Contos - Aventuras Mágicas escrita por Saaimee


Capítulo 26
Time : Nós


Notas iniciais do capítulo

Tema: Esportes.
Dupla: Anô, Foxy, Flicka, Clannera, Hendrik, Gael, Galis, Raphael e Satsuke.

Boa Leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/779412/chapter/26

Outro dia...

Seus pés lentamente se arrastaram para fora do banheiro enquanto, ainda bocejando, coçava os olhos tentando afastar o resto de sono que teimava em amolecer seu corpo. Os passos calmos fazendo sons contra o chão liso de madeira não pretendia acordar ninguém, mas denunciava sua aproximação em busca da pessoa que provavelmente já estava zanzando por ali.

Flicka tinha acabado de chegar a entrada da cozinha quando foi recebida por Clannera em seu vestido azul que balançava como uma cortina ao vento e com o cabelo coral preso em um longo rabo de cavalo fazendo sua imagem parecer ainda mais viva.

Ela ouviu o “bom dia” ser dito calorosamente, mas não conseguiu responder de imediato. Seus olhos estavam presos na visão delicada do rosto rosado que sorria para ela se perguntando como conseguia ser tão linda logo cedo.

A mulher a assistiu colocar os últimos pratos dentro do armário e andar pelo local com movimentos tão suaves quanto alegres. Era comum vê-la assim, mas hoje parecia ainda mais animada lembrando Flicka qual era o motivo.

Durante a semana toda a vila tinha se ajudado para organizar um evento de esporte com todos os moradores. Falaram sobre disputas com água, corridas, obstáculos e até lutas em um ringue improvisado. A ideia principal era só se divertir, mas acabaram adicionando uma entrega de prêmios para um incentivo maior àqueles desanimados.

Flicka e Clannera também participariam no mesmo time de uma competição que envolvia pular obstáculos, arremessar objetos e correr em time com bastão. Não era nada grandioso e nem parecia ser algo para se importar, porém ainda estava ajudando a deixar a mais jovem contente.

— Eu já terminei tudo por aqui então depois que a gente comer podemos sair. – Clannera explicou se sentando a mesa e lembrando a outra aonde estavam.

— Ok.

— Eu vou daqui pra a casa do Raphael primeiro.

— Vão todos se encontrar no campo? – Se sentando ao seu lado questionou a vendo assentir enquanto pegava o café. — Então eu vou direto pra lá.

Ela claramente não se importava em vencer ou perder, mas já que estaria com a amiga queria se esforçar ao máximo para trazer o prêmio ao time e um sorriso ainda maior para seu rosto.

— Eu espero que dê tudo certo.

Seu tom baixo estava carregado de esperança e sua face tinha olhos tão brilhante quanto o sol. Flicka a observou e por instante foi contagiada sentindo o coração se agitar dando o empurrão ideal para que quisesse fazer desse dia o mais perfeito.

• • •

Depois de terminarem de se arrumar, saíram de casa e juntas caminharam até metade do caminho onde se dividiram. Flicka foi para a direita rumo ao campo de treinamento enquanto Clannera seguiu para a esquerda buscando pela casa do parceiro de time.

Passando por criaturas que arrumavam decorações ou ajudavam a terminar de construir estruturas, a mais jovem caminhou até chegar a enorme casa que se destacava na vila toda. Era estranho que apesar de todos se conhecerem por ali, aquele local ainda conseguia ser intimidador o suficiente para qualquer um que tentasse se aproximar. Não por parecer assustador, mas por emitir tanto poder que deixava os outros fragilizados.

Para a sorte dela, assim que se aproximou das escadas pôde ver o rapaz fechando a porta pronto para sair vestindo uma roupa leve de treino incomum para a imagem casual que sempre carregava.

Clannera nem precisou chama-lo para que ele a visse e rapidamente descesse os degraus indo ao seu encontro com uma toalha no ombro.

— E aí, tudo pronto já? – Falou a cumprimentando com um curto sorriso.

— Meio que sim. A Fli quer treinar mais um pouco enquanto o campo está livre então se você quiser acompanhar...

— Pode ser.

— A gente só precisa buscar o Galis.

— Ah... – a expressão cansada veio acompanhada de um riso nervoso. — Então tomara que o Gael venha junto.

Por mais que Clannera quisesse dizer que estava tudo bem, ela sabia que o grupo não tinha o mínimo jeito para lidar com as dificuldades do rapaz. Na verdade, somente Gael sabia cuidar do irmão, porém dessa vez sua ajuda seria limitada já que ele estava no time adversário.

