Três Vidas escrita por Janna


Capítulo 1
Pedaço de Nós


Notas iniciais do capítulo

Uma one bem fofinha pros amantes de NejiTen.



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O dia 26 de Novembro foi marcado por um grande marco histórico para a evolução científica. O primeiro astronauta que havia pisado em Marte, retornara após um ano de missão. Seu nome ficaria conhecido, assim como o Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua. Ele, Hyuuga Neji, fora o primeiro a pisar em Marte. Com apenas vinte e sete anos, realizou tal ato histórico.

Cumprimentou os companheiros de viagem, dois outros astronautas que viajaram consigo, mas que não se aventuraram nas terras marcianas. Cumprimentou amigos, aqueles que estiveram dia após dia checando para que tudo ocorresse bem. Acenou para as câmeras, repórteres e jornalistas. Era um gênio e agora famoso, teria que se acostumar com isso.

Lander InSight, a nave espacial utilizada, trezentos e setenta e oito dias após sua partida, havia finalmente tocado o chão terrestre com êxito. Pouco mais de um ano de missão e haviam feito história, três astronautas tão jovens que a soma de suas idades não daria um século. 

— Hyuuga Neji, agora que retornou à Terra, qual a primeira coisa que pensa em fazer? — um repórter que segurava um microfone com a logotipo de uma grande emissora de TV lhe indagou, era o seu primeiro contato com o mundo após tanto tempo de quase solidão. 

— Tomar um banho. — brincou, causando riso. 

Era brincadeira, claro, havia outra coisa que desejava mais do que qualquer coisa. Rever sua esposa, poder tocá-la para além de apenas uma fotografia ou lembranças, apenas o que tinha no espaço. A quem sempre estivera ao seu lado e sempre lhe apoiou. Mesmo com os riscos da missão. Ela apoiou seus sonhos. Entretanto, também não queria revê-la sem tomar um banho digno depois de doze meses sem estar abaixo de um chuveiro. 

Levou pelo menos mais um dia para ser liberado. Como faziam relatórios constantes e sempre se comunicavam, não seria necessário relatar em palavras por enquanto. 

No dia seguinte, já estava de pé em frente à residência que era sua. O gramado, o caminho de pedra e até a garagem vazia, tudo continuava como se lembrava. Era como se nunca estivesse ficado longe. No segundo seguinte que parou o carro, a mulher de cabelos castanhos abriu a porta branca e veio correndo em sua direção. Era a cena mais linda que já vira, que não cansava de ver nunca. Ela.

Estava com os cabelos soltos e um vestido que chegava um pouco abaixo dos joelhos, ele via os olhos castanhos banhados em lágrimas. Seu nariz fino tinha a ponta vermelha e seus dentes estavam trincados. Agarrou-se ao homem que amava como se sua vida dependesse disso. Fechou os olhos ao sentir os braços finos rodearem seu pescoço e o rosto afundar naquele choro que expressava saudade, amor e mais outros turbilhões de sentimentos. Sentia a esposa soluçar em seus braços, profundamente. Tanto sentimento expressado naqueles dedos finos que se afundavam em sua pele como se pudesse juntar os corpos, Neji percebeu que suas unhas estavam curtas. 

Afastou segurando o rosto do marido entre as mãos, como se quisesse ter certeza que estava mesmo ali. Tanto tempo, tanto tempo esperando por isso. Pra quem não quer se despedir, um único dia é muito doloroso. Quem dirá meses? As primeiras semanas foram as piores, de plena solidão. Estar no meio de várias pessoas era sinônimo de estar sozinha. Mas ela não estava. Uma parte de Neji havia ficado consigo, e pra sempre estaria. Olhou em seus olhos brancos, a coisa mais linda que já viu. Quantas vezes não escreveu sobre aqueles olhos? Sua inspiração. 

Hyuuga Tenten era uma escritora famosa, e como amava escrever. Era magnífica no que fazia. Ela expressava o que sentia, e parte de sua obra tinha um dedo de Neji. Mesmo que ele não soubesse, eram suas atitudes que provinham das sensações que a mulher passava para a escrita. Seja de raiva, quando brigavam, ou de amor e felicidade, como sentia agora.

