Mudança de Passarela escrita por VFarias


Capítulo 15
Você... Fica.




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Narrativa – Colin.

— Mas senhora Carolina, detenção? Foi só um acidente! – disse Pietro todo suplicante.

— Mas isso vai custar muito, e vocês precisam ser punidos. – disse ela. – Quem sabe esta milésima detenção faça você aprender. E é bom que saiba que com suas notas baixas e seu péssimo comportamento eu estou por um triz de ter que te expulsar do colégio. E pelo que sei, o local que você trabalha supervisiona essas questões também, então imagino que vá perder o emprego também.

Caralho a situação do Pietro esta tão ruim assim? Ele pode ser um imbecil e tudo mais, mas não imagino a “AL” sem ele.

Ele esta com a cabeça baixa e seu semblante esta fechado, podia inclusive jurar que os olhos dele estavam marejados.

— Pode acreditar Dona Carolina, eu vou melhorar. – disse Pietro, sem olhar para ela.

— Siga o exemplo do Colin, aja como ele, ele esta em uma direção pela primeira vez. Colin pode te ensinar muito. – disse ela.

Que raiva, isso sempre foi algo que me irritou, as pessoas ficarem comparando Pietro comigo, seja como Colin, seja o Colin, estude como ele, faça mais como ele.

Porra ninguém conseguia entender que ele é ele e eu sou eu. Mesmo ele sendo um idiota, não tem nada a ver querer muda-lo para se parecer comigo.

— Bom podem ir para a detenção. – disse a diretora.

— Tudo bem. – respondo.

Saímos da sala.

— Cara onde fica a detenção? – pergunto a Pietro, afinal eu realmente não sabia.

Ele não me respondeu, acredito que ele nem mesmo tenha me ouvido e simplesmente saiu andando, bom ele iria para a detenção igual a mim, então eu só segui ele.

A biblioteca, eles davam as detenções na biblioteca, isso devia parecer óbvio, afinal a maioria dos alunos odiava ler e odiava aquele ambiente.

Vi Pietro indo a recepção e dizendo a mulher que estava de detenção, ela entregou um papel para ele e ele assinou, logo em seguida fiz a mesma coisa, e então notei que aquilo era só uma lista de chamada.

— Pode se sentar nas mesas com cadeiras amarelas. – disse a mulher da recepção.

Segui para lá.

Pietro estava sentado em uma mesa sozinho com as mãos apoiando na cabeça, olho ao redor e vejo que ninguém ali esta estudando, como deveria ser a tarefa da detenção.

Peguei meu material na mochila e comecei a estudar porem ninguém naquela sala esta colaborando, então guardei minhas coisas, afinal se todo mundo estava no celular, ou conversando porque eu estudaria? Não era exatamente esta a questão eu estava apenas cansado mesmo e por isso não queria estudar. Mas na verdade nem todo mundo, Pietro estava deprimido no fundo da sala, olhando para o nada.

Ele não parecia muito bem, na realidade ele não parecia nada bem.

Será que eu deveria ir lá e ver como ele estava? Muito provável que se eu fosse não receberia nenhuma resposta e se recebesse seria um grito de SAI DAQUI.

Mas como não estou fazendo nada mesmo, e gosto de ser rejeitado eu vou lá, afinal se ele me expulsar não será novidade alguma, uma grosseria a mais ou menos do Pietro não faz a menor diferença. Não nesta altura do campeonato.

Eu me aproximo dele e ele continua do mesmo jeito, cabeça apoiada nas mãos olhando para frente, calado, e de cara triste.

— O que esta havendo com você? – pergunto a ele.

Instantaneamente Pietro vira o rosto me ignorando.

— Ou relaxa, eu não vou arrancar sua perna não. – digo a ele. – me diz o que esta acontecendo com você?

— Não é da sua conta!

— A para, você esta parecendo uma mocinha toda magoada.

Pietro se vira para mim, pelo olhar sanguinário dele pude perceber que ele não gostou do “mocinha”. É fantástico irritar ele, santo Mickey.

— Socar a sua cara, não faria diferença para mim. – disse ele. – já estou na merda mesmo.

— Calma Pietro, olha aqui minha bandeira branca. – digo erguendo uma folha de papel.

