Florescer (Joshler) escrita por polarizado


Capítulo 2
A Festa


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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1 - Amizades.

Manhãs, eu as odeio. Acordar com o sol batendo na sua janela todo dia era quase um pesadelo. Não tinha cortina, infelizmente. Já havia pedido mil vezes à meu pai para providênciar, mas ele nunca tem tempo, ou realmente não quer me ajudar. Simplesmente a segunda opção, vulgo nenhuma, é a mais plausível.

Rotina normal: acordei, tomei meu banho, me masturbei, tomei café e segui para a escola de ônibus. Eu já estava me sentindo gasto, provavelmente por causa da punheta matinal, mas sempre era assim toda sexta-feira, como se fosse mecanizado e programado para me dar tesão de manhã. Bom, era melhor que domingo. Esse dia era o pior da semana, me dava vontade de morrer nesses dias, acho que por causa do tédio maníaco.

Sorrir, sempre sorrir. Em todos os meus dias nesse mundo (ou desde que me conheço por gente) eu nunca deixei de sorrir perto das pessoas. Acredito que todos têm problemas e demônios mal resolvidos que deixam a vida mais complicada de viver. Como um casamento desmoronando, ou uma mãe com câncer terminal, ou dificuldades financeiras em casa, ou depressão e ansiedade, ou dificuldades em se assumir um(a) não heterossexual - por isso sempre sorrio. O sorriso, mesmo que seja mínimo, anima ou deixa uma pessoa feliz. Eu gosto disso; ver que deixei uma pessoa melhor me movimenta muito, mesmo eu estando o átomo do coco do cavalo do bandido. Acho que por isso todos na escola curtiam a minha vibe, por causa daquilo que eu passava.

— Hidrocarbonetos são compostos que apresentam em sua composição átomos de Carbono e Hidrogênio. - Hanna Reid, a loira professora de Química explicava o novo conteúdo. Ela era uma ótima professora e também uma ótima amiga. Tinha uma banda próspera chamada London Grammar, o qual eu amava demais as músicas. Geralmente os alunos zoavam com ela a chamando de depressiva ou professora icógnita, isso por que suas letras eram bem difíceis de entender, quase impossíveis de interpretar. - Os alcanos são hidrocarbonetos alifáticos saturados, isto é, apresentam cadeia aberta com simples ligações apenas.

Por mais que eu adorasse química, ela era muito confusa e xaqualhava muito meu cérebro (não só o meu com toda a certeza).

O sinal bateu e pela portinha passou um amontoado de gente com pressa para o intervalo. Abanei um pouco meu cabelo tentando tirar o resto de papel picado que Aaron tinha espalhado em mim. Esse cara gostava de implicar de um modo que eu nem ninguém entendia. Muitos diziam: "Ah é o jeito dele, ignora" ou "Ele só está sendo zoeiro". Eu entendo, mas acredito que a tal da "zoeira" tem limites e os limites dele já tinham sido atingidos no meu caso e de muitos outros há muito tempo.

— Buh!

— Ah!

— Há, 3×2 pra mim, cuzão.

Era a bendita da Primrose, nascida do céu, criada pelo diabo. Pelo menos era assim que ela se descrevia.

— Oh miserável, a minha vai ser pior. - Estávamos num jogo de sustos aleatórios. Começou no final das férias de Natal quando ela saiu de um arbusto vestida de veado. Quase caí para trás, sou bem sensível à susto. Tempo depois eu apareço com uma panela e sua tampa, Prim, ao sair do banheiro da casa dela, foi surpreendida por mim, Josh Dun, e minha panela. Ela me xingou acho que por quase duas semanas, não gostava de barulho alto. Para revidar Prim me deu um susto simples como o de agora, provavelmente com o intuito de finalizar a sequência, mas como sou irritante, dei um outro susto nela daquele mesmo jeito

— Ah, eu duvido, sou mestra em sustos.

— Mestra em berros, isso sim.

— Cala a boca, pimentão.

Andamos o corredor movimentado procurando nossos armários. O meu e o de Prim ficavam lado a lado, isso por que ela fez uma birra desgraçada na direção para conseguir; falou que sairia da escola, processaria pela quantidade de bullying não resolvido, deu muita ênfase na infraestrutura mal cuidada. Foi um rolê louco. Tudo isso para ficar ao meu ladinho nos intervalos das trocas. Fofo? Não. Loucura mesmo. Eu gostei até, me senti importante.

