Contos - Aventuras Mágicas escrita por Saaimee


Capítulo 15
Hoje não vai ser ruim


Notas iniciais do capítulo

Tema: Ferimento.
Dupla: Ashley e Kazuaki.

Boa Leitura!



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Outro dia...

— Foi só um arranhão.

— Não foi. – Suas mãos gentilmente seguravam a panturrilha olhando de perto os cortes abertos molhados por sangue que não escorria. — As unhas rasgaram fundo aqui.

Ele não estava errado e ela não era teimosa o suficiente para negar o óbvio, por isso ficou em silêncio o observando tomar tempo para analisar cada centímetro do ferimento.

Tudo aconteceu poucos muitos atrás quando Ashley e Kazuaki estavam colhendo frutas para ajudar em uma celebração na vila e foram surpreendidos por uma criatura raivosa cega pelo desejo de sangue. Em situações normais nenhum dos dois seria pego tão facilmente, porém, dessa vez, tinham deixado a guarda baixa quando se entregaram para a diversão que suas companhias trazia e não notaram quando a fera chegou.

Ambos foram rápidos em contra atacar empurrando o monstro para longe da colheita isolando a batalha em uma área onde ninguém seria ferido. Levou alguns minutos para entender seus movimentos e poder tomar controle da situação. Entretanto nem isso foi o suficiente para evitar que se machucassem.

Foi em um momento de descuido que Ashley avançou sendo pega pelas pernas nas garras da criatura antes que Kazuaki pudesse acertar sua lança no inimigo. A jovem foi rapidamente jogada para o alto enquanto o rapaz tentava desesperadamente ajudar, e foi na queda de volta em direção a boca da fera que ela conseguiu a abertura ideal para acertar suas espadas nos enormes olhos rosados que a esperava.

Eles a derrotaram e garantiram a segurança dos outros próximos ao local, entretanto acabaram machucados sendo levados a situação de agora.

— Tem que limpar. – Falando arrastado como sempre, explicou colocando a perna dela com cuidado no chão. — E precisa cobrir também.

— E como fazemos isso?

A jovem sabia que não era impossível arranjar métodos que respondessem sua pergunta mesmo estando no meio da floresta, porém quis saber o que ele diria.

— Tem tudo o que precisa por aqui. – Olhando as árvores que os rodeava respondeu já se levantando. — Espera um pouco.

— Tá, vai lá.

Com acenos e passos acelerados o rapaz se afastou olhando as flores pelo chão, os fungos pelos troncos e as cores das árvores até sumir da vista dela. Ashley sabia que não havia necessidade em se preocupar tanto por uma coisa tão normal como essa, mas também sabia que não tinha como faze-lo parar até ter certeza de que estava bem.

Seus olhos dourados vagaram pelos cantos claros da floresta até finalmente encontrarem sua perna esticada no gramado. A fera era bastante forte e poderia ter quebrado seu osso com facilidade, naquela hora ela teve sorte por ele ter intenções de come-la e não simplesmente matá-la.

Um sorriso surpreso cortou seus lábios vendo o corte em sua calça manchado de vermelho. Se ela fosse um ser humano comum esse ferimento já teria a colocado inconsciente, mas graças a sua natureza animalesca ela podia resistir a muito mais do que só isso. Afinal, não era fácil tirar sangue de um aracnídeo com um único corte.

Apesar de estar contente pela façanha ainda não deixava de pensar no quão fácil foi para aquele monstro os encurralar. Não era normal a jovem ser pega em lutas, mesmo que acontecesse às vezes. Ashley não era uma criatura onipotente e podia ser fraca também, por isso viu a situação não como uma humilhação, mas como outra experiência que iria guardar.

Foi em meio a esses pensamentos que Kazuaki apareceu por entre os arbustos com a barra de sua camisa dobrada formando uma pequena bolsa que parecia cheia de folhas.

Enquanto ele se aproximava ela se ajeitou melhor encostando as costas no tronco se perguntando o que faria com tudo aquilo.

— Eu vou deixar aqui. – Colocando as folhas próximas aos pés dela começou a explicar ainda com a expressão preocupada nos olhos. — Porque eu preciso voltar lá na colheita pra pegar umas ferramentas.

