Florescer (Joshler) escrita por polarizado


Capítulo 1
Novo Colega de Trabalho


Notas iniciais do capítulo

Espero que goste!
Boa leitura



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0 - A Morte

Como ladrão, sem avisar, a morte chega. Sempre naquela hora em que menos esperamos. Morrer é algo que nem quem vai, nem quem fica estão preparados para compreender. Uma hora estamos entre todos, outra hora estamos distante para sempre de todos.

Não há rico, pobre, inteligente, famoso, influente, político, empresário, trabalhador, mendigo, ninguém escapa desse encontro. Mais cedo ou mais tarde ela virá nos encontrar. Todos nós, alguns vivendo muito ou pouco, de causas naturais, sem culpa ou intencionalmente, mas ela nos encontrará um dia. Você acabou de ser promovido, tem planos para sua carreira, fez uma consignação no contra-cheque para comprar um carro do ano ou a casa dos seus sonhos, precisa fazer algo que deixou pendurado de ontem, pagar um conta, deixar os filhos na escola, e no meio do trajeto da rotina desgastante, em uma tarde ensolarada, morre. Como assim? Perguntam atônitos os que ficam. Aí ficam algumas indagações sem respostas: E a promessa de ensinar o filho a andar de bicicleta? A promessa da viagem com esposa? E aquele sorvete com os filhos que foi remarcado por causa da reunião inadiável?. É a morte, ela chegou! De que valeram tantos anos de dedicação ao trabalho árduo? De que valeu acumular tanto dinheiro, fama, influência e poder?

Há ainda os que escolhem a hora de partir, movidos irracionalmente pela depressão, decepção, desilusão, sem a felicidade que o dinheiro não comprou. Muitas vezes estão cheio de dinheiro mas vazio de felicidade, que é a essência que move nossas vidas. Aí todo mundo sempre faz a mesma pergunta: por que? Como se isso fosse ajudar a explicar alguma coisa, como se a morte tivesse uma causa apenas.

De repente a flor mais linda que floresceu no mais lindo campo morre no mais monstruoso desastre.

Meu nome é Josh William Dun e essa é a história de como eu morri por uma arma de fogo.

1 - Desenho

Tic-tac.

Calor.

Tédio.

Três elementos que combinados podem destruir a sanidade mental de uma pessoa. O tic-tac do relógio em uma loja de conveniência é fora da normalidade. Mas fazer o quê? Elton gostava disso em sua loja. De acordo com ele um homem sem saber o tempo é um homem morto, nunca entendi o por quê disso. Isso é tremendamente tedioso. 22h da noite marcava o relógio.

22h é o horário que começo a contar os segundos pra cair fora daqui. O sono já é presente, meus músculos estão cansados, minha mente preocupada em acordar cedo para a aula de amanhã. Tudo isso é uma regra para mim todos os dias nesse mesmo horário de merda. Sempre olhava meu caderninho de desenhos que carregava comigo, as artes que fazia quando estava no tédio eram boas. Tinha desenho de cada centímetro daquele estabelecimento, era o meu passa-tempo.

Às 23h eu nem olhava o relógio, já estava à 2 quarteirões de distância daqui.

22h59.

— Tchalzinho, Josh! - Denys Elton, dono do estabelecimento, se despediu com um sorriso provavelmente forçado.

— Tchalzinho, Denys! - Minha voz saiu rouca.

No dia seguinte, o estabelecimento parecia mais apertado. 19h era horário de pico. O barulho de gente falando me irritava por demais, o horário que mais odiava era o de 19h. O gerente parecia ocupado em seu escritório, conversava com alguém. Não dava para ver direito, o vidro fosco e grosso não permitia, mas eu conseguia distinguir um homem ali com ele. Desloquei-me ao balcão, o funcionário do turno vespertino acabara de se retirar, agora era eu a atender aquelas pessoas.

Passando o tempo, o estabelecimento esvaziou, logo após a última pessoa sair, Denys apareceu com um jovem bem familiar para mim. Se aproximaram do balcão.

— Josh, esse é o Tyler, novo jovem aprendiz aqui do estabelecimento. Ele vai dividir o turno contigo na ala da lanchonete. Estamos crescendo, preciso de mais funcionários. - Denys falou e eu me questionei do por que esses funcionários serem justo os jovens aprendizes. Era óbvio o motivo, já que ganhavamos menos que um trabalhador mais velho, a renda era mais alta para ele. Justo.