— Irmão, eu tô a-p-a-i-x-o-n-a-d-a pela Billie Eilish! - Prim se animou do nada.

— Ailíx? É assim que se escreve isso? A i l í x?

— Não doido, é e i l i s h! Ailíx é a pronúncia.

— Pronúncia estranha.

— Igual as roupas dela, mas ficam tão demais nela. Fala que é pra não a sexualizarem.

— Faz sentido - Abri meu armário azul padrão. Prim fez o mesmo com o armário ao lado, o seu. - Ela é boa desse jeito?

— Claro! Tanto que é a nova sensação. O álbum dela é espetacular, mesmo sendo um pouco exagerado na arte.

— Uai, como assim? - Perguntei fechando o armário novamente com dois livros: um de inglês e outro de espanhol.

— O tema é terror, ela tá com os olhos branquinhos sentada numa cama enorme provavelmente cara que não é dela mas ela comprou. - Disse bem rápido. - Que no caso é dela agora...ah eu não sei.

— Prim, você é doida. Sabia disso? - Na pergunta fiz uma entonação sarcástica. Ela me deu língua. - É uma criança mesmo. - E dei de volta.

— E então, você vai ho... - Tentou terminar mas foi interrompida.

— Eai galera. - Uma voz grossa anunciou bem atrás de mim.

— Gabe. - Disse Prim sem muita animação.

— Gabe! - Exclamei e lhe dei um abraço, recebendo um beijo na bochecha rápido dele. Gabe namorava a Prim, mas na minha opinião ela é muita areia para o caminãozinho dele. O cara era bonito (até demais), parecia um boneco, mas acho que o interior dele era pouco para Primrose.

— Bom dia meu amor. - Direcionou-se à loira e a beijou. Prim ficou emburrada, estava acontecendo alguma coisa entre eles tem um certo tempo. Ela ainda não me contou nada, mas provavelmente não demoraria.

— Bom dia, Gabe. - Falou seca.

— Ainda com isso? - Gabe perguntou decepcionado.

— Com "isso"? Com "isso"?! - Prim perdia o senso.

— Não tô entendendo, Prim. - Ele parecia confuso.

— Ah não tá entendendo? Vou refrescar a sua memória e talvez te dar um pouco de noção. - A loira estava com raiva, suas mãos se apoiavam na cintura e Gabe parecia com medo. - Não acha que não vi você andando com a vaca da Victoria essa semana?

Ah, eram ciúmes. O famoso e tão clichê ciúmes. Eu já devia saber, conhecendo a Prim do jeito que ela é seria capaz de bater em qualquer uma que mexesse com Gabriel.

— Ciúmes? - Gabriel disse e eu pensei. - Ah que fofo cara. - Me deu vontade de bater em sua cabeça, isso ia deixá-la mais irritada.

— Que fofo?! - E Prim se irritou mais ainda. - Não me deixa mais doida do que eu já tô, Gabriel. - Prim saiu, nem pegou os materiais. Saiu batendo o armário e o pé.

— Prim! - Gabriel chamou, mas Prim já fingia ser surda. - Ah, merda. O que eu faço cara?

— Se explica uai. - Falei como se fosse óbvio.

— Sim, mas como? Acho que ela não vai querer falar comigo tão cedo.

— Realmente. Então espera.

— Paciência.

— Sim, uma virtude que você não tem.

— Que bom que cê sabe. - O sinal bateu e eu terminei de arrumar minhas coisas. - Hey, você vai hoje?

— Hoje? Onde? - Lembro que Prim tinha começado uma frase daquela maneira, mas eu definitivamente não sabia que estavam falando. Gabe pareceu decepcionado.

— A festa fantasia que vamos dar, né. A gente tá planejando isso tem um tempinho, lembra? - Oh sim

— Ah sim, lembro. Aí Gabe, não sei. Eu trabalho à noite.

— Como não sabe? Estamos nessa juntos.