— Fica tranquilo. – Sorriu o fazendo olhar em seu rosto. Foi aí que ele percebeu que era o único que estava agitado com tudo o que aconteceu.

A garota parecia tão tranquila como se estivesse sentada em um banco aproveitando a brisa do lugar. Kazuaki sabia que ela não estava errada em se sentir assim o fazendo suspirar deixando o ar que parecia estar prendendo se libertar de uma vez.

— Tá... Eu já venho.

 

A simples rota dali até o pomar levou mais tempo do que foi calculado o fazendo voltar correndo com a sacola de ferramentas e as duas cestas de frutas que tinham esquecido lá.

Ashley só conseguiu fazer piadas do desespero desnecessário dele enquanto o jovem ajeitava as coisas ao redor deles envergonhado.

— Essa não é a primeira vez que me machuco, Kaz. Relaxa.

— Eu sei... Mas eu não consigo me acostumar com essas coisas. – Respondeu com calma se ajoelhando de frente para ela. Tinha algo no jeito em que falava que a deixou intrigada. — O Rudra e o Nikki aparecem toda hora desse jeito. Às vezes é um corte, outras é uma mordida e outras eles estão tudo ralado. – Suas palavras eram acompanhadas de preocupação e frustração a fazendo sorrir. — Eu sempre cuido deles, mas... Não me acostumo.

Toda a vergonha tinha desaparecido de seu rosto e até mesmo o olhar preocupado não parecia o mesmo. Havia solidão contornando sua face e imagens que somente seus olhos viam. Ashley sabia que aquilo podia ser mais do que somente comentários e por mais pessoal que fosse não queria que ele pensasse nisso sozinho.

— Você tem medo? – Perguntou o fazendo levantar o rosto para olhar o seu que não parecia sério e menos ainda feliz. — De que... Aconteça algo pior?

Por instantes ele ficou em silêncio deixando os sons da floresta acalmarem seus medos antes de poder dizer algo.

— Tenho medo de algo mais fundo que isso possa acontecer e eu não conseguir parar. – Sua voz normalmente passava uma sensação feliz e muitas vezes preguiçosa, porém dessa vez havia uma seriedade incomum.

Era de conhecimento de todos na vila que havia algo perigoso dentro de Kazuaki, algo que ele se esforçava em esconder, mas mesmo que já soubessem eles não estavam acostumados a falar desse assunto.

— Mas – retomando a fala suspirou — por enquanto eu só tento fazer o que eu posso. E ajudar. – Sorriu um sorriso pacifico afastando sua própria dor daquela conversa. Ashley acabou sorrindo de volta assentindo. Todos ali tinham pesadelos e por mais dolorosos que fossem ainda davam um jeito de passar por eles.

Terminando de ajeitar os materiais ele entregou uma garrafa de água a ela enquanto observava o estado em que o ferimento estava sem o tocar. Não havia muita diferença da hora em que ela se sentou ali até esse momento, o que era bom, assim não daria muito trabalho para fecha-lo.

— Ah... – seus olhos castanhos pareciam incertos sobre o que fazer chamando a atenção dela.

— O que foi?

— Eu preciso tirar o pano de cima, mas aí vou precisar rasgar sua calça. – A expressão tristonha dele a fez rir.

— Vai ser só mais um rasgo pra coleção. Pode ficar à vontade.

— Ah... Tá bom...

Suas mãos delicadamente pousaram sobre a perna dela e com ainda mais cuidado seus dedos adentraram o rasgo afastando o pano do ferimento antes de puxar com um único movimento abrindo o espaço que precisava.

Ashley sabia que ele era forte, mas ainda assim não disfarçou o olhar impressionado ao vê-lo arrebentar o jeans resistente sem se esforçar. Sua aparência gentil facilmente escondia essa força bestial.

Depois disso Kazuaki seguiu limpando o sangue com a água da outra garrafa causando pequenos movimento de reflexo no corpo dela. Em seguida partiu para a tigela de argila amassando as folhas frescas que tinha encontrando misturando suas cores e odores em um remédio que estava acostumado a fazer.

