Contos - Aventuras Mágicas escrita por Saaimee


Capítulo 4
Cola e curativo


Notas iniciais do capítulo

Tema: Quebrar coisas.
Dupla: Nikki e Rudra.

Boa Leitura!



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Outro dia...

Começou com um empurrão no ombro, depois o olhar pidonho que deixava claro o que queria e, agora, os dois rapazes corriam pela casa rindo e rosnando um para o outro.

Nikki e Rudra tinham sido deixados sozinhos em casa quando Mike saiu para ajudar Pehleq e Kazuaki foi até o salão buscar temperos para um remédio. Qualquer um se entediaria facilmente em uma casa que não tem muito o que fazer, mas esses dois não. Isso porque sendo lobos qualquer detalhe fora do comum já era o suficiente para atiçar seus instintos.

Estaria tudo bem se estivessem brincando no quarto em sua forma canina, porém, ao invés disso, havia dois homens de 1,80 cm correndo pela casa se debatendo, se empurrando e se mordendo.

Brincavam como filhotes por todos os cômodos. Ora rosnando, ora rolando no chão, mas sempre rindo. Estavam se divertindo como nunca, entretanto era óbvio que esses sorrisos não durariam muito.

Tinham chegado na sala onde lutavam entre os móveis quando Nikki empurrou Rudra o fazendo pisar em um brinquedo no chão. Como estava descalço a dor foi quase instantânea o fazendo soltar um gemido abafado antes de pular para trás.

Sua reação foi brusca o suficiente para bater as costas em uma estante de vasos decorados e com o impacto causou barulhos que prenderam a respiração dos dois antes de objetos inevitavelmente começarem a cair.

Foi um vaso da segunda prateleira que Rudra pegou, outro da primeira à direita que Nikki se jogou no chão para agarrar e outro da esquerda que foi recebido em pedaços no chão.

O som do objeto quebrando era quase como se fosse seus próprios corações e o terror foi instantâneo fazendo seus olhos arregalarem e seus rostos se contorcerem. Isso porque aquele objeto pertencia à Kazuaki, o irmão mais velho da casa, que tomava cuidado e amava suas decorações.

Em pânico guardaram os que tinham salvo da queda e se aproximaram dos pedaços mordendo a ponta dos dedos.

— Ele vai matar a gente. – Rudra falou com os olhos quase saltando para fora.

— Não... – Respondeu sem nem acreditar em si mesmo. — Não vai matar.

— Mas e se ele perder o controle quando ver?

— Não! Rudra, ele não é assim.

Ambos falavam rápido acompanhando a velocidade que as possibilidades tomavam conta de suas mentes sem conseguir parar de se encarar. Toda a preocupação era por causa da fera que vivia dentro de Kazuaki e que corria o risco de sair quando a fúria o pressionava. Eles nunca tinham visto essa criatura, mas tinham provas de que existia e não era amigável.

Era claro que Kazuaki não iria se enfurecer por algo assim, na verdade, ficaria preocupado no caso de terem se machucado, porém nesse momento suas cabeças não conseguiam pensar no óbvio quando o arrependimento os cegava.

— A gente tem que consertar isso. – Nikki comentou se agachando e olhando de perto as dezenas de partes no tapete.

— E como que faz isso?

— Eu não sei!

Rudra até pensou em se ajoelhar perto dele e ajudar de alguma forma, contudo vozes no fundo o parou fazendo Nikki também se levantar.

Seus ouvidos sensíveis captaram não muito distante dali o tom preguiçoso e gentil muito conhecido que vinha em suas direções elevando o nível de seu desespero.

Nem se deram tempo de pensar e simplesmente correram para a janela tendo certeza de que era Kazuaki se aproximando da casa contente com o saco de temperos na mão.

— Se a gente pedir desculpas ele não vai ficar bravo.

— Isso aqui não é igual quando a gente se morde. – Nikki falou alto chamando os olhos tristonhos do outro. — É o vaso dele!

— Então o que a gente faz?! – Nenhum dos dois tinha respostas e nada do que pensavam fazia sentido no momento. — Se a gente começar a chorar ele vai perdoar.

— Isso é diferente.

— Funciona com o Pehleq.

— Eu sei, mas e se o Kazuaki ficar triste?

— De ver a gente chorando?

— Também, mas tô falando do vaso.

— Ah...

Ao perceberem essa possibilidade o sentimento que os assombrava em pânico se foi dando lugar somente ao peso da culpa. Eles olharam de novo o rapaz quase na porta e decidiram consertar tudo sozinhos.

— Consegue distrair ele, Nikki?

— Por quanto tempo?