Pelo menos era para eu estar. Gabe e eu planejamos isso no meu pós-estresse parentesco, no qual eu queria desobedecer com a força do ódio, se é que você me entende. Aconteceu ainda nesse ano quando estávamos na janta e eu resolvi tocar no assunto "pastorear". Era uma dúvida que eu tinha em relação à atitudes e comportamento de um pastor. Meu pai pensou que fôsse alguma crítica à ele (o que realmente foi, adimito) e começou a bater boca comigo. Eu levei uma "Bíbliada" na cara naquele dia. Bíbliada é uma ação feita por meu pai quando lhe dava os nervos ou desobedecíamos ou pecávamos. Minha mãe também fazia isso, mas seu porte era BEM menor do que de meu pai, portanto doía menos. Fiquei com tanta raiva por dias que quando Gabe veio com essa proposta, aceitei na hora. Na minha cabeça eu precisava desobedecer algumas vezes, mas tinha consciência de que se eles descobrissem daria muita merda. Portanto já estava feito, eu já "estava nessa", não poderia abandonar Gabe. Tínhamos mais de 70 pessoas para ir; vai ser um festão.

— Ok Gabe, de noite eu estarei lá.

— Ótimo! Você é incrível mesmo, eu poderia te dar um beijo agora! - Disse rápido.

— Mas você não vai por que temos um acordo. - Falei e Gabe murchou.

Essa do acordo se deu à um tempo atrás, quando Prim e Gabriel começaram a namorar - um pouco antes ainda. Conheço o Gabe desde meus 9 anos, lembro-me de ter jogado uma bola no rosto dele por que não ia com sua cara. De primeira nossos Santos não tinham se entendido. Ele chorou muito e eu levei uma suspensão de 3 dias, levei mais bíbliadas em casa e até algumas palmadas, nunca me senti tão agredido como aquele dia. Gabe e eu, certo tempo depois, desenvolvemos uma amizade que se fortaleceu ao longo do tempo.

Um dia estávamos na minha casa assistindo Liga da Justiça (sim, éramos bem nerds) na televisão da sala. Eu tinha já meus 13 anos e ele também. Entenda, nossos hormônios na época estavam se desenvolvendo demais e, naquele justo momento, ele pediu para ver meu íntimo. Eu recuei pois não era normal um homem pedir isso ao outro, mas Gabe tem um dom de intimidar alguém só com seu olhar penetrante, por isso acabei cedendo. Ele não só viu meu pênis quase desenvolvido como também tocou. Naquele dia aconteceu só aquilo, mas no próximo eu pedi que ele tocasse novamente por eu ter gostado. Ele fez.

Passou o tempo e os "toques" evoluíram para beijos e "toques" mais profundos. Por fim começamos a nos chupar. Um dia eu começava, outro dia era ele, até chegar no ápice.

Ficamos nisso por 4 anos até que Gabe falou que estava gostando de mim.

Por mais que eu gostasse do Gabe, não era isso que queria para nós dois. Foi só um divertimento, um relaxamento pr'os dias desgraçados. Não gostaria de estar em um relacionamento com ele. Não tínhamos tanto em comum. Quando acabei com isso foi no meu quarto, ele tinha trago camisinha, provavelmente queria evoluir a suposta relação. Ri internamente mas sofri por ele previamente e terminei. Ele ficou bem triste com a situação, porém se tem uma qualidade que eu gosto nele, essa qualidade é a compreensão. Gabe era muito compreensivo e isso fez com que ele engolisse minha escolha mais rápido.

Ele se assumiu bissexual há um ano desde que terminei nossa brincadeira. Logo após, começou um relacionamento com Primrose. Nós três nos conhecíamos desde muito tempo, Prim eu conheci um ano depois de Gabe e, mesmo ela sendo minha melhor amiga, não consegui contar para ela. Mais um motivo de terminar com Gabriel. Ela me contou que gostava dele um dia depois do nosso término e depois que se conheceram melhor começaram a namorar. Fiquei muito feliz pelos dois sinceramente, mas Gabe continuou a me atiçar - de modo mais "furtivo" - jogando algumas frases e palavras chave relacionado ao que tínhamos.

— Relaxa relaxa, eu sei. - Mentiu, Gabe não tinha planos em parar de me atormentar. Isso revelava seu caráter fútil e infantil, espero de verdade que Primrose não descubra o que aconteceu de verdade. Nem Thanos seria capaz de pará-la. Talvez Thor, só por que o cara era gostoso. Sabia que guardar segredo seria ruim, caso ela descobrisse. Mas eu não podia evitar, acho que seria a maior vergonha que eu passaria e Prim provavelmente ficaria com muita raiva de mim.

— Ainda tenho que ver o que vou fazer pra faltar à noite. - Falei meio preocupado.