O rapaz trabalhando fez Ashley pensar em como ele era diferente de Yuzuke que tratava todos como uma mãe faria. Kazuaki sempre foi mais do tipo irmão que aconselha e te dá tapas quando não o ouve. O pensamento a fez sorrir enquanto o assistia passar com cuidado a substancia cremosa ao redor do ferimento.

— Tudo aquilo foi perigoso. – Começou a falar interrompendo a cantoria dos pássaros sobre eles. — Atacar uma fera daquelas sem nenhum plano.

— Eu sei. E podia ter sido bem pior.

— É... Mas você luta bem. Tem muita força.

— Obrigada. – O comentário dele veio acompanhado de um sorriso amigável. Podia ser somente um elogio ou palavras para afastar o silêncio, mas Ashley sabia que aquelas palavras disfarçavam um sentimento de inferioridade. — E... você foi rápido em escolher essas plantas também. – Falou o vendo levantar a cabeça encontrando seu olhar convencido. — Ia ser difícil pra mim fazer isso sozinha. – A jovem era astuta em pegar seus pontos de solidão até quando ele mesmo não percebia que estava se mostrando. Seu olhar surpreso se tornou gentil ao sorrir para a esperteza dela.

— Que bom que a gente tava junto então.

— Pois é.

Depois de colocar todo o remédio para ajudar a secar e acelerar o processo de fechamento Kazuaki amarrou toda a extensão do ferimento com folhas largas para evitar que mais bactérias entrassem. É claro que ele também fez questão de escolher essas folhas também. Era um tipo que aliviariam a dor exalando uma substância leve sobre a pele dela.

Com cuidado a ajudou a se levantar vendo que a jovem era forte o suficiente para conseguir ficar de pé sem precisar de seu apoio.

— Você consegue andar? – Apesar de ver seu bom estado, o caminho de volta era longo e a última coisa que queria era faze-la se esforçar.

— Sim, nem vai doer tanto.

— Tá... Mas eu posso te ajudar se precisar?

— O que? Vai me carregar? – Falou brincando enquanto dava pequenos passos para frente vendo o quanto conseguia se mover.

— Vou. – Sua resposta foi rápida e séria a fazendo parar e sorrir.

— Ah, então me leva nas suas costas.

— Quer mesmo?

— Claro.

Sem qualquer protesto ou pergunta ele se virou agachando a sua frente seriamente enquanto ela contente se aproximou agarrando-se as suas costas e apoiando a cabeça em seu ombro. Apesar da garota ser um pouco maior que ele os dois ainda conseguiram se ajeitar na posição perfeitamente. Antes de começar a andar ele ainda perguntou várias vezes se estava tudo bem enquanto pegava as cestas no chão.

Kazuaki estava acostumado a carregar crianças da vila quando morava com sua família, mas essa era a primeira vez que carregava alguém como Ashley. O mesmo servia para ela que dificilmente acabava em circunstancias que precisava de ajuda. A situação era estranha para ambos, mas ainda assim acabaram dando os primeiros passos entre risos.

Era normal se ferir em batalhas. Normal perder membros e até não conseguir voltar para casa. Cada um conhecia o próprio limite, os medos e do que era capaz quando estava em campo. Entravam para proteger outros, mas acabavam podendo somente cuidar de si mesmos. Já eram acostumados e nem mesmo reclamavam, porém sempre se lembravam da dor quando tudo acabava. Hoje, entretanto, ela não precisou passar por isso.

Nas costas dele sentia seu calor e o privilégio de ser acolhida. Ele a lembrou mais uma vez que nem tudo precisava acabar mal todos os dias.

Por entre a floresta seguiram seu rumo enquanto a jovem olhava para o céu contando a ele a forma que as muitas nuvens fazia sobre eles o fazendo sorrir.

—Fim. XIV


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Notas finais do capítulo

Existem personagens que me movem a escrever capítulos tão longos que preciso me lembrar de colocar um final e, da mesma forma, existem personagens que com poucas palavras passam estória suficiente. É o caso desses dois.
Eu gosto muito da Ashley e o Kaz é um dos filhos que mais amo fazer sorrir. Então poder juntar os dois nesse capítulo me fez querer aproximar ainda mais a relação deles e passar essa sensação boa de uma conversa simples de amigos.
Espero que tenha gostado e nós vemos amanhã ^^



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