Gladíolo escrita por gryphems


Capítulo 3
III - Desabrochar




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/779409/chapter/3

TERCEIRO CAPÍTULO

 

Era um inferno. Na verdade, Mito achava que nem o inferno podia ser tão ruim assim.

Não havia palavras que expressassem a forma como os monitores tratavam tanto ela quanto Naruto; provavelmente nem mesmo um verme era tão desprezado quanto eles. Olhavam-os com tanto ódio que chegava a arrepiar a sua espinha.  Além disso, eram isolados de tudo e todos.

Não demorou para Mito perceber que tinham um quarto apenas para eles, enquanto do outro lado do orfanato ficavam o restante dos dormitórios, em que todas as outras crianças dormiam em bandos.

Não os queriam perto das outras crianças, era óbvio, mas os dois não tinham ideia do motivo. Quer dizer, eles passaram a vida toda presos em um quarto, longe de qualquer contato com a sociedade de fora, e este fato era bastante suspeito de ser uma resposta para os maus tratos.  Talvez seus pais haviam feito algo extremamente ruim para que todos culpassem seus filhos na ausência dos causadores.

Mesmo assim não era justo! Não era culpa nem dela, nem de Naruto! Pelo amor, eles só tinham três anos!.

Ver a carinha triste de Naruto enquanto ele olhava as crianças brincarem sem poder participar, ou o medo ao receber uma bronca por fazer absolutamente nada; tudo isso quebrava o coração da menina. Ele era só uma criança e não merecia nada, absolutamente nada que estava acontecendo.

A repulsa que sentiam para com eles levava até mesmo à negligência. Era fácil de notar ao comparar o tratamento que os monitores davam as outras crianças e com a forma que tratavam os gêmeos. As roupas que chegavam na doação eram primeiramente dadas para os outros, o que sobrava (e se sobrasse) era dado para eles. Mito estava cansava de usar roupas que eram o dobro e até mesmo o triplo de seu tamanho, ou então apertadas demais que com qualquer movimento brusco, furava na hora.

Também tinha os horários das refeições, que, para ela, era a parte mais humilhante do dia.

Eles comiam longe das outras crianças, vigiados pelos olhos de águia das cozinheiras. Como a comida era contada e vinha de doações e do governo, muitas vezes faltava comida para todos, e quando esses dias chegavam, quem ficava sem comer eram os gêmeos Uzumaki. A pior parte era ter que ficar sentada, com fome, olhando as outras crianças comerem felizes.

Hoje era um dia desses.

Com a barriga roncando pela falta da janta da noite passada, Mito olhava as crianças com os olhos cheios d’água. Ela não queria chorar, não queria dar essa satisfação a eles, mas era tão injusto!

Não tinha coragem para olhar para Naruto, não queria ver a dor em seus olhinhos brilhantes.  Ela só queria sair dali!

— Ah, Mito-chan, tá chorando, é? — Ao ouvir aquela voz, o sangue da menininha correu todo para cabeça. — Tenho certeza que você vai achar uns restos nas lixeiras por aí.

Kiro Ogawa era um dos monitores do orfanato, não devia ter mais que dezessete anos e era o satanás em pessoa na opinião da menina. Ele fazia de tudo para tornar a vida dos gêmeos ainda pior, focando principalmente na ruivinha. Constantemente os atrapalhava enquanto tentavam realizar as tarefas diárias, fazendo-os lavar as gigantescas pilhas de roupas como castigo ou as chicotadas que recebia como punição. Ele ria e usava a desculpa de serem novatos, mas Mito conseguia ver a raiva e o rancor em seus olhos quando o garoto achava que ninguém estava o olhando.

A menininha se levantou de sua cadeira, saindo enquanto puxava um confuso Naruto consigo. Ela sabia que uma das monitoras iria berrar com ela depois, mas sinceramente, ela só queria só queria sair de lá.

Quando já estavam longe de toda aquela muvuca, na segurança do jardim do orfanato, Mito permitiu-se respirar fundo e soltar Naruto, que ainda não estava entendo nada. Só assim ela conseguiu perceber que tremia dos pés à cabeça, de raiva ou humilhação, não sabia dizer.

— Mito-nee? — Naruto chamou com um misto de preocupação e curiosidade em seus olhos.

Mito sabia que tudo aquilo estava afetando os dois, talvez bem mais a ele, afinal Naruto era realmente a única criança ali. Mesmo que o ambiente estivesse pesado, ele continuava com um sorriso no rosto radiando todo aquele chakra aconchegante e energético.

Mito realmente não entendia como ele conseguia, mas não estava questionando, pois sabia que se ainda estava firme, era por causa de Naruto e apenas Naruto.