— Sei que vai conseguir - Faltava quase nada para bater nele.

— Aham. - Saí

2 - Joker and Harleyquinn

Logo quando cheguei em casa saí para "trabalhar" como sempre fazia. Mama perguntou se eu gostaria de dinheiro prum lanche, o pai me mandou ler um versículo de provérbios a cada meia hora, Jordan e Madison se trancaram no quarto. O de sempre.

Mandei uma mensagem para Denys dizendo que eu estava muito mal e não poderia comparecer ao expediente. Ele assentiu, dizendo que me ligaria depois para conversar.

Me vestia com uma calça e jaqueta mais-que-visivelmente azul, regata rasgada com gola v branca (que destacava bastante meu peitoral de tão rasgada) e um tênis velho. Minha prima de 2° grau havia me emprestado um taco de baseball da Arlequina Sertã vez e acabei que esquecendo de entregá-la. Pela segunda vez na vida eu me senti gostoso. Mesmo com o corpo musculoso, quando me via pelado, não me sentia tão bem. Acho que minha auto-estima é naturalmente baixa.

Saí pela noite fria com uma bolsa contendo minha fantasia. Faria couple com a Prim, ela iria de Coringa feminino e eu de Arlequina masculino. No caso, Arlequino. A loira me maquiaria, estava indo para a casa dela justo para isso. Me senti mais que revigorado ao sentir o vento soprar em mim, como se minhas forças tivessem recarregado. Isso fez com que me sentisse mais confiante.

Prim morava à 5 quadras da minha casa, não muito longe, também, do meu trabalho. Muitas vezes eu passava lá para pegar algum material ou trabalho de casa, ou coisas assim. Com miseros 3 minutos, cheguei na casa da loira.

— Pronto! Tá linda...digo, lindo. - Disse Prim quando parou de me prensar.

— Eu sou o Arlequino, fia.

— Com certeza! Olha no espelho, tá arrazando. - Fiz o que ela pediu, mas antes levei o famoso susto do "uau, como estou diferente". Minha cara esbranquiçou de tanto pó de arroz; estava azul no canto exterior do olho esquerdo e rosa no direito. Prim havia pintado meu cabelo também com as mesmas cores, porém estavam bem espalhadas por todo o cabelo.

O resultado estava ótimo, Prim era muito boa nisso, maquiava muito bem. Cedo ou tarde fazia isso com as amigas delas e até trabalhou em intermédio com isso.

— Você é foda demais Primrose. - Soltei.

— Ah, muito obrigada. É um dos meus muitos dons.

— Mas olha só, ela se garante. - Falei em tom cômico.

— Tem que ser né. Hm - Ficou pensativa olhando para as minhas pernas.

— O que foi?

— Não gostei da calça. Tá muito...como posso dizer...normal.

— Normal? Beleza, idai?

— Idai é que você tá indo pra uma festa adolescente, não pruma igreja. Já volto. - Saiu e fiquei me perguntando o que ela estava aprontando. Se bem que, da Prim eu esperava tudo. - Voltei. Prim segurava um short.

— Tá, o que é isso?

— O short curto do meu irmão.

— Seu irmão tem um short curto?

— Sim. Agora vamos pôr em você.

— O que?! Ficou louca? Não, nem pensar.

— Ah, por que? Vai ficar tão lindo em ti.

— Vou ficar parecendo uma piranha, cara.

— E você não é?

— Vai tomar no cú.

— Ah, anda, coloca logo. Você tem um pernão bonito, vai valorizar. Principalmente a sua arma aí.

— Tenha dó Primrose. - Reclamei. Por mais que eu odiasse a ideia de ir parecendo uma prostituta, acho que eu realmente precisava me "mostrar" um pouco mais. Ah Deus, isso vai dar muito errado.

Ela se arrumou, quer dizer, fez hora com a minha cara de tanto que demorou, dando a desculpa de que era mulher e que era desse jeito mesmo; o usual. Minha mãe também era assim e meu pai também reclamava disso. Ela sempre demorava um século para à igreja. William ficava frustrado com isso, quando Laura passava mais de 1h no banheiro eles se atrasavam. "Você não tem jeito, mulher" era o que ele falava do seu jeito nojento de ser. Só Deus sabe o quanto eu tenho ranço daquele cara. Quer dizer, se ele existir para saber. Maddie me dava nos nervos, a garota ouvia música tranquilamente no banheiro enquanto eu ficava esperado para um banho. Garotas...será que são todas assim?

