Contos - Aventuras Mágicas escrita por Saaimee


Capítulo 12
Temos o que merecemos


Notas iniciais do capítulo

Tema: Encontro.
Dupla: Courtney e Tobias.

Boa Leitura!



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Outro dia...

Pela vila seus pés acelerados caminhavam enquanto em seu rosto a mesma expressão desleixada se mostrava para quem quer que o olhasse. O rapaz parecia ser o de sempre: descontraído, cheio de palavras charmosas e com as roupas sem cuidado de quem ficava o dia todo perambulando pelo local sem fazer nada, entretanto a forma como evitava parar para falar com qualquer um deixava claro que estava com presa em resolver algo.

Seus pés só foram se acalmar quando ele finalmente alcançou a porta da grande casa onde algumas garotas moravam. Sem formalidades ou cuidado, bateu olhando ao redor da vila por distração.

Não demorou até que a passagem fosse aberta revelando a alta guerreira de cabelos ruivos olhando confusa para a entrada. Sua expressão calma mudou assim que viu o rosto sorridente do abissal.

— E aí, Fli? Como vai a pessoa qu-

Antes que pudesse terminar de falar mais uma de suas frases maliciosas, a mulher bateu a porta ignorando sua presença. Porém isso não foi o suficiente para impedi-lo de continuar batendo enquanto gritava pelo nome dela fazendo escândalo suficiente para irrita-la.

A porta se abriu novamente, porém dessa vez foi a arqueira Courtney quem apareceu com as sobrancelhas levantadas e um sorriso de canto encontrando o rapaz já se encolhendo com medo de levar o tão esperado soco.

Assim que viu os longos cabelos da loira no canto de sua visão ele ajeitou a postura como se nada daquilo tivesse acontecido voltando a mostrar seu sorriso mais charmoso.

— A pessoa que eu queria ver.

— Você disse isso para a Fli também, né? – Cruzando os braços questionou ainda sorrindo.

— Não. – Balançou a cabeça rindo antes de passar a mão pela franja a jogando para trás com charme. — Ela nem me deixou terminar de falar. – A mulher riu da situação patética que já estava acostumada a vê-lo sem entender o porquê continuava sorrindo mesmo depois de ser ignorado.

— Então? O que quer? Se veio aqui pra me fazer perder tempo-

— Não... Na verdade – o sorriso dele ainda estava ali, porém as palavras soaram tão cansadas quanto arrependidas chamando o olhar dela — eu preciso de ajuda.

Courtney não era a pessoa mais altruísta que existia naquela vila e sempre que apareciam problemas não era atrás dela que os outros corriam. Ela era conhecida por sempre estar fazendo bagunça nas festas, pelas bebidas e por seu corpo avantajado então receber esse tipo de pedido certamente era incomum. Ainda mais vindo do rapaz.

Tobias era conhecido por não se importar com nada e viver sua vida procurando garotas para sair e até quem nunca falou com ele sabia que não era a companhia mais responsável por ali.

Por isso quando o ouviu dizer que precisava de ajuda ela deixou que sua curiosidade a guiasse para saber mais do problema.

Ainda parado em frente à casa dela, ele contou, como se não fosse nada, o momento em que saiu da vila ontem e como passou a noite toda andando de bar em bar, cidade em cidade, conhecendo novas garotas e jogando todo seu charme em busca de prazer. Essa parte da conversa Courtney não prestou muito atenção, sabia que ele deveria ter exagerado para parecer interessante.

Depois finalmente chegou na parte que interessava. Explicou que encontrou uma jovem tão linda quanto a arqueira e que parecia estar sozinha naquela festa que ele entrou sem ser convidado. Falou como a consolou e fez sorrir antes de poder se aproximar. E por fim contou que o momento que deveria ter sido somente prazer não aconteceu e agora estava com um encontro marcado para um jantar essa noite.

— E o que que tem de mais nisso?

— Compromisso, Courtney. – Suspirou passando a mão pela nuca. — Sabe quanto tempo faz que eu não saio para jantar com alguém?

— Você já fez isso?

— Claro que sim! Uma ou duas vezes, mas fiz.

— 27 anos e nunca prestou para fazer esse mínimo. – Riu se apoiando no batente o assistindo dar de ombros sorrindo. — Mas o que você quer que eu faça?

— Eu sei lá... Ela tem cara de quem vai me levar para esses lugares que custam dinheiro.

— Lugares que você passa longe. – Comentou o vendo assentir sem qualquer vergonha. — Por que não desiste? Ninguém tá te obrigando a ir.