Foi com essas dúvidas e entre algumas conversas rápidas que chegaram a casa do membro que faltava. E foi só se aproximarem para verem a bagunça que ocorria na entrada.

Ali estavam Anô e o grupo adversário formado por Hendrik, Satsuke e Foxy que pareciam aguardar pacientemente por Gael preso aos braços de Galis tentando o convencer a solta-lo.

— Galis, você também precisar ir com seu grupo depois.

— Mas eu não quero! Não quero ficar longe de você. Não quero lutar contra você! – Agarrado ao pulso do menor, Galis gritava seriamente com uma expressão que dizia estar sofrendo.

Aquela não era uma situação de vida ou morte, era só um jogo, mas na cabeça do rapaz ficar sem um dos irmãos significava ficar sozinho em um mundo que ele não conhecia. Gael entendia essa dificuldade e sabia que não poderia o convencer do contrário facilmente.

Quando o chamaram para participar ele até pensou em recusar para poder cuidar do mais velho, porém, por alguma razão boba, achou que talvez essa fosse a oportunidade certa para que o irmão conseguisse se divertir com outras criaturas. Mas agora sabia que tinha cometido um erro quando viu o grupo observando a cena e pensou que isso iria prejudicar a todos.

Um suspiro escapou enquanto ele se aproximava do irmão para afagar o topo da cabeça. Galis aliviou a força nos braços ao sentir seu toque gentil, mas ainda não o soltou.

— A gente só vai brincar, Galis. Vamos nos divertir. – Falou com calma apesar do olhar cansado. — E eu vou estar do seu lado o tempo todo.

— Mas eu tenho que ir contra!

— É...

Gael não sabia como convence-lo sem mentir e odiava isso. Sempre que as coisas complicavam ele precisava inventar estórias fantasiosas para conseguir algum espaço e poder respirar, porém isso só o fazia se sentir mal. Ele queria fazer diferente, mas se o rapaz não poderia colaborar então seria necessário fazer isso mais uma vez.

— Escuta. – Antes que Gael pudesse falar, a voz de Anô no meio do grupo os chamou. — Vocês só estão indo treinar, não é?

— É.

— Então vão todos juntos. Depois a gente vê o que faz na competição.

A ideia não era a mais correta já que Gael podia imaginar que teriam que passar por isso de novo mais tarde, porém, nesse momento, era melhor do que mentir.

— Ok. Vamos juntos, Galis. – A frase veio acompanhada de sorrisos que fez o maior solta-lo mostrando os dentes contentes. Era bom vê-lo feliz.

Clannera e Raphael tinham chegado no meio da discussão e preferiram esperar até tudo se acalmar para poderem se aproximar falando que também tinham o plano de treinar e se estivesse tudo bem poderiam ir todos para o campo encontrar a guerreira.

Com tudo decidido eles partiram prontos para mais algumas horas de exercícios pesados.

• • •

Foi depois de horas correndo, pulando, se provocando e tirando Galis de cima do Gael, que os grupos finalmente estavam prontos para começar as disputas.

A comemoração deu início com o anúncio de onde cada atividade ocorreria explicando que todos poderiam participar de tudo mesmo sem time, porém aqueles que estavam competindo deveriam usar o espaço primeiro. Também passaram alguns minutos explicando sobre os cuidados que deveriam tomar e avisando sobre a área de primeiros socorros caso algum acidente ocorresse ou alguém não controlasse a força no ringue.

Assim que foram liberados para se divertir, todos começaram a se juntar em grupos seguindo para seus locais escolhidos. Como seriam várias competições acontecendo ao mesmo tempo, foi necessário separar alguns dos moradores para serem os juízes das áreas. No caso do time de Flicka contra Hendrik, o juiz escolhido foi Anô.

 

Estavam todos aquecidos e alongados quando a largada foi dada deixando que os participantes iniciassem suas batalhas. A primeira coisa que fizeram foi passar pelos arremessos de objetos onde Raphael e Satsuke disputaram pela vitória. Foram minutos arremessando pedras pesadas junto de gritos raivosos e doloridos para no final Satsuke sair com a melhor.

Depois, seguiram para a corrida de obstáculos onde Clannera e Foxy dispararam com graciosidade pulando placas e cercas altas colocadas em seu caminho. Flicka passou o tempo todo ao lado da pista torcendo furiosamente em silêncio pela vitória da jovem, porém, dessa vez, foi Foxy quem levou os pontos.