— Estou pronta coceira da minha virilha. - Prim saiu do banheiro.

— Finalmente, pudinzinha.

— Estamos ótimos. - Falou a coringa.

— Concordo.

Tiramos uma foto. Eu com cara de delinquente forçada e ela com cara de maluca como a Arlequina. Assim, saímos em direção à festa.

A casa de Gabe ficava um pouco longe demais, portanto tivemos que pegar um ônibus. Nunca passei tanta vergonha na minha vida entrando vestido de palhaço praticamente. Mas eu era mestre em passar vergonha, era difícil não desfilar nessa situação. No ônibus encontramos gente de qualquer tipo - bêbada, depressiva, anciosa, mal de saúde etc... Era fácil descrever apenas por pequenos movimentos como, no caso de gente bêbada, pelo meio de como a pessoa se locomove ou olha para as coisas de um jeito atordoado (qual é, qualquer um pode identificar um bêbado).

Chegamos, enfim, na casa de Gabriel, onde aconteceria a festa. Ou definitivamente acontece, pelos múltiplos gritos adoidados e som alto.

— Achar o Gabe nessa suruba vai ser difícil. - Lamentou Prim.

— Que estranho, não achei que metade do colégio chegaria meia hora antes na festa. - Reclamei. Acho que por ser a primeira festa ilegal do ano desde dezembro fazia sentido ter tanto jovem assim curtindo. É o fogo juvenil, como diriam.

— Ok, vamo aproveitar, pimentão. - Disse a loira ao avistar seu outro grupo de amizades.

— Vai você, tenho que procurar o Gabe.

Prim saiu pela direita, em direção à galera assombrada. A entrada estava em minha frente, esta de origem de uma grande casa moderna, paredes de vidro em sua maioria - o que não era vidro estava a madeira clara e cara -, três andares, onde o terceiro era menor, sendo provavelmente o sótão. Sempre esquecia que Gabriel era um burguês safado, o que fazia disso uma de suas qualidades. O garoto não esbanjava sua riqueza e quem o conhecesse pela primeira vez, não imaginaria que sua família é dona de uma das maiores empresas audiovisual do mundo, a Warner Bros. Aquela casa era de longe a maior e mais chique casa que o pai de Gabriel tinha. Ele tinha escolhido aquela por ser menos oriúnda.

Andando pela passarela de pedra, algumas pessoas (mais meninas) olhavam para mim. Por um instante pensei que elas estavam me julgando, mas logo percebi que era o contrário.

— Nossa, que delícia em Dun! - Aaron me gritou de uma roda de amigos e algumas garotas riram. - Oh lá em casa. - Levantei um dedo do meio sorrindo e ele faz o mesmo.

Entrando na casa, o som de 'Dancin' estava mais alto, aumentando mais ainda a minha surdez. Tinha bastante gente ali, gente que eu mesmo não conhecia, porém não chegava a estar lotado. O cheiro de vodca levantou como vento, minha boca chegou a salivar. Me dirigi logo à mesa que tinha bebida e peguei a primeira que vi. Vodca de morango. Não minha favorita, mas serve.

Caminhei bebendo e observando os tipos de fantasias. Elas, femininas e masculinas, iam de assombrosas à sexy super vulgar. Nunca vi tanto homem se exibindo daquele jeito, o que para mim não era ruim, estava exitado vendo os corpos.

Mais olhares pesando sobre mim, sua maioria parecia gostar de mim, me achar interessante, mas tinha alguns que me olhavam com desprezo. Não entendo essa porra, quase não falo com ninguém e tem gente que consegue não gostar de mim. Qual o sentido? Prim tinha me explicado que isso geralmente é inveja, uma puta e pura inveja. Disse que eu tinha um corpo maravilhoso e não tinha nada que reclamar, mas meu suposto "jeito misterioso" despertava o interesse nas garotas. Pensando nisso, ficava explicado o por que daquela galera máscula me olhar com desdém. Tinham medo de perder suas garotas. Mesmo assim, idiotas do caralho.

— Josh Josh! - Ouvi a voz de Gabe entre as parede e logo aquela assombração apareceu. - Você demorou!

— Na verdade a festa tinha que começar daqui a 30 minutos, não? - Falei rindo.

— Nha, o que é bom dura pouco, então vamos aproveitar!