— Eu sei... Pensei nisso, mas... – mordendo os lábios suspirou antes de olhar para a arqueira novamente. — Não sou do tipo que deixa oportunidades assim passar, sabe? – Explicou dando uma olhada óbvia para os seios da loira que entendeu o que ele dizia.

— Ela tem tudo isso?

— Tem.

— E te deu moral?

— Aham.

— É... Nesse caso, é melhor não perder a chance. Pode ser sua única.

— Eu vim aqui pra pedir ajuda, não ser humilhado.

O comentário a fez rir enquanto ele balançava a cabeça parecendo se divertir com a conversa. Nenhum dos dois era símbolo de lealdade ou romantismo e, talvez, fosse isso que os fez ficar tão próximos. Ambos se conheciam bem o suficiente para que ainda continuassem juntos sem dar importância para as brincadeiras que faziam.

No final, a loira resolveu ajuda-lo sem prometer nada, até porque ela sabia como resolver a situação, mas na hora do encontro isso iria depender dele.

Sem discussões eles partiram para a casa do abissal onde ela já estava acostumada a passar quando o encontrava na varanda bebendo pelas noites vazias, mas dificilmente tinha entrado ali. Hoje seria a primeira vez que realmente passaria algumas horas no quarto dele. E ela realmente não se importava com isso.

A casa tinha poucos cômodos e assim que passou pela porta foi recebida pelo quarto com duas camas afastadas. Atrás da parede a esquerda estava a cozinha e à direita o banheiro. Era um local pequeno, mas confortável o suficiente para um casal morar.

A jovem chegou já se sentando na cama bagunçada dele olhando a falta de decoração e a limpeza pelo cômodo. Era mais ou menos isso que ela esperava dele, talvez um pouco mais amontoado em porcarias, mas chegava perto de sua visão.

Ele tinha terminado de trancar a porta quando se virou e a viu relaxada em sua cama.

— Eu te fiz esperar muito?

— Você começa com essa palhaçada e a única coisa que vou te dar vai ser um olho roxo pra encontrar com a garota. – Ele riu se esticando enquanto ela ainda olhava o quarto. — Então, se você está indo para um jantar é bom começar por suas roupas.

— Claro...

— Você tem algo decente?

A pergunta veio seguida de um olhar convencido que já prévia a resposta do rapaz. Ele, entretanto, apenas se moveu dali em direção ao armário mostrando as peças folgadas que estavam guardadas.

Eram regatas, camisetas, jeans e couro na maior parte dos itens — as vestimentas diárias que Courtney estava acostumada a vê-lo usando. Uma personalidade sem compromisso e que também significava que não tinha nada que o ajudaria esta noite.

— Nenhum terno?

— Eu até tinha um aqui, mas acabei vendendo. – Respondeu dobrando as roupas de volta no armário. — Precisava de dinheiro pra comprar uns presentes.

— E precisava vender?

— Era mais fácil do que fazer missão. – Explicou sorrindo como se tivesse orgulho de sua atitude a fazendo balançar a cabeça pensando que isso também era muito a cara dele. — Mas eu tenho um na casa da minha mãe, em caso de emergência.

— Não me diga.

— É sério. Minha mãe comprou uma vez pra datas importantes. – Explicou mostrando um sorriso cheio de saudades. — Acho que usei uma... Duas vezes.

O jeito como falava era diferente do normal, até fazia parecer que era outra pessoa. A loira notou e fitando seu rosto pacifico se perguntou como ele deveria ser quando morava com a mulher.

— Mas eu não posso ir lá em casa agora e pegar o terno desse jeito. Minha mãe vai me matar se souber o motivo.

— Aposto que sim, mas não precisa se preocupar. Acho que sei o que fazer com você.

Sem dar tempo de perguntar ela se levantou saindo da casa o deixando ali com uma expressão confusa enquanto ainda guardava as roupas.

Não demorou muito para a arqueira voltar com algumas peças pretas nos braços adentrando a casa e vendo o rapaz deitado na cama sonolento. Ele a assistiu se aproximar jogando as roupas sobre ele antes de explicar o que estava acontecendo.

Courtney tinha ido até a casa de Fuyuki porque sabia que como o rapaz morava com Isabelly deveria ter pelo menos umas duas ou três peças guardadas no armário e vendo pela estatura dos dois, Fuyuki era a pessoa que mais se aproximava do corpo de Tobias, apesar de ser maior em altura.

— Eu peguei emprestado então faça o favor de não estragar nenhum.

