sentindo a coragem dentro de si para desafiar aqueles executivos que só falavam em lucro e só queriam agradar Howard.

“Estas pessoas participam constantemente das mentiras que vocês inventam, e vocês só vão descartá-las? Removê-las?” Sua voz ia aumentando de tom conforme ia falando.

Obadiah também se inclinou na cadeira quando falou, “Escute aqui, filho. Há muita coisa que você não entende-”

“Não sou seu filho.” Tony o interrompeu amargamente. Estava tão indignado que mal conseguiu focar sua vista em Obie e só reconheceu sua careca. “Até você já teve ideias melhores, Sr. Stane. Eu mesmo tenho algumas ideias que podem aumentar as vendas sem precisar fazer esse ‘corte de custos’ absurdo.”

“Você não sabe do que está falando.” Obadiah retrucou.

“Vocês entenderiam se largassem suas poltronas confortáveis uma vez e realmente olhassem aos seus redores. Mas, não! Vocês, palhaços, só gostam de brincar com a vida de outras pessoas.”

“Anthony, já chega!” Dessa vez, Howard se levantou de sua cadeira em um pulo e gritando. “Espere por mim em meu escritório.”

Tony deixou a sala de reunião sem hesitar. Em sua concepção, ele já disse o que precisava ser dito.

No silêncio do escritório, Tony percebeu que às vezes odiava seu pai. Ele esperava que Peter não o odiasse assim.

A porta do escritório se abriu e depois foi fechada. Howard não estava vermelho de raiva ou fumegando de ódio. Ao invés disso, ele estava com sua expressão fria, impassível e com olhar julgador. Ele juntou suas mãos enquanto encarava Tony.

“O que diabos foi aquilo?”

“Como assim? Aquilo foi eu defendendo nossos empregados.”

Nossos.” Howard repetiu com desprezo. “Você quis dizer meus empregados.”

Tony respirou fundo, ele não acreditou no que ouviu. “Você fala tanto que preciso aprender os negócios e, mesmo assim, não são meus empregados? O que estou fazendo aqui? Perdendo tempo?”

“Está aqui para aprender. Somente isso.”

“Tudo que aprendi foi como ser uma pessoa egoísta, que não liga para as pessoas que trabalham pra mim, neste caso, pra você. Eu só tenho 15 anos! Não vê que eu tenho tempo para aprender isso mais tarde? Que eu deveria estar em casa aprendendo a cuidar de Peter ao invés disso? Porque, ao contrário de você, eu quero estar lá por ele! Não só de madrugada, mas durante o dia também.”

“De madrugada?” Howard apontou um dedo para Tony. “Eu te disse para deixar isso para a babá. É por isso que anda tão sonolento nas reuniões?”

“É o único momento que eu posso ficar em paz com ele.”

“Eu sabia que isso tudo era uma distração.” Howard resmungou. “Essa situação com o bebê... uma distração. A solução vai ser te mandar pro MIT e fazer você ficar lá direto. Sem retorno nos finais de semana, manter distância. Isso talvez finalmente te dê o empurrão que você precisa para focar nos estudos.”

Tony inalou.

Manter distância.

Longe de casa. Longe de Peter.

“Você não faria isso.” Tony disse com a voz trêmula.

Porque ninguém é assim tão cruel.

“Faria sim. Aliás, tomarei as providências assim que possível.”

Tony acreditou nele instantaneamente. Porque ele faria sim. Ele mandaria Tony para longe e deixaria Peter mais vulnerável para ele.

Tony deu um passo cambaleante em direção ao Howard. “Eu juro por Deus... Eu juro que se você fizer-”

Tony não podia terminar a frase. Não conseguiria. O que adiantaria fazer promessas ao Howard se não iria cumpri-las. Só uma promessa lhe interessava e era a que fez ao Peter.

“Eu não deixarei Howard te machucar. Eu prometo.”

Tony fez a única coisa que passou pela sua cabeça naquela hora: ele correu. Passou pelo Howard, ignorando seu pai lhe chamando pelo nome completo, e correu até o elevador. Ele saiu do prédio das Indústrias Stark e foi direto para casa usando um táxi.

Assim que chegou em casa, ele foi direto para seu quarto com uma ideia se formando em sua cabeça. Ele pegou seu telefone e ligou para a única pessoa que poderia lhe ajudar.

Seu amigo Rhodey atendeu rápido e Tony deduziu que ele estivesse no intervalo entre aulas.

“Rhodey, preciso da sua ajuda urgente!”

“Tony? Nossa, o que aconteceu? Algo com Peter? Algo contigo?”

“Ainda não aconteceu nada. Mas eu tomei uma decisão e preciso da sua ajuda!”

Era agora ou nunca.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Surpresos?

Próximo capítulo: A Fuga.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Vidas Secretas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.