Ordem da Fênix - Origens escrita por Juliana


Capítulo 2
Os Evans


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!!



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A visão noturna do trajeto até Londres era nova para James, todas as viagens eram feitas durante o dia, era sempre a mesma coisa, sair da Plataforma 9 ¾ às 11h da manhã e chegar à Hogwarts  no início da noite, a ideia de Dumbledore de fazer o trem partir durante a noite (haviam saído de Hogwarts por volta da meia-noite) era nova, porém fazia sentido para James, eles chegariam perto das 8h e perder a noite viajando parecia muito mais produtivo do que perder praticamente um dia inteiro. 

Outra coisa nova eram os atuais integrantes de sua cabine. Habituado a viajar apenas com seus amigos, dessa vez Potter encontrava o local um pouco mais apertado. Além de Lily estar sentada com eles, o que era absolutamente compreensível, Alice, Frank e até mesmo Marlene McKinnon estavam na cabine. Parecia que o convite de Dumbledore fizera parecer que todos eram amigos. 

— E então, o que acharam de tudo isso? - Longbotton indagou afim de finalmente quebrar o silêncio. 

— Tudo isso o que? - Sirius não era exatamente a pessoa mais receptiva do mundo. - Me parece óbvio, achamos ótimo. 

— Credo, Sirius! - Lily o repreendeu quase como se fosse sua mãe. - Perdoem ele, gente, é o sono. - Alice era sua amiga e não queria que ela imaginasse que os amigos de seu namorado eram arrogantes, embora muitas vezes eles fossem, de fato. - Particularmente, estou bem nervosa. Ainda assim fico feliz, e ansiosa, por ter sido escolhida por Dumbledore. Quer dizer, ele deve ver algo de relevante em todos nós. 

— É estranho pensar que em um momento somos simples alunos e, no momento seguinte, somos convidados pelo próprio diretor para nos unirmos à ele. 

Lupin parecia lisonjeado ao falar isso, James sabia o quanto o amigo se subestimava e o quanto esse convite deveria ter sido marcante para ele. 

— Não deveríamos ficar tão felizes – Marlene, a mais afastada e silenciosa do grupo pronunciou-se. - Meu avô era trouxa, ele lutou na segunda guerra mundial dos trouxas e acreditem quando digo que todos vocês não parecem ter noção do que uma guerra significa. Estão felizes demais por terem sido “convocados” para lutar nessa. 

— Porque é que você topou, então? Não parece muito satisfeita. - James falou em um tom acusatório, não gostara nada do jeito como a menina falou. 

— É o certo a se fazer. - A menina deu de ombros. - Só não estou tão animada. Sei o que acredito e sei o quão disposta estou para defender isso, só não estou tão animada por estar indo lutar numa guerra. 

— Tenho certeza que seu avô tem orgulho de ter lutado na guerra e é isso que nós devemos ter também. 

— Ele morreu lutando, Potter. - James encolheu com a fala da garota. - E, sim, ele teria orgulho se estivesse vivo, assim como eu tenho dele. O meu ponto é que devemos ser realistas, a guerra não é um conto de fadas em que no final estaremos todos comemorando num bar pela vitória. Pelo contrário, muitos de nós nunca nem verão o resultado dela, morreremos antes.  

McKinnon terminou de falar e se levantou, saindo em seguida. Lily virou para James e ele já sabia o que estava por vir. 

— Você sabe que acaba de ser um grandessíssimo babaca, não é mesmo? 

Eu não tinha como saber que o vô dela morreu Lily! Você sabia? Alguém aqui sabia? Alguém aqui já trocou mais de duas palavras com ela? Por Merlin, a garota é a pessoa mais isolada que eu conheço. 

— Se você não tivesse essa irritante mania de sempre querer vencer as discussões, isso não teria acontecido, poderia ter permanecido em silêncio depois da primeira resposta. E o fato dela ser isolada devia fazer você ser ainda mais amigável, não o contrário. 

