Sad Beautiful Tragic escrita por saintprongs


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

puts oi mores, só agora a idiota aqui se lembrou que a Inglaterra possui a Igreja Anglicana e não tem padres. Porém, pelo bem da história, vamos fingir que ela é católica
É isto, obrigada pela atenção, boa leitura



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Horas após sua aula com Lily Evans, James não conseguia parar de pensar nela. Parecia que seu perfume estava impregnado em sua memória, assim como a forma que a luz do sol incidia sobre seus cabelos ruivos e como seus olhos verdes pareciam mudar de cor conforme seus pensamentos e emoções alteravam-se. Eram essas grandes características e pequenos detalhes como suas claras sardas espalhadas sobre o nariz e as bochechas, a pinta cujo o formato lembrava um coração no lado esquerdo de sua mandíbula, os longos dedos de sua mão e como de alguma maneira impressionante haviam claras sardas também espalhadas sobre eles e sua mão. 

O coração de James já era de Lily e aparentemente também sua sanidade.Tentando acalmar seu coração e tentando guardar para sempre qualquer memória que tivesse sobre ela assim que chegou em sua casa começou a pintar, de maneira até mesmo inconsciente. Quando deu por si, a luz incidente acendendo os longos cabelos ruivos, a pele branca salteada das sutis marcas, a boca delicada, o belo nariz estavam sobre a tela. Trabalhava nos intrigantes olhos verdes que pareciam o prender, mas era frustrante como não conseguia captar sua essência daquela tão específica parte. Os olhos de Lily eram tão enigmáticos mas revelavam tanto ao mesmo tempo, um verdadeiro paradoxo.

ー O que você está fazendo? ーuma voz disse atrás de James, fazendo-o se sobressaltar e quase manchar a tela com o movimento brusco que o susto causou.

ーAgora que vocês chegaram, nada. Na próxima faz algum barulho antes de falar, Padfoot. ーresmungou James começando a guardar suas tintas, tentando ignorar seus melhores amigos Sirius Black e Remus Lupin analisando a tela não finalizada.

ー Ela parece bonita, quem é sua nova musa inspiradora?

ーLily Evans, filha de uma importante família da região. E posso perguntar como você conheceu ela, James? ーo tom de Remus mostrava seu receio assim como sua expressão. O cabelo areia estava bagunçado como sempre estava nos momentos de descontração dele e seus olhos cor de mel refletiam preocupação em conjunto com seus lábios apertados, a batina de padre deixada de lado assim que entrou na casa de James. Para o resto do mundo, ele era o Padre Lupin, mas para seus amigos de infância ele sempre seria apenas Moony.

ーÉ pra ela que eu estou dando aulas de pintura. Hoje foi nossa primeira lição. ーexplicou calmamente enquanto cobria a pintura. Não é como se sentisse ciúmes da imagem de Lily ou coisa do tipo, mas se sentia vulnerável, como se fosse sua própria alma exposta naquela tela.

A expressão no rosto de Remus se tornava mais preocupada a cada segundo fazendo até mesmos as cicatrizes eu seu rosto sumirem, mas Sirius parecia alheio a isto.

ーE você o que, ficou obcecado por ela a primeira vista assim, já fazendo dela sua musa? Porque eu lembro de você nitidamente falando que não usaria qualquer uma para ser sua musa inspiradora. Mas eu não to reclamando, é uma ótima mudança das telas de natureza, apesar que vou sentir falta dos vários retratos meus que você pintou. Poucos cavalheiros podem afirmar que possuem um retrato para cada mudança de visual que fazem. ーSirius comentou se jogando em uma poltrona qualquer e acendendo um charuto para enfim observar os amigos, finalmente notando a expressão preocupada de Remus e o pé que batia insistentemente no chão, em sinal de nervosismo. ーQue bicho te mordeu? Por que parece tão nervoso?

Lupin fugiu dos olhos dos amigos, virando para encarar solenemente a janela enquanto falava pausadamente, como se ponderasse as palavras:

ーEntão, tem algum motivo especial você estar pintando a srta. Evans, Prongs?

James estava jogado em seu sofá, encarando o teto. Lily não saia de sua cabeça, cada vez que fechava seus olhos o rosto dela vinha nitidamente em sua mente. Tinha certeza de que iria enlouquecer, e aproveitando-se deste pensamento, decidiu ser honesto.

ーEu não consigo explicar como foi conhecer a srta. Evans porque eu sequer consigo entender o que aconteceu. Só sei que pela primeira vez minha vida pareceu verdadeiramente completa e, que inferno, mas eu não consigo parar de pensar nela. Cada segundo longe dela parece tortura.

Um longo silêncio se seguiu da fala de James.

ーVocê tá dizendo que sua vida era incompleta antes dela? Por favor, James. Ninguém é incompleto sem outra pessoa. ーSirius revirou os olhos para o amigo.

ーNão distorça o que eu disse. O que eu estou dizendo é que a maneira com a qual me senti ao lado dela é indescritível e eu nunca tinha sentido antes, e eu quero passar o resto da minha existência sentindo isso. ーexplicou impaciente. ーVocê adoraria ela se a conhecesse. Ela parece… feroz. Impulsiva quase, mas não em um sentido ruim. Anda como se tivesse o mundo a seus pés e, Deus que me perdoe, se ela quisesse realmente poderia ter. Ela é a mulher mais excepcional que já conheci e jamais conhecerei e eu não consigo parar de pensar em cada detalhe sobre ela, em cada segundo a seu lado.

