Eram cinco horas da manhã de um sábado. Cinco da manhã, e James seguia reclamando sozinho, dizendo que preferia ter permanecido na cama, sonhando com seu futuro em uma praia paradisíaca no Caribe.

Porém, se o fizesse, aquilo nunca iria passar de um mísero sonho.

Estava plantado na parte dos fundos do enorme castelo, esperando a volta de Fabian e Gideon Prewett, seus dois parceiros de crime.

Os dois eram alguns anos mais velhos que James, apesar do garoto ser bem mais experiente quando o assunto era furto. Com apenas vinte anos, James Potter era o bandido mais procurado do reino, tendo uma recompensa gorda para quem o entregasse vivo ou morto. Fabian e Gideon eram dois irmãos gêmeos foragidos da guarda real, que acabaram por se juntar eventualmente ao Potter, por conta de seus incontáveis interesses em comum.

— A barra ‘tá limpa. Você sabe o que fazer quando a gente chegar lá em cima. — Exclamou Gideon, ao chegar ofegante ao lado de James.

— Eu sempre sei o que fazer. — Pisca um olho para os dois irmãos, que automaticamente se entreolharam com cara de puro tédio. — Vocês me subestimam demais ruivinhos. Observem e aprendam.

O castelo era feito de pedras maciças, e devido a idade que possuía, foi extremamente fácil de simplesmente escalar as paredes utilizando apenas a própria lógica e um pouco de força nos braços. Ao chegar no telhado, olhou para baixo orgulhoso de seu feito.

— Vocês não vem? — Pergunta alto para os dois garotos, que reviram os olhos. — A vista aqui é incrível. Imagina ver isso todo dia?

— Pode admirar o quanto você quiser depois que ajudar a gente a subir. — Fabian reclama, antes que James o jogue uma corda.

— Eu quero um castelo. Maior que esse obviamente, e mais moderno também. Sério, desde que eu nasci eu nunca vi nenhuma manutenção nesse lugar, eu me pergunto como que essa velharia nunca despencou em cima de ninguém. — Tagarela a medida que puxava um dos gêmeos primeiro, e logo em seguida o outro.

— Faz o que você tem que fazer e depois a gente resolve o lance do castelo, Potter. Mas vê se faz direito.

— Eu sempre faço direito, pequeno Gide. O jeito James Potter sempre é o certo.

— Ah claro, imagino que sim. A começar que eu sou o Fabian, e não o “Gide” — Ironiza fazendo as aspas com a mão, ao mesmo tempo que o irmão ao seu lado solta uma gargalhada.

Os três andavam cautelosamente por cima dos grandes telhados do castelo, tomando o máximo de cuidado para não serem vistos por nenhum dos guardas. Precisavam ser rápidos, afinal, assim que o relógio batesse 6:30 AM, o castelo estaria aberto para visitantes e a segurança na sala da coroa seria redobrada.

Nesse momento vocês podem estar se perguntando: O que eles estariam fazendo em uma sala extremamente protegida pelo reino, em tal hora da manhã?

A explicação começa dezoito anos atrás, quando a princesa de Hogsmead foi raptada. Ninguém soube ao certo o que aconteceu, e como conseguiram passar pelas seguranças do castelo. No entanto, quando o rei e a rainha acordaram, o pequeno bebê já não dormia serenamente no berço da maneira como haviam deixado-a na noite passada.

Desde então, a coroa que pertenceria a princesa passou a ser vista como uma relíquia nacional, tão importante quanto vários monumentos tombados pelo reino.

Por conta disso, a coroa valia uma quantidade inimaginável de dinheiro. Apenas uma pequena pedra da tiara, podia comprar a uma casa extremamente confortável e bem localizada no centro do vilarejo.

O dinheiro que seria dividido entre os três era surreal, tão grande que poderia tirá-los da miséria pelo resto da vida. Por isso, o objetivo daquele dia era apenas um:

Roubar a coroa de cristal da princesa desaparecida. E obviamente, sobreviver para contar história.