— Certo, Evans, me perdoe por não ser extremamente gentil como você é. - O tom irônico o entregava, James nunca concordava com estar errado. Lily revirou os olhos e se levantou. - Onde você vai? 

— Não que lhe deva satisfações, mas vou atrás de McKinnon. 

E saiu porta afora, parecendo furiosa. James finalmente voltou a prestar atenção na própria cabine, todos os outros integrantes o encaravam, constrangidos, afinal ninguém gostava de presenciar uma discussão de casal. 

— Perdoem a cena, Lily é sempre tão... 

— Empática? - Antes que pudesse pensar em um adjetivo, Remus completara a frase. 

— Isso, isso. Empática. 

— Sabe que isso não é uma ofensa, não sabe James? 

— É, eu sei. - Ele suspirou. - É só que... esqueçam. Só estamos estressados. 

— Sabemos como é. Eu e Frank andamos brigando bastante também, às vezes por bobagens como essa. - Alice lhe mandou um sorriso acolhedor e Potter apenas assentiu concordando. 

Enquanto Peter iniciava um assunto aleatório e desinteressante com os demais, James imergia em pensamentos. Não entendia como a namorada poderia ser tão empática, como dissera Remus, o tempo inteiro. Quer dizer, McKinnon era realmente estranha e acuada, respondendo todos na defensiva, durante todos os anos de Hogwarts e de repente Lily preferia ficar do lado dela, contra o próprio namorado. Era absurdo. 

Ele bufou baixinho, o bufo misturando-se com a risada irônica que mandava pra si mesmo. Lá estava ele, bravo com Lily justamente pelo motivo pelo qual o fez se apaixonar, sua justiça. Ele tinha de admitir, havia sido rude com Marlene e, por mais que isso o chateasse, o fato de Lily contrariá-lo era apenas justiça. Ela sempre defenderia aquilo que acreditava ser o certo, mesmo que pra isso precisasse contrariar a própria Morgana. 

Alice tinha razão também, o clima estressante ocasionava diversas discussões desnecessárias, esta não era a primeira e provavelmente não seria a última entre eles. Mas, James, refletiu por mais alguns segundos, se já estava tenso para ele que era puro-sangue e não sofria praticamente nenhuma ameaça, como Lily estaria se sentindo estando com um alvo gigantesco no meio das costas. Era hora de ceder, ele concluiu, levantando e indo atrás da namorada. 

Saiu da cabine sem que os demais questionassem, seus amigos já imaginavam o que ele pretendia fazer, Alice e Frank não se importavam o suficiente para perguntar. Não foi difícil achar a cabine em que as garotas se encontravam, apenas duas depois da dele. Marlene estava deitada em um dos bancos, ocupando todo o espaço, já Lily contentou-se em apenas sentar no banco da frente, elas estavam sorrindo, o que o estimulou a dar duas batidinhas na porta da cabine e abrí-la. 

— Hum – ele coçou a garganta, um pouco constrangido. - Posso entrar? 

McKinnon assentiu, sem mudar a expressão sorridente. Já Lily apenas lhe dirigiu um olhar sarcástico. James entrou e sentou do lado da ruiva, ajeitando-se antes de continuar. 

— Então, McKinnon, eu queria pedir desculpas. Não deveria ter falado daquele jeito com você. Foi é... um tanto babaca da minha parte. 

— Sem problemas, Potter. - As palavras soavam tão verdadeiras que James ergueu as sobrancelhas surpreso. - Não sou exatamente o tipo de pessoa que se ofende com tanta facilidade. Temos opiniões divergentes, acontece. - Ela deu de ombros antes de prosseguir. - E, como eu estava falando pra Evans, o principal motivo pra eu ter saído da cabine era o fato de que eu queria dormir, sabe, e lá não tinha espaço pra eu deitar. Então, agora, se não se importam, eu vou apagar a luz. Boa noite. 