— Olá - Apertei a mão do magrelo em minha frente um pouco tímido.

— Ei! - Me respondeu.

— Bom, trabalhem. Josh, ajude ele se precisar.

— Com prazer, chefe! - Imitei a reverência de um soldado.

Tyler era uma pessoa muito bacana, enquanto eu o ensinava os costumes ele não tirava o olho de mim, como se curtisse tudo aquilo que eu dizia.

Após toda a apresentação à loja, ele ficou em seu balcão olhando o celular. Tyler estava bem no centro entre um refrigerador e outro mais a janelinha em cima.

"Ora, por que não?". Pensei ao observar uma boa paisagem para um desenho. Peguei o caderninho que ficava na beirada da minha calça por não caber em um bolso e o encarei.

Várias linhas brancas se formaram como um esboço simples e pude traze-las para o papel. Os olhos do moreno eram bem pequenos, me forçando a usar apenas uma linha fina, seus braços pequenos também eram um desafio, assim como sua mão e cabeça. Por fim acabei terminando o esboço leve.

Ele olhou. Travei meu olhar nele.

"Será que ele me viu o encarando? Que vergonha".

Tyler sorriu para mim e me senti seguro para continuar.

Novas linhas passavam pela paisagem, porém em mais quantidade. Os olhos sorrindo de Tyler me deixaram hipnotizado só que mais inspirado para desenhar. Comecei por eles, o olhar penetrante do moreno da realidade para o papel. O mais intrigante foi o fato de Tyler não se mexer até eu terminar os detalhes e finalizar o desenho. Ele olhava para mim como profundidade e sorria de canto fraquinho mas o suficiente para ver. Era interessante ver o azul predominante da área que estava se mesclar ao corpo de Tyler com beleza. Minha mão trabalhava e trabalhava buscando bons detalhes para o papel e então...finalizado. O desenho era um rascunho rápido mas havia ficado tão lindo que eu o considerei meu melhor esboço. O jeito que Tyler havia ficado no papel estava perfeito aos meus olhos.

Fechei o caderno.

Tyler voltou sua atenção ao celular como nada tivesse acontecido. Eu ri baixo para não chamar sua atenção, que cara estranho. Umas entreolhadas aqui e ali, mas eu sentia que seu olhar sobre mim era constante e isso me desconfortava um pouco.

Continuamos em silêncio até o fim do expediente.

22h57.

Os clientes deixavam as tralhas da loja muito desorganizadas sem muito esforço, até porque eles sabiam que alguém limparia depois. Egoístas preguiçosos. Coloquei tudo em seu devido lugar, Tyler não estava mais ali dentro. Apaguei as luzes e desliguei o gerador, a loja não ficaria aberta durante a noite mais, então Elton ordenou que o loja deveria fechar às 23h. Mas Tyler não estava ali para me ajudar.

"Onde tá esse maldito?"

Com o estabelecimento já escuro, saí. E ali estava ele, sentado no banco que ficava na frente da loja. Me aproximei e o comprimentei:

— Hey, Tyler. Ainda aqui? - Ele se levantou, ficando bem na minha frente.

— Hey Josh, que isso, tô me fazendo de entidade. - Disse e murchei.

— Há, muito engraçado você. - Debochei de sua ironia. - Onde mora?

— Moro alguns quarteirões indo por essa reta. - Demonstrou.

— Oh, legal, moro indo por ali também. - Indaguei. Tyler sinalizou com a cabeça para seguirmos e atravessamos a rua.

Era lua cheia e o céu estava limpo, dava para ver as estrelas em sua forma pura.

— Já tem tempo que o céu não fica assim. - O moreno comentou avulsamente.

— É, realmente. A lua também tá linda.

— Fato. Hometown é uma cidade bem cinza, não acha? Falta cor.

— Brilho. Acho que brilho também. Sim.

— Sim. Talvez falte isso em todo o estado.

— Toda a América, isso sim. - Falei meio torto.

— "Ainda que haja noite no coração, vale a pena sorrir para que haja estrelas na escuridão".

— Fernando Pessoa?

— Não, Padovani.