Olhando para o menino, Mito tentou soltar o seu sorriso menos falso.

— Ei Naruto, que tal darmos uma volta por aí?

 

 

Mito tinha a ideia de clarear a mente passeando por Konoha. Infelizmente, só acabou por deixá-la mais nervosa ainda.

Os olhares que recebiam eram os mesmos que ganhavam no orfanato, e a menina podia jurar que ouviu duas senhorinhas os chamarem de “crianças demoníacas” quando pensaram que não podiam ouvir.

Bem, aparentemente eles não eram muito gostados em toda a vila.

Ótimo.

Ela fez o máximo que podia para parecer que não se importava, não queria que Naruto percebesse que na verdade ela estava pronta para se jogar no chão e começar a chorar ali mesmo.

Konoha era maior que parecia e era tão fácil se perder, mas Mito tinha investigações para fazer, e sabia muito bem onde era o lugar que poderia encontrar suas respostas.

Bibliotecas sempre foram seu lugar de aconchego. Ela se lembrava perfeitamente como poderia passar seus dias livres lendo um livro na livraria perto da sua casa. Na verdade, ela até mesmo escrevia alguns poemas e pequenas histórias. Antes de falecer estava quase terminando de escrever seu próprio romance!

Infelizmente, assim como Konoha, que é uma vila oculta difícil de achar, as bibliotecas também eram muito bem escondidas, pois havia demorado horas para que os dois encontrassem a construção rosa amadeirada.

Ao entrar, Mito recebeu aquele ar de conforto que tanto sentia falta. Era bom estar de volta a algo que ela conhecia bem, mesmo que fosse em uma nova forma. Era um lugar muito aconchegante, com almofadas no chão e várias mesas disponíveis, embora alguns lugares já estivessem preenchidos. Havia várias estantes que Mito se perderia assim que pudesse. 

Ao lado da porta de entrada, atrás de pilhas e pilhas de livros, conseguia ver a bibliotecária, uma senhora com vários cabelos brancos e óculos fundo de garrafa. Mesmo assim, fazia força para enxergar o livro que lia, talvez a catarata estivesse realmente atacada, pensou Mito. Pelo menos desse jeito, ela nem percebeu quando ambos passaram na frente de sua mesa rapidamente para esconder-se na sessão infantil.

Desde seu terceiro aniversário, Mito estava ensinando Naruto a ler e escrever. Estava sendo mais fácil do que pensava que seria, Naruto tinha, na verdade, muita facilidade para escrever letras e formar palavras. A maior dificuldade era fazer com que Naruto ficasse sentado prestando atenção por mais de dez minutos.

— Naru-nii, o livro do Sapinho Aventureiro, olha só! Não é esse que você gosta? Quer tentar ler? — perguntou, enquanto tirava o livro da estante. Era o livro preferido de Naruto para a leitura antes de dormir, ela tinha perdido a conta de quantas vezes tinha lido para o menino.

Naruto pegou o livro, sentou no chão e a olhou, como se esperasse que fizesse o mesmo.

— Não, não. Tenta ler sozinho, Ruto-nii.

— Sozinho? — perguntou Naruto usando uma de suas melhores táticas para ganhar algo de sua irmã.

Ah, mas Mito conhecia aquela vozinha de “eu sou a coisa mais fofa desse universo (e ele não estava errado), por favor faça minhas vontades”, e ela não iria cair nela (de novo).

— Sim, sozinho. Eu sei que você consegue, Naruto. — E virou as costas, antes que voltasse atrás de sua palavra. - Se você ler pelo menos até a metade, prometo que vamos até o Monumento Hokage como recompensa, tá bom?

Mito só ouviu um “dattebayo”, uma palavra que estava começando a ouvir muito nos últimos tempos. Com isso, se deu por satisfeita e caminhou para sessão histórica.

Precisava descobrir tudo sobre o sistema político de Konoha, como controlar chakra, ninjas e principalmente Minato Namizake.

De uma coisa Mito sabia: a biblioteca se tornaria sua casa novamente.

 

 

Havia virado rotina para os dois irmãos fugirem do orfanato após o café da manhã (ou antes, quando não sobrava nada para que pudessem comer) e se aventurarem por Konoha a fora.

Pela manhã iam direto para as florestas, escondendo-se dos olhares maldosos dos adultos. Mito havia iniciado uma série de alongamentos e exercícios que havia lido em alguns livros sobre iniciação ninja (e alguns alongamentos que se lembrava das suas aulas de yoga na sua antiga vida). Naruto a acompanhava algumas vezes, com muito esforço, mas acabava realizando todos os movimentos de uma forma desengonçada. Esses eram os momentos do dia que ela queria que nunca acabasse.