3 - Festa

Fazia mais de 2 horas que eu havia chegado ali. Gabe e eu conversamos um pouco sobre como arrumar a casa depois e concluímos que devíamos contar com a colaboração de todos. Avisamos no microfone da mesa do DJ, alguns não curtiram e reclamaram, outros nada expressaram. Após isso, Gabe foi se encontrar com Primrose e eu permaneci no bar, observando e julgando as pessoas. Em 7 anos, quando começou essa putaria de festa e beijar na boca na minha turma, eu nunca fui muito de boates e bebida. Sempre foi muito nada haver, como se eu tivesse outras coisas para me divertir. Até por que, as pessoas eram chatas e ridículas para mim em uma época, depois, esses pensamentos foram embora, me fazendo ser mais participativo nas coisas da escola. É óbvio que, ainda reconsiderando, meus pais eram (e são) duro de roer; se um de seus filhos fossem encontrados nessas festas era certeza que haveria punição, como aconteceu uma vez com Jordan. Contudo eu tinha certeza que estava tudo bem, Tyler provavelmente estava dando conta das coisas.

— Ei! - Eu estava de costas para a festa quando um alguém me chamou.

— Ei...- Virei. - Tyler?! - Não era possível, de jeito nenhum ele podia estar aqui. Mas estava...Porra!

— Eu mesmo. - Sorriu.

— Não sabia que você vinha. - Falei apreensivo e ele pareceu confuso.

— Olha, geralmente o capitão do time de basquete é chamado primeiro que todo mundo, sabe? - Explicou e eu me senti a pessoa mais idiota do mundo. Sempre ia esquecer que ele estava naquele posto e, puta merda, era óbvio.

— Ah, claro...me desculpe. - Falei então, provavelmente parecendo um pimentão.

— Haha, relaxa. Ficou vermelho. - Droga, eu sabia.

— É, sempre acontece. - Eu estava desapontado, tinha que ficar todo vermelho? Odeio isso, era ruim para mim; geralmente eu ficava vermelho nos piores momentos.

— Não sabia que você viria.

— Eu também não sabia que você vinha. - Disse e me olhou torto.

— Qual foi a desculpa que você deu? - Falou rindo.

— Passando mal. - Gargalhei. - E você?

— Que eu tinha feito uma viagem para o final de semana e só trabalharia segunda.

— Que feio, cara.

— Olha só quem fala. - Me empurrou de leve. - A gente tá fodido se descobrirem. - Falou se segurando para não rir.

— É eu sei. - E gargalhamos. Não havia notado, mas Tyler estava de pescoço e mãos pintados de preto. Além disso, o ocular estava vermelho. - Que fantasia é essa? - Perguntei.

— Não é uma fantasia...quer dizer...é sim. - Fiquei confuso. - Ela é de um personagem meu.

— Ah, uau, isso é demais! Quem é?

— Blurryface. Mais ou menos a minha cara metade.

— Criou um personagem baseado na sua vida? Legal! Bom saber que existem pessoas com essa ideia.

— Você faz também.

— Isso foi uma afirmação?

— Sim.

— Oh, e como você sabia disso?

— Não sabia, você acabou de me dizer. - Riu com a rasteira que me deu.

— Há, super interessante, Joseph.

— É um dom é um dom haha - falou rápido.

Ficamos parados ali por um tempo, vendo e querendo gente, comentando sobre a galera. Percebi que Tyler olhava muito para a minha perna, me deixando totalmente sem graça. Obviamente eu estava vermelho, tentei de tudo para abaixar a borda do mini shorts. Sinceramente? Eu meio que gostava de seus olhos sobre mim, fazia eu me sentir desejado e, ainda mais, excitado.

4 - Quer dançar?

Papo vem e papo vai, Tyler e eu estávamos mais que nos divertindo ali na conversa. Para melhorar, ele me fez a seguinte pergunta:

— Quer dançar?

Estava tocando o remix de Green Light da Lorde e essa era uma das minhas músicas animadas favoritas. Não pensei duas vezes, pois eu estava bem bêbado sorridente, e aceitei. Se tem uma coisa que sou fraco é para bebida, só de tomar seis copinhos eu já ficava animado demais. Tanto por cima, quanto por baixo. Com certeza minha meia-bomba chamou a atenção de Tyler.

Tyler agarrou a minha mão com força e me puxou para a concentração de gente que dançava. Estava cheirando a suor estagnado ali, mas minha adrenalina fazia com que eu não ligasse, só queria dançar.