Ele ainda estava olhando quando ela ordenou se sentando na cama. O abissal realmente não gostava desse tipo de roupa, mas não teve outra opção se não concordar com o plano. Com cuidado juntou as vestimentas indo até o banheiro se perguntando por onde deveria começar.

Minutos depois saiu do local mostrando uma expressão incomodada enquanto olhava para o próprio corpo.

— Pareço muito idiota?

— Nada fora do normal. – Respondeu vendo os panos vestirem bem o corpo esguio do rapaz notando também a diferença de ares que poderia enganar quem não o conhecia. — Mas não ficou ruim, só acho que ficaria melhor no Fuyuki.

— Ah...

Suspirando voltou para dentro em busca da nova peça e novamente saiu, porém dessa vez muito mais confiante.

— E agora? Ninguém vai me resistir! – Comentou sorridente a fazendo revirar os olhos.

Esse tinha ficado um pouco melhor que o anterior, mas ela preferiu não dizer nada e esperar para ver o que aconteceria quando colocasse o último.

Logo, saiu novamente e como esperado esse tinha se encaixado perfeitamente. Era o terno mais antigo do garoto e apesar de ficar um pouco curto nele, em Tobias encaixou perfeitamente ajudando a exibir seus músculos.

— Eu serei seu pedaço de céu esta noite. – Comentou com uma piscadela em direção a loira que ignorou.

— Se continuar falando essas coisas, a menina vai desistir de você nos primeiros cinco minutos.

Depois dos longos minutos entrando e saindo do banheiro eles finalmente terminaram com as roupas e Tobias pôde respirar se jogando na cama exausto. Courtney ainda estava ali quando ele se deitou e com cuidado tentou se aproximar deitando sua cabeça no colo dela, porém sua tentativa foi impedida pela empurrão em sua cabeça o fazendo desistir se jogando nos travesseiros rindo.

— Diz, – começou a falar se virando para ver o rosto cansado dele — você só vai sair com ela porque é bonita?

— É.

— E tá valendo todo esse esforço?

— Olha, se eu conseguir levar ela pra um quarto no final da noite então sim, vai valer a pena. – A explicação a fez rir vendo a simplicidade no plano.

— Você contou isso pra Miyu?

— Não... Quando cheguei fui direto falar com você.

— Ah... – Olhando ao redor ela viu a cama da garota arrumada enquanto assentia. — E cadê ela?

— Treino.

— Achei que fazia isso à tarde.

— E faz, mas de manhã é algo mais pessoal.

— Hm...

Courtney continuou olhando o cômodo ouvindo as palavras dele e percebeu que o sorriso de antes não estava mais ali enquanto falava e sua voz soava séria como quase nunca. Não conseguiu entender o motivo para isso, mas também não quis adentrar mais fundo.

Passaram mais um tempo ali em silêncio, ele estava cansado por não ter dormido ainda e ela só queria aproveitar a calmaria do local.

A arqueira ainda o ajudou com algumas dicas de comportamento diante da garota e como deveria tentar impressiona-la sem se esforçar demais. Tobias tinha que aproveitar o momento para mostrar que entendia do que estava falando e não se passar de idiota fingindo fazer parte daquele ambiente.

Depois disso a jovem voltou para casa o deixando dormir por algumas horas antes de começar a correr para fazer todos os esforços daquela manhã valerem a pena.

Antes de partir para o encontro ele ainda passou na casa dela para mostrar que tinha aprendido sua lição. Entretanto não recebeu elogios, apenas piadas e concelhos para não falhar em tudo.

• • •

Já era tarde da noite quando o rapaz voltava para casa com o casaco jogado sobre o ombro e a gravata desfeita no peitoral. Parecia extremamente cansado e que mal podia esperar para encontrar sua cama. Porém assim que se aproximou de casa e viu sobre a luz do poste a loira sentada em sua escada seu cansaço foi embora deixando somente a surpresa antes de sorrisos contentes.

— Eu sabia que ela ia te chutar. – Comentou rindo antes de oferecer uma das garrafas de álcool ao vê-lo se aproximar para sentar ao seu lado colocando o casaco no balcão de madeira.

O jovem não tinha o que dizer, ela estava certa, porém ainda fez um esforço ao contar como a noite foi cheia de mal entendidos e comidas de qualidade.

— Então ela só te convidou porque achou que poderia ser um amigo na hora que estivesse mal? – Questionou o vendo assentir tomando um gole do liquido gelado. — Você deve ter sido muito gentil quando foi consolar ela.

