Contos - Aventuras Mágicas escrita por Saaimee


Capítulo 11
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Notas iniciais do capítulo

Tema: Desejo.
Dupla: Yoshino e Hayato.

Boa leitura!



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Outro dia...

Diante do rapaz uma bola de luz dançava no ar. Seu brilho era tão forte que iluminava a minúscula tenda fechada e pintava tudo o que o jovem via em azul. Diziam que aquilo era uma criatura mística que acompanhava festivais por onde quer que passassem realizando desejos sem impor regras ou pedir algo em troca.

Quando contaram a ele sobre a existência disso sua primeira reação foi rir, afinal, ninguém nesse mundo faz algo de graça. Depois ficou confuso e por fim a curiosidade acabou o levando até ali.

Agora a vendo de perto podia notar os movimentos suaves no ar e o tamanho grande o suficiente para cobrir sua cabeça o espantar. Seus olhos estavam colados a ela sem querer perder nada sentindo a energia ser poderosa o suficiente para preencher seu peito de paz e fazer seu corpo tremer com as possibilidades.

Ele estava paralisado pelo encanto quando viu rapidamente no canto de sua visão uma placa que o fez desviar da luz. Seus olhos correram pelas letras mal escritas que dizia que qualquer coisa seria realizada e, consequentemente, qualquer castigo ou felicidade que o pedido envolvesse seria responsabilidade de quem o pediu. Havia mais um aviso por ali que o fez rir achando ser óbvio demais para dar importância.

— Pode pedir o que quiser, né... – A encarou sem esperar receber uma resposta e antes de seguir com seu plano tomou um longo suspiro em busca de coragem. — Eu... Eu quero que o Hayato e eu... – Parou novamente como se tivesse medo de continuar e então fechando os olhos soltou as palavras de uma só vez. — Quero que o Hayato seja meu amigo de novo.

Levou alguns minutos para os abrir novamente e ver a luz parada a sua frente como se o tempo tivesse se congelado ao seu redor. Por um instante foi assustador. Ele mal respirava antecipando o que aconteceria, entretanto a única coisa que viu foi o brilho retomar sua dança depois de um minuto estático.

O jovem soltou o ar cansado por ter feito aquilo sentindo-se envergonhado por ter dito aquelas palavras tão alto. Com os ombros caídos saiu da tenda tentando aproveitar o resto das comemorações.

• • •

No dia seguinte quando acordou cansado por ter chegado tarde em casa, percebeu que nada havia mudado. Ashley ainda dividia o quarto com ele, Yuzuke continuava com suas manias de limpeza esbanjando sorrisos enquanto Slash o ajudava. A mesma casa pequena com aconchego de família, o mesmo dia fresco de início de primavera e a mesma vida pacata naquela enorme vila.

Durante a manhã ele se questionou várias vezes se deveria procurar por Hayato e ter certeza de que nada tinha acontecido. Entretanto havia tantos sinais claros ao seu redor que fazer isso traria nada além de dor.

Apesar de tantas incertezas ele conseguiu passar sua manhã como de costume realizando as pequenas tarefas que sua mestra o ordenava, discutindo com Ashley e se trancando no quarto fazendo nada.

Estava relaxando lendo algo em sua cama quando ouviu batidas distantes que pareciam vir da porta de entrada. Em seguida ouviu Yuzuke lhe pedindo para atender o fazendo se mover dali despreocupado.

Passou pelo corredor alto coçando a nuca sem se importar com a calça de moletom erguida no joelho ou com a regata amassada. Ao menos se deu o trabalho de arrumar a parte longa do cabelo para esconder melhor as antenas que desciam por seu peitoral. As batidas não eram insistentes, mas continuavam como se alertasse que estava ali esperando o fazendo se apressar um pouco. Sua mão puxou a maçaneta de uma vez sem saber quem esperar àquela hora.

— Que lerdeza!

