Albus estava nervoso. Ele, definitivamente, estava nervoso e Scorpius não sabia mais o que fazer para acalma-lo. Ele já tinha tentado de tudo que costumava funcionar, já tinha tentado até compra-lo com uns amassos, mas nada adiantava.

                - Albus... – Ele tentou mais uma vez. – O que é que está te deixando assim? Ao menos fale comigo, por favor.

O moreno de olhos verdes respirou fundo algumas vezes, mas manteve o seu ritual de ficar andando de um lado a outro no dormitório. Em uma dessas passadas ele olhou nos olhos do Malfoy e viu o desespero que estavam inundando os orbes cinzas, e exatamente por isso ele começou a tentar se explicar.

                - Como se a semana não estivesse sendo difícil o suficiente para a gente aqui na escola, agora os nossos pais nos mandam uma carta dizendo que querem conversar. – Chorou.

                - É isso que tem te afligido? – O loiro perguntou lentamente, tentando não fazer pouco caso da situação. A pouco mais de duas horas eles haviam recebido uma carta endereçada para os dois que pedia para que os garotos fossem almoçar em Hogsmeade com seus pais no próximo fim de semana, que por acaso seria em dois dias, e a tal carta havia sido assinada pelos DOIS. É claro que aquilo tinha deixado Scorpius Malfoy intrigado, mas não chegará a preocupa-lo de fato.

                - Você não entende, Scorp? – Al parecia exasperado naquele momento pelo namorado não conseguir acompanhar o motivo da sua preocupação. – Nossos pais nos mandaram uma carta marcando um almoço JUNTOS para conversar JUNTOS, os quatro. Eles nunca concordaram em algo, porque estão começando agora? Porque iriam querer nos ver juntos se não fosse para mandar acabarmos com isso logo? Eu não sei se consigo sobreviver a dois dias inteiros de espera. – O de olhos verdes gemeu em tristeza.

                - Al! – O loiro chamou, levantando de onde ele estava sentado na cama e se dirigindo ao moreno. Ele olhou nos orbes verdes do namorado, ele amava tanto a mirada dele sobre si, sorriu levemente e levou suas mãos a bochecha do outro acariciando e mostrando a ele que não o deixaria sozinho. – Nós estamos juntos! – Ele falou de firme. – Não importa se não temos o apoio dos nossos pais, não importa que eles nos mandem terminar, eu não vou obedecê-los. Eu amo você demais e a muito tempo para te deixar ir agora que consegui finalmente estar com você.

Albus não conseguiu conter um sorriso, se acalmando imediatamente, e deixando um suspiro sair, era como se um peso tivesse saído de suas costas, ele estava com tanto medo de perder seu recém namorado.

                - Mesmo? Você não vai desistir de mim nem por nossos pais?

                - Eu sou um Malfoy, nós não somos conhecidos por desistir do que queremos. – Falou rindo, e logo continuou num tom mais sério. – Podemos até não ter o apoio dos nossos pais, mas temos o apoio dos seus irmãos e dos seus primos, dos nossos amigos. Lembra quando tudo explodiu e as pessoas começaram a nos olharem torto? Lembra o que eu disse a você?

                - Se temos amigos e se temos um ao outro nós temos tudo, não precisamos de mais nada. – O mais baixo recitou.

                - Isso mesmo, Al. Eu já tenho tudo o que eu poderia querer bem aqui na minha frente. – Falou deferindo-lhe um sorriso no que foi prontamente correspondido pelo outro.

                - Eu também amo você, Scorp.

*

Eles caminhavam lentamente pela aldeia de mãos dadas, já haviam decidido há um tempo que não tinha motivo para esconderem isso, e esse simples ato os deixavam extremamente felizes. Não demorou até chegarem ao bar que tinham sido convidados por seus pais para o almoço e adentrarem o local. O ponto era novo, havia sido aberto a pouco tempo e os meninos ainda não tinha tido oportunidade de conhece-lo, mas ali estavam. Eles se encontravam tão nervosos que nem conseguiram prestar atenção na decoração e ambientação do local. A primeira coisa que viram quando abriram a porta foi seus pais os esperando em pé perto ao bar que tinha no ponto. Scorpius deu um leve aperto na mão do namorado para passar confiança e juntos seguiram até os mais velhos.

                - Al, Scorpius. Que bom vê-los. – Foi Harry que os cumprimentou e os mais novos tentaram sorrir sem sucesso por conta do nervosismo. Draco parecia observar tudo impassível, mas Scorpius o conhecia o suficiente para saber que ele estava se divertindo com a situação

Maldito.

— Vamos subir? – Harry continuou. – Reservamos uma mesa no primeiro andar para que possamos conversar sem sermos interrompidos.

Os garotos assentiram e começaram a seguir os mais velhos. Era engraçado para Scorpius os dois garotos estarem tão próximos aos pais e juntos. Ele conseguia ver que eles eram realmente uma miniatura dos dois na aparência, embora Albus e Harry não pudessem ser mais diferentes quando se tratando de personalidade e, pensando nisso, ele quase riu.