— Uou, foi difícil. - Sorri de canto

— Nem pra tanto. Padovani fala umas coisas interessantes, mas ainda prefiro Kant.

— Urgh, Kant? - Enruguei o rosto. - O cara é um doente religioso.

— É, talvez, mas as reflexões são bem únicas.

— Pode ser. - Andamos devagar nos encolhendo do frio predominante e observando as luzes da rua iluminando a noite. Ele tremia muito, estava com friagem já e apresentava um casaco fino com ele. Como eu tinha mais de um, ofereci um.

— Hey, não se preveniu né? Toma aqui. - Disse tirando o casaco de couro e colocando nele.

— Obrigado, Josh. - Sorriu. E aquele sorriso me impactou. Previamente dizendo, eu pensei naquele sorriso a noite inteira, tanto que tive insônia de novo. Sorrio de volta, meu coração palpitou um pouco mas logo voltou ao normal.

— Disponha. - Voltamos a andar.

— Não sabia que trabalhava aqui. - Falou. Olhei torto, não fazia sentido, ele me conhecia?

— Ué, como assim? Você me conhece?

— Sim, você não me conhece? - Como resposta neguei com a cabeça. Ficou surpreso pela susto que levou.

— Oh, amn, eu sou líder do time de baskett da escola. - Respondeu. Agora fazia sentido, sei por que seu rosto era tão familiar. Uau, o líder do time de baskett da escola está andando comigo. Esse seria um pensamento de uma garota derretida por garotos fortes, gostosos e atletas mas não era o meu caso. Eu ouvia falar muito do delícia do Tyler Joseph na escola, mas nunca tinha o visto de verdade, até por que não curto Baskett ou esportes, academia e corrida matinal aos finais de semana me bastava.

Bom, agora eu duvidava da normalidade das coisas, será que esse era o bom status um homem pegador e desejável? Por que assim, Tyler era um cara magro, nada alto para o padrão dos jogadores, mas pelo jeito é o melhor ainda assim.

— Ah, certo. Agora tô lembrando. - Sorri e Tyler sorriu de volta.

— Ahn, que triste você não me reconhecer de cara. - Imitou um semblante triste.

— Na verdade eu sabia quem era você, mas nunca tinha visto o seu rosto ou nada seu.

— Uhm, não frequenta os jogos nem as premiações?

— Não, eu sou mais centrado nos estudos.

— Conclusão: não se interessa mesmo. - Disse com uma cara trivial.

— Só tentei não dizer. - Ri com Tyler.

— Deixa eu ver o desenho que fez hoje. - Pediu com calma após alguns segundos. Não falei nada se não iria gaguejar e me embolar todo só em uma frase. Tinha ficado constrangido por que ele me viu o desenhando e ficou ali parado, achei que ficaria daquele jeito mesmo, que ele não procuraria. Faz sentido? Eu não sei, acho que não. Coloquei a mão para dentro da calça, deixando um pouco da minha virilha à amostra, e peguei meu caderninho de desenho. Paramos. Abri na página onde estava o desenho recente e lhe dei nas mãos.

Observou bem calmamente, passou suas mãos nos detalhes e suspirou. Percebi que mordeu os lábios enquanto apreciava o desenho, talvez fosse alguma mania ou algo semelhante. Interessante observar isso em meu novo colega.

— Bom...O que achou? - Perguntei com a curiosidade inquieta.

— Josh...você...Uou.

— Não gostou? - Não perguntei sério, sabia que ele tinha gostado, só queria ser dramático.

— O quê? Isso tá lindo.

— É só rabisco. - Tomei de sua mão e guardei na calça novamente.

— Bom, eu gostei. - Começamos a andar novamente. - Ah, tá me devendo um desenho. - Disse avulsamente a frase que não me deu contexto.

— Que? Por quê?

— Por ter me desenhado sem permissão. - Disse sorrindo sarcástico. Eu queria falar algo como "Como assim? Isso não é justo" ou "Ah, te manca rapá!" mas resolvi me calar e entrar no seu jogo. Sorri e respondi:

— Justo.

— Mais que justo.

Andamos por mais alguns minutos devagar conversando algumas coisas aleatórias e sem contexto. Sem demora, cheguei em minha casa, minha humilde e santa casa. Isso foi sarcasmo, ok?