Por último, antes do grande final, a batalha no cabo de guerra entre Gael e Flicka foi acompanhada dos gritos animados de Galis torcendo pelo irmão no time adversário. Gael até tentou encarar a ruiva, porém foi em vão. Apesar de ser um tigre pesado, ela estava determinada a fazer o dia de Clannera o melhor possível e nada, nem ninguém, a impediria.

No final, Anô declarou a diferença de um ponto entre os times deixando claro que a última fase da competição ainda poderia mudar o resultado dando esperança ao time de Hendrik e aumentando a tensão no time de Flicka. A corrida de bastão valeria 2 pontos, o suficiente para salva-los ou condena-los nesse momento.

— Certo... Já descansaram? – Ao lado da pista Anô questionou vendo Foxy com Raphael ofegantes terminando de beber sua água.

— Pode dar a largada já, eu sei que meu time vai vencer. – Rindo, o rapaz provocou vendo a outra o encarar revirando os olhos.

— Quem ganhou a corrida fui eu então... Não vai se achando.

Os dois estavam agitados, mas nada do que falavam era levado a sério. Em suas mãos bastões de madeira pintados em vermelho e azul estavam firmemente agarrados enquanto aguardavam a ordem de largada. Seus olhos confiantes fitavam seriamente suas frentes vendo Clannera e Satsuke metros à frente que teriam de correr e passar a Gael e Galis para, por fim, entregar a Flicka e Hendrik que finalizariam a corrida.

Os dois no início sabiam que conseguiram fazer seus papéis, entretanto ver os outros à frente os deixava preocupado de todas as formas possíveis. Afinal, Galis poderia atrapalhar tudo ou ajudar pelo menos um dos times.

A largada foi dada e em questão de segundos os dois partiram em disparada sem ver nada ao redor.

Na maior velocidade que podiam, seguiram em frente com o braço esticado até alcançarem juntos as duas que, segurando firme o objeto, correram sem olhar para trás. Raphael rapidamente se jogou no chão sentando na pista enquanto retomava o folego as vendo partir.

As duas não trocaram uma única palavra e determinadas correram até chegar aos dois aguardando na frente. Gael não olhava para o lado porque sabia que Galis estava o fitando esperando que lhe dissesse algo. Doía saber que essa atitude talvez deixasse seu irmão infeliz, mas precisava fazer isso dessa vez.

Satsuke conseguiu ser mais rápida e em um avanço de três passos entregou o bastão a Gael que correu ignorando o chamado do irmão. Galis pensou em correr atrás dele, mas o grito de Clannera pedindo para esperar o segurou.

Assim que conseguiu o objeto ele correu desesperado para alcançar Gael. Não era essa sua intenção, mas ter saído na frente incentivou o mais velho a seguir a corrida. Entretanto sua velocidade desajeitada o atrapalhou e em poucos passos acabou tropeçando no próprio pé sendo levado ao chão.

O som da queda foi alto e os suspiros surpresos que acompanharam fizeram Gael se virar automaticamente para trás. Ele viu o rapaz caído se ajeitando para sentar na pista de terra com uma expressão dolorida no rosto. Viu o ralado no joelho e o movimento de mãos que tentava se consolar.

Gael sabia que aquilo não era nada, só um arranhão, então se virou para frente com a intenção de continuar, mas não conseguiu se mover. Ele viu Hendrik alguns metros a sua frente e sabia que poderiam ganhar, entretanto ao invés de andar ele sussurrou “desculpa” e voltou para trás procurando ajudar o maior a se levantar.

Os dois na frente assistiram à cena vendo a dificuldade do rapaz em apoiar o maior em seus ombros e ao invés de ficarem irritados apenas aguardaram.

— É para isso que estamos aqui. – Vendo a demora no andar deles, Hendrik comentou olhando tanto a dupla quanto os outros ao redor da pista os assistindo. — Acho que a corrida é melhor do que o prêmio. Temos que aproveitar.

Seu sorriso calmo fez Flicka o olhar por um instante. Não era sobre aquele festival que falava, era sobre tudo. Todos os dias tinham que sair em batalhas, todos os dias tinham que lidar com pesadelos, mas sempre faziam isso juntos.

Viver ali ou em qualquer lugar não era somente sobre lutar e alcançar o objetivo, mas também aproveitar enquanto ainda tinham alguém para voltar, para compartilhar seus momentos.

Seu rosto rapidamente se virou para a pista encontrando Clannera na mesma posição onde parou gritando com todo seu coração para incentiva-los a continuar. Ela era seu motivo para correr e a parada que importava mais do que o prêmio. Sem notar, sorriu.

Os dois estavam mais perto dando tempo para Hendrik se virar fitando a linha de chegada distante incentivando a mulher a fazer o mesmo.