Começamos devagar, apenas mexendo os pés, mas logo eu estava remexendo no ritmo louco da galera, assim como Tyler.

O espaço-tempo estava devagar para mim, fiquei possibilitado de sentir tudo, querer tudo. Isso levou minha atenção ao moreno dançando. Joseph estava como eu, no ritmo, no som. "Tire a sua camisa" foi o que consegui distinguir quando tentou se comunicar. E foi o que eu fiz. Agora meus músculos definidos estavam para fora, Tyler me olhou de cima para baixa e, logo depois, tirou também.

De pouco em pouco, foi chegando mais perto de mim, até que nossos corpos se tocavam constantemente. Ele estava suando, assim como eu. Foi então que ele me surpreendeu e colou nossas cinturas, sarrando nossos membros com vontade. Sorri malicioso, Tyler me provocava em alto nível, o suor correndo por sua frontal magra me causava delírios. Seu semblante era sério, mas paquerador. Seu olhar me penetrava e rasgava minha sanidade. Seu corpo junto com a dança era uma das artes mais sexys o qual já tinha deslumbrado.

O lugar parecia mais cheio, acho que o tempo tinha passado rápido, me perdendo no espaço. Consequentemente, Joseph estava mais perto do que nunca. Não havia lugar para dançar, o único espaço era entre nossas barrigas, nossos olhos e nossos lábios. Por que não?

Minha mão lhe agarrou a nuca e minha boca alcançou a dele. Logo, nossos lábios secos se umedeciam e os muitos músculos da boca começaram a trabalhar. De início foi devagar, estalado, excepcionalmente no ritmo da dança e da música (ou quase lá); só o fato de eu estar beijando outro homem era excitante, aliás, o fruto proibido é sempre o melhor. E então as línguas também dançaram, de modo desgovernado, mas agiam. Sentia meus peitos duros, não respirava para melhor qualidade do beijo. Mas eu precisava e ele também. E então paramos.

 Nos entreolhamos como se quiséssemos devorar um ao outro de um bom jeito. O que eu estava esperando? Peguei com jeito sua mão, colocando minha regata branca sobre o ombro, e o levei ao banheiro mais próximo – em meio aos 4 da casa de Gabe. Após atravessar uma porta branca, o som de algum remix de Friends abafava-se e ali dentro eram só eu e Tyler. Logo retomamos o que paramos, porém mais rápido e mais sedento. Tão ansioso que levantei o moreno pela traseira e o prendi na parede, segurando, com minhas mãos, a suas coxas. Fazia muito tempo que eu não fazia isso, talvez esse fosse o motivo da minha sede.

Meus beijos desceram até seu pescoço, indo até o peitoral, passando para os mamilos. Tyler soltava gemidos grossos e abafados, segurava meu cabelo com certa força. O que virá a seguir foi bem difícil por que me travou um pouco de vergonha, mas fiz por permissão indireta do moreno. O cinto de sua calça preta foi tirado e minha mão, bem tímida, adentrou ainda na superfície da roupa íntima, apalpando com pressão o membro rígido.

  - Josh...por favor... – Tyler implorou e minha boca salivou. Desci um pouco mais sua calça para poder ver melhor o destaque. E ali estava, um pênis marcado atravessando toda a coxa. Era muito grande. Engoli a saliva pensando em maneiras de engasgar menos, mas eu ainda agia enquanto isso. Beijava sua coxa e parte da boxer branca, não podia deixar de cheirar aquele aroma másculo do moreno também. Tudo muito gostoso e consecutivo.

Entretanto, antes de poder descer a boxer do moreno, ouvi gritos do lado de fora. Era Primrose.

5 – Polícia

Tyler e eu concordamos em sair rapidamente. Logo ao sairmos da porta, Prim e Gabe discutiam seriamente:

  - Prim, por favor, deixa eu explicar! – Gabe parecia desesperado.

  - Explicar o que?! Pra mim já tá mais que claro o que você tem com a Victoria!

  - Ah, Prim, por favor!

  - Por favor é o caralho! Eu vi durante essas duas semanas você e essa vagabunda de conversa!

A garota loira de quem falavam chegava de fininho entre algumas meninas. Ela parecia se arrumar, como se houvesse se despido anteriormente.

