Renesmee.

— Não houve nada de tão importante em minha vida antes de você chegar, Ness. Se houve... ou eu achei que houve... desde que você apareceu tornaram-se fatos pequenos demais para serem considerados de alguma importância.

Eu conseguia sentir a dor em seus olhos e o nervosismo em sua voz tremula. Jacob estava com medo do que iria me contar, o que não ajudava a manter a minha ansiedade controlada. Desejei que Jasper estivesse por perto e pudesse ao menos aliviar um pouco da tensão presente na sala de estar do chalé. Não nos tocávamos, mesmo que eu soubesse que Jake queria, ele estava respeitando o meu espaço. Não fazia ideia do que viria a seguir, mas sabia que não tratava-se de uma besteira.

— Jake, seja lá o que aconteceu eu mereço saber, você não acha?

Houve um suspiro pesado vindo de sua parte.

— Sim. Eu sei que você merece saber e não havia contado antes por conta de um acordo.

— Acordo?

— Não era o melhor momento, Ness, talvez você nem entendesse o significado de tudo isso antes.

— Eu nunca vou entender se vocês esconderem tudo de mim sempre – acusei – É sobre o Imprinting?

Jacob piscou algumas vezes, estava atordoado com minhas palavras. Eu não era burra. Sabia sobre o Imprinting assim como reconhecia que a nossa ligação era forte demais para ser comum.

— Você sabe sobre o Imprinting? – balbuciou. Vi o medo varrer sob seus olhos, dando um vislumbre de orgulho, como se estivesse vendo uma joia preciosa bem em sua frente – Por que não me contou antes?

— Eu não sei. São somente teorias, Jake. Você quem deveria ter me contado, não?

— Queríamos que tivesse escolha.

— Eu tenho escolha.

— Você tem! Sempre terá! – ele passou as mãos nervosamente pelo cabelo e se sentou em uma das poltronas, indicando que eu sentasse em sua frente – Foi um acordo entre seu pai e eu, quando você ainda era muito pequena. Não queríamos que se sentisse influenciada pela magia para fazer suas escolhas.

— Jacob, não é por causa da magia que eu quero você.

O Black sorriu sem mostrar os dentes e eu senti a sala fria tornar-se um pouquinho mais quente.

— Eu sei, meu anjo, pode acreditar que eu entendo o que você sente.

Jacob parecia buscar palavras para iniciar o assunto amedrontador.

— Jake?

— Sim.

— Quem é Mike?

Ele me encarou e assentiu.

— Mike estudou com seus pais e tios no ensino médio. Podemos dizer que ele era um pouco afim da sua mãe.

— E como vocês se conheceram?

Senti seus ombros tencionarem ainda mais, se é que era possível.

— Alguns meses depois que seus pais se conheceram os Cullen foram embora. Edward acreditava que o melhor era se afastar para deixar Bella em segurança. É claro que foi uma grande besteira. Sua mãe procurou ajuda de alguns amigos nessa época pra conseguir seguir em frente sem o seu pai e foi onde eu conheci o Newton. Ele era um babaca e seu pai concorda comigo nessa questão. O idiota quis se aproximar da Bella só porque ela estava livre. Bom, não completamente. Tempos depois sua mãe foi até os sanguessugas italianos buscar seu pai e os Cullen voltaram pra Forks. Mike teve que se contentar, mesmo sendo um completo irritante. Até hoje não entendo como Edward não o matou. Eu mataria.

Franzi o cenho.

— Não entendo. Por que tanta raiva dele? Quer dizer, tudo bem que você o considera um idiota, babaca e milhares de outros adjetivos ruins... achei que fosse algo relacionado à você, diretamente.

— Renesmee talvez agora venha a pior parte de tudo isso.

Senti um frio percorrer por toda a minha espinha.

— Odeio quando me chama de Renesmee.