Antes que pudessem pensar em responder, Marlene já havia apontado a varinha para a lâmpada da cabine e a apagado, deixando que apenas a iluminação que vinha do resto do trem e entrava pela parte de vidro da porta ilumina-se a cabine. Virando-se de costas para eles, não falou mais nada. 

James não sabia nem como reagir. A garota era... peculiar. Não parecia se importar com as opiniões alheias e o que suas ações causariam. Apenas falava e fazia o que bem entendesse. James gostava disso, talvez pudessem ser amigos afinal de contas. Sentiu Lily se levantar e fazer menção de sair da cabine, antes que ela completasse o gesto, Potter a segurou pelo pulso. 

— Onde você vai? 

— Voltar pra nossa cabine. - A resposta veio num sussurro, assim como a pergunta. 

— Precisamos conversar. 

— Ela quer dormir, ficar fazendo barulho não parece o mais adequado. 

— Céus, somos bruxos, Lily! - A resposta veio um pouco mais alta e a garota o reprimiu com o olhar.  

Puxando a garota para sentar-se ao seu lado novamente, James fez um feitiço isolador ao redor deles. 

— Pronto, agora você pode gritar o quanto quiser comigo, ninguém vai escutar. - A frase foi dita em tom de brincadeira, esperava ao menos um sorriso como resposta. Não aconteceu. - Vamos, Lil, não fica assim. Não quero brigar. 

— Ah, agora você não quer brigar? Então agora eu devo aceitar o seu sarcasmo e ficar de boa. 

— Não, é que estamos todos estressados. Sei que não devia ter falado daquele jeito contigo, só acho que você podia relevar um pouco. 

— Relevar? James, você nem se desculpou! 

— OK, OK, me desculpa. - Ele segurou o rosto da garota entre as mãos. - Desculpa, amor, não vai se repetir. 

Evans estreitou os olhos, avaliando a sinceridade nas palavras. James se esforçou pra fazer a sua melhor cara de cachorro que caiu da mudança afim de convencê-la. 

— Você sabe que essa cara nunca me convenceu, não sabe? Quer dizer, eu resisti à ela por uns bons anos. - Lily questionou irônica. 

— Poxa vida, achei que ela já estava boa o suficiente pra te convencer. - Ele riu, aproximando o rosto do dela. - Acho que sei algo que pode te convencer. 

Beijou-a com suavidade, escorregando a mão para sua nuca. Aquilo, com certeza, a convenceria. Com delicadeza, puxou a ruiva por seu colo e desceu os beijos pro seu pescoço. A mão direita trilhando o caminho que tanto conhecia até as pernas da namorada enquanto a esquerda puxava seus cabelos, Lily gemeu baixinho e o trouxe pra mais perto. A mão que estava na perna começava a traçar um caminho mais perigoso, por baixo da saia, mas quando James finalmente chegou onde queria, a menina o afastou. 

— Ainda estamos na mesma cabine que McKinnon, Jay. - A menina sussurrou, tirando a mão dele do meio de suas pernas. 

— Ela tá dormindo, relaxa. E podemos procurar outra cabine... 

— Não. Aqui não. - Ela respondeu antes que ele pudesse voltar a beijá-la, descendo de seu colo. - E não faça essa cara, eu também quero. - Lily ajeitou os óculos de James no rosto. - Mas no Expresso de Hogwarts é passar totalmente dos limites.  

— Claro. - Ele abriu um sorriso maroto. - Porque nós ainda não tínhamos ultrapassado os limites enquanto transávamos em salas vazias. 

— Culpada. - Lily ergueu as mãos na altura dos ombros, como se estivesse rendida. - Mas naquelas ocasiões éramos monitores-chefes fazendo ronda, com a porta trancada, com o mapa para assegurar que todos dormiam e com a capa da invisibilidade caso ouvíssemos alguém se aproximando. 

— Santo Quadribol, você pensava em tudo mesmo! E eu achando que estávamos correndo grandes riscos. 

— E estávamos. Mas era um risco milimetricamente calculado. - Ela piscou, divertida. - Agora, vem, deita aqui. Você precisa dormir. 