— Ela parecia uma garota inocente, sabe? Daquelas que precisa ir com calma antes de avançar?

— Sei... – concordou ouvindo o suspiro derrotado. — Você teve o que mereceu.

— Obrigado...

O ar fracassado dele era até engraçado de ver porque não parecia triste só irritado consigo mesmo.

— Me diz, por que você não sai com a Miyumi ao invés de ficar passando essas vergonhas?

A pergunta soou risonha o fazendo balançar a cabeça, entretanto a resposta não veio logo em seguida. Demorou um tempo para tomar um suspiro antes de começar a falar olhando para as árvores solitárias da vila.

— Sabe aquela pessoa que você sabe que tem que ficar longe? Não porque ela é ruim, mas porquê... te atrai demais?

— O que?! – Courtney não tinha certeza se entendia o que ele estava dizendo, mas sua reação o fez se virar mostrando a resposta para suas dúvidas. — Mentira que você gosta dela.

— Não é isso...

— Nossa...

— Fala baixo! – Sussurrou olhando para trás vendo as luzes apagadas da casa. — Acontece que a gente passa muito tempo junto e falamos de tudo... E eu gosto de dividir esse espaço com ela. – Comentou baixo sendo encarado pelo olhar interessado da outra. — E tem todo esse limite de não poder me aproximar dela que me faz querer tentar chegar perto. Mas não é como se eu realmente gostasse dela, mas também... Se eu tocar, não vai ter volta.

Ela não esperava ouvir isso. Mesmo pela manhã quando sentiu algo estranho essa possibilidade não tinha passado por sua mente. O silêncio foi eminente, mas não constrangedor, ele já esperava que se falasse isso iria desencadear algo assim.

— Que isso... – a loira começou impressionada com a declaração. — Tobias apaixonado.

— Até parece. – Riu balançando a cabeça antes de se virar incrédulo para ela. — E que reação é essa? Você tinha que ficar com ciúmes!

— Ah, me poupe. – Balançando a cabeça respondeu antes de se virar para ele. — Mas você não quer ficar com ela?

— Não. Somos amigos e eu gosto assim. – Tomou mais um gole antes de continuar a falar calmo como antes. — Sabe que eu não presto pra esse tipo de coisa, né? Tá bom desse jeito.

— Ah... entendi. – Ela tinha suas semelhanças com ele e apesar de não entender seus motivos para isso, podia compreender o que significava se estivesse no lugar dele. — Um brinde a essa vida de solteiro largado.

— Oh. – Levantando a garrafa sorriu como sempre. — E que ela nunca acabe!

O som dos vidros se tocando ecoaram ao redor deles trazendo junto a esse momento uma promessa de alegria que não tinham certeza se poderiam alcançar.

— Mas olha, eu me arrumei todo pra nada. – Depois de beber deixou de lado a garrafa se virando para sussurrar em seu tom mais sensual próximo a ela. — Você não quer me ajudar a tirar isso aqui e fazer nosso esforço ser útil.

— Não. – Tomando um gole respondeu rápido antes de se virar o afastando. — E não esquece de lavar a roupa do Fuyuki antes de devolver. Não quero ele com seu cheiro.

— Ah, eu sei.

Não havia mais nada a acrescentar naquela conversa. Courtney sabia que ele não iria mudar de ideia e ela não era a melhor pessoa para dar concelhos amorosos. Eram assim por natureza, gostavam de estar sozinhos e ajeitavam as coisas quando precisavam de afeto, mas nem por isso seus corações eram vazios.

O restante da noite eles preferiram rir de bobagens e fazer planos para o final de semana enquanto ainda tinham algo para beber. Não falaram de amores que não podiam cuidar e menos ainda receios que não sabiam encarar. Apenas ficaram ali, lado a lado, se lembrando do agora e das presenças que importavam em suas vidas.

—Fim. XI


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Notas finais do capítulo

Você quer saber se esse cap. me deixou extremamente feliz? Então eu te digo que sim. SIM MDS MUITO FELIZ!
Eu gosto dos dois demais por motivos diferentes e iguais. Gosto dessa liberdade deles e como não permitem que a solidão os assombre, como são felizes sem precisar ter alguém do lado para dizer isso e como nunca querem provar nada. Eles são feitos de amor próprio e, mesmo que tenham problemas, nunca se abalam.
Sim, eu tô grata por ter escolhido essa dupla pra um cap. :D E espero que você também tenha gostado de ver um pouquinho da relação amável deles ♥
Obrigada por ler e amanhã tem mais!



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