— Ah... um pouquinho. – Ele se virou olhando para os lados procurando por algo. — Eu vou falar com a Miyumi, pedir pra ela vir aqui chamar ele.

— Tá.

— Eles saem e a gente conserta.

— Tá.

— Tá.

Acenando com a cabeça um para o outro, Rudra se afastou indo em direção aquilo que tanto procurava. Rápido e cauteloso como o animal quando foge do predador ele seguiu para o quarto no fundo por onde saiu pela janela deixando Nikki pensando no que poderia fazer.

— Cheguei. – Foi quase no tempo perfeito que a voz de Kazuaki chamou na porta fazendo o jovem na sala pular preocupado. — Vocês estão aqui?

— Kazuaki! – Ele ainda não tinha planejado nada, mas tinha certeza que deveria correr para a cozinha e fazer de tudo para o mais velho não sair dali.

• • •

Nikki ainda estava falando sobre tudo o que vinha na sua cabeça para prender a atenção de Kazuaki quando a mulher chegou chamando pelo nome do rapaz na porta. Os dois seguiram para a entrada recebendo os cumprimentos empolgados e ouvindo inventar as desculpas mais convincentes que somente Nikki conseguiu entender.

Levou algum tempo, mas conseguiram convencer o mais velho a sair para ajudá-la em algo que nem fazia sentido antes das ideias de Nikki acabarem. O rapaz só conseguiu respirar normalmente de novo quando viu os dois partindo para longe dali e pode voltar para a sala pensando no que faria.

Seus olhos estavam ocupados analisando os cacos quando Rudra voltou pelo mesmo caminho por onde tinha saído fazendo o outro se voltar para ele enfurecido.

— Você falou que era um pouquinho, mas levou muito tempo!

— Eu tive que explicar o que aconteceu pra ela.

— Eu já não sabia mais o que falar. – Irritado confessou vendo o outro o fitar com um olhar que pedia desculpas. — Tá...

— E agora?

— Ah, olha. – Sabiam que não tinham tempo para brigar por bobagens então deixando as reclamações de lado Nikki correu para a cozinha deixando o outro o esperando curioso atrás. — Eu perguntei pro Kazuaki o que usar pra consertar uma coisa quebrada.

— Ele não desconfiou?

— Falei que o Pehleq tinha perguntado.

— Ah, tá.

— Daí ele falou – com calma voltou com um pote desconhecido na mão — pra usar essa cola.

Era um pote comum que podia ser facilmente confundido com um daqueles que se coloca as ervas do chá, mas era mais pesado do que aqueles que se guarda biscoitos.

Os dois observaram e até chacoalharam antes de cuidadosamente colocar no chão ao lado dos cacos. Essa era a primeira vez que mexiam nisso e não tinham ideia do que fazer. Entretanto isso não os impediu de sentar lado a lado e começar o serviço.

Antes de matar a curiosidade e abrir o pote eles separaram os cacos na tentativa de entender o vaso que existiu ali. Colocaram as peças maiores longe das menores e ignoraram os pequenos fragmentos deixados sobre o tapete.

Entre um toque e outro Nikki soltou um resmungo que assustou Rudra.

— O que foi?

— Cortou. – Respondeu mostrando a ponta do dedo acumulando a gota de sangue.

Ele viu o ferimento e com cuidado se aproximou o lambendo como normalmente fazia com suas feridas, depois saiu rapidamente se guiando até o banheiro. O machucado não doía tanto, na verdade era só um risco sobre sua pele, porém se ficasse a mostra daquela forma sem dúvidas acabaria atrapalhando o processo.

Não demorou nem cinco minutos para Rudra estar de volta segurando algo nas mãos. Nikki já até imaginava o que era quando o viu se sentar ao seu lado pedindo para mostrar o dedo.

Com cuidado o rapaz esticou o curativo e tão desajeitado quanto concentrado o colocou sobre o machucado enquanto mordia os lábios. Assim que terminou eles observaram o band-aid ao redor do dedo pensando quase a mesma coisa.

— Não tá igual quando o Kazuaki coloca. – Rudra disse incomodado com o jeito torto que tinha ficado.

— Não... Mas tá bom também.

Concordando voltaram rapidamente ao trabalho finalizando de vez a separação das peças. Agora era hora de abrir o pote de cola.

Foi quase automático que os dois esticassem os pescoços colocando as cabeças próximas a entrada assim que tiraram a tampa loucos em curiosidade.

Seus olhos procuravam entender o que era aquele conteúdo branco enquanto suas narinas faziam uma checagem completa em seu cheiro. Não faziam ideia do que era aquilo, mas também não tinham medo de tentar descobrir.