Quase.

 Assim que chegaram ao primeiro andar perceberam que o ambiente estava deserto e isso fez Albus se encolher contra o loiro, que o aconchegou mais no abraço tentando confortá-lo. Eles seguiram Harry e Draco que escolheram uma mesa e trocaram olhares entre si com uma cumplicidade que Scorpius estranhou, franzido o cenho decidiu observar melhor. Sentaram-se sem mais delongas e foi Draco quem iniciou o contato dessa vez.

                - Como vocês estão garotos? Nós... – Mas antes que ele pudesse continuar, foi interrompido por Albus, que havia tirado cada fio de coragem do seu corpo para sua fala.

                - Me desculpe, senhor Malfoy, mas... Eu e Scorp já conversamos e nada que qualquer um de vocês digam vai fazer com que a gente se afaste, ou termine o namoro. – Scorpius apertou ainda mais a mão do moreno dando forças e assentiu em concordância.

                - Sim, Al está certo. Não há nada que possam fazer para separar a gente. – Draco franziu a sobrancelha e Harry parecia tão incrédulo que deixou um sorriso escapar fazendo os dois meninos olha-lo.

                - Mas de onde vocês tiraram que qualquer um de nós dois nos oporíamos a estarem juntos? – O Potter mais velho perguntou. A cara de choque dos mais novos quase fez os mais velhos gargalharem, mas conseguiram se conter.

                - Não? – Albus perguntou, e Draco balançou a cabeça negando. – Não foi por isso que nos chamaram para conversar?

                - Nós achamos que essa conversa seria sobre isso. – Scorpius confidenciou.

                - Não é, não se preocupem. – Harry respondeu e ele viu como os dois garotos relaxavam. Eles ficavam tão bem juntos que mesmo que não aprovasse aquela relação – coisa que não acontecia – ele não teria coragem de tentar separa-los.

                - Bom... Se não é sobre isso, o que fazemos aqui? – Albus perguntou olhando para o pai e depois para Draco. – E porque vocês mandaram uma carta juntos?

Aquela pergunta fez com que os dois mais velhos corassem e Scorpius riu. Ele conhecia o seu pai bem demais. Sua risada fez Albus olha-lo como se pedisse uma explicação e foi Draco quem começou a falar.

                - Bom, nós... Nós temos algo para contar a vocês.

                - Desembucha, pai. – Scorpius pede revirando os olhos. – Eu estive observando a dinâmica entre você e o Senhor Harry desde que chegamos e está bem obvio que vocês têm convivido bastante.

Albus pareceu compreender algo com o dito de Scorpius e arregalou os olhos rindo.

                - Vocês também estão juntos? É sobre isso que é esse encontro familiar? 

De todas as reações que Harry e Draco estavam esperando, aquela definitivamente não era uma delas. Os garotos começaram a rir.

                - Como isso aconteceu? – Scorpius perguntou sem esperar uma confirmação.

                - Vocês não estão chateados com isso? – Harry perguntou. – Quer dizer... Nós estamos juntos, e vocês estão juntos... Não é um pouco estranho para vocês?

                - Um pouco. – Albus assentiu e Scorpius concordou. – Mas... Eu sou apaixonado por um Malfoy, quem sou eu para julgar você papai?

                - O mesmo comigo. – Scorpius falou rindo. – Mas então? Quanto tempo? Como aconteceu?

                - Tem uns oito meses que estamos juntos. – Draco começou. – E antes que comecem a reclamar... Nós iriamos contar aos nossos filhos, mas, bom... É uma situação complicada.

Os meninos assentiram... Eles entendiam. A história dos dois mais velhos não era tão simples quanto a deles.

                - E bom... Aconteceu após o Draco vir atrás de mim, como sempre, para discutir algo sem sentido. – Harry respondeu e Draco revirou os olhos. Aparentemente eles já haviam discutido aquilo várias vezes.

                - Eu não vou discutir isso de novo com você Harry Potter. É você que sempre foi obcecado por mim e não o contrário. – Resmungou e todos riram.

                - Aparentemente eu herdei o nariz, o cabelo os olhos do meu pai... E sua paixão e obsessão por um Potter. – Falou Scorpius fazendo com que todos rissem, menos Draco.

                - Isso é um ultraje. – O loiro argumentou. – Eu não sou obcecado pelo testa-rachada. – Falou resmungando.

                - Papai. – Scorpius o admoestou, fazendo o mais velho revirar os olhos e os Potters rirem. – Não seja assim.

                - Então... Estamos bem? – Harry perguntou.

                - Bom... Nós estamos bem. – Albus respondeu apontando para ele e Scorpius. – Boa sorte contando para o resto da família.

Harry gemeu. Onde ele tinha se metido?

Mas ao olhar para os quatro ali reunidos ele pode ver como seria sua vida dali em diante e não trocaria aquilo por nada.

Sorriu.