Lily puxou a cabeça de James pro seu colo, fazendo com que ele deitasse no banco. 

— E você, não vai dormir? - ele questionou enquanto a menina tirava os óculos de seu rosto e os colocava na própria cabeça. 

— Estou muito ansiosa pra ver meus pais. Não conseguiria dormir mesmo que estivesse com sono, e não estou.  

— Então vou ficar acordado e lhe fazer companhia. - Tentou levantar, mas Lily o impediu. 

— Não. Sei o quanto gosta de dormir com o embalo do trem. - Ela riu. - E quero ficar um pouco sozinha com meus próprios pensamentos. 

James assentiu e virou seu rosto para a barriga da ruiva, sentia as mãos da menina fazendo cafuné em seu cabelo e não saberia dizer o momento exato em que adormeceu. 

 

~~~~ 

 

A casa dos Evans era linda. Não era grande, mas parecia acolhedora. As paredes eram de um verde suave que combinava completamente com as portas e janelas brancas e a varanda de madeira, havia também um vaso de cravos pendurado do lado de uma das janelas o que dava um toque ainda mais delicado ao ambiente. James quase conseguia ver a pequena Lily correndo pelo pátio de grama baixa indo em direção ao balanço próximo ao portão, sua risada já devia ser contagiante nessa época. 

Sua barriga roncava de fome, perdera as contas de quantos minutos fazia que eles estavam na frente da casa de Lily – esperando que ela tomasse coragem para entrar -, além das horas que eles haviam perdido no caminho até o local. A menina fizera questão que eles fossem de ônibus e trem, sem métodos bruxos para não serem detectados pelos comensais em um bairro trouxa e sem pedir pra que os Evans lhes buscassem para que ninguém os ligasse à plataforma 9 ¾ e, dessa forma, ao mundo bruxo. James, entendia, é claro. A preocupação da namorada era completamente justificável e ele faria exatamente igual, mas já devia passar das 11h e sua última refeição havia sido um pacote de feijões de todos os sabores ao embarcar no Expresso. 

— Vamos entrar. - Lily o chamou, parecia ter vencido o nervosismo. Ele suspirou aliviado. 

Ela abriu o portão e eles caminharam pelo delicado caminho de pedras até a varanda. Subiram três degraus finalmente estavam de frente para a porta. A menina tocou a campainha e menos de 10 segundos depois uma senhora loira, extremamente magra e com uma postura severa - que contrastava completamente com o sorriso largo e o olhar brilhante por ver a filha depois de tanto tempo – abriu a porta. 

— Lily! - Ela exclamou puxando a garota para um abraço apertado, que foi instantaneamente retribuindo. - Querido, eles chegaram!  

A mulher gritou para o marido, um senhor alto e um pouco acima do peso que surgiu atrás dela, o qual James viu Lily correr ao encontro. A senhora Evans voltou seu olhar à James, como se o avaliasse. Ele logo se adiantou para cumprimentá-la. 

Prazer, senhora Evans, sou James Potter. Estou muito feliz em conhecê-la. - Ele estendeu a mão, que foi prontamente apertada de maneira firme. 

— Prazer, Potter. Eu sou Mary Evans, como você já deve saber. Pode entrar. 

— Espero que não esteja assustando o rapaz, Mary. - O pai de Lily se aproximara e antes que James pudesse se apresentar, o homem o puxava para um abraço, surpreendendo-o. - James, não é? Estou feliz em conhecê-lo! Sou Thomas Evans, mas pode me chamar de Tom. 

A personalidade de Tom contrastava bastante com sua aparência física, pensou James. O homem corpulento de repente parecia um enorme urso de pelúcia: grande, gordo, peludo e carinhoso. A senhora Evans, no entanto, tinha a cara de uma pessoa que não devia ser contrariada, lembrava-o de Minerva McGonnagal e, ao perceber isso, entendeu o afeto que Lily tinha pela professora. 

James culpou-se por não ter batido os pés antes de entrar, a casa dos Evans era extremamente... limpa. Tudo estava milimetricamente arrumado e parecia que  nem uma miligrama de pó já havia estado no lugar. Antes que pudesse prestar atenção nos demais detalhes do hall, a senhora Evans voltou a falar. 

— Ora, querida, onde estão suas malas? - O olhar atento, porém carinhoso da mãe, recaiu sobre a ruiva. 

— Então, mãe, era a isso que eu me referia nas cartas quando disse que precisávamos conversar... - Lily definitivamente não sabia disfarçar o nervosismo, seus ombros pareciam tão tensos que Potter quase via mais uns três nós se formando. - Mas quem sabe não almoçamos primeiro? Eu e James não comemos nada desde ontem. 

Mary concordou, mesmo contrariada. Lançou um último olhar curioso à Lily, que lhe deu um sorrisinho amarelo e então caminhou para uma porta que ficava à esquerda do hall de entrada. 