Sua mão trêmula deslizou sob a tez do homem que amava, tremia demais, nervosa. Feliz. Seus lábios também tremulavam e os olhos procuravam toda a extensão de sua face como se procurasse qualquer sinal de que aquilo não era real, mas era. Ele finalmente havia voltado pra ela, pra elas duas

Ele a via tentar falar, mas pareciam lhe faltar palavras. Ou talvez pensasse em tanta coisa ao mesmo tempo que seus lábios eram incapazes de expressar tamanha emoção. Ele também sentia.

— Eu voltei, meu amor. — disse-lhe. E ela soluçou mais uma vez, lhe abraçando.

Ele ninava sua amada em seus braços. Quantas vezes não dormiu abraçado à foto de Tenten? E quando não tinha sua foto, tinha a memória. Ela não saía de sua cabeça nem por um único instante. 

Um pouco mais calma, Tenten se afastou lentamente, precisava de forças para conter a intensidade do sentimento que ainda estava por vir. Revelar a Neji que ele era pai, que seu maior sonho, para além daqueles que já havia conquistado, se tornara realidade. Ele era pai de menina. Uma linda menina a qual parecia a figura do pai com os traços delicados da mãe. Era linda. 

Não havia dúvidas em seu coração, sabia que a notícia traria felicidade ao homem que havia acabado de conquistar o mundo.

— Neji... quando esteve fora, eu passei por uma experiência. — segurou-lhe as mãos, olhando-o no fundo de seus olhos brancos. Viu preocupação em sua expressão, riu pequeno, tão protetor e incrível seu marido ela. Sempre colocando-a em primeiro lugar. 

— Você está bem!? — sua preocupação já tomava conta de toda sua face, embora o rosto de Tenten transmitisse a mais pura serenidade e calmaria. Paz. Ela assentiu lentamente, alisando e em seguida beijando as mãos do esposo como um gesto de amor e respeito. 

Ainda preocupado, Neji procurou acalmar seu coração. Vendo que os traços de sua mulher não haviam tristeza e nem preocupação.

Tenten entrelaçou os dedos pequenos nos maiores de seu homem, e girou os calcanhares seguindo sem pressa para o interior da casa que era deles. E embora tentasse transmitir paz e não preocupá-lo, seu coração estava inquieto, ansioso pelo momento que viria à seguir.

Ser pai era o maior sonho de Neji, ele sempre lhe pedia. Lhe dizia que seria um pai presente, sempre. Que se dedicaria à seus filhos e que jamais colocaria o trabalho antes deles. Acordaria de madrugada, ficaria até que eles dormissem outra vez. Trocaria fraldas e até aprenderia a dar banho. E ela sabia que era verdade, mas Tenten não tinha planos de ser mãe. Se considerava jovem, e ainda queria conhecer outros sentimentos para passar para o papel antes de decidir dar aquele passo. Não teria mais tempo pra si, pra escrever. E não conseguia imaginar sua vida sem isso. 

Porém, ninguém manda no destino. E como se as próprias moiras fabricassem o fio de seus destinos, Neji partiu com ela grávida. É fato que só descobriu quando ele já estava bem longe da órbita da Terra. Mais de um mês depois de sua partida. E ela estava sozinha na missão de ter seu filho/filha até que ele voltasse. E como se a vida lhe pregasse outras peças, Tenten passou por experiências incríveis. Únicas. Que não aconteceriam de novo, porque era seu primogênito. Não importava quantos filhos mais teriam, não seria como da primeira vez. Mas Neji não estava lá. 

Tenten descobriu que os sentimentos na gravidez, eram tudo aquilo que ela tanto buscava com ânsia para conseguir fazer o maior trabalho de sua vida. E ela queria fazer com que seu único amor também sentisse isso. E foi o que fez, dia após dia, até seu retorno. Dedicando-se de corpo e alma.