A voz incomodada o alcançou ao mesmo tempo que seus olhos se arregalaram ao ver as orelhas felpudas no topo da cabeça, a cauda de pelagem castanha tão clara que parecia mel e os olhos dourados o encarando seriamente.

Era Hayato, não havia dúvida, seu coração sabia disso melhor do que ninguém a ponto de se desesperar congelando por alguns segundos.

— Que tá me olhando assim? – Cruzou os braços segurando as pontas da blusa mostrando seu incomodo. — Que foi?

Ele nem sabia o que responder, nem sabia se estava ouvindo direito as perguntas. Seu coração batia dolorosamente quebrando o frio que o cercava na tentativa de acreditar que aquilo realmente estava acontecendo.

Yoshino viu o rosto do felino o encarar com estranheza e imaginou estar fazendo uma expressão exagerada. Automaticamente engoliu seu susto quase engasgando enquanto tentava pensar em algo para falar.

— Hayato?

— Que?

— Por que... veio? – Ele tinha medo da resposta, mas precisava ouvir e ao ver o menor erguendo as mãos vermelhas no ar notou ter dito algo idiota.

— Você esqueceu? A Relliane pediu pra gente ir na cidade pra ela! – Falava incrédulo e até irritado como se aquilo fosse óbvio. — Ela me disse que tinha te avisado.

E ela realmente avisou. Ontem antes de sair com os amigos no festival a mulher comentou sobre essa tarefa, mas Yoshino não se lembrava dela ter mencionado a companhia de Hayato.

— Eu... É que eu pensei que ia sozinho.

— Por que?

— Não sei... – Coçando os olhos balançou a cabeça confuso. Nada estava fazendo sentido e ele parecia ser o único a se sentir assim já que o menor o observava como se aquilo fosse algo que faziam o tempo todo.

Era claro que essa situação era estranha para ele. Os dois tinham rompido a amizade há tempo suficiente para não saberem mais se ainda eram os mesmo. Entretanto o felino estava ali o olhando como se isso nunca tivesse acontecido e por um instante Yoshino sentiu que realmente não tinha acontecido.

O jovem suspirou olhando o rosto do felino mais uma vez finalmente percebendo que isso só podia ser obra de seu pedido bobo da noite passada.

— Você tá esquisito.

— Você é esquisito. – Comentou sorrindo com os olhos brilhantes deixando o menor sem resposta ou vontade de perguntar qual era o problema dele de novo.

— Ah, vamo logo! Se não daqui a pouco ela vem atrás da gente.

— Tá... Espera aí. – Correndo de volta para o corredor ele o deixou ali resmungando mais reclamações.

No quarto colocou os tênis de sempre e a blusa de moletom preta que usava quase diariamente. Estava eufórico com o sorriso estampado nos lábios e o coração acelerado tremendo seu peito. Pensou que essa talvez fosse sua chance de tentar consertar as coisas, pensou também que poderia estragar tudo, mas não pensou nos avisos que as placas da tenda mostraram.

Saindo do quarto ele gritou avisando Yuzuke que ficaria fora e talvez demorasse para voltar. Quando chegou a porta viu o menor encostado na parede entediado como costumava fazer quando moravam juntos na antiga casa.

— Pronto. – Avisou chamando seu olhar.

— Por que quê demorou? Era só colocar a blusa.

— Ah... – riu curto fechando a porta — tava... difícil de achar.

— Hm... Tá, vamo logo.

Lado a lado como há tempos não faziam eles partiram pelos caminhos de areia na direção da saída da vila.

Depois de pegarem tele transporte, eles chegaram bem rápido ao centro de uma cidade movimentada distante da vila. O local não era imenso como nas grandes regiões, mas tinha espaço suficiente para acolher moradias, comércios e principalmente criaturas suspeitas.

