Adrien não tinha para onde ir, também não tinha como chegar.  

Não conseguia parar de pensar em todos aqueles que abandonara para começar essa busca sem rumo. Sua Lady, sua família, seus amigos, Plagg... Ele queria voltar, porém sabia que não podia.  

Se o fizesse, teria que enfrentar seu pai. Além disso, ele sabia que Ladybug ficaria melhor sem ele. Quase todas as vezes ele causava problemas para a amada por ser pego por um akumatizado. Não queria dar trabalho para sua Lady, agora que sabiam a identidade de Hawkmoth ele hesitaria sempre. 

Não tinha muito dinheiro com ele, nem o miraculous. Não conseguiria ir muito longe assim. Na verdade, não conseguiria nem dar um passo, seu rosto famoso já estava atraindo multidões. Ele pensou em pedir ajuda, para Marinette talvez. Ela já o ajudara a fugir da multidão de fãs antes. Todavia, se encontrasse alguém de quem gostava tanto como Marinette, ele duvidava que conseguiria continuar com a ideia da fuga. 

Era noite e o comércio estava para fechar. Talvez, se entrasse de fininho em alguma loja, pudesse passar a noite protegido tanto dos fãs quanto do frio. Conseguiu pegar os últimos minutos de uma loja de fantasias e não podia ter sido mais útil. 

Ele conferiu a carteira, torcendo para que tivesse algum dinheiro para disfarces. Pensou em guardar alguma coisa para passagem de trem, entretanto sabia que não tinha o suficiente para sair da cidade. Portanto, usou o pouco dinheiro que tinha consigo para comprar acessórios para esconder quem era. Não podia espalhar a notícia de seu paradeiro. 

Ficou um tempo testando diferente combinações de perucas com lentes coloridas e óculos sem grau. Finalmente achou algo que tornaria impossível que o reconhecessem, agora era torcer para que pudesse ir longe com aquilo. Ele precisava de documentos falsos se quisesse ir longe e não fazia ideia de onde conseguir isso. 

Enquanto se encolhia para dormir na rua, pensava em como viver o dia seguinte. Pensava em caminhar o máximo que conseguisse até dar fome, depois poderia tentar trocar algo que tivesse consigo por alimento. Sabia que sua roupa valia um bom dinheiro. Sabia também que elas estariam sujas e o seu desespero faria os vendedores darem pouco por ela. Mas mesmo que ganhasse só um pacote de bolacha ele tentaria fazer durar. 

Na verdade, ele acabou não comprando comida. Precisava de dinheiro para uma passagem de trem. Precisava de um emprego. Por um momento ele pensou em todas as coisas que sabia fazer, poderia ganhar algum dinheiro com quase todas, porém não imediatamente... 

Finalmente ele fez o que já viu muitos fazerem, pegou todo o dinheiro que conseguiu na venda e pediu uma carona. Não tinha um destino certo, só queria ir o mais longe possível daquele lugar e daquelas joias. Não queria lutar contra o pai e não queria ser um fardo para sua Lady. 

Seguia num carro por um certo tempo, depois descia e esperava que outro o aceitasse. Mas teve enfim o azar de pegar carona com alguém que conhecia. Não alguém que pudesse convencê-lo a ficar, já que mal falava com ele, mas alguém que com certeza tentaria.  

Ou ele esperava que tentasse. Era provável que estivesse feliz com sua desistência, que escolhesse outro para ficar com seu anel que todos fossem mais felizes sem ele. Era por isso estava indo, afinal. Faria toda a situação mais feliz. 

Como ele esperava, Mestre Fu, ao contrário de todos os outros motoristas reconheceu-o: 

—Sabe que ela sente saudades, não é? 