— Espero que a comida não tenha esfriado. - Ela foi dizendo. - Vocês demoraram. 

— Deus, Mary, pare de resmungar. - O senhor Evans retrucou. - Sabe que a viagem é longa. 

A senhora Evans respondeu algo que James não se deu ao trabalho de ouvir, ele havia entrado na cozinha, que dividia espaço com a sala de jantar. O lugar era espaçoso e aconchegante e, novamente, muito limpo. A mesa tinha lugar para 6 pessoas, mas estava posta apenas para eles 4. Potter gostava de observar coisas trouxas, por isso olhava tudo atentamente, surpreso quando percebeu que a geladeira possuía um cabo preto conectado à parede. Aproximou-se para olhar mais de perto, com receio e curiosidade. O comportamento pareceu divertir Lily que o questionou, risonha: 

— O que está olhando, amor? 

— É que... bom... - Ele observava o fio ainda encucado, o que Merlim aquilo estava fazendo ali? - Você vai rir se eu perguntar, não vai? Não entendo esse cabo na geladeira e porque está grudado na parede? 

Olhou para trás e deparou-se com os pais de Lily encarando-o como se fosse louco. A menina, no entanto, gargalhava. James encolheu os ombros, envergonhado enquanto a namorada se aproximava, ainda rindo. 

— Você não aprendeu nada mesmo em ensino dos trouxas, não é? Isso, James, é uma tomada. - Ela apontou para onde o cabo se conectava com a parede. - O cabo leva energia elétrica para a geladeira, fazendo-a funcionar. 

— Mas então, essa tal energia elétrica fica dentro da parede? - A explicação de Lily só o fez ficar ainda mais confuso. 

— Não! Quer dizer, não exatamente. É complicado até para mim lhe explicar. Por sorte, você tem aqui um professor de física que, eu tenho certeza, vai amar lhe contar cada detalhe dessa magia trouxa. - Lily apontou para o senhor Evans e puxou James em direção a mesa. - Pode dar uma aula pra ele, pai. Esse jovem aqui não entende de nada que não envolva o mundo bruxo. 

O almoço correu bem. James e Thomas entraram numa conversa intensa, sanando curiosidades um do outro sobre seus respectivos mundos. A parte preferida do bruxo foi realmente a energia elétrica e tudo que funcionava a partir dela. Aparentemente, o mundo trouxa era movido a partir da eletricidade (aprendeu essa palavra enquanto conversavam) e ele estava chocado por Lily nunca ter nem citado o assunto durante o tempo de relacionamento. James explicou à Thomas que os bruxos não precisavam de energia elétrica porque todos seus objetos e artefatos eram encantados e funcionavam através de magia. 

Mas as coisas entraram realmente na zona de conforto de James quando ele citou o Quadribol e o pai de Lily apressou-se a cochichar em seu ouvido que sempre tivera curiosidade sobre o esporte mas que a menina nunca soubera explicar direito. E lá se foi o resto do almoço explicando cada detalhe entorno do desporto. 

Lily e a mãe também conversavam, pareciam estar atualizando uma à outra sobre os acontecimentos dos meses que passaram distantes. O silêncio só se fez na mesa quando a garota, parecendo despretensiosa, perguntou algo que fez os pais se calarem imediatamente. 

— E Petúnia, onde está? 

O senhor e a senhora Evans trocaram olhares culpados, cada qual torcendo para que o outro respondesse primeiro. James sabia que Petúnia era irmã de Lily e que o relacionamento de ambas não era exatamente saudável. 

— Bom, querida, você sabe como sua irmã é... - Foi o pai da menina quem arriscou-se primeiro. 

— Ela está passando o dia na casa de Vernon! - Mary interrompeu rapidamente, - Você sabe, o namorado dela. 

— Entendi. - Lily brincava com o garfo no prato já vazio, encarando-o. - Ela foi para a cada dos Dursley porque sabia que eu voltava hoje, não é? 

— Não é isso... 

— É, sim. E vocês sabem. - A menina interrompeu o pai, chateada. - Ela está adiando me ver e provavelmente não queria conhecer James. 

— Bom, se for por isso mesmo podemos constatar que essa Petúnia é uma boba, não é? - James interveio ao perceber a tristeza da namorada, queria fazê-la rir. - Ora, quem não gostaria de ver Lily Evans e, principalmente, conhecer James Potter? 

Ele passou a mão entre os cabelos, num gesto exagerado, acentuando a ironia de seu comentário e Lily respondeu dando um meio sorriso para ele. Sua mãe apressou-se em aproveitar a deixa para mudar de assunto. 

— O que acharam do almoço? - A pergunta não teve tempo para ser respondida, Mary já se levantava e retirava os pratos, nervosa. - Porque não os acompanha até a sala, Thomas? Vou arrumar tudo e preparar um chá. 

O marido pareceu adorar a ideia, levantando-se tão rápido quanto a esposa, puxou o casal para a sala. 

 

 