Tiveram sorte de sair quase no final da manhã onde o dia estava fresco com nuvens gentis tapando o sol quando o calor começava a aumentar. Os dois tinham uma missão ali e sabiam que não podiam falhar de jeito nenhum, mas também era quase impossível se manterem no caminho com tantas cores, cheiros e descontração ao seu redor.

— Ela falou de umas pedras mágicas... – o felino comentou olhando a volta as várias barracas de comida — tem que tá perto.

Seus olhos correram vendo as casas abertas atrás das tendas onde placas mostravam nomes de produtos e títulos de magia abrindo mais espaço em sua lista de opções de lojas aberta aos clientes.

— A gente devia ver ali atrás. – Falou novamente quando notou o silêncio do outro permanecer.

Essa falta de diálogo e o jeito desligado incomum de Yoshino estava começando a tirar Hayato do sério, por isso assim que notou que não ia dizer nada novamente ele se virou com os olhos semicerrados pronto para apontar algum defeito na abelha.

Seu rosto frustrado encontrou o do outro que surpreendentemente estava o assistindo com uma expressão pacifica de quem não tinha acordado ainda. Porém assim que viu o os olhos dourados de Hayato o encarando de volta ele desfez o sorriso arrumando a postura em direção reto fingindo não ver o felino.

— Por que tá tão lento hoje? Parece que tá dopado.

— Cala boca! Me desliguei um pouco.

— Presta atenção então, porque eu não quero levar bronca por sua causa.

— Até parece. É mais fácil eu levar por causa de você!

Sem nem perceber os dois estavam gritando um com o outro na infantilidade de sempre. Hayato ergueu uma das sobrancelhas mostrando um sorriso de canto enquanto o rapaz ainda o fitava irritado e confuso.

— Acho que agora você acordou. – Riu, seguindo em frente. — Vamo lá.

Yoshino nem teve tempo de responder ou questionar. Tinha sido pego de surpresa por seu sorriso travesso e pela ideia de que talvez o menor estivesse preocupado com ele.

Fazia tanto tempo que não o via, mas não tinha tempo para ficar pensando nisso agora, precisava o alcançar. Com isso em mente se pôs a correr atrás dele para onde quer que fosse o “lá”.

Com algumas dificuldades de locomoção eles chegaram a parte de trás das barracas. Seguiram então calmamente a fileira de casas olhando por suas janelas de produtos expostos sem deixar de olhar as placas no topo que ajudava a localizar onde estavam indo.

Levou algum tempo, mas conseguiram encontrar a casa de itens místicos. Eles ficaram impressionados de demorarem tanto para encontrar já que a fachada se destacava por suas cores escuras em preto e roxo.

Por segundos se entreolharam pensando quase a mesma coisa preocupante de entrarem ali sem um Mestre antes de poderem concordar em seguir.

A parte de dentro não era tão escura quanto esperavam e vendo a entrada notaram que quantidade de produtos era bem maior do que o tamanho da loja parecia suportar.

Havia inúmeros itens mágicos brilhando suas cores por todos os lados soltando pequenas estrelas e poeira nas prateleiras lotadas. Seus olhos subiam e desciam por todos os cantos querendo ver tudo e esquecendo o objetivo de estar ali. Mas foi graças a essa curiosidade que nem precisaram dar dois passos para encontrar as tais pedras expostas no armário quase ao lado da porta.

Yoshino foi o primeiro a avançar pegando algumas nas mãos. Eram pequenos minérios pretos com desenhos de símbolos que ele não entendia brilhando em dourado. Ver os objetos o fez se perguntando para que serviam e o que a mulher estava pensando em fazer.

— Yoshino... – a voz quase sussurrando chamou seu olhar para trás encontrando o menor hesitante lhe entregando um saco de moedas enquanto olhava em pânico os armários próximos deles.

— Que foi...