  - Sua DESGRAÇADA! – Prim pulou para cima dela e, rapidamente, corri no intuito de segura-lá. – VAGABUNDA! EU VOU RASGAR ESSA SUA CARA! – A loira parecia sorrir com a raiva da menina. Victoria era uma das mais barangas da escola, toda semana tem uma história vazada dela com algum cara ou uma menina. Não precisaria Gabe se envolver com ela para Prim odiá-la, parece que o ódio nasceu no primeiro contato entre elas. Victoria também não era fã de Primrose, tenho certeza que a loira gostosa tinha inveja dela por muitos motivos. – RI MESMO! VOU FAZER VOCÊ COMER ESSES SEUS DENTES, SUA PIRANHA!

  - GENTE, A POLÍCIA! – Gritou alguém e as pessoas, num susto, começaram a correr. Algumas riam da situação, tanto da Prim, quanto da polícia, mas que todo mundo estava desesperado, estava. Perdi Tyler em meio à multidão, ele deve ter sido sugado ou algo assim, sorri pensando nisso. Mas logo ele sumiu ao ouvir as sirenes policiais no lado de fora.

  - Josh! – Prim me gritou da escada. Correndo, a segui. - Vem vem, tem uma saída de emergência por ali.

— O Gabe tá fodido. - Falei.

— É verdade, isso é demais! - Ironizou.

— Você é péssima quando quer haha.

— É o poder da bruxa. Anda, vamos!

Passamos por uma porta no final do longo corredor de cima. Lá, nós descemos uma escada caracol e saímos casa a fora.

— Você deixou o bastão lá, não foi?

— Merda. - Bufei.

— Anda, só vamos sair daqui.

Cheguei em casa após caminhar por vários minutos com Primrose. Nesse meio tempo, entre tropeços e suspiros, ela me contou que viu Gabe beijando Victoria no banheiro e que provavelmente passaria daquilo. Estava visível que ele gostava daquilo e por isso Prim não queria mais ficar com ele. Parece que em breve um término dramático vai acontecer.

Nós despedimos e a coringa continuou pela rua deserta. O frio me alcançou. Por que raios tirei minha camisa? Agora estava seminu andando pela rua, morrendo de frio. Algo encantador e triste que vislumbrei foi um casal gay, moradores da última casa de uma rua, enterrando um cachorro em uma bela árvore. E o quintal deles era lindo, bem florido, quem havia montado aquilo devia ser uma pessoa deveras criativa. Até que me vi naquele casal, quem sabe o meu futuro possa ser assim? Os dois, por mais que tristes, transpassam uma áurea soft e tranquila, todavia tenho certeza que na cama rola brasa. Espero que eles superem a morte da cachorrinha.

Passei por eles até chegar em minha casa, onde todas as luzes estavam apagadas. Ótimo! Posso entrar ainda vestido.

Odiava o fato de que a porta fazia muito barulho para abrir, um óleo ali era essêncial. Realmente a casa estava escura, não tinha nem sinal da minha mãe me esperando. Ela devia ter tido um dia longo com o seminário e foi para a cama mais cedo. Tirei os tênis azuis e os coloquei à beira da porta, calçando meus chinelos logo em seguida. Puxei meu celular para ver se tinha chupões de Joseph e, porra, tinha sim. Prevejo maquiagem no pescoço. Inclusive, o que foi aquilo? Nunca tinha beijado ninguém como beijei Tyler. Foi suave e gostoso, quente. Daria tudo por um bis. Confesso que havia ficado nervoso quando quase fiz oral nele, era a primeira vez que faria em algo grande, sem puxação de saco. Não que o do Gabe fosse pequeno, mas aquilo era de fato mais. Enfim, sinto-me embaraçado discorrendo sobre isso.

Passei o corredor devagar no intuito de não fazer nenhum som, mas um som na cozinha me chamou atenção e p'ra lá me dirigi. Uma luz estava brilhando no escuro da cozinha, parecia uma estrela. Contudo, o mais estranho era que ela nada iluminava, como se fosse um efeito especial de cinema mal feito. Caminhei e quando cheguei na dobra do corredor com a cozinha, a luz se apagou, inexistiu. Mas outra se ascendeu, a luz da cozinha. E lá ele estava, encostado, me olhando diretamente, devorando a minha alma.


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Notas finais do capítulo

hey, assista ao vizualiser de Florescer!

Link: https://www.youtube.com/watch?v=JE-Cq2OXCk8



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