Outra pausa longa se seguiu dessa nova declaração feita com tanto fervor e paixão.

ーHm, James apaixonado… pelo visto terei que me acostumar a isso. Então, pensa que seus sentimentos são recíprocos? Apesar de você só ter visto a srta. Evans hoje. Suponho que terei que aceitar a existência do amor à primeira vista ーquestionou Black interessado por toda a situação, sendo a última parte mais uma observação para si mesmo do que tudo. Nunca vira James falar com tanto fervor sobre algo, nem sobre suas pinturas, suas viagens, sua família. O olhar sonhador e esperançoso nos olhos do amigo eram uma grata novidade que agradavam Sirius.

ーPenso que sim. Quando simplesmente sugeri encerrar nossas aulas, ela se exasperou ao me pedir para continuar dando elas. Mas é claro que eu posso estar deixando meu enorme ego e arrogância me fazerem de um tolo cego e ela pode ter nenhum interesse em mim.

ーBem, mas o que custa então fazer uma proposta para a família dela? Que pais não desejariam que sua filha se casasse com o futuro marquês?

ーNão! ーapós tanto tempo em silêncio e de costas para os amigos, Remus finalmente se virou para participar ativamente da conversa. Parecia sofrer uma batalha interna. ーQuer dizer, não pode ter certeza… eu sei que… por Deus, não posso contar! A Igreja me proíbe de…

ーNão precisa quebrar seus votos contando um segredo de confessionário, Moony. Gostaria que você quebrasse com algo mais adequado como uma mulher pela qual você nutre sentimentos, mas não assim. ーJames socorreu o amigo. Imaginava que toda a preocupação em seu rosto era devido à algum segredo que sabia que lhe fora confiado como Padre, e podia imaginar muito bem qual era este segredo. ーEu sei que nossas famílias se odeiam.

A expressão de Remus se atenuou e Sirius se empertigou na poltrona, repentinamente interessado na história.

ーComo assim suas famílias se odeiam? Quer dizer que o marquês Fleamont Potter odeia alguém?

James deu de ombros.

ーNão sei ao certo os motivos, srta. Evans que me contou sobre tal ocorrido. Por isso que o pai dela não pode saber que estou dando aulas de pintura para ela, quem dirá ele saber que estou interessado em sua filha. Ele possivelmente me mataria, e meu pai iniciaria uma guerra no continente inteiro para vingar minha morte. Vamos evitar isso.

Sirius levantou ultrajado e começou a andar rapidamente de um lado para o outro, levando as mãos aos longos cabelos negros e os bagunçando em frustração enquanto pensava.

ーMas ora, isso é um absurdo! Tenho certeza de que qualquer rivalidade tola poderia ser perfeitamente superada por uma união como um casamento.

ーReceio que não, Padfoot. ーRemus interviu, parecendo cansado ao se jogar na poltrona onde há alguns instantes estava Sirius. ーO Barão Evans se confessa comigo e há tanto tempo venho tentando fazer ele superar seu ódio pelos Potter mas é infrutífero. Não é algo que vá embora com um simples diálogo ou ainda mais com uma união das famílias pelo casamento. Eu vejo o quanto ele se importa com a srta. Evans, ele nunca a deixaria se casar com um Potter.

James já imaginava isso mas ainda assim ouvir essas palavras com todas as letras era absolutamente agonizante. O pensamento de que não poderia ficar com ela nunca porque seus pais se odiavam era revoltante. Entretanto, preferiu não pensar que poderia nunca ficar com ela porque ela poderia não o desejar como ele a desejava. Uma batalha de cada vez.

ーEu...penso que a srta. Evans possa, de certa forma, talvez sentir pelo menos um pouco do que sinto por ela. Eu vi em seus olhos, eu senti em sua pele quando encostou na minha e se arrepiou inteira. E mesmo com uma certeza tão incerta, sei que vale a pena lutar. E eu vou. Conversarei com meu pai, tentarei convencer ele a deixar este ódio irracional de lado, talvez até pedir perdão para o barão Evans. Ele não quer tanto que eu me case? Pois bem, achei alguém que desejo tanto que quero me casar com ela.

Sirius deu um suspiro longo.

ーBom, imagino que não vá adiantar de nada frisar que você literalmente não conhece ela de verdade, você passou meia manhã com ela, mas tudo certo… bem, só me resta aceitar e embarcar nesse trem de loucura e do "poder do amor".

ーSei que parece loucura, afinal, de fato, acabei de a conhecer. Mas era como se eu já há conhecesse, como se fosse um reencontro, entende?

Sirius e o Remus o encararam longamente, com cada vez mais certeza de que o amigo havia perdido a cabeça.

ーNa verdade não, mas somos seus melhores amigos e temos obrigação moral de apoiar todas as suas loucuras que não irão acabar com você morto…

ーSe você for levar em conta o quanto o sr. Evans odeia os Potter, tem chance dele acabar morto mesmo…

ーCalado, Moony. Como eu estava dizendo antes do Moony apontar sua possível e provável morte, nós vamos te apoiar nessa sua loucura. Então, diga-nos, qual é o próximo passo?