~~~~ 

 

Enquanto esperavam a senhora Evans, James entreteu-se observando os porta-retratos em cima da lareira da sala de estar enquanto pai e filha conversavam no sofá. As fotos, que seriam entediantemente paradas para qualquer bruxo, eram incríveis para Potter. Havia praticamente uma foto para cada fase da vida de Lily e de uma outra menina loira  - tão magra quanto Mary e tão alta quanto Thomas - que James presumiu tratar-se de Petúnia, ele quase podia entender a raiva que a moça tinha da irmã mais nova, ela parecia realmente ofuscada pela beleza e energia da ruiva em todas as fotos que apareciam juntas.  

James encarava uma foto da namorada com uns 7 anos, sendo empurrada pelo pai no balanço que ele vira do lado de fora, os cabelos esvoaçando e a risada quase audível através da foto quando ouviu a senhora Evans entrar na sala. Virou enquanto a mesma depositava a bandeja com o chá sobre a mesinha de centro. O olhar de Lily chamou James para sentar-se ao seu lado. O momento que ela tanto adiou havia chego.  

— Mamãe, papai. - A ruiva os encarou e apertou a mão de James. - Como eu já expliquei pra vocês, tem esse bruxo, o Voldemort, que está causando uma guerra no mundo bruxo... 

E então Lily explicou, com detalhes, tudo que vinha acontecendo no mundo bruxo. Contou que Voldemort odiava pessoas como eles, trouxas, e odiava ainda mais bruxas como ela, que vinham de famílias trouxas. Didática ela fez uma analogia com o Nazismo, - James não sabia muito sobre a história trouxa, mas todos os bruxos tinham algum conhecimento acerca desse assunto – pareceu ser um bom exemplo já que neste momento os pais da ruiva assentiram, entendendo.  

Sentado em frente aos Evans, James compreendia o quanto aquele momento estava sendo doloroso para a namorada, não podia nem imaginar como seria dizer aos próprios pais que estava indo embora porque conviver com eles os deixaria em perigo. 