O Hyuuga encontrou na sala uma enorme caixa branca. Acima haviam alguns balões amarrados por fitas a tampa. Ela olhou pra ele com um sorriso discreto e ele riu também, imaginando que seria um presente de boas-vindas, e que presente, então se aproximou. Neji nem imaginava, sequer tinha ideia, da experiência pela qual estava prestes à passar. 

Se aproximou e sentou sob os joelhos em frente a grande caixa. Tenten ficou um pouco mais afastada observando tudo, seu coração palpitava, parecia prestes à sair pela boca tamanha a emoção que sentia. Como será que reagiria? Ela sabia que ficaria feliz, podia imaginar o que faria. Mas na verdade, o que realmente faria? Ficaria sem reação? Gritaria? Choraria? Ou tudo de uma vez? 

Estava prestes à descobrir, finalmente. Pensava.

Retirou a tampa branca e encontrou várias coisas em sequência. Olhou curioso para aquele amontoado de papéis. Retirou um papel que estava em cima de tudo, como se tivesse sido colocado estrategicamente lá, e ela datava o último natal que estivera longe. Leu:

25 de Dezembro de 2017.

"Hyuuga Neji... meu amor... querido amor... ah, você entendeu." riu, imaginando a expressão da esposa ao escrever aquelas palavras. Com uma mão sob a boca e observando a cena, ela também riu. "É natal, e você não está aqui. Eu tenho passado por alguns momentos, e sei que você também. Ficamos tanto tempo juntos quando está em casa, que quando não está como agora parece que tem algo faltando. E tem. Sinto sintomas de saudade, sabia? Eu fico muito triste, às vezes parece que você nunca vai voltar pra mim. Mas eu sei que vai, porque você prometeu. E outra hora estou feliz, sei que está realizando seu sonho. Sempre torci muito por você, um gênio. Eu me sinto numa montanha-russa de emoções... estou feliz e então estou triste de novo. Deve ser o natal, você sabe como eu amo essa época, não é? Ah, sabe. Eu te fiz esperar mais de seis meses pra casar porque queria casar nessa época. Pois é, mais um ano juntos, embora não estejamos juntos agora... droga!" Neji pôde ver o papel manchado, como se houvesse sido molhado e então posto pra secar. E soube que ela havia chorado ali. Sentindo algumas lágrimas embaçarem suas vistas. "Você não cansa de me surpreender, não é? Eu estava triste, confesso. Uma parte de mim queria ir com você. Mas então estou feliz de novo, estou gritando. Maldita abstinência de você. Isso é sintoma de saudade. Eu sei que você também sentiu." Tenten conteve o próprio soluço ao ver o rosto do marido banhado em lágrimas, segurando o papel com força. Comprimindo os lábios finos enquanto lia suas palavras. Seu coração estava inquieto, ansioso. Não sabia por quanto tempo seria capaz de suportar. "Havia decidido passar o natal sozinha, ir para Paris e ficar naquele mesmo hotel, aquele que ficamos na lua de mel. Aquele bem alto, no último andar, olhando pro céu. Como se eu pudesse te ver lá. Talvez pra aplacar um pouco dessa falta que você me faz... e ainda tá só no primeiro mês. Sintomas de saudade. Mas... você já pensou, meu amor, que talvez não seja isso?" e o primeiro papel acabava ali. Deixando uma enorme interrogação na mente do Hyuuga. Neji virou a folha como se buscasse uma continuação, seu rosto molhado pelas lágrimas salgadas. Olhou ofegante e confuso para a esposa, ela não estava em estado melhor.

Apenas apontou pro interior da caixa, indicando que ele deveria continuar de onde parou.

Neji então alcançou um outro papel, o que parecia um laudo médico. Ele datava 15 de Janeiro, e seu resultado era positivo. Um exame de gravidez. 

A Hyuuga viu os olhos incolores, agora avermelhados por conta do choro, lhe alcançarem arregalados. Os lábios de Neji entreabertos, como se buscasse uma confirmação sua. Ela só continuou sorrindo, sentindo o peito bater tão forte que parecia que sairia de si. Sem dúvidas, aquele sentimento, ela nunca sentiu. Sentimento de mãe, de ver o pai, seu homem, sentindo exatamente tudo o que sentira. E ainda estava no começo.