James suspirou, levantando-se do sofá e começando a se arrumar para sair de seu chalé.

ーFora eu ter de encontrar srta. Evans mais vezes e descobrir a origem de seus sentimentos sobre mim e sua extensão, ter certeza de que não estou apenas delirando com a força de um primeiro amor assim, tentarei conversar com meu pai, tentar entender por quê ele odeia os Evans tanto. Espero que ele vendo que a fonte de minha felicidade possa ser Lily Evans efetivamente, ele vá desistir de tal ódio por essa família. Eu tenho fé de que meu amor por Lily e nosso futuro juntos é a chave para acabar com tal rixa.

 

***************************************************

A cada passo que dava em direção à suntuosa Mansão Potter, James conseguia sentir o coração acelerar e o nervosismo o atingir. O dia fora cheio de emoções demais; quase se arrependia de ter reclamado de ficar entediado quando retornou à Godric´s Hollow. Quase. A emoção de ter conhecido a srta. Evans ainda assim fazia valer a pena.

Por Deus, pensou, conheceu a Evans há algumas horas atrás, a vira apenas uma vez e ainda assim sentia que sua existência inteira havia mudado. Isto porque sequer sabia se teria algum futuro com a jovem! Riu com amargura da perspectiva de estar delirando em uma fantasia infrutífera.

A Mansão se erguia cheia de vida a sua frente. As janelas cheias de detalhes estavam abertas para deixar a luminosidade do dia entrar, era possível ver os funcionários se movimentando para fazer a casa manter toda sua vida e atividade, o jardineiro cuidava de um canteiro de flores. Com a ironia do destino, James percebeu que tais flores eram lírios brancos. Não conseguiu evitar arrancar um deles, sentindo seu perfume e lembrando de Lily. Com todo cuidado do mundo, colocou a flor em um bolso interno de seu paletó, próximo a seu coração. Parecia justo.

Adentrou a casa, vendo sua mãe conversando com Winky, sua assistente e antiga tutora de James. A Marquesa Euphemia Potter já não era tão jovem mas mantinha a beleza. Os cabelos já estavam quase todos grisalhos, seu rosto era marcado por várias rugas, mas apenas as boas que demonstram como a vida dela havia sido feliz: marcas de tanto sorrir. Haviam, é claro, algumas rugas de preocupação que James sabia que foram sua culpa, afinal, estava longe de ter sido um completo anjo. Os inteligentes olhos esverdeados e sorriso gentil ainda estavam lá, inabalados pelo tempo e sempre prontos para receber James.

ーO seu pai está no escritório. Agora venha dizer olá direito para sua velha mãe e sua antiga tutora.

James dirigiu-se em direção às duas, beijando delicadamente a mão de sua mãe e em seguida ajoelhando-se no chão e beijando a mão da srta. Winky, que já era idosa quando era professora de James, quem dirá agora, anos depois.

ーSabe srta. Winky, secretamente, o único motivo de eu ter retornado para a Inglaterra foi a saudade de sua beleza e suas intermináveis broncas cada vez que eu respirava.

Piscou para sua ex-tutora galanteadoramente, fazendo ela e a mãe rirem.

ーTenho certeza de que todos estes cabelos brancos na cabeça de sua mãe são sua culpa, sir Potter. Age como um libertino! Deve tomar cuidado e logo tomar uma esposa ao seu lado ou eu não poderei ser tutora da mais nova geração de pestinhas dos Potter.

Em qualquer outro dia da sua vida anterior, James teria respondido a esse comentário com alguma piada rápida; provavelmente pediria a srta. Winky em casamento, apenas para ver ela e a mãe gargalharem. Mas hoje, após conhecer Lily Evans, de ter achado a pessoa com quem queria casar e ter alguns “pestinhas dos Potter”, não conseguia pensar nesse assunto tão delicado sem o coração pesar, sob a perspectiva de tal recém descoberta rivalidade entre famílias descobrir o seu, também, recém descoberto amor.

Percebeu o olhar perceptivo e preocupado de sua mãe sobre si e logo tratou de disfarçar sua preocupação com um sorriso. Era melhor sair das vistas de sua mãe o quanto antes; ela sempre conseguia descobrir de alguma maneira inexplicável o que se passava pela cabeça do filho.

ーReceio que terei de deixar a companhia de duas tão adoráveis moças, afinal, se deixar o marquês esperando é possível que eu sequer viva para haver uma nova geração de “pestinhas Potter”. Até depois.

E sem mais delongas, dirigiu-se até o escritório, abrindo as pesadas portas. O ar tinha um cheiro único dos charutos de seu pai, de livros e da luz solar que iluminava aquele cômodo. Pode ver seu pai sentado atrás de sua escrivaninha, analisando atentamente algum papel. A luz que entrava pela enorme janela iluminava o cômodo, sendo possível ver a poeira se movendo no ar. Estava tão silencioso ali que se James escutasse atentamente poderia ouvir até mesmo a rua. Seu pai não parecia notar sua presença. Já pensava em ir roubar algum livro de sua estante quando Fleamont finalmente dirigiu-se ao filho:

ーConseguiu contatar os McKinnon como eu te pedi?