— Eu observei que Voldemort e seus comensais costumam atacar bairros trouxas onde residem parentes de bruxos. Eu não sei como ele sabe, mas desconfio que ele utilize um sistema parecido com o do Ministério, capaz de detectar a magia. Por isso eu e James viemos de ônibus até aqui, não poderíamos usar magia para chegar. - Lily estava concluindo sua fala e olhava para baixo, James tinha certeza que estava se contento para não chorar. - E é por isso, mãe, que eu não trouxe minhas malas hoje. Eu não vou ficar. E temo que não os verei novamente, não até a guerra acabar. 

— Como assim não vai ficar? Como assim não vai mais nos ver? - A senhora Evans soltou uma risada nervosa. - Olha, Lily, se isso for uma brincadeira... 

— Não é, mãe. Eu queria que fosse. 

— Você deve estar exagerando. 

— Não estou. Mãe, não é brincadeira, nem exagero. Eu preciso ir embora. Cada segundo que passo aqui posso estar colocando-os em perigo. 

— Ora, mas você nem ao menos tem onde ficar. - A senhora Evans estava ficando desesperada, era perceptível. - Vamos, Thomas, diga algo! Diga à ela que ela está louca! Não pode ir embora assim, e ainda dizer que não vai mais nos ver... 

— Ela está certa, Mary. - O senhor Evans estava sério pela primeira vez. - Eu tenho visto nos noticiários, todos os dias tem um incêndio ou explosão em uma parte diferente da Inglaterra que acaba deixando não sei quantos mortos para trás. Claro, de cara não desconfiei que pudesse ter relação com a comunidade bruxa, mas agora tudo faz sentido. Se Lily acredita que esta é a melhor forma de nos proteger... 

— Nos proteger, Thomas? Quando foi que os filhos protegerem os pais tornou-se aceitável? Nós é que vamos protegê-la! 

— Desde quando bruxos existem, Mary? - Thomas devolveu. - Nós sabíamos desde o início que tudo com Lily seria diferente! E se Lily diz que esse é o único jeito, então eu confio nela. - Virando-se para filha, ele continuou, dando um daqueles sorrisos que abraça. - Além do mais, eu acredito na minha menina, sei que nenhum Hitlerzinho bruxo será páreo para ela. Logo tudo isso terá acabado. 

Após alguns segundo de silêncio, Mary Evans pareceu dar-se por vencida, mesmo que sua expressão ainda demonstrasse que estava contrariada. 

— Certo, sei que não adianta discutir com vocês dois. Mas você vai ficar onde enquanto isso? 

— Na casa de James. 

— Na casa de James? - a mulher repetiu, atônita. - Como assim? Vocês nem ao menos são casados. Não posso admitir! Não podemos admitir uma coisa dessas, Thomas, ou vai concordar com isso também? 

— Ora, mãe, não é como se nós nunca tivéssemos... 

Lily não foi capaz de concluir, a senhora Evans começara a fazer o sinal da cruz repetidas vezes falando algo que parecia muito com uma oração. 

— Por favor, senhor, me perdoe. Tenho certeza que ela não vai falar o que eu acho que vai. Tenha piedade, meu bom Deus, não mereço ouvir uma coisa dessas.  

— A garota acaba de dizer que tem um homem prestes a nos matar e você só recorre ao seu Deus quando acha que ela vai falar sobre sex... 

— Céus, Thomas! - Mary interrompeu o marido antes que ele completasse a palavra. - Já disse para não falar como um descrente enquanto oro! 

— Eu sou ateu! Como é que não vou falar como um descrente? 

— Viu? E é por isso mesmo que agora tem um homem maluco perseguindo nossa filha! Eu sabia que um dia meu bom Deus me cobraria por ter casado com você. 

— Senhora Evans. - James decidiu intervir. - O que Lily quis dizer é que não é como se nós nunca tivéssemos ficado sozinhos e tido a oportunidade de a senhora-sabe-o-que. - A mulher ergueu as sobrancelhas, aguardando que ele continuasse. - Mas é claro que nunca fizemos nada. 