— Eu acho melhor eu esperar lá fora. – Sua voz estava tão tremula quanto suas mãos estavam apertadas no pano. A atitude era estranha para quem estava reclamando de tudo até alguns minutos atrás, porém a abelha sabia exatamente o motivo disso. Hayato tinha receio de ficar próximo a coisas feitas com vidro por saber que era desastrado ficando com medo de que um único toque seu poderia quebrar tudo e trazer trabalho para os outros. — Você só paga lá e... eu...

— Espera.

O menor já estava indo em direção a porta quando ele chamou o fazendo se virar e sem qualquer controle bater sua cauda em dois vasos na entrada que despencou se estilhaçando por todos os lados.

As bocas de ambos se escancararam ao mesmo tempo que seus corpos congelaram em terror.

— Que... Que aconteceu aí?!

A voz do dono despertou o maior que em desespero procurou pelo rosto do homem o vendo se aproximar rápido pelo corredor.

Ele sabia que se ficassem ali acabariam em uma encrenca sem tamanho então, em um movimento rápido, jogou o saco de moedas no rosto do homem o ouvindo gritar com a dor do impacto e, apesar de se sentir culpado, guardou as pedras no bolso antes de agarrar a manga de Hayato o puxando para fora dali.

Eles correram em disparada por entre a multidão sem olhar para trás até encontrarem uma viela onde se jogaram no chão retomando o fôlego.

Seus corações estavam disparados, não pela corrida que levou minutos, mas pelo desespero de terem colocado o perigo desnecessário em suas costas sendo perseguidos pela incerteza.

— Você. – Hayato começou a falar sem fôlego o fitando ainda assustado. — Não acredito que jogou as moedas nele.

Ambos se encararam em silêncio fazendo movimentos com a cabeça e os ombros sem nem entender o que tinha acontecido até caírem no riso se lembrando da cena.

— Eu não tinha escolha.

— Ele deve ter ficado confuso. Vai achar que o dinheiro era por quebrar os vasos.

— É... – Yoshino riu apertando os olhos cansados sem saber se deveria ficar feliz ou não com isso. — Prefiro que ele pense isso do que ter a Relliane vindo buscar a gente.

— Eu também.

Depois do riso ambos estavam sentindo a euforia deixando seus corpos permitindo que suas mentes transformassem esse momento em uma memória feliz.

Yoshino encarou Hayato ao seu lado se perguntando quanto tempo fazia desde que estiveram em uma situação dessas. Quanto tempo desde a última vez que se sentaram e aproveitaram a companhia um do outro.

O felino o viu de canto de olho e o encarou de volta. Entretanto, não desviaram o olhar dessa vez. Estavam ali como amigos, mas no fundo de seus olhos continuavam distantes. Não era falso o sentimento que compartilhavam, Yoshino sabia, afinal o coração dele estava acelerado, mas não podia dizer o que Hayato sentia. Nunca pôde.

O menor desviou o olhar vendo as nuvens no céu se dispersando mostrando que estava chegando ao meio da tarde.

— A gente tem que ir.

— É... – concordou ainda absorto em sentimentos.

— Ela não vai gostar se a gente demorar mais.

O menor se levantou e foi só nesse momento que Yoshino percebeu o que aconteceria se voltassem para lá. Seus olhos se arregalaram com o aperto no peito relembrando os avisos das placas. Ele quis agarrar as mãos dele e pedir para ficar ali, entretanto sabia que, mesmo se fizesse isso, nada mudaria no final.

Com calma se levantou e em silêncio o seguiu até o caminho de volta sentindo cada batida em seu peito contar os segundos restantes.

Refizeram os mesmo passos para voltar, porém, dessa vez, em completo silêncio. Hayato viu o rosto do outro se tornar tão sério quanto solitário fazendo parecer que estava refletindo sobre algo e não entendeu, também não quis questionar ou fazer piadas.

O clima que antes era quente o suficiente para fazer seus corações pularem e seus estômagos se apertarem agora só conseguia fazer suas mãos ficarem geladas e seus passos tão pesados que se recusavam a seguir em frente.