James piscou algumas vezes antes de encontrar a resposta. Havia recebido a carta do sr. McKinnon hoje pela manhã, antes de conhecer Lily. Parecia que havia acontecido há uma vida antes, não apenas há algumas horas atrás.

ーSim, sim, recebi uma carta hoje pela manhã e já mandei a resposta. Eles virão em breve para Godric’s Hollow e vocês fecharão o acordo, ele concordou com tudo.

ーÓtimo. ー o pai tirou finalmente os olhos dos livros de contabilidade à sua frente e encarou o filho. Fleamont era uma boa visão de como James ficaria no futuro; a genética dos Potter era forte. Apesar da idade um tanto quanto avançada, mostrava-se conservado, com os cabelos menos brancos que os da mãe. Continuava muito alto e mostrava-se forte; definitivamente não seria alguém com quem você escolheria brigar. A postura exalava poder e controle. Apesar de James ter o formato dos olhos da mãe, a cor de seus olhos era a de seu pai: o mais puro castanho, quase caramelo. Olhos que sabiam quando ser duros quando precisavam, mas quando se permitiam, não tinham nada além de amor.

ーSoube que ele tem uma filha em idade de casamento. Lady Marlene, se não me engano. Ela seria uma ótima esposa para você. Uma união ideal entre as duas famílias. Ele pode ser apenas conde, mas ainda assim, são tão nobres quanto nós. ーFleamont continuou, encarando os filhos nos olhos para pressioná-lo.

Apenas o pensamento de casar com qualquer outra pessoa que não fosse Lily trazia repulsa para James. Tinha certeza de que a Lady McKinnon deveria ser adorável mas sabia de algo importante: ela não era Lily Evans. Mas como poderia explicar para o pai que não poderia casar com qualquer mulher que não fosse Lily? 

ーBem, vamos esperar a Lady McKinnon chegar aqui para saber, certo? Ela pode estar comprometida já.

James percebeu que o pai anotara mentalmente o que acabou de dizer e que cobraria no futuro, que o assunto estava sendo deixado de lado apenas momentaneamente. 

Conversaram por muito tempo sobre negócios, transações e coisas que seriam responsabilidade de James assim que ele assumisse o título da família. Quando haviam por fim acabado e tomavam um chá juntos que a mãe trouxera, James achou que era um bom momento para questionar.

ーEntão, pai, estava andando pela cidade esses dias e não pude deixar de perceber que uma nova família mudou-se para cá enquanto eu estava fora. Já ouvi falar dos Evans?

James observou cuidadosamente enquanto o pai congelava na poltrona e seus olhos se acendiam de ódio. Era mais grave do que pensava.

ーTive o desprazer de fazer negócios com o Barão Evans uma vez, James. ー a voz do pai estava seco e cortante, dando ênfase para a preocupação crescente que James sentia. ーNão é uma família digna, confiável. Por que me pergunta sobre essa...gentinha?

James engoliu em seco, sentindo as palmas da mão ficarem suadas e um leve suor começar a cobrir sua testa, enquanto seu coração palpitava em seu peito. De repente, estava consciente sobre o lírio em seu bolso, perto do coração, como se aquilo o queimasse.

ーAhn… Fui à Igreja ver o Remus e uma das senhoritas Evans estava lá, e ela parecia…

Fleamont deu uma risada irônica que cortou a fala do filho e o fez engolir em seco.

ーJá entendi. É claro que um rabo de saia como aquele o cativou, não é, “libertino parisiense”? Não é este seu novo apelido pelas ruas de Godric’s Hollow? Admito que a mais nova das Evans é muito bonita e parecia agradável. Quando a vi pela primeira vez cheguei até a pensar que ela seria uma esposa ideal para você. ーo coração de James quase falhou com a esperança, para apenas ser destroçado a seguir. ーMas aquela família é composta por ratos, James. Não será possível que você sequer cogite matrimônio com qualquer um daquele...clã desprezível. Rainha Victoria cometeu um erro ao conceder um título de Barão para aquele homem.

James não sabia como agir. Sentia-se frágil, como se tivesse perdido o controle de sua vida, como se tivesse oito anos novamente e o pai estivesse lhe negando um brinquedo que desejava muito. Não, era muito pior do que este sentimento. Era como se o pai estivesse lhe negando sua única chance de felicidade.

ーMas pai…

ーSem mas, James!  ーexclamou Fleamont, perdendo o controle. O filho não conseguia entender como aquela família era desprezível, como o Barão Evans feriu a honra dos Potter e como aquilo não tinha perdão. Precisava cortar o mal pela raiz. ーSe você sequer tem o menor apreço por sua família, por mim, por sua mãe, nunca chegará perto dos Evans.

ーO senhor…

ーEu não quero ouvir, James! Deixei que você tivesse a vida que quisesse por anos, mas agora é hora de cumprir suas responsabilidades. Você vai respeitar essa família e ficará longe daquela família. ーFleamont conseguia ver por baixo do nervosismo do filho; conseguir ver que algo ali havia mudado. De alguma maneira, conseguiu captar um pouco do quanto Lily havia se tornado importante para James e, assim, para proteger sua família e seu filho de todo sofrimento que ele sentia que haviam pela frente se ele deixasse o filho continuar pensando em Evans, resolveu jogar pesado. ーSe você tem o mínimo de apreço por essa...Evans, irá ficar longe. Eu estou te proibindo expressamente de chegar perto dela e daquela família. Eu deixei o desrespeito do Evans passar aquela vez, mas você sabe o que acontece com quem não me respeita. Saiba que não medirei esforços se eu souber que você está envolvido com os Evans.