— Eu sei – sussurrou num pedido de desculpas silencioso – Quando seu pai foi embora... quando eu me transformei pela primeira vez e soube o que os Cullen eram realmente, e o que podiam causar à Bella... Ness, eu fui um verdadeiro idiota. Eu confundi tudo. Bella sempre foi a minha melhor amiga e eu acabei construindo uma espécie de paixão platônica por ela e eu...

— Espera. Por favor.

Eu estava me sentindo tonta e enjoada com o que ele acabará de dizer. Era complicando de entender. Meu namorado era apaixonado por minha mãe? Apertei os olhos com força esperando que fosse somente mais um dos diversos sonhos estranhos que atormentavam as minhas noites, mas quando os reabri Jacob ainda continuava parado em minha frente, com uma expressão frustrada no rosto. Eu podia notar que ele se odiava por conta disso. Que se pudesse apagar algo de seu passado seria esse momento.

— Você está bem?

— Eu só preciso de um minuto.

Levantei sentindo as pernas fraquejarem e caminhei até a cozinha. Minhas mãos trabalharam automaticamente para pegar um copo de água, enquanto a minha cabeça permanecia na tentativa de filtrar as informações recebidas.

Jacob estava atrás de mim em uma distancia considerável segura.

Quando eu terminei com o liquido gelado no copo o encarei novamente. Senti-me um pouco menos tonta, mas enjoada na mesma proporção.

— Por quanto tempo isso durou?

Ele suspirou pesadamente.

— Eu não entendia antes.

— Até eu nascer? – perguntei incrédula – Uau. Então... foi o Imprinting.

— Não, Renesmee. Não foi o Imprinting. Acabamos de falar sobre isso.

— Você amava a minha mãe! – eu gritei.

— Eu amo a sua mãe! – gritou em resposta – Sempre amei e sempre vou amá-la. A Bella é a minha melhor amiga, Ness. Isso não é sobre o Imprinting, tá legal? As coisas eram confusas antes de você chegar e só realmente fizeram sentido quando eu vi você pela primeira vez. Como se tudo tivesse enfim de encaixado. E eu não estou falando de magia.

Minhas mãos pararam instantaneamente na lateral da minha cabeça, onde eu sentia doer.

— Eu amo você, Renesmee e nada na minha vida tem sentido se você não estiver comigo.

Mordi o lábio com força reprimindo a vontade de chorar.

— E a minha mãe?

— Eu já disse que a Bella...

— Não, Jacob. Quero saber como ela reagiu. Ela sabia, não?

Ele assentiu.

— Você sabe, Ness, Edward e Bella sempre foram uma coisa só. Desde sempre. Só um cego pra não enxergar isso. Ela o amava, não daria a menor chance pra qualquer outra pessoa.

Engoli seco.

— Vocês viveram um triangulo amoroso.

— Não exatamente – disse irritado – Seus pais eram um casal. Eu era só um idiota que não sabia lidar com os próprios sentimentos.

— Eu não sei se faz mais sentido agora.

Jacob assentiu.

— Não imagino que vá fazer. Você vai ficar confusa, Ness, é normal. Eu só preciso que nunca duvide de nós dois. O que eu sinto por você é real.

— Eu preciso de um tempo, Jake.

— Você terá o tempo que achar necessário – me garantiu – Se quiser perguntar alguma coisa você sabe como me encontrar, eu vou sempre responde-la.

— Obrigada pela verdade.

— Você merecia a verdade – sussurrou – Vai ficar bem?

— Vou.  

— Isso... não muda nada entre nós dois, não é?

Neguei.

— Não. Eu sempre vou amar você.

Ele sorriu aliviado.

— Eu só preciso colocar as ideias no lugar agora. Acho que preciso conversar com meus pais também. Quero entender um pouco o lado de cada um.

— O meu você já conhece. Nunca me orgulhei disso, Ness, e hoje parece mais tolice ainda.

Caminhei até ele depositando um beijo demorado em seu rosto, não podendo dar mais do que aquilo no momento e me despedi indo ao meu quarto para tentar processar as informações do passado de Jacob e meus pais.