Assim que passaram os portões da vila eles continuaram seguindo para a casa do maior. Hayato sabia que tinham que entregar a encomenda, mas pelo silêncio achou melhor só o seguir esperando para saber se diria algo, entretanto nada aconteceu.

— Ah... – começou perturbado pela situação constrangedora — eu acho melhor ir para casa então e você-

— Espera. – Abruptamente Yoshino o interrompeu chamando seu olhar que parecia esperançoso em ouvir suas palavras. — Eu... Fica mais um pouco. – Sua voz era tão alta quanto desesperada. Deu pra notar isso pela expressão assustada do menor. Não era para ter falado desse jeito, mas foi o único modo que encontrou para se expressar.

Apesar de não entender, o pequeno decidiu ficar com ele apoiando as costas na parede do lado de fora da casa como costumavam fazer nos velhos tempos vendo nada além de estradas vazias no final da tarde.

— A gente sempre fazia isso antes, só que você ficava no telhado. – Hayato comentou despreocupado quase sorrindo. — Quando era o Yozzinho. – Riu, fazendo o outro balançar a cabeça ainda desanimado.

— Cala a boca.

— Ah... Lá na casa do Vicent as coisas também mudaram. Antes eles eram irritantes, mas agora... São irritantes, mas é diferente.

— Muita coisa mudou... – Não parecia, mas Yoshino tinha ouvido o que ele disse. Entretanto, seu comentário foi bem mais pessoal.

— É, mas não é ruim. Não totalmente.

A voz contente do felino só fez o maior cerrar os punhos com ainda mais força. Ele estava feliz de vê-lo assim, mas não queria que fosse desse jeito. Não havia nada que podia acrescentar àquela conversa e nem sabia se queria continuar ouvindo as coisas que não podia mudar.

Respirou fundo tentando se acalmar sem que o outro percebesse a tristeza que o invadia.

— Eu sinto sua falta.

Foi inesperado ouvir aquela frase dele e mais inesperado ainda para ele falar, mas foi em um surto de dor que perdeu a noção dos limites que se impunha. Hayato não entendeu o motivo daquilo e menos ainda do peso que parecia carregar.

— Quê? – Riu curto e quando viu o rosto sério dele fitando o chão desviou o olhar sem entender. — Que drama. Amanhã eu volto, tá?

As palavras foram ditas com rapidez como se tentasse o consolar sem exatamente saber como.

— É... – sua garganta ardia com as palavras ferventes que não eram permitidas sair dali enquanto seu coração batia com medo de ser ouvido. — Se... Se você pudesse fazer um pedido... o que pediria? – Foi difícil fazer essa única frase ser ouvida, mas conseguiu na tentativa de mudar de assunto.

— Você tá falando umas coisas aleatórias hoje... sei lá, as coisas estão boas assim então... se desse pra continuar desse jeito... com todos.

— Pedido idiota. – Riu amargamente fazendo Hayato corar envergonhado depois de ter sido honesto com ele.

— Você é idiota!

O felino estava pronto para brigar, mas não houve rebatida. Ele só viu o maior encarar reto em direção ao nada se perguntando por que parecia tão triste.

— Acho melhor ir embora. – Lentamente se afastou da parede já se preparando para partir, porém antes de dar outro passo Yoshino o agarrou prendendo em um abraço inesperado. – Yoshi-  Que isso?!

O impacto foi tão grande que os dois quase caíram no chão. Seus corpos estavam quentes, o de Hayato ainda mais pela vergonha. O abraço começou pelo impulso do medo e depois virou um aperto desesperado como um pedido secreto de socorro.

O pequeno não conseguia ver o rosto dele e nem sabia como retribuir o gesto. Apenas ficou parado constrangido esperando que algo acontecesse.

— Eu quero que você seja feliz, tá bem? – Pediu com a voz trêmula abafada pelo cabelo do outro. — Faz isso por mim.