O sangue de James rugia em suas orelhas, tamanho o ódio que sentia. Seu pai havia não só o ameaçado mas também ameaçara Lily. A ameaça contra si mesmo era irrelevante, mas a contra Lily o enfurecia, desestabilizava. Perturbado pela ameaça e pela percepção de que não importava-se mais com sua existência e bem estar, apenas com os de Lily, saiu daquela Mansão, afastando-se do pai e fugindo de seus sentimentos. Lily fora ameaçada por sua causa. Nunca poderiam ficar juntos.

James se viu em uma encruzilhada: poderia sofrer pelo resto de sua existência mas afastar-se de Lily, assim garantindo que ela viveria bem e por um longo tempo. Ou ainda poderia ficar com ela, lutar pelo amor e lidar com quaisquer que fossem as consequências, por mais terríveis que fossem.

O pensamento de ficar longe da srta. Evans doía quase fisicamente em James. Aquela ruiva dos profundos olhos verdes já o mudará tão intensamente em apenas um dia, quem dirá outras vezes? Ele sabia que não havia volta para quem ele era antes dessa fatídica manhã.

Entretanto, seu instinto lhe dizia que ao se aproximar dela talvez não haveria nenhum final feliz. Sentia que algo ruim poderia acontecer, e isso o assustava profundamente.

Era impossível seguir por qualquer um desses dois caminhos. Mas James era um Potter, um futuro marquês. Ele sempre havia conseguido o que desejava e se safava com qualquer ato que fizesse. Ele não se curvaria à dois destinos tão trágicos e sem o mínimo fundamento. Ele criaria um terceiro caminho, onde ele e a srta. Evans poderiam ficar juntos, não importava o preço a ser pago.

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O dia de Lily Evans não havia sido tão diferente do de James. Após sua aula com o marquês Potter, Lily não conseguia se concentrar em mais nada.

Lily nunca havia se definido como uma romântica incorrigível ou, até mesmo, como uma romântica sequer. Ela era uma mulher vivendo em 1860. A sociedade a tratava como apenas um objeto, um pequeno acessório para os homens e uma mãe, unicamente feita para gerar herdeiros. Lily pensava que seu destino era ter um casamento arranjado por seus pais onde não haveria amor, no máximo ela e seu marido se tornariam amigos, mas só isso. 

Não que ela duvidasse que o amor existisse; disso ela tinha absoluta certeza. O casamento de seus pais, apesar de arranjado, era a prova de que amor existia. Ambos eram de famílias amigas e foram criados juntos, e juravam que se amavam desde a infância. E também, o livro favorito de Lily era Orgulho e Preconceito. Ela já sonhara acordada incontáveis vezes com o sr. Darcy.

No entanto, apesar de ter certeza de que o amor era real, Lily simplesmente achava que nunca aconteceria com ela. Nunca teve um amor de infância e, apesar de ter debutado e conhecido vários jovens ricos e com poderosos títulos que poderiam ser o seu sr. Darcy, nenhum deles nunca conseguira fazer ela sentir nada além de tédio e dor nos pés devido àqueles sapatos horrorosos que usava.

Então, aceitou que nunca amaria e nunca seria amada como seus pais se amavam, como Elizabeth Bennet e sr. Darcy de amavam. E ela estava perfeitamente de acordo com tudo isso. O amor de sua vida seria, acima de tudo, si mesma e o mundo. Sentia que pertencia ao mundo e queria desbravar cada centímetro dele. Se não podia ter um amor romântico, recompensaria isso desvendando as ruínas gregas, vendo resquícios do império romano na Itália, caminhando pelas ruas de Paris. Após isso, poderia se dedicar à sua existência pré determinada e aos filhos que sabia que teria. Mas antes de entregar sua vida às regras da sociedade, viveria do jeito que desejava.

Entretanto, no segundo que viu o sir James Potter, sabia que estava condenada. Não se engane, ela ainda pertencia a si mesma e ao mundo. Mas sentia que seu coração agora pertencia à James, e sabia que entregaria voluntariamente à ele. E sua visão de vida continuava a mesma: ainda desbravaria o mundo, ainda teria de se casar e ter filhos. Mas a ideia de viajar ao mundo com James parecia muito mais divertida, completa. E, pela primeira vez em sua vida, sonhava com a perspectiva de um casamento com ele, de ter filhos. Era a primeira vez que pensava ser possível com a vida imposta pela sociedade e que ela poderia ter um amor como de seus pais, como de Elizabeth e sr. Darcy.

É claro que Deus devia se divertir brincando com a vida de meros mortais como Lily. É claro que quando havia se apaixonado e começado a sonhar com uma vida verdadeiramente feliz e cheia de amor, essa vida era justamente com o filho do maior inimigo de seu pai. Esse amor estava condenado mesmo antes de começar.

Riu de si mesma. Já estava pensando em amor sendo que o havia conhecido há poucas horas. Mas suponha que era assim que o amor funcionava. Era repentino, fulminante, e já havia tomado cada aspecto de sua vida. Ela mal conhecia James Potter, mas seus instintos lhe diziam que estava condenada a amá-lo até o fim de sua existência. E claro que agora que havia achado tal amor, este se mostrava impossível de se concretizar.