— Essa é minha deixa. - Falei.

— Oh, ok. Bom, até amanhã!

— Na escola ou no trabalho? - Ri.

— Onde o destino quiser. - Respondeu colocando as mãos no bolso.

— Justo. Até, foi bom te conhecer.

— O mesmo. Tchal, Joshie. - Despediu-se andando. Que fato intrigante ele me chamar de Joshie, nos conhecemos bem agora para ele me chamar assim, mas não faz mal. Andei pela passarela que separava a grama até chegar no degrau e subi-lo. Observei bem a porta, minha vontade de entrar naquele lugar era 100 menos 100 igual a zero, mas segui e abri a porta de porte médio branca. A casa tinha seus 2 andares, era bem extensa, o que nos fazia uma família de altas condições. Estava escuro, o pessoal já tinha ido dormir, exceto minha mãe que lia a bíblia na sala por um bom tempo até pegar no sono. E lá estava ela, pastora da maior igreja da região, com o pequeno óculos de grau lendo aquele negócio grosso e velho apoiado nas mãos. A sala de tv ficava a um passo após a entrada e era uma sala espaçosa, com direito a 2 sofás, uma boa smart tv e a lareira elétrica. Me escorei na parede ficando visível só uma parte do ombro e a cabeça para a sala.

— Ei mãe, cheguei - Deu vontade de rimar com 'tanto que sou gay' só de zoação.

— Oi meu filho, vem pedir benção. - Disse após me ver na entrada. Andei arrastado devagar de cansaço até a poltrona perto da lareira do outro lado da sala e me inclinei para beijar a testa da loira.

— Bença mãe. Vou dormir, tô bem cansado. - Falei quase sussurrando e ela moveu a cabeça positivamente. - Seu pai está na cozinha, peça benção antes de ir. - Congelei. Não gostava de chegar perto de William, ele me dava arrepios no corpo inteiro. Estava bem tranquilo pensando nele dormindo sem me perturbar como fazia todas as noites, mas parece que essa foi diferente.

— Ele acordado a essa hora? O que houve?

— Você vai saber, ele tem uma boa notícia pra te dar. - Medo.

— Ok, boa noite mãe.

— Boa noite filho.

Pelo mesmo lugar que entrei, saí. Voltei ao corredor meio largo e me direcionei devagar com o cú na mão para a porta no final do corredor perto da escada de frente. Já dava para ver ele dali, sempre sinto a atmosfera pesada que aquele homem dava no ambiente e, para um pastor, algo estava muito errado. William estava sentado lendo uma revista que eu não reconhecia e parecia atento na leitura. Sem entrar totalmente na cozinha, o cumprimentei:

— Senhor. - Falei. Esse era o cumprimento que William havia ensinado a mim e a meu irmão Jordan desde pequenos.

— Josh. Demorou. - Disse firme e se levantou. A única coisa que me inspirava em meu pai era o corpo dele. Totalmente definido e grosso, o cara era grande, não exageradamente igual um bodybuilder, mas perfeito e equilibrado. William prestou para o exército por anos, foi sargento e chegou a ser general. Ele era muito durão comigo, talvez por eu ser o mais velho. - Tenho boas notícias pra você.

— Sim, minha mãe chegou a me falar. O que é? - Ah, eu não quero saber, irmão.

— Consegui uma vagar pra você numa escola militar. - Já quero a minha morte. O que?! - Ela é evangélica, eu tenho uns contatos lá, você vai ter um tratamento especial por ser meu filho. E isso te faz filho da equipe.

— O que? Como assim? Quando? - Muitas perguntas idiotas para respostas óbvias.

— Ano que vem. Vai fazer e terminar o seu quarto ano lá. - Disse se aproximando devagar com as mãos no bolso. Chegou bem perto de mim com seu semblante rabugento e assustador, aumentando minha tensão e calafrios. - E eu não quero ouvir um 'mas'. - Disse inclinando a cabeça para mim quase sussurrando.

— S-senhor. - Disse, William saiu pela porta, mas voltou para alguma coisa.

— Acabei me esquecendo. - Falou erguendo as costas da mão direita para mim. Peguei-a suavemente com a minha direita, levei aos meus lábios e a beijei.

— Bença pai. Boa noite.