O viu baixar os olhos, buscando sua barriga. Não havia nada em seu ventre, não mais. Voltou a lhe olhar nos olhos, ela só sorriu. Apontando outra vez pra caixa. Viu o cenho do amado se franzir, um pouco decepcionado. Sem dúvidas queria vê-la, tocá-la. Como ela também quis quando teve aquele resultado em mãos. Mas, assim como ela, ele teria que esperar e passar por cada etapa de uma vez.

Ele respirou fundo, sabendo agora do que se tratava. Sua amada mulher não permitiria que ele saísse dali sem terminar o que começou, e ele não ignoraria o trabalho que ela havia levado e feito com tanto carinho. Então pegou mais um papel, eram palavras de Tenten outra vez:

21 de Janeiro de 2018.

"Neji, eu descobri que estou grávida. Como você sabe. Mas não tinha tido coragem até então de ir ao médico. Estou um poço de sentimento e drama, como se meu mundo desmoronasse lentamente e as peças começassem a criar um outro mundo. Rosa ou azul. Eu não queria passar por aquilo sozinha, minha primeira ultrassom. Eu queria que estivesse comigo, e esse foi um dos motivos que levei para demorar tanto pra ir. Sinto estar sendo injusta com você, que tanto me pediu por isso, não estar aqui. Me perdoe, por favor, nunca foi minha intenção te privar desse momento. Mas eu preciso ir, preciso ir ao médico. E me certificar que o nosso bebê está bem." Neji chorava feito uma criança. O papel em suas mãos estava amassado, os ombros chacoalhavam com força. Seria incapaz de descrever o que sentia naquele momento. Tenten era tão fiel em seus sentimentos e suas palavras, que ele sentia como se estivesse ao seu lado, mesmo estando milhares de quilômetros de distância. "É tão lindo, ou linda, você ia amar. Chorei tanto, Neji. Tanto. Nosso bebezinho é tão pequenininho. Eu só vi seu coraçãozinho, batendo. E senti como se o meu próprio fosse explodir. Tem outra vida aqui, outra vidinha. Tem nossa vida aqui, dentro de mim." e acabou o segundo bilhete.

Neji se jogou sob a caixa com um braço apoiando a cabeça, chorando copiosamente. Imaginando toda a cena do pequenino fruto de seu amor pela primeira vez. Tenten chorava também, vendo a cena do marido. Observava com amor aquele momento único, revivendo toda a experiência de ser mãe outra vez.

Ao abrir os olhos, viu um envelope como próximo item. E mesmo sentimento o corpo tremer, ele se afastou e pegou o mesmo. Abrindo-o, revelando ser uma imagem de ultrassom. A primeira imagem do seu bebê, sua primeira foto. De fato, era só um pontinho. E ele não soube expressar o quanto já amava aquele pontinho minúsculo. Trouxe a imagem para perto, como se pudesse beijá-la. Como se pudesse beijar aquela pequena criatura, inconscientemente balançando o corpo, como se lhe ninasse. Tenten segurou com força o balcão, sentindo a força de seu corpo lhe abandonar. Uma fraqueza, uma moleza.

Olhou a esposa.

— O-Onde... onde ele tá? — seus lábios tremiam, queria pegar o filho, ou a filha. Queria tê-lo em seus braços. 

Ela só sorriu, e isso lhe maltratava. Devia continuar a explorar aquela caixa. Aquela caixa branca. Caixa de felicidade. 

O outro bilhete datava algum tempo depois.

7 de Março de 2018.