—Duvido muito, ela não gostava de mim tanto assim. Aposto que ficou feliz em se ver livre do peso morto que me tornei. - disse triste 

—Também acho que você merece um descanso, Chat Noir. - Adrien engoliu em seco ao perceber que o Guardião ainda o considerava tal –Afinal, é realmente complicado enfrentar a família. Me avise quando voltar. - a confiança do Mestre quanto a sua volta o fez suar frio  

—Eu não vou voltar! Não posso enfrentar meu pai! - disse em desespero, como se o que ouvia já estivesse realizado 

—Tudo bem, então. Me diga para onde quer ir. - parecia que o Guardião já se preparava para o seu retorno 

—Você vai me levar até lá? - Adrien foi firme em sua decisão 

—Vim aqui só para isso, Chat Noir. - disse rindo baixo 

—Então me leve para Toulouse, por favor. - respondeu depois de pensar 

—São muitas horas de viagem, o que quer fazer lá? - ele estranhou 

—Tem uma orquestra lá. 

—E pensa superar Bertrand Chamayou? 

—Ele é um amigo da família, espero que posso me ajudar. - ele engoliu em seco, já tinha vontade de voltar 

—Só para que saiba, não é só ela que sente sua falta, Plagg também. 

Adrien fazia um esforço enorme para fingir que os laços afetivos que tinha com todos eles eram insignificantes. Precisava chegar em Toulouse e pedir ajuda a Bertrand. Começaria uma nova vida, onde ele não seria manipulado e nem falharia. 

Depois de duas horas de viagem em silêncio, para angústia de Adrien, Mestre Fu finalmente parou: 

—Não posso ir mais longe do que Blois. Ela precisa de mim também. Tome um pouco d’água e coma algo. Acho que aqui tem o suficiente para sustentar-lhe por um dia. - Adrien se despediu do Mestre e agradeceu a ajuda -Até breve, Chat Noir. - o garoto simplesmente ignorou essa frase 

Ao saltar do carro e ver o Mestre Fu ir para longe de sua visão, ele reparou em um anúncio. Vendo aquilo, percebeu que ir à Toulouse seria loucura. Não é como se realmente Betrand pudesse ajudá-lo a entrar na orquestra. Aquilo foi uma ideia louca de seu espírito sonhador. Ficar em Blois era realista, apesar de menos glorioso. 

Logo quando desceu, viu que havia um cartaz de alguém chamado Gilles Decca pedindo por aulas de chinês para o filho. Ele sorriu, pensava que era o destino avisando que ele estava no lugar certo. Foi correndo ao endereço, sorrindo. 

—Sim? - o homem que atendeu a porta devia ser o Gilles 

—Eu vim me candidatar ao cargo de professor de chinês. - ele tentou soar como alguém que tivesse um diploma de letras no bolso 

—É sério?! - o homem perguntou depois de esfregar os olhos, surpreso –Aquele anúncio já está na rua há uns 5 anos e ninguém aparece. - ele não parava de sorrir –Qual é seu nome? 

—Sou... - ele parou para pensar, não poderia dizer seu nome de verdade depois de se esforçar para encontrar um disfarce –Jacques Dipanda. Prazer em conhecer. - ele estendeu a mão, logo se cumprimentaram –Por que deseja aprender chinês, ainda mais com essa vontade sobre a escassez de professores? 

—Ah, não sou eu. É o meu filho. A mãe dele era chinesa e ao morrer deixou-lhe um livro de herança. O livro está na família dela há muitas décadas e sempre trouxe sorte para a casa. Mas eu sou francês, não sei ler chinês. Minha amada Inês morreu cedo demais para ensiná-lo. 

—E onde está o menino? - perguntou Adrien, absorvendo a história curiosa 

—Marcelo! - o pai chamou-o 

Quando o garoto apareceu, Adrien sentiu seu coração parar. Ele era igual a sua Lady. Por um momento pensou que pudesse estar vendo coisas, mas era verdade. Eles podiam ser parentes. Pensou, por um momento que ali era uma pista para identidade de sua Lady, mas quanto a isso ele tinha certeza de estar errado. 

O menino e Ladybug eram muito parecidos, mas não eram parentes. Por mais que fosse possível, ele simplesmente sabia. Marcelo era um enviado de Mestre Fu para que lembrasse sempre se sua Lady. Ele podia sentir o sorriso do Guardião em suas costas. Só conheceria a família de sua Lady se voltasse, e isso ele não podia fazer. 

Mesmo assim, devia agradecer à ele, que o levou até ali. Afinal acabou em um lugar onde teria utilidade graças a Mestre Fu.