Lily encarou o namorado chocada. Como é que ele mentia com tanta naturalidade? James a ignorou, sabia que o único jeito de levar Lily para sua casa sem magoar Mary Evans profundamente, era mentindo. 

— Oh, é melhor assim. - A mulher respirou aliviada enquanto o marido revirava os olhos. - Mas, de qualquer forma, não posso permitir que minha filha vá morar na sua casa sem que vocês casem. 

— Mas nós vamos nos casar, essa era outra notícia que tínhamos para dar. Vamos nos casar daqui dois meses.  

Nesse momento, Lily virou todo o corpo para encarar James, eles nunca haviam conversado sobre isso. Quer dizer, haviam falado várias vezes sobre se casarem enquanto estavam em Hogwarts. Mas não havia tido nem um pedido oficial, imagina uma data. No entanto, ela entendia o que ele estava fazendo, James estava usando todos os argumentos possíveis para convencer a mãe da ruiva a permitir que ela fosse morar com os Potter. 

— Sim, mãe. Vamos nos casar no dia 23 de agosto. - A culpa de mentir na cara dura para a própria mãe a consumia. - Eu não quis trazer meu anel de noivado por ser um artefato extremamente mágico. Como eu disse, Voldemort poderia detectar. 

A senhora Evans alternava o olhar entre os dois, como se os analisasse. Parecia surpresa, mas de alguma forma feliz. Ainda assim, ela era uma Evans e James deveria saber que não se renderia tão fácil. 

— Mas James nem ao menos pediu sua mão em casamento para seu pai. 

— Ele não sabia que precisava. Os bruxos não têm esse costume, particularmente ultrapassado. - A última parte saiu da boca de Lily como um resmungo. 

— E nem eu tenho! - Thomas voltou a fazer parte da discussão. - Não acho necessário, James. Claro, acredito que seja um casamento particularmente rápido, vocês ainda são tão jovens, mas entendo as circunstâncias. 

— Ainda assim, vocês ainda não são casados, então não posso permitir que durmam juntos. 

— E não vamos. Minha casa é grande. Lily vai ficar no quarto de hóspedes. - James falou, torcendo para que isso convencesse a mãe da namorada.  

Ele estava triste em ver tudo aquilo, sabia que no fundo a senhora Evans só inventava tantos empecilhos porque não queria perder a filha. Sabia que ela só estava tentando prender-se a qualquer justificativa para não deixar a filha que acabara de chegar, partir novamente. Felizmente, ela pareceu dar-se por vencida. 

— Tudo bem. - Tentando esconder a tristeza através de uma expressão severa, ela continuava. - Mas você precisa me prometer, filha, que vai se preservar até o casamento. 

— Eu prometo, mãe. - James conhecia a namorada bem o suficiente para saber que suas pernas tremelicando indicavam uma mentira, esperava que a senhora Evans não conhecesse. - Prometo não ultrapassar mais nenhum limite. 

O resto da tarde na casa dos Evans não foi exatamente feliz. Pelo contrário, todos estavam chateados com aquela despedida forçada. No entanto, Tudo pareceu melhorar quando - após Lily dizer que também não mandaria mais cartas – Thomas sugeriu que eles instalassem um telefone na residência Potter, por não ser um artefato bruxo, teoricamente não seria detectado por Voldemort. Ao ver o olhar esperançoso da namorada, James afirmou que instalariam o tal telefone, mesmo não fazendo a mínima ideia do que era aquilo. 


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Notas finais do capítulo

Então, gente, gostei bastante do resultado final desse capítulo e gostaria muito que vocês me desse um FeedBack a respeito dele e da história em si!
Além disso, queria saber se o capítulo não ficou muito grande. Foram quase 5k palavras e tenho medo de estar sendo maçante. Eu particularmente gosto de capítulos longos, mas sei que tem gente que não curte. Enfim. Digam aí!



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