"Neji, eu sei que te fiz esperar dessa vez. Me desculpe. Eu estive passando por alguns momentos difíceis no primeiro trimestre da gravidez. Senti muito enjoo, mal-estar e como se minhas energias estivessem sendo sugadas de mim. Eu quase não trabalhei esses dois meses. Graças a você eu tenho a sua pensão." ele riu, mesmo com as lágrimas, do humor da esposa. "Eu finalmente fui fazer minha segunda ultrassom, lembra quando você dizia que queria ter uma filha? Mesmo eu insistindo que meu primeiro filho seria menino? Então, meu amor, não vá ficar chateado se as coisas não saírem como o planejado. Você trabalha na NASA, e eles ainda não foram capazes de inventar um método para escolher o sexo do bebê. Nós te amamos mesmo assim, nossos dois corações batem por você." levou uma mão ao rosto, já sentindo a fraqueza de tanto chorar. Sentia que ia derreter, se acabar em lágrimas. Tenten conseguia quebrá-lo até nos momentos que julgava serem impossíveis. Respirou fundo, com o peito doendo de tão apertado para a intensidade que batia. 

Levando as mãos ao próximo item. Era uma caixa também branca, pequena. Ele buscou seus olhos, como se ela fosse lhe entregar algo em sua expressão, mas Tenten apenas continuou sorrindo. Havia uma pequena mensagem rabiscada.

"E então? É menino ou menina?" perguntava-lhe. Sentiu sua respiração descompassar, num misto de ansiedade e nervosismo.

Abriu rapidamente, como um curativo. Ansioso por finalmente descobrir se seria pai de menino ou menina. Sim, seria, porque ele estava vivendo aquela experiência agora. Pra ele, a sensação era a mesma que sua amada sentiu no momento daquela descoberta. Comprimiu os lábios ao ver que o que havia dentro, era um par de sapatinho. Tão pequeno, mas tão pequeno, que calçava seus dois dedos. Apenas uma pequena criatura os calçaria... seu filho, ou filha. Porém, era branco. Como o mais puro leite. E não havia nada mais na caixa. Olhou confuso pra ela outra vez, e levemente entristecido. Teria se enganado? Tenten jamais se enganava. Um medo correu sua espinha, teria algo acontecido ao seu filho não nascido? Sua garganta secou, como um pai preocupado. Ficou difícil respirar. Sentindo seu coração falhar as batidas. A ideia de perder aquilo que nem chegou em seus braços, foi a pior dor que sentiu. E mais uma vez seus olhos se encheram de lágrimas, agora de tristeza.

— Tenten... — sua fala foi um sopro, um ruído. Mal conseguia enxergar algo com o líquido que se acumulava em seus olhos, esperando que ela dissesse que estava errado.

Tenten se afastou, buscando algo que estava escondido no balcão. Um pequeno bolo. Suficiente apenas para uma pessoa. Também branco. 

— Espero que esteja com fome. — ela tentava manter o coração limpo. Levando o pequeno bolo para o marido que a olhou com o rosto vermelho, a sensação foi de ter seu próprio coração partido. 

— Isso não é hora, Tenten. — pronunciou firme, sabendo que ela escondia algo. Se fosse o pior, queria saber logo. E uma enorme culpa lhe tomou com a possibilidade do que poderia acontecido com seu primogênito. Culpa por não estar lá e protege-los, como prometeu. 

— Tem certeza? — o tom ameno, tranquilo de sua esposa, acalentou um pouco o coração do homem que engoliu o soluço. Sentada a sua frente, ela colocou o bolo e uma faca no chão. Afagou o rosto do amado, sentindo que não conseguia ser tão cruel com aquele homem que só lhe trazia felicidade. 

Ele respirou fundo novamente, sentindo a cabeça começar a latejar pelo choro demorado. Olhando o bolo. De fato, não sentia fome, mas olhando nas orbes castanhas da mulher que amava, ele teve ânsia de fazê-lo. Então cortou o bolo e retirou uma fatia. O bolo branco revelou seu interior rosa. Chorou de novo, levando as mãos à boca. Era pai de menina. 

Era difícil conter as sensações ali, de ambos os lados. Descobrir o sexo de seu filho só o fez ansiar mais poder tê-lo em seus braços. Ou melhor, tê-la.

13 de Abril de 2018.