— O que deu em você?

— Eu queria ter feito isso. Eu queria... Mas... – Nada saia do jeito que imaginava. As palavras se formavam em sua mente repetindo tudo o que queria dizer, mas a culpa o impedia de as completar. — Então... só faz isso.

— Tá... – ele não entendia o motivo, mas sentiu a dor na súplica e o medo no aperto. Foi quando pensou em tocá-lo que sentiu Yoshino o soltar mostrando um rosto avermelhado tristonho. — Você tá bem mesmo?

— Tô. – Ele ainda tentou sorrir de canto, porém seus olhos não conseguiam mentir. Hayato desconfiou, mas resolveu aceitar. Ele conhecia o maior para saber que não iria falar tão facilmente dos problemas mesmo que perguntasse vinte vezes a mesma coisa.

— Tá... Eu vou levar as pedra pra Relliane e.. Vou pra casa.

— Tá...

Hayato pegou o saco de pedras no chão dando alguns passos para trás. Seus olhos preocupados o procuraram vendo o rosto dele que se esforçava em manter a mentira. Ele queria ficar ali por mais tempo por isso levou alguns segundos fitando o chão querendo dizer algo, mas no final acabou sem saber o que fazer deixando o suspiro sair enquanto procurava pelo caminho que tinha que seguir.

— Até amanhã então.

— Ah... – a saliva quase não conseguiu passar por sua garganta que parecia inchada com tantas palavras. Seus olhos o viram se afastar e quase sem força falou: — Até.

Ele se encostou na parede apoiando a cabeça para trás vendo o céu escurecer. Quase não havia nuvens ali e as estrelas estavam tão claras quanto a realidade que não queria encarar.

Não havia nenhum pensamento em sua mente, somente as imagens do dia que estava acabando. Seu rosto imóvel estava sério por morder as bochechas na tentativa de prender algo ali. Doía fazer isso, mas não tanto quanto seu peito.

Sem querer um suspiro lhe escapou e como um passe de mágica tirando sua força as lágrimas timidamente começaram a escorrer. Devagar e devagar até toda a dor em seu corpo não caber mais nele e explodir em soluços desamparados.

Parecia não haver coração em seu peito, somente um buraco onde a dor havia feito sua casa. As lágrimas intensas o forçaram a levar as mãos ao rosto cobrindo seus lábios contorcidos que soltavam lamentos incompreensíveis. Seu corpo todo tremia ao relembrar mais um adeus que dessa vez soou tão esperançoso.

Ele sabia que isso ia acontecer. Quando fez o pedido àquela criatura ele leu na placa onde dizia que a magia duraria somente um dia. Foi a placa que o fez rir que agora o fazia chorar. E assim como o aviso explicou, agora ele estava arcando com as consequências ao criar essa memórias que amanhã somente ele iria lembrar.

—Fim. X


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Notas finais do capítulo

Desculpa, Yoshino.
Eu pensei que como o Yoshino vai lembrar então o dia aconteceu. Nesse caso, o Hayato também passou por tudo isso, mas sem o Yoshino nas memórias. E da mesma forma, ele acordaria triste porque sente que algo foi deixado para trás.
Para o Yoshino imagino que o Yuzuke acabou achando ele ali e o abraçou até parar de chorar. Depois, mais calmo, ele foi falar com o Gael começando com um “eu fui idiota hoje”. Não acho que ele contaria todos os detalhes ou sobre o Hayato, mas um resumo de tudo só pra tirar do peito.
Quis trazer um pouco da nostalgia do passado nesse capítulo. Escrevi pouco dos dois juntos anteriormente, mas não acho que o Yoshino era tão sensível assim naquela época. Tipo, quando aqui ele pegou o Hayato e salvou os dois por se preocupar com ele, talvez tenha acontecido só agora depois de passar tanto tempo com outros.
Obrigada por ler e amanhã tem mais!



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