O caminho por cima das enormes torres do castelo fora feito cuidadosamente, para que não fossem vistos em nenhuma possibilidade. James sequer deixava rastros pelas grandes pedras que havia passado, e o barulho que seus passos faziam eram praticamente inexistentes.

Fabian e Gideon eram um pouco menos discretos, a começar pelos cabelos ruivos chamativos. Apesar disso, passaram por todas as torres sem vacilar em um segundo.

Ao chegarem onde sabiam ser o teto da sala da coroa, pararam em frente a grande janela de vidro, ali localizada caso ocorresse qualquer tipo de emergência.

— Certo, o plano é o seguinte. Assim que eu colocar a mão na tiara, vocês me puxam para cima sem pensar duas vezes. Não importa a circunstância, não soltem essa corda! — James explica em um tom de voz mais sério raramente utilizado por ele, enquanto Gideon se certificava de abrir a portinhola sem exercer barulho.

Com uma parte da corda já amarrada pela sua cintura, James amarrou a outra ponta em uma de suas lanças, logo a cravando na superfície de pedra.

— Eu to falando sério, segurem com força. Se eu cair lá, eu tenho certeza que não vai fazer nada bem pro meu rostinho bonito. — Dramatiza baixo, observando a movimentação dos guardas a alguns metros deles.

Fabian revira os olhos enquanto segura a corda em suas mãos, dando a outra parte ao irmão. — Não enrola, Potter.

James suspirou pesadamente enquanto apoiava os dois braços no chão, deixando as pernas penduradas no buraco. Naquele horário em específico, os guardas estavam tão preocupados com a organização para a abertura do castelo que acabavam esquecendo-se da coroa em si.

Dentro da sala, o garoto percebe, haviam apenas dois guardas sonolentos. Um deles parecia ter sido seriamente atacado por uma horda de gatos na noite passada, devido a vários arranhões que possuía aos braços. 

“Ou talvez uma horda de gatas” pensou James enquanto ria sozinho, lembrando das várias vezes que havia acordado daquela forma depois de uma longa noite.

— Eu avisei pra você não ficar a noite inteira na farra Diggory. Se o Sirius vê seu estado você sabe o que ele pode fazer.

— O Black não tem moral pra falar de mim quando toda sexta feira ele bate cartão na mesma taverna. Só porque ele é o protegido do rei, não significa nada, Fenwick. — James ouvia a conversa entre os dois guardas distraídos, enquanto lá de cima os irmãos Prewett controlavam a corda para que chegasse cada vez mais próximo da coroa exposta.

O segundo guarda havia ameaçado um movimento brusco, porém Potter não se desesperou. Primeiro que o homem não havia virado para trás, e segundo… Bem, a coroa já estava em suas mãos. O sinal já fora dado aos gêmeos para que o puxassem novamente para cima. — Tecnicamente significa sim. Ele sendo o protegido, é o mais bem pago, e tem bem mais comodidade que a gente, dois meros guardas de uma tiara. — Dissera Fenwick.

— Ah, qual é, ele só se divertiu um pouco ontem a noite. Isso é inveja meu companheiro.

— Exatamente! Isso tudo é inveja de que eu saí ontem e você continuou de plantão aqui. Muito obrigado… — Amus apenas percebeu que havia algo errado naquela frase quando olhou para um Benjamin boquiaberto ao seu lado, encarando a redoma de vidro vazia em sua frente.

— Chame o Sirius! RÁPIDO FENWICK! — Grita olhando para o teto, a tempo de ver apenas uma bolsa de couro sendo puxada as pressas para fora da janela de emergência.

Mas já era tarde demais. James Potter encarou os gêmeos ainda nos telhados do castelo com um misto de prepotência e desespero em sua expressão.

— A boa notícia: Peguei a coroa. A má notícia: A gente vai precisar correr um pouquinho.