"Desculpe fazê-lo passar por isso, meu amor. Eu nunca quis assustá-lo, eu te amo. Te amo tanto que esse amor duplicou dentro de mim. Porém, nem tudo são flores. Após um susto, eu quase perdi nossa bebê. E isso foi real. Foram as piores horas da vida, desesperada por respostas. Sofri um acidente, mas estou bem. Minha preocupação não era comigo. Levei sete horas até receber a notícia que de nossa menina era forte, igual ao pai, estava bem. Foi a primeira vez que senti alívio." os olhos apreensivos do homem, buscaram os dela pela enésima vez. Seu sorriso era um pouco triste, e mesclava com a preocupação que sentia.

— Está mesmo bem? — questionou, assustado. Ela assentiu.

— Não aconteceu nada, foi só o susto. — explicou. 

E ainda com resquícios da experiência ruim que acabou de ter, continuou a ler suas palavras. Sabia que Tenten havia feito cada uma delas com amor, carinho e dedicação. Para que quando voltasse, ele sentisse como se nunca tivesse saído dali. E então passou a apreciar mais os momentos, como se realmente vivesse cada experiência. Prometera estar ao seu lado, e estaria. Nos piores e melhores momentos. 

"Nós passamos juntas por tudo isso. Tive alguns dias complicados após o susto. Acordei chorando, tendo pesadelos ruins imaginando que a morte levava minha filha de meus braços. Não pude mais trabalhar. Mas então, eu tocava meu ventre e podia senti-la lá, esperando pra me conhecer. Pra nos conhecer. E meu coração se acalmava outra vez." soluçou. "Tive que tomar tranquilizantes e ir com mais frequência ao médico e um psicólogo. A experiência traumática e o medo de perder minha filha não me abandonavam. Foram dias terríveis, viver à sombra de nunca poder conhecê-la, ver seu rostinho ou tocar-lhe as mãos. Mas finalmente passou, eu não passei por isso sozinha. Você não me deixou um único segundo. Me acalmou nos pesadelos, deu-me a mão para irmos às consultas e alisava minha barriga também. Tudo ficava bem, porque eu sabia que iria voltar. Você me prometeu. E eu seria incapaz de te perdoar se não o fizesse, você sabe disso." ele riu. Sim, e como sabia. Por isso sempre se tornou fiel em cada promessa que fizera a ela.

Sentiu quando ela o abraçou por trás e afundou o rosto em seu pescoço. Buscou mais um papel. Emotivo.

17 de Abril de 2018.

"Oi meu bem, não faz tanto tempo que nos falamos, não é?" um sorriso tranquilo surgiu nos lábios do homem. Seu coração estava feliz e apesar de ansioso, sentia-se em paz. Tenten lhe passava essa tranquilidade quando lhe abraçava. Ela era sempre a fonte de seus sentimentos. Todos eles. Ela era capaz de causa-lo. "Eu estava lendo, já que estou proibida de fazer qualquer coisa que gosto. Além de escrever. Quando uma corrente passou por mim, e me assustei. Senti como se houvesse levado um soco na barriga, só que de dentro. Foi a primeira vez que ela mexeu." A lágrima escapou, sentindo-a apertar no abraço. "Após dormir por tanto tempo, nossa menina deu seu primeiro olá. Dizendo pra mim que estava bem, e que logo estaria meus braços. A partir daí, eu a sentiria frequentemente." ainda rindo, se virou para ela.

— Como foi? — indaga, querendo ver em seus olhos e ouvir de sua boca o relato. 

— É incrível... como levar uma picada, só que não dói. Você sente tudo aquilo dentro de si e se sente a pessoa mais feliz do mundo por ser capaz disso. — ela abaixa a cabeça e gesticula com as mãos sobre a barriga, como se lhe mostrasse. — Estava desse tamanho. — demonstrou como já estava crescidinha naquele momento. 

Ele só conseguia rir, apaixonado, com o peito acelerado.

29 de Março de 2018.