Todavia, Lily era especialmente conhecida pela sua teimosia excepcional. Ela conseguia o que queria e não se contentava com menos. Ao sequer pensar em sua vida como pensava antigamente, naquela vida apenas mediana, casada com qualquer homem que seu pai lhe arranjasse, sentia repulsa. Sabia que nunca seria feliz agora que havia conhecido o seu amor, a pessoa que fazia cada parte desse possível futuro parecer ter sentido e ser brilhante. Ela não se contentaria com essa existência mediana; não mais. Faria tudo que fosse possível e mais um pouco para viver tão intensamente quanto o possível com o sir Potter e lutaria por um futuro ao seu lado.

Em condições normais, seu pai ficaria exultante com o pedido de casamento de um futuro marquês para sua filha. Ela sabia o quanto seu pai se preocupava com o fato do título de Barão não poder ser transmitido, de que Lily e Petúnia não tinham a possibilidade de herdar nada daquilo. Talvez com a argumentação certa, John Evans poderia enxergar que o casamento de Lily com o futuro marquês Potter era extremamente vantajoso e, talvez, pudesse prezar pela felicidade de sua própria filha acima de tudo.

Presa em seus pensamentos após escrever em seu diário, Lily sequer percebeu quando sua irmã enfiou o pescoço magro pra dentro de seu quarto e começou a observar.

Petúnia e Lily não eram muitos parecidas. Talvez houvesse alguma semelhança no formato de seus olhos, na textura de seu cabelo e algo no formato de seus rostos, mas era apenas isso. De alguma maneira, Lily tinha apenas 1m60 de altura enquanto a irmã era quase quinze centímetros mais alta. Lily tinha seus cabelo ruivos como fogo enquanto Petúnia tinha um tom comum de loiro médio. Mas a principal diferença era na personalidade: Petúnia era diferente de Lily em cada traço possível, sequer parecendo que haviam sido criadas sob o mesmo tempo.

Ao perceber a presença da irmã em seu quarto, sobressaltou-se.

— Por Deus, Tunnie. Faça barulho quando vier ficar me observando em meus aposentos.

Petúnia observava a irmã com os lábios apertados, parecendo analisar cada mínimo detalhe, ignorando o comentário de Lily para então declarar:

— Você está estranha, Lily.

— Você é estranha, Tunnie.

A loira revirou os olhos, cruzando os braços longos e ossudos. Estava acostumada com a irmã querendo ter a última palavra em absolutamente tudo. Petúnia usava um vestido amarelo que definitivamente não favorecia sua pele; Lily precisava lembrar a irmã de nunca mais usar essa cor e usar azul, que ressalta seus lindos e enormes olhos azuis.

— Olha quem fala. Pela primeira vez na vida você não está vagando pela casa, pisando forte sem motivo algum e perturbando a mais perfeita paz. —antes que Lily pudesse retrucar, Petunia continuou falando. — Mas isso não importa. Papai chegou mais cedo e precisa conversar com você.

Isso foi o suficiente para puxar Lily de qualquer devaneio que ainda estivesse tendo. Seu pai deveria chegar na noite de quinta-feira, não hoje. Teria algo acontecido para voltar tão cedo e ainda por cima querer falar com Lily? Será que, de alguma maneira, ele teria descoberto sobre suas aulas de pintura com o sir Potter? Não, não era possível, era impossível uma notícia viajar tão rápido. Além de que, ninguém havia os visto. Ninguém além deles sabia de sua rivalidade familiar.

Com o estômago gelado e sentindo as mãos tremerem de nervoso, Lily guardou o diário discretamente na gaveta enquanto sua irmã ia embora do quarto e a seguiu até o escritório do pai no andar debaixo.

A relação de Lily com o pai era atípica, para os padrões da sociedade. Ela não o temia, e sim o amava profundamente. Sabia que poderia conversar com ele sobre qualquer assunto; exceto um atualmente, pensou com amargura. Assim que desceu as escadas, abrindo as portas francesas do escritório e vendo seu pai olhando para a janela parecendo refletir sobre algo, sendo iluminado pela luz do sol poente, Lily abriu um sorriso e correu para seus braços.

— Papai! — exclamou, sentindo o forte abraço do pai ao seu redor. Em seus braços poderia fingir que ainda tinha 5 anos e ainda conseguia fingir que nenhum de seus atuais problema existia. Logo o pai a soltou, olhando para ela com carinho e... pesar? — Como foi de viagem? Por que retornou mais cedo?

John Evans abriu um sorriso cansado para a filha, sentando-se em sua poltrona por trás da escrivaninha e sinalizando para ela sentar à sua frente, mostrando-se levemente abatido. Ele era incrivelmente conservado para sua idade, mas Lily sabia que as rugas em seu rosto apareciam mais a cada dia e o cabelo que um dia foi castanho parecia cada vez mais claro, encaminhando-se para o cinza. Ela ainda sabia que suas vestes escondiam várias das cicatrizes resultantes de dua participação nas Guerras Napoleônicas. Ela sabia que ele ainda tinha pesadelo com aqueles dias, com a perda dos irmãos e amigos nas batalhas. Apesar de ter ganhado o título de Barão devido à esta guerra, Lily sabia que para ele nada compensava todas as perdas que tivera.