Rudra foi o primeiro a colocar o dedo no liquido tão rapidamente que acabou tornando o toque um simples cutucão. Ao notarem que não houve reação alguma ele continuou mais uma vez, agora, indo mais fundo e pegando a substancia em seu dedo.

A sensação era estranhamente gelada e parecia mais pesada do que ele esperava. Nikki o assistiu aproximar o dedo do rosto sentindo o cheiro mais uma vez antes de levar o liquido à boca e tocar na língua. A reação foi instantânea mostrando uma expressão amarga esquisita.

— É ruim?

— É!

— Por que você colocou na boca? O cheiro já tava estranho.

— Tem um monte de coisa que tem cheiro estranho, mas o gosto é bom. – Nikki não discordou, mas também não quis provar daquela coisa. — Ah, tá preso na minha língua!

— Vai beber água!

Depois de matarem as curiosidades puderam, mais uma vez, voltar ao trabalho. Não tinham notado que toda essa bagunça estava consumindo mais tempo deles do que deveria, entretanto estavam fazendo seu melhor para levar a sério cada detalhe.

Foi aí que começou a parte difícil: colar as peças. Ambos faziam as mesmas coisas pegando os pedaços e, com o liquido nos dedos, os colavam um no outro do melhor jeito que podiam. Claro que isso acabou os levando a cortar os dedos algumas vezes fazendo a caixa de band-aids ser esvaziada rapidamente. Sem falar nas vezes que se esqueciam do melado nos dedos e passavam as mãos nos cabelos volumosos grudando seus fios. Ou quando coçavam os rostos fazendo sua pele levemente endurecer.

Chegaram a perder alguns pedaços no meio do caminho quando se mexiam demais e acabavam os colando na roupa e nos cotovelos sem nem perceberem.

O tempo todo eles não faziam ideia do que estavam fazendo e, nesse ponto, já tinham se esquecido de como o vaso se parecia. Porém nem mesmo esses limites foram capazes de os fazer parar. Pensar no quão triste o irmão ficaria se visse os cacos era suficiente para os motivar a continuar tentando.

Demoram, mas conseguiram terminar parcialmente a reforma. No final, o vaso era praticamente outro com tantos buracos e imagens sem sentido. Os dois, entretanto, nem conseguiram apreciar o resultado direito por conta do cansaço e acabaram dormindo antes de guardar tudo.

Kazuaki voltou pouco depois disso os encontrando descabelados dormindo um em cima do outro no meio da sala. A cena seria algo comum, porém ao ver os curativos fez seus olhos se arregalaram e seu corpo correr até eles.

Seu instinto o fez observar cada canto fazendo o máximo para não acorda-los. Até porque se estivessem feridos era melhor os deixar descansar. Porém sua preocupação foi embora assim que tocou no cabelo de um deles sentindo os fios estranhamente colado.

Foi isso que o levou a olhar ao redor encontrando o pote de cola e o que era para ser um vaso bem lado. Ele não conseguiu entender logo de primeira, mas depois tudo foi se encaixando.

O motivo de Miyumi aparecer ali, a conversa sobre vasos que tiveram enquanto caminhavam e a insistência de Nikki por saber onde a cola estava.

Suspirando aliviado ele deixou seu corpo relaxar se sentando ao lado deles rindo da situação e com cuidado se aproximou olhando o trabalho deles com calma. O vaso de antes não existia mais, porém agora o novo objeto carregava sentimentos que só poderia ser encontrado ali. Essa seria sua nova relíquia.

Ele tentou pegar o objeto para tirar dali antes que eles batessem agitados em sonhos, mas ao primeiro toque parou quando alguns cacos se soltaram.

— Opa... – se afastando olhou melhor vendo a cola ainda molhada pelas beiradas. — Melhor esperar.

Observando seus rostos pacíficos suspirou, contente por saber o quanto os dois se preocupavam com ele. Suas mãos pousaram sobre a cabeça deles e carinhosamente esfregou os dedos por entre os cabelos emaranhados.

— Obrigado.

Sussurrou com um sorriso puro e se levantando continuou o serviço deles arrumando a bagunça como sempre fazia enquanto os dois estavam longe dali em seus sonhos caninos.

— Fim. III


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Notas finais do capítulo

Não comam cola.

Aa, eu falei isso antes e vou falar de novo: eu amo escrever sobre os irmãos lobos!
De verdade, eles são muito fofos e engraçados de trabalhar. Acho que por ter que manter esses instintos canino bobo e inocente eles acabam sempre parecendo um bando de crianças ♥
Espero que tenha gostado tanto quanto eu e amanhã tem mais!



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