"Aprendi a respondê-la, sempre que chamava. Também aprendi a chamá-la. Quando me sentia só e sua falta apertava, eu a buscava. Ela me respondia, como uma canção serena, me acalmando. Me lembrando que em breve a teria meus braços, e poderia cantar pra ela. Que em breve você também voltaria. Que já estava voltando pra mim." amava demais a sua mulher, a amava mais que tudo. Neji não conseguia expressar a felicidade que sentia por sua esposa ter se preocupado em fazê-lo sentir aquilo. Por ter se preocupado com seus sentimentos. Tinha certeza de que aquilo era apenas mais um dos muitos momentos que compartilhariam juntos. Eles três, quatro... quantos ela quisesse. "A gente já te ama Neji, ela é tão nervosinha, inquieta. Passa a maior parte do tempo se mexendo. E faz isso em especial quando estou dormindo, me fazendo perder noites de sono. Gosta de atenção, quer conversar, mesmo que ainda não saiba falar. Ela gosta de ouvir música comigo, a tranquilizava. Gosta principalmente de vitamina de banana e de quando ficamos juntinhas na banheira. É ciumenta, sempre reclamando quando eu dou atenção a alguém que não seja ela. E segurar essa menina está cada vez mais difícil. Ainda bem que você me ajuda." concluiu mais uma leitura. Novamente chorando como um bebê. Imaginando com amor todas aquelas palavras, amando cada vez mais sua filha. Sua filha.

— Eu te amo tanto. — exprimiu pra mulher que abraçava suas costas, olhando para o teto e apoiando sua cabeça na dela. Sentiu-a beijar as costas com carinho, fungou puxando ar para os pulmões. Havia se casado com um anjo, não tinha dúvidas.

A mensagem seguinte já datava algum tempo mais, haviam passado quase dois meses desde então. 

20 de Julho de 2018.

"Quase nove meses, estamos quase lá. Tá tão pesadinha, tão pesadinha. Já tem mais um quilo e quarenta centímetros, ela é uma meninona. Come demais, mexe demais, me suga as energias demais. Minhas pernas cansam e meus pés incham. Sinto vontade de ir ao banheiro constantemente, acordo três vezes durante a noite apenas para fazer xixi. Toco minha barriga com a ponta dos dedos, e sinto seu pezinho pressionar de volta. Sorrio." Neji era capaz de sentir aquele sentimento tão lúcido, quase palpável nas palavras. "Ansiedade me corrói dia após dia, é ela, é você. Ansiando pra finalmente tê-los juntos em meus braços. Nós três, juntos pra sempre. Está perto, cada vez mais perto..."

Tenten estava com quase nove meses de gestação, não podia fazer esforço e passava a maior parte do tempo dormindo. Incapaz de fazer qualquer coisa que colocasse em risco à vida da sua nova vida. Então escrevia com menos frequência. Após isso, ela escreveu mais uma vez, quando sua filha já não era mais parte de si, mas que continuaria sendo pela eternidade.

05 de Setembro de 2018.

"Seja bem-vinda ao mundo, pequenina princesa... Cada dor, cada contração, cada grito e cada esforço que eu fiz te trouxeram aos meus braços. Finalmente. Cada segundo de espera, minha menina forte, valeu a pena. Ouvi seu choro pela primeira vez, seu ruído desesperado ao se afastar de mim, que só se acalmou ao voltar pros meus braços." aquela parte parecia uma narração de mãe pra filha, mas que ele era capaz de sentir tudo como se fosse com ele próprio. Neji também passava pela própria sensação e experiência de ser pai. "Lhe amamentar pela primeira vez foi a experiência mais incrível até então, porque estávamos ligadas. Te coloquei no colo e você demorou até pegar o peito, doía, mas era uma dor boa, valia a pena. Tudo por você valia. Seu primeiro banho eu acompanhei de perto, vi tudo direitinho pra poder fazer sozinha depois. Vou ensinar ao seu pai também. Você sempre terá quatro mãos e dois corações além do seu por você, sempre. Menstruei depois, senti cólicas, eram dias naquele mar de sangue. Mas você estava em meus braços e só faltava uma coisa pra ficar perfeito. O papai. Que mesmo longe e sem ter ideia que você já estava aqui, ninando em meu colo, te amava tanto quanto eu." Tenten se afastou, o marido chorava que soluçava. Nem parecia o homem forte e sério que costumava ser, mas que com ela era sempre tão cálido e sorridente. Com elas, agora.