— Boa noite, meu filho. Não se esqueça de orar, ok? - Disse de um modo raramente gentil e saiu. Yeah, estou fodidamente fodido. Uma escola militar e religiosa ainda para dar aquele gostinho de aleluia. Prim não vai gostar nem um pouco de saber disso, acho que ela poderia surtar igual eu estou surtando.

Suspirei irritado e conformado.

2 - Irmão

Plin! O celular tocou. Busquei-o no meu bolso, estava quente com a quantidade de notificações recebidas ao mesmo tempo. Sempre acontecia quando eu chegava em casa com o wifi, até porque, nunca deixava os dados ligados, só usava em casa com internet fixa. Após o desbloqueio vi que tinha uma mensagem e observei com prazer a foto dos garotos da Blue Moon, Lorenzo e Eliot, na minha tela inicial, oh bandinha que me dava orgulho. Seu som, mensagem, emoção eram únicos e vastos, e também, eles eram tão gostosos!

Prim também curtia o som deles, lembro-me que conheci ela jogando Fortinite. Tinha sido nosso primeiro contato por conta de uns amigos virtuais que conheciam ela e resolveram me apresentar, acharam que nós ficaríamos, mas infelizmente não curti ela, mesmo sendo uma loira magrela linda. Acabou que ficamos muito amigos e isso há uns 6 anos atrás. Olhando para trás agora, parece que foram séculos. Prim é minha melhor amiga, daria minha vida por ela; tudo que passamos foi memorável, ela esteve comigo em meus momentos mais sombrios e tristes.

Prim: Já chegou, pimentão?

Eu: Sim

Prim: Ah, o que houve? Faltou o exagero no 'm'.

Eu: Simmmmmmm.

Prim: Isso não oprime nada. Anda fala, o que aconteceu?

Eu: Não sei se você vai querer ouvir isso agora.

Prim: No caso eu estou lendo.

Eu: Tomar no cú é bom sabia??

Prim: É, você sabe, né lol

Prim: Quer fazer call?

Eu: Nah, preciso dormir. Amanhã a gente conversa, ok? Queria falar cara a cara também.

Prim: Por isso o Skype existe, mô.

Eu: Essa merda não tinha ido pra vala com o MSN e o Orkut????

Prim: Tá quase lá lol. Boa noite joshjosh sonhe com o Lore e o Eliot peladinhos bem kidbengala.

Eu: O mesmo, Prim. O mesmo.

Bloqueei o smartphone. Suspirei com dificuldade. O que estava acontecendo? O ar parecia sumir do cômodo. Minha garganta começou a encolher e a fechar, não entrava ar, não saia voz para gritar. Fazia força com meu corpo procurando por ar mas nada, nada que eu pudesse fazer voltava com a minha respiração normal. Até que movi meu pés, correndo em direção à entrada, agoniando. Abri a porta com força procurando o ar, ar puro do quintal. Estranho, fazia tanto tempo que isso não acontecia, não achei que a ansiedade atacaria dessa forma, me impossibilitando de respirar. O máximo que acontecia era eu me morder ao tentar aliviar a angústia quando atacava forte, ou minha cabeça doer de tanto eu falar comigo mesmo a mesma coisa várias e várias vezes misturando palavras, me incapacitando de entender o que eu mesmo falava. Mas nunca foi algo causado fisicamente, sentia que tinha sido realmente minha cabeça porém fechar a minha garganta estava fora de contexto.

Parou. Minha garganta cedeu, pude respirar normalmente novamente. Tinha só uma coisa estranha: eu via uma figura parada em minha frente com a mesma face, o mesmo corpo, mesmo semblante. O que diferenciava era a mancha vermelha ao redor dos globos oculares, seu cabelo vermelho e vestimentas com predominância preta e vermelha. Acho que eu estava enlouquecendo. Ignorei, voltei para dentro de casa, o cansaço me abateu mesmo pelo jeito, eu até estava vendo fantasmas.

Me direcionei até a escada no final do corredor e subi devagar, tinha o objetivo de ver Jordan, meu irmão mais novo. Ele estava no 2° ano na High School of Hometown, eu ficava um ano à frente. Tinha um carinho muito grande por ele; Jordan sempre me dava apoio e me defendia, a mesma coisa eu fazia por ele.