— Sai fora urubu. – diz ele virando o rosto novamente.

— Pietro, fala sério. – mudo meu semblante para o cara sério. – me diz o que esta acontecendo com você?

— Cara só sai de perto de mim, vai para o outro lado da sala. – disse ele.

— Beleza. – digo e sai em direção ao outro lado.

— Espera ai. – diz ele.

Olha só Pietro querendo eu por perto, e ele nem esta bêbado isso é um milagre.

— Na verdade... – disse ele. – Vai embora mesmo.

— Afinal de contas você quer que eu fique ou vá embora? – pergunto, porra que garoto mais confuso.

— Você... Fica. – diz ele com dificuldade.

Surpreendente!

— Não pense que a gente vai ficar de conversinha e tudo isso. – Diz ele. – eu só preciso conversar agora.

— Tudo bem cara, vamos lá. – digo concordando. – agora me diz o que esta acontecendo com você, você não é assim.

— To com medo deste ultimo ano no colégio. – diz ele suspirando.

— Mano isso é normal, todo mundo fica preocupado com o ultimo ano, mas no final sempre da tudo certo. – digo a ele.

— Federal nenhuma vai me aceitar mesmo que eu passe no vestibular, coisa que eu acho difícil de conseguir. – diz ele sem animo. – afinal eu não sou tão bom quanto você, não sou tão inteligente quanto você e nem nada do tipo quanto a você.

Claro, as comparações de sempre desde a infância contaminaram sua vida, os pais dele sempre fizeram dele um posso de baixa autoestima, não é surpresa que Pietro tenha toda essa pose de arrogante e machão, mas fica todo ofendido por ser chamado de mocinha. Suspiro.

— Cara, vamos começar com o básico, primeiro, para de se comparar a mim, já basta todo mundo que sempre fez isso, você não precisa fazer isso também. Você vai passar numa federal e vai provar para todo mundo que consegue isso sendo você. – tento confortar ele, embora isso pareça papo de alguém que só quer que fazer alguém se sentir melhor, mas na realidade eu acreditava mesmo disso.

— Mas é assim que todos querem que eu seja. – diz ele.

— E desde quando Pietro Rossi faz algo só porque as pessoas querem? – questiono a ele. – Você sempre fez o que quis e agora é hora de fazer novamente, mas também é hora de fazer o que é melhor para você.

— Eu não quero uma federal na realidade. – desabafa ele.

— Não? – pergunto surpreso.

— Não, eu só falei aquilo para impressionar os meus pais, eu quero qualquer lugar que me aceite, seja publica ou privada. – me responde ele.

— Você não tem que impressionar ninguém a não ser a si mesmo. – digo. – como eu disse antes, você só precisa fazer o que acha melhor para si.

— Acho que eu não sei o que é melhor para mim então... – diz ele olhando para a mesa como se ela fosse lhe dar alguma resposta a uma pergunta silenciosa. – eu estou todo fodido, e o ano já esta acabando, não da mais tempo de recuperar.

— Cara você quer a ajuda? – pergunto.

— Ajuda? – perguntou ele pasmo.

— É cara ajuda... – respondo – a gente estuda as mesmas mateiras e queremos a mesma faculdade posso te ajudar a estudar até o final das aulas.

Passo inconscientemente a mão no braço dele e o sinto estremecer com o meu toque, e eu não entendi, será que ele tomou um susto ou foi outra coisa, sei lá não entendo este garoto.

Sim eu já estava dando aulas para ele, mas era por obrigação que ele as fazia se ele aceitasse a ajuda tudo ficaria mais fácil até mesmo para ele porque assim ele conseguiria entender melhor as coisas, prestar mais atenção.

— E então posso te ajudar? – pergunto novamente.

Ele olha para a minha mão e pisca algumas vezes, em seguida ele fecha a cara novamente.

— Não precisa me ajudar. – diz ele removendo a minha mãe de seu braço.

— Tu tem certeza disso? – pergunto. – para mim não tem problema algum em fazer isso.

— Absoluta. – diz ele. – Esse momento de conversa chegou ao fim. Pode sair fora.

Tentei falar de novo, mas ele me olhou seriamente e eu entendi que era melhor sair de perto antes que aquilo virasse uma briga novamente.


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