Depois de sua rotina de exercícios (que constituíam em flexões, abdominais e várias voltas correndo pela floresta), ela tirava uma hora para meditação.

Mito estava ficando muito melhor em sentir o chakra das pessoas em sua volta, e caso ela se concentrasse bastante, não precisava mais meditar para isso.

Em suas meditações ela conseguia aumentar seus limites, tanto no chakra exterior (ela conseguia sentir os chakras do que eram com certeza ninjas treinando por ali perto, Mito estava marcando o dia para dar uma espiadinha), quanto no seu próprio chakra, que Mito descobriu ser uma imensidão espiritual, como um terreno sem fim, e foi no meio disso tudo que ela encontrou um impasse.

A menininha não sabia como, mas no fundo, escondido de todo o resto de seu chakra, havia algo escuro, maligno e tenebroso. Havia se borrado de medo a primeira vez que percebeu que havia algo dentro de si.

Saber que havia algo tão escuro e sombrio que habitava seu corpo e ela não fazia ideia do porquê a aterrorizava. Ela precisava descobrir o que diabos havia de errado com o seu chakra. E não era só isso que a deixava sem sono a noite. O Quarto Hokage nunca deixava seus pensamentos. Infelizmente, nos livros que havia lido, tudo sobre ele era vago, não tendo sequer uma foto mostrando melhor as feições do homem. Mas ainda não havia desistido, e era por isso, que após o “almoço” (frutas que Naruto encontrava pelas árvores) estava indo para a Biblioteca pela vigésima vez aquela semana, arrastando Naruto a tira colo.

Já fazia algumas semanas que Mito pesquisava a procura de qualquer indício de algo que pudesse sanar suas perguntas, mas não havia nada, nenhum livro que falasse sobre chakra que não fosse para o nível “Alunos de Academia” ou “Genins”, que eram níveis que Mito estava proibida de entrar, por ser uma civil.

Era extremamente frustrante ficar sem resposta sobre algo que era seu por direito, afinal estava dentro dela, caramba!

Mito suspirou após fechar mais um livro que lhe deu zero respostas.

Pois é, parecia que sua tarde seria longa. Todos os dias suas respostas eram mínimas e seu passatempo consistia em seu irmão gêmeo que, por sinal, estava com a cabeça completamente em outro lugar.

— Mito-nee, aqui tá muito chato. Vamos brincar!

Muito longa. Realmente, muito longa.

Haviam decidido ir para um dos parquinhos (lê-se: Naruto havia decidido ir ao parquinho), e, como todos os dias, estava lotado de pais e principalmente de crianças.

Interagir com outras crianças era algo muito estranho para Mito.

Não que ela não gostasse de crianças, na verdade era bem ao contrário. Em sua antiga vida, lembrava-se de amar e cuidar de seus primos mais novos. O problema era que Mito não sabia como agir como uma criança enquanto sendo uma criança, que na teoria, era o que ela era, embora na prática seja completamente o oposto.

Ao olhar a cena que acontecia na frente de seus olhos, ela realmente não sabia o que devia fazer no momento. Uma garotinha de cabelos rosas chorava sentada no chão, encolhida com os braços apoiados nos joelhos.  Um grupo de quatro meninas, com pelo menos cinco ou seis anos, acabava de deixá-la enquanto riam como um bando de hienas no cio, depois de zombarem do seu cabelo e testa.

— Você sabe que elas têm inveja do seu cabelo, não? — Mito não soube de onde veio isso, não era sua intensão falar com ninguém naquele parque, mas sabia que a menininha precisava de alguém. A garotinha a olhou, com seus grandes olhos verdes que mostravam uma grande surpresa. — Você tem o cabelo mais bonito que eu já vi.

A garotinha corou, murmurando um agradecimento. Pelo menos era isso que Mito achava ter ouvido.

— Meu nome é Mito... Quer brincar comigo? — Mito perguntou, um pouco nervosa, afinal ela não era muito boa com pessoas. Com livros? Sim. Com animais? Amava. Mas com pessoas? Nem um pouco. — Se você quiser, é claro.

A garota a olhou incerta, com certeza não estava esperando o convite.

— Quero sim... Mito-chan. 

— Você gosta de pique-esconde?

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oi gente, tudo bom?

Eu disse que o capítulo novo não demoraria, não disse? Haha.

Capítulo betado pela Eena ♥

Sim... Esse capítulo foi bem pesado... Vai ser o rumo que vamos seguir até o final, pois é.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Gladíolo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.