— Deveria ter aprendido a desistir. 

— Eu podia te dar uma lista com algumas coisinhas que você também deveria ter aprendido. 

— Haha, deve estar se achando muito engraçadinha...O papo estava ótimo, mas vamos acabar com isso de uma vez. - Dazai estava com a Nodachi empunhada já mão, pronto para desferir um golpe que seria fatal. Até que: 

— Espere! Vai mesmo fazer o que eu estou imaginando!? Pense nos problemas que causará tanto para VOCÊ quanto pra todos nós, seu INCONSEQUENTE!!! - Disse um dos vários marinheiros derrotados na tentativa de fazer Dazai repensar. 

— Relaxa. De fato, a nossa Vice-Almirante é bem assustadora e estaríamos no mínimo mortos se ela descobrisse que colocamos a vida da preciosa neta dela em risco, mas a solução pra isso é simples. Basta colocarmos a culpa nele e tudo vai ficar resolvido. 

Ele disse enquanto apontava para o Capitão dos Piratas Heart, com um sorriso cínico no rosto. - Serão dois coelhos com uma cajadada e além de resolver o problema, também vamos finalmente ter um pouco de agitação por aqui. 

— Fala sério...Não vê que você mesmo está pegando a corda na qual vai se enforcar? 

— Não vai falhar. Sachiko é tão cega pelo ódio que pode facilmente ser "manipula-la", e nos aproveitaremos da antiga arte de usar a própria arma do inimigo contra ele para não deixarmos brechas. 

— Ainda acho que é suicídio.. 

— ENFIM. Vamos logo ao que interessa. Alguma última palavra? 

— Você é um canalha. 

— Tocante. Agora morra pela sua teimosia ridícula. 

Yumi não sentiu a lâmina fria da espada perfura-la. Isso porque poucos segundos antes, alguém que chegou de surpresa impediu que a ação se completasse. 

Todos estavam em choque e alguns, além de pasmos, estavam com medo do que poderia acontecer a seguir. Uma dessas pessoas era Dazai. Primeiro seus olhos se arregalaram e depois seu corpo ficou paralizado, tremendo levemente de medo e suando frio. Isso tudo porque ele já imaginava quem seria. Suas suspeitas se confirmaram quando viu uma das mãos dessa pessoa repousar sob seu ombro. 

— Minha nossa, você parece tão assustado...Como se tivesse visto um fantasma...ou até mesmo o próprio diabo em pessoa. - Ela dá um pequeno sorrisinho diabólico, acompanhado de tapinhas no ombro dele. - Por acaso andou fazendo coisas que não devia? 

Dazai ainda não tinha pronunciado nenhuma palavra de tão apavorado. Yumi e Law também não se intrometeram. Até que enfim algumas palavras saíram de sua boca trêmula.

— S-Sachiko-San...! Eu...posso explicar. 

— Não precisa, seu estrupício. Também não cobrarei uma explicação porque simplesmente não tem como explicar o inexplicável. 

— A quanto tempo estava aqui...? O que você ouviu...? 

— A resposta é a mesma para as duas: O suficiente. 

E ele voltou a se calar. 

— Você estava dizendo antes que este lugar precisava de pouco de "agitação", não é? Bom, se queria tanto ver o circo pegar fogo, você até veria ele queimar...Mas creio que não tenha ficado claro que VOCÊ seria o único palhaço dentro da tenda, e quem atearia fogo nela seria eu. - Disse a marinheira mais velha. - Bom, meus parabéns, Senhoras e Senhores, vocês deram mesmo um grande espetáculo. 

Ela sorriu, mas logo uma expressão séria tomou o lugar. - Mas agora o show acabou. Quero que todos que estejam conscientes e em condicões de se mover saiam daqui e que levem consigo aqueles que não podem. Estão dispensados.

Os marinheiros obedeceram quase instantaneamente e em menos de 5 minutos não tinha mais ninguém além deles quatro. 

Sachiko observou por alguns segundos a Nodachi que estava na posse do loiro. - Hm...Creio que isso não seja seu, portanto com licença. - Ela tira a arma das mãos dele. - Vou me certificar de devolvê-la ao dono por você, de nada. 

— Ei, espera! O que você tá fazendo...!? 

A Vice-Almirante apenas ignorou o subordinado.

— Certo, que tal fazermos uma pequena recapitulação dos fatos? Então...Você teve a ousadia de enganar e trair não só a sua chefe como também sua amiga de infância, que sempre esteve do seu lado, tentou mata-la da forma mais covarde possível e ainda por cima ia incriminar alguém inocente. Por acaso você não tem escrúpulos, seu porco sujo? 

— Está insinuando que eu devia ter ajudado eles a fugirem, assim, sem mais nem menos? 

— Você é um rato duas-caras que não tem um pingo de honra. Mesmo que tivesse os ajudado, ainda teria sido uma atitude muito mais digna. 

— Não pode ser...Logo VOCÊ está defendendo eles? 

— Não é questão de estar defendendo ou não, seu ignorante. Estou usando a lógica. Essa batalha já acabou, e nós perdemos. Aceite a derrota. 

—...E o que você vai fazer comigo? 

— Nada, ou melhor, nada que colocará em risco sua integridade física. Pelo menos por enquanto. 

— Antes eu tinha algumas dúvidas...agora tenho certeza. Você é louca! 

— Pode apostar que sim. Já faz um tempo desde a última que soube o que "sanidade" significa. Também percebi que sou uma pessoa bastante criativa, então sugiro que não teste minha paciência, a menos que queira pagar pra ver no que essa combinação pode resultar. - Seu tom de voz era assustadoramente ameaçador, assim como seu olhar, apesar de ainda manter um sorriso. 