"Ela tem seus olhos Neji, e seus cabelos também, lisos. Ralos. Mas os traços são meus. Uma perfeita mistura de nós dois. Cheirosinha, cheirinho de bebê. Alisar sua cabecinha era como tocar a tez mais felpuda e sensível, eu sempre afagava seus cabelinhos. Ela já nasceu com alguns. É simplesmente linda, nossa filha. O fruto desse amor. Eu já posso até ver você e suas crises de ciúme, ela irá chamar muita atenção, se prepare. Essa princesa não vai estar em um único lugar e passar despercebida... estou rindo com isso agora." dizia. "Ela troca a noite pelo dia e chora sempre que está só. Fica me olhando nos olhos enquanto canto, como se ouvisse o mais belo anjo. É pesadinha, come bem. Você já ama, e nem a viu... ainda."

Ainda derretendo em lágrimas, Neji molhava todo o papel mordendo lábio inferior. Ao erguer os olhos pro corredor, viu sua esposa trazendo sua filha em seus braços. E um arrepio percorreu sua espinha, descobriu que seu coração ainda era capaz de acelerar mais do que já estava. Levantou-se seguindo até as duas, Tenten lhe olhava com os olhos embargados pelo choro também.

Viu aquela pequena criatura embrulhada num manto branco e levou as mãos ao rosto, soluçando. Já pouco conseguia enxergar devido à intensidade das lágrimas. As mãos trêmulas alcançaram o pequeno pedaço de si. Tenten riu emotiva com a cena do pai de primeira viagem tentando segurar a filha pela primeira vez, desajeitado. Como se tocasse o cristal mais raro ou a peça mais sensível de porcelana. Que quebraria ao mínimo toque. Quase enlouqueceu com a saudade de Neji. A sua única força foi descobrir que ele havia continuado consigo, ali. Uma pequena parte dele. Já o Hyuuga olhava pra criança como o mais lindo dos presentes, chorando. A menina pareceu perceber que já não se encontrava nos braços da mãe, pois a pequena boquinha se contorceu lentamente, como sinal do início de um choro.

— T-tá tudo bem, meu amor. Papai já está aqui... — sussurrou para ela. E uma lágrima escorreu para sua mãozinha.

A pequena Hyuuga abriu os olhos lentamente, encontrando um par iguais aos seus. Só que vermelhos e inchados de tanto chorar. O contato foi suficiente para cessar seu choro, e seus olhinhos curiosos e brilhantes grudaram nos do maior. Naquele momento, olhando no fundo daquelas orbes brilhantes, Neji teve certeza de que seria pra sempre apaixonado. Que seus olhos sempre a vigiariam, e que seus braços sempre a protegeriam. 

Até que não fosse mais capaz de respirar.


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Notas finais do capítulo

Curiosidades:
*Lander InSight é o nome da sonda que chegou em Marte no dia 26 de novembro de 2018, a oitava tentativa da Nasa para estudar o planeta. E a primeira que deu certo, sua chegada foi assistida ao vivo pelo mundo inteiro já que a Nasa disponibilizou isso, ela ficará no planeta por dois anos para estudar o coração do mesmo, ou seja, o núcleo de Marte.

*Dei a sua data de chegada em homenagem a data real que a sonda chegou em Marte.
*Um ano seria o tempo médio que levaria o percurso de ida e volta, já que a sonda sem nenhum tripulante levou seis meses apenas para chegar lá.

*Gente, a parte do banho é verdade. Astronautas não tem luxo como nós. É muito interessante conhecer. O máximo que eles podem fazer é usar uma toalha molhada com sabão pelo corpo. Também tem o fato que lá eles não vão suar como naturalmente ocorre conosco aqui na terra. E claro, a água não cai com a gravidade porque isso nem existe lá. Ela flutua como uma bola líquida. É bem curioso.

Enfim, primeira one que eu faço, eu espero que tenham gostado. Estarei sempre tentando melhorar. Posso pedir pela gentileza de deixarem um comentário, favorito? Fico imensamente feliz!
Janna ;*



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