As terras da família Evans não iriam para John, e sim para seu irmão mais velho, Anthony. Entretanto, ele morreu ainda jovem devido à uma pneumonia, sem gerar herdeiros. O segundo na sucessão era o outro irmão mais velho de John, George, que morreu em uma das primeiras batalhas contra Napoleão, antes mesmo da notícia de que Anthony faleceu pudesse chegar nele. Contra todas as chances, John, o filho mais novo e último na linha de sucessão, havia se tornado o herdeiro. Ele nunca gostou daquilo e os fantasmas de seu passado ainda o assombravam.

Apesar de todo seu passado trágico e o peso em seus ombros que nunca deveria ter sido seu, John nunca perdera o bondoso brilho em seus olhos azuis, sobretudo, ao falar com suas filhas. Entretanto, nesse momento, esse brilho estava fraco, fazendo Lily sentir-se desconfortável.

—A viagem foi melhor do que esperava, Lily. Retornei mais cedo porque tinha cumprido minha missão. E antes que a senhorita pergunte, é claro que trouxe um souvenir para você. Um presentinho especial da Irlanda, para sempre lhe trazer sorte.

Lily abriu um enorme sorriso assim que o pai lhe entregou um pequeno colar com um pingente de trevo de quatro folhas. Parecia rústico, como que feito por um camponês e Lily adorou isso. Sorte era algo que ela definitivamente precisaria.

— Obrigada, papai. Então, o senhor pode me contar sobre sua misteriosa viagem de negócios?

O Barão Evans suspirou pesadamente. 

— Não só posso como devo, Moranguinho. — ao ouvir o pai usar o apelido que lhe dera quando era criança, Lily sabia que havia algo errado. — Eu viajei para firmar um acordo de casamento.

Lily piscou, tentando entender o que o pai queria lhe dizer.

— Que casamento, senhor?

John suspirou, sabendo que não poderia mais evitar aquele momento.

— O seu, Lily. Você irá se casar em breve com um conde. —Lily tentou interromper, mas o pai levantou a mão sinalizando que ela deveria deixar ele falar. — Você tem 19 anos já, Lily. Debutou aos 17 e apesar de ter tido vários pretendentes perfeitamente plausíveis, dispensou todos. Sua mãe me pedia para lhe deixar mais algum tempo pois queria que você achasse um amor como o nosso, mas eu vi que você sequer estava procurando, e nem tente negar. O tempo é curto, Lily, e você não iria encontrar proposta melhor do que essa.

O choque havia invadido Lily e ela demorou a encontrar sua voz

— Mas… Petúnia tem 20 anos e não tem casamento certo.

— Petúnia tem casamento certo e, que Deus entenda porque eu não entendo de jeito nenhum, ela ama o Dursley, de alguma maneira inexplicável. Eles irão se casar em poucos meses, o noivado será oficializado em um jantar entre as famílias amanhã a noite.

— Então porque eu não posso esperar chegar aos meus 20 anos como ela? Por que você está me fazendo casar com um desconhecido agora?

O Barão Evans suspirou frustrado, enterrado o rosto em suas mãos em alguns segundos, tentando avaliar se tinha sequer energia para aquela discussão. Decidiu que não havia outra escolha.

— Porque você não é como Petúnia, Lily. Essa proposta é irrecusável e eu aceitei porque sei o que é melhor pra você porque sou seu pai. Ele é um conde e poderá te sustentar, dar a vida de viagens que você tanto deseja.

Lily levantou, exasperada. Não acreditava que aquilo estava acontecendo no mesmo dia que havia finalmente achado um amor.

— Isso não é justo! Eu sequer sei o nome dele.

— Conde Severus Snape.

— Pelo amor de Deus, papai, olha o nome desse homem! Só por esse nome sei que estarei fadada a uma existência miserável se me casar com ele!

— Você está sendo dramática, Lily.

— Não, não estou! —Lily não conseguia controlar as lágrimas que ela sequer sabia que estava segurando que agora caiam pesadamente sobre seu rosto e sua voz estava desafinada. — Eu não posso me casar com um desconhecido, por favor, mê dê mais tempo, é só isso que lhe peço. Eu posso encontrar alguém melhor.

Lily estava praticamente entrando em pânico. Antes ela provavelmente aceitaria sem muitas reclamações esse casamento, mas agora, após conhecer James, após ter um mínimo vislumbre de como seria uma vida verdadeiramente feliz… Era aterrador o pensamento de se casar com um desconhecido, de ter a vida que antes pensava que teria.

O pai a olhava com pena, mas isso não o impediu de levantar a voz para reforçar sua autoridade sobre a filha.

— Você não tem o que dizer neste assunto, Lily. Minha palavra é final. O Conde Snape chegará amanhã para comemorarmos os noivados e em poucos meses você se casará com ele e você não pode fazer nada sobre isso.

Ela sentia seu rosto ficando vermelho de ódio e decidiu que não poderia ficar mais nenhum segundo sequer naquele escritório, na presença do pai.

— Não espere que eu vá aceitar isso de cabeça baixa, Barão.