— Está me ameaçando...? Sabe que pode ser punida caso faça algo contra um subordinado! 

A mulher ri. - Sei. E é muita inocência da sua parte pensar que eu me importo com qualquer consequência que caia sobre mim. Depois de passar pelo "inferno", não é qualquer demônio que vai te assustar. Entende, garoto? - O comentário só serviu para assustá-lo ainda mais. 

— Bem, depois continuamos a conversa e veremos como fica a sua situação. Agora, apenas SUMA da minha frente. 

O loiro saiu frustrado, e mais uma vez as ordens dela foram atendidas quase que em um segundo. 

Por fim, Sachiko pergunta. - Vocês estão bem? 

— Estamos, de algum jeito....Valeu. - Repondeu Yumi. 

— Ah propósito, isto pertence a vocês. Aqui, peguem de volta.  - A Marinheira devolveu a Nodachi ao pirata, em seguida devolveu para a neta uma mochila, que antes havia sido confiscada. 

— ...Por que nos ajudou?  - Questionou enquanto colocava a mochila nas costas. 

— Hã? Está mesmo perguntando isso? Francamente...Achou que eu deixaria que tirassem de mim a única coisa boa que eu ainda tenho por um orgulho besta...? Sem chance, de jeito nenhum. Na minha frente, ninguém encosta um dedo em você. 

— Bem que você disse que não era a vilã aqui. - O comentário da jovem a fez sorrir, mesmo que só um pouco. 

— Obrigada por abrir meus olhos. Eu não conseguia enxergar o quão exausta estava de tudo isso...Sabe, as pessoas dizem que o luto tem 5 estágios e o último é justamente a aceitação. Agora penso que essa aceitação bem que podia ter chegando muito antes. Provavelmente as coisas tivesses sido melhores... 

A mulher suspira com certa tristeza. - Eu poderia ter feito as coisas de outra maneira...Se tivesse sido diferente, talvez agora eu não sentisse como setivesse desperdiçado quase cinquenta anos da minha vida haha...que sensação desagradável... Eu devia ter te ouvido. Você estava certa...Sempre esteve.

 — Não fale desse jeito. Você ajudou muitas pessoas também, teve várias contribuições...portanto não foi em vão. 

 — ...Enfim, o que estou tentando dizer é que eu acredito que se continuasse aqui, também se sentiria como eu. E isso é exatamente o que eu não quero pra você. Assim como a sua mãe, seu pai, meu maior desejo é que você seja feliz. Se ir para o mar e se tornar uma pirata é o que vai te deixar feliz, então sou a primeira a dizer para você ir. 

 — Eu não estou entendendo...Não vai me impedir...? 

 — Ah meu bem...De fato, não posso negar que era  exatamente o que eu queria...mas unca tentei te impedir, no fundo sabia que seria impossível. Na verdade, acho que tudo que eu fiz por você foi um treinamento para quando esse dia chegasse. 

A jovem sorri, com os olhos lacrimejantes. 

— Esse tempo todo eu treinei você porque eu queria que fosse capaz de defender a si mesma de qualquer submissão e impotência, e também capaz de proteger o que é importante pra você. 

Sachiko se aproxima mais da jovem e então carinhosamente acaricia o rosto da neta. 

— Enfim, você está prestes a partir e não queria que as coisas entre nós continuem conturbadas. Não faço ideia que quando vou poder vê-la de novo...então só queria me despedir apropriadamente e também pedir perdão... - Agora era a marinheira que estava prestes a derramar algumas lágrimas. 

— Está tudo bem, você não tem que me pedir perdão. - Ela sorri gentilmente. - Agora eu que te peço: Siga em frente. Não se prenda mais ao passado. Isso não é esquecer o que aconteceu, é apenas deixar para trás o que já passou. Me promete que vai fazer isso? 

Ela acenou a cabeça em sinal de concordância. - Sim, prometo...! - E desta vez não conseguiu controlar. Não pôde evitar que as lágrimas caíssem. 

Law nesse momento parou para pensar no quão impressionante era a maneira na qual Yumi conseguia tocar uma pessoa também sem usar as mãos. As vezes, ela fazia o mesmo com ele. 

— Ei...porque está chorando? Um "adeus" só devia ser doloroso quando nós temos consciênciade que nunca mais vamos poder dizer "Oi" outra vez. - Yumi então abraçou sua avó, como não fazia há anos. - E você sabe que isso não vai acontecer, né? Não é esse o caso. 

Aquele gesto, de primeiro instante, deixou a marinheira surpresa mas logo sentiu imenso conforto e felicidade. Ela, obviamente, retribuiu. - Eu te amo tanto, meu amor...E tenho tanto orgulho da mulher que se tornou...Escuta, você está proibida de morrer antes de mim! Senão, eu mesma mato você de novo!  

— Eu também amo a senhora, e agradeço tudo que fez por mim. E não vai necessidade disso, eu juro. O recado foi dado. - A jovem riu. 

— Acho bom. Não exijo menos que isso. E quanto a você rapaz, não ouse fazer nenhum mal pra ela. Se eu ficar sabendo de qualquer coisinha, você já era. E pode ter certeza que você não gostaria nem um pouco disso. Estamos entendidos? 

— Perfeitamente. Mas não precisa se preocupar. Garanto que isso não vai acontecer. 

— Ótimo, é assim que eu gosto. 

Sachiko aproveitou e deu um último abraço de despedida em sua neta e disse: 

— Cuidem-se, por favor.

                           (...)