— Hoje vencemos juntos. – Ela não respondeu, mas o olhar contente em seu rosto deixava claro que concordava com o plano.

A dupla chegou e devagar entregou o bastão juntos vendo os dois dispararem como linces em fuga.

 

No final, foi o time de Flicka quem venceu, mas depois de tudo o que passaram decidiram que o prêmio de biscoitos seria dividido com todos, até mesmo Anô que aceitou apenas para ficar ao lado deles.

O dia só estava começando e as várias competições já abriam vagas para novas brincadeiras. O espirito da competição não tinha abandonado seus corpos, na verdade estava ainda mais vivo, porém conhecia os limites e tinha compaixão para ajudar os outros.

Gael e Galis rapidamente se despediram partindo em busca de aventuras enquanto Anô junto de Hendrik resolveram procurar por Klaus e Hisashi que deveriam estar brigando em algum lugar. Foxy não tinha planos, mas ver Satsuke disponível ao seu lado deu ideias para diversões que poderiam aprontar, já Raphael não tinha dúvidas do que faria e rapidamente seguiu para seu encontro com Sigmo.

Flicka os observou partindo notando o olhar alegre de Clannera ao seu lado. A mulher não tinha qualquer plano para depois dessa competição e também não sabia se a outra esperava fazer algo.

Seus olhos curiosos a assistiram de perto se perguntando se tudo o que tinham feito até agora tinha sido o suficiente. Queria saber se sua manhã tinha sido boa como gostaria que fosse e se sua presença tinha feito qualquer diferença.

— O que foi?

A voz calma e gentil a chamou fazendo notar que estava a encarando por tanto tempo em meio a dúvidas que nem notou quando se virou.

— Nada.

— Ah...

A expressão aliviada veio acompanhada de um sorriso que logo mudou a direção olhando as criaturas andando de um lado a outro conversando. Flicka a fitou mais um pouco sem nem perceber os dedos nervosos em sua mão coçando com vontade de chama-la. Havia algo que queria dizer, era óbvio, mas ela não fazia ideia do que era e por isso apenas ficou ali, calada.

— Você vai fazer algo? – Clannera perguntou a vendo acenar negativamente. — Então... a gente pode ficar juntas mais um pouco...? – A pergunta soava contente em meio a falta de jeito e as bochechas avermelhadas. A maior apenas observou vendo seu corpo delicado se mover agitado com vergonha fazendo seu coração pular. — Mas se você não qui-

— Eu quero. – Respondeu rápido como se estivesse com medo que desistisse e quando viu os olhos grandes surpresos a encarando, desviou o olhar sentindo as bochechas queimando.

Clannera sorriu e com calma assentiu se aproximando dela para seguirem um caminho qualquer enquanto apertavam as próprias mãos tão envergonhadas quanto felizes.

—Fim. XXV


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aqui chego ao final desse longo projeto de 7 meses o/
Eu quis terminar com esse capítulo exatamente porque mostra que esses personagens são isso: amizade. Então quando escrevi essa parte pensei que seria o jeito perfeito de mostrar como eles realmente lidam um com o outro, como fraqueza se torna força quando estão juntos e como podem encontrar motivos para sorrir independente das batalhas que precisam enfrentar todos os dias.
A intenção era dar um final de esperança e aqui está :D

Tecnicamente falando, achei que o capítulo ficou muito curto. Foquei demais em passar a mensagem e não aproveitei o momento entre eles, não aprofundei a relação na escrita, porém eu tenho um motivo pra isso! Dos personagens que estão aqui, a metade deles não fala direito com os outros então, assim, ficou meio complicado dar dialogo ^^” Aí optei por focar em um ponto só.

Agora sobre o projeto todo.
Durante as revisões pude ver que muitas coisas podiam ser melhores do que ficaram e outras achei que ficaram ideais (nada fora do comum quando se cria algo). Tive várias decepções durante todo o processo e algumas achei que nem ia superar, mas, no final de tudo, fiquei contente por ter passado por cada experiência e grata por saber que consegui passar meus sentimentos.
Foram 7 meses de altos e baixos então mesmo que haja insatisfações, ainda existe muita coisa boa que me faz pensar que passaria por tudo isso de novo sem nem questionar :D Pra mim, o resultado aqui é 100% de aprendizado e amor. Só isso já me deixa feliz :)

Pra quem acompanhou até aqui, obrigada ♥ e pra pessoa maravilhosa que é motivo disso ter começado, feliz aniversário ♥

Bom... Até a próxima.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Contos - Aventuras Mágicas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.