E saiu como uma tempestade do escritório, correndo a passos pesados até seu quarto, onde trancou a porta e se recostou-se contra ela, tentando respirar. Ainda não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Não podia deixar aquilo acontecer.

Precisava sair daquela casa. Precisava respirar, dar um jeito naquela situação, precisava falar com alguém. Sabia que a mãe apoiaria o pai, Petúnia não era uma opção há anos e…

Seu coração parou ao perceber que a pessoa com quem queria conversar havia saído de sua casa há poucas horas e a conhecido nesse mesmo dia. Ela sentia que talvez o professor Potter pudesse apaziguar seu sofrimento, talvez até mesmo ter uma solução para  aquela situação.

Mas não sabia como encontrar ele. Não poderia simplesmente ir até sua casa. Não sabia como o encontrar. Aliás, sequer a ideia de buscar consolo nele parecia absurda, quando refletia sobre

Suspirou, frustrada em como sua cabeça parecia não funcionar propriamente. Talvez uma conversa com o Padre Lupin fosse a ajudar.

Então, lembrou-se de boatos que ouviu quando chegou à cidade. Sobre o inseparável grupo que cometia todo tipo de travessuras pela cidade em sua juventude, composto pelo marquês James Potter, o duque deserdado Sirius Black, o lorde Peter Pettigrew e… o Padre Remus Lupin.

Talvez o Padre Lupin ainda tivesse contato com o professor Potter.

Com o coração acelerado, Lily estava pronta para ir para a Igreja, onde desabafaria com o Padre. Não sabia como dizer para aquele quase desconhecido que era James Potter que precisava dele. Não sabia sequer como, apenas algumas horas após conhecer ele, precisava dele. Era ridículo e insensato. Lily sempre se orgulhou de como era prudente e, apesar de intensa, nunca havia se deixado levar por seus sentimentos.

Entretanto, ali estava, com cada parte de seu corpo desejando ver um homem que conheceu há poucas horas. Pensou que apenas precisava ver ele, para ter certeza de que sua certeza e seus medos tinham fundamento. Se ela se sentisse da mesma maneira que se sentira naquela manhã, saberia que não poderia aceitar em silêncio o casamento com Conde Snape. Ela lutaria pelo poder de decidir seu próprio destino até seu último segundo. Mas ela não podia simplesmente ir atrás dele, não devia ceder ao impulso.

Frustrada, partiu para conversar com o Padre. Talvez uma conversa sensata conseguisse tirar aquela sensação angustiante em seu coração.

 

Diário de Lily Evans

 

02 de abril de 1860

 

Poucos são os dias que preciso recorrer à este diário duas vezes. Na verdade, acho que nunca tive fazer isto antes. Entretanto, parece que minha vida resolveu se transformar da água para o vinho. Apenas há algumas horas conheci o Sir Potter e senti que poderia ser ele, talvez, o amor de minha existência. A única tragédia naquele momento era a intensidade de tal sentimento e o ódio aterrador entre nossas famílias, impedindo qualquer chance de relacionamento.

Eu daria tudo para voltar algumas horas no tempo e ter apenas aqueles problemas para lidar.

Papai voltou de viagem mais cedo e deseja que eu me case com um tal Conde Severus Snape. Sei que posso estar sendo injusta julgando pelo nome mas, francamente, só este nome já me apresenta mau agouro. 

Frustrada por esse casamento repentino e meus assustadores e intensos demais sentimentos pelo Potter, precisei ir à Igreja conversar com o Padre Remus Lupin, que sei que foi um grande amigo para Potter e há alguns meses têm sido um ótimo padre para mim.

Abri meu coração naquele confessionário. Expliquei a natureza intensa e confusa de meus sentimentos sobre James Potter. Expliquei como não quero me casar com este conhecido; pelo menos, não tendo o Sir Potter na cabeça assim. Perguntei se ele achava que eu estava enlouquecendo, por ser tão incisiva sobre meus sentimentos relacionados há um homem que eu conhecia há apenas algumas horas. Perguntei se ele acreditava em amor à primeira vista e em outras vidas, pois poderia jurar que conhecia Potter.

Padre Lupin foi honesto. Vi sua batalha interna sobre como me responder e o que fazer. Penso que sua amizade com Potter pode ter ganhado. Ele me disse que eu não estava louca, que ele pensa ser possível ter sentimentos tão fortes e certos sobre alguém que você acabou de conhecer. Disse que amor à primeira vista, de acordo com relatos recentemente ouvidos, podia muito bem ser real. Preferiu se abster em relação à outras vidas dizendo que seria excomungado se respondesse o que pensava, mas quem somos nós para saber o que Deus faz?

Por fim, quando eu estava saindo, quebrando todo decoro, o Padre Remus me chamou pelo nome. Parecia imensamente angustiado. Com esforço, disse que era muito amigo de Potter e, se necessário, ajudaria-me. Não entendi ao certo com o quê, mas a angústia em meu coração disse-me que eu precisaria de toda ajuda necessária.

A este ponto, só não sei para quê. 

Não quero que amanhã chegue; não quero ir à frente com esse noivado que tanto machuca meu coração. Entretanto, com espanto por tamanha rapidez e intensidade, percebo que meu coração dói mais ainda por essa incerteza em relação à Potter. Por Deus, isso ainda vai me matar.


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