Saí do escuro que a escada fazia junto das paredes e entre no segundo andar. O corredor estava na horizontal com a escada e em cada lado haviam duas portas. Na parede da escada ficavam o quarto dos pais e o banheiro; direita e esquerda, respectivamente. Na outra parede estavam os quartos dos filhos, indo de acordo com as idades. Eu, Jordan e Ashley, essa outra era minha irmã ruiva mais nova no último ano da Elementary School of Hometown. O quarto de Jordan ficava de frente para a escada e em simples dois passo eu alcancei e abri a porta.

— Ei! Bata antes de abrir, né - Disse ele escondendo o celular num susto.

— Opa opa, desculpa. Só vim dar boa noite. - Olhei para Jordan de um jeito diferente e ele logo percebeu que algo estava errado. Levantou e andou em minha direção.

— Ele te contou, não foi? - Jordan parou. Só de olhar nos olhos do mais novo pairando medo e tristeza, pois ele também tinha sido condenado à escola militar, me dava vontade de chorar.

— E-eu sinto muito. - Disse com os olhos vermelhos e com água.

— Eu também. Vem cá.

Nos abraçamos. Eu gostava do abraço dele, era como ficar em uma nuvem quente, o jeito que ele fazia aquilo era sincero até demais. Já chorei muito ali, assim como ele comigo. Percebi que ele estava chorando, talvez essa notícia tivesse o afetado mais que eu. Até que eu entendo. Jordan era bem popular, jogava baskett, provavelmente conhecia Tyler, saia com muita gente (às escondidas); era um garanhão e um doce de pessoa.

— Ei, ei, relaxa, ok? Vai se dar bem lá. E a gente tem bastante tempo ainda.

— Eu sei. - Saiu de meus braços. - É só que...foi um baque, um baque rápido e sinistro vindo do pai.

— Entendo. Bom, não podemos fazer nada em relação a isso. Vai pra cama, eu também tô indo. - Falei apontando para a cama.

— Ok. - Beijei-o na testa e sai, mas logo voltei para perguntar algo sobre Tyler.

— Ei Jordan, conhece algum Tyler Joseph?

— Tyler Joseph? Claro! Se eu não soubesse tinha que ter vergonha. Ele é o capitão do meu time, porquê?

— Ahn, nada. Só vendo se eu tô alucinando demais. - Essa última frase falei bem baixinho. Ouvi Jordan dizer 'ok' antes de sair.

Andei rápido até meu quarto no final do corredor, eu já estava chegando ao meu limite de cansaço e precisava terminar essa quinta-feira. Abri a porta rapidamente e entrei; fechei e acendi a luz.

Meu quarto era relativamente grande tendo 2 janelas em cruz, padrão para todas da casa, uma na parede da frente e outra na parede da esquerda no sentido da porta. Minha cama ficava na parede tá direita, mesma parede que se encontravam meus posters nerds e queridos. Havia um armário ao lado da porta quase cobrindo o interruptor de luz.

"Alguém esteve aqui"; concluí quando vi o abajur amarelo apoiado na mini cabeceira ao lado de minha cama ligado. Tirei essa conclusão por que não deixava meu abajur ligado quando não estava em casa. Talvez tivesse sido minha mãe, geralmente ela entra nos nossos quartos "arrumando" as coisas. Mas eu e meus irmãos sabemos que ela bisbilhota procurando por coisas que entregassem nossos pecados. Era o perfil louco da mulher.

Encontrei a cama e me sentei nela.

Comecei a meditar, inspirando e expirando levemente. Ao final, deitei-me e, esperando o sono chegar, observei a janela.

Havia começado a cair pequenas gotas de chuva, gotas que nem som tinham. Suspirei aliviado em ver a janela molhar a cada rajadinha, era uma visão gostosa de se ter, a calmaria que a chuva dava, principalmente à noite quando os postes de luz alaranjados davam um efeito calmo. Fazia-me pensar em coisas extremamente aleatórias e sem sentido como o jeito que Tyler me olhou antes de ir embora. Fútil, eu sei, mas era a lembrança do momento. Tinha certeza que não era nada.

"Continue vivo, Josh, você tem uma sexta-feira para enfrentar".

Sempre pensava assim antes de dormir e dormia, como agora.


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