Contos Sobrenaturais escrita por Sanyago


Capítulo 2
Ponto de Colapso!


Notas iniciais do capítulo

Leonardo é um jovem de 14 anos que não consegue ter relações sociais, em detrimento de alguns problemas que adquiriu durante sua vida como "agorofobia", transtorno de ansiedade e pânico, e também depressão profunda. Isso acabou lhe privando de ter amigos e de fazer atividades comuns do dia-a-dia. Por isso se tornou completamente introspectivo, anti-social e melancólico. Chegara a um ponto em que não mais conseguia fazer nada, e em um surto de pânico ele cai e entra dentro da sua própria mente, onde terá uma experiência surrealista inexplicável...



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Não importa o que faço, aqui não é mesmo o meu lugar! Sempre tive a sensação de que esse mundo não é o meu mundo. Essa quadra de vôlei é tão bonita, mas ficar na arquibancada assistindo não é nada interessante. Gostaria de poder jogar com eles, só que é claro que não iriam deixar. Estou reclamando? Olha a altura deles! O time da direita tem jogadores de 16 anos com quase um metro e oitenta e cinco cada, já do outro lado, os jogadores tem 17 e quase um e noventa.

Os uniformes são legais, mas será que eu iria encarar garotos tão altos assim por causa de uma camisa laranja? Ah não, prefiro ficar aqui! O intervalo mais chato de todos, ninguém vem aqui ver o treino do time de vôlei. Mesmo assim é melhor, lá fora no pátio há muita gente, muito barulho, as vezes me dá até tonteira. 

— AI! – Um garoto do time reserva da direita gritou. – Cara, joga mais fraco!

— É por isso que você é reserva, Mendes! – Afirmou o menino do time titular à esquerda.

A bola bateu na cara dele. Que jogo tolo! Significa que são três toques e o terceiro deve acertar ao chão do campo adversário, certo?! Por isso precisa de tanta força? Exagero, o garoto está com a cara vermelha!

— Dênis, é melhor bater mais fraco, é só treino e o cara está com o nariz sangrando. Se o técnico souber... – Disse o jogador ao lado de Mendes.

— Tá, tá, vou pegar mais leve - Pelo sorriso de canto de boca do tal Dênis, acho que na próxima vai ser até pior. - Vai lá lavar o rosto...

Mendes saiu com uma pressa! Nossa, só de ver o nariz dele escorrendo sangue, me deu enjoo. Imagina como deve doer, sem falar na sensação de sangue escorrendo e passando pelos lábios tal qual um catarro só que gosto de fel. Nojento! 

— Ei, você aí sentado! – Dênis apontou pra mim. – Vêm aqui, fica no lugar dele.

Meu coração acelerou rapidamente, parecia mais que tivesse acordado de um longo sono com um grito. Senti arrepiar os poucos cabelos do meu braço. Não, não! Eu? Por quê eu? Ah, eu não vou jogar isso! Não mesmo...

— Quer jogar, menino? – Perguntou ele. Fiquei de pé no susto, sentindo meu estômago embrulhar. 

— Tá-tá... é... Eu vou! – Comecei a gaguejar.  Ai, seu idiota! Pensa uma coisa e faz outra?! Seu débil, vai ser machucar! 

— Ótimo.

Estava há poucos centímetros da quadra, mas a cada passo meu coração disparava, comecei a ficar pálido e meu estômago continuava a fazer barulhos estranhos. Droga, Leonardo! Presta atenção no jogo, você está aqui agora, jogue! Esse mundo não é mesmo o meu mundo. Tanta gente, tanta coisa inesperada, por quê aceitei? Lógico que não recusaria, me pegara de surpresa. Aceitei no susto, mas isso não interessa mais, já foi!

— Bom, só chega mais pro lado! – Disse o garoto perto de mim que ajudou o tal Mendes. Acho que me aproximei demais dele por medo. Havia de ficar na posição do garoto que saiu. Dei poucos passos, toquei no meu braço esquerdo que formigava, e agora estava suando frio. Será que... estou bem?

A bola foi sacada, o garoto ao meu lado interceptou com uma manchete, o menino a frente se movimentou e levantou-a rapidamente de costas para a rede. Abriu-se um espaço no centro onde a bola flutuava, lentamente, em contraste aos olhos e aos movimentos rápidos de todos se posicionando para o ultimato. Esta que emergia acima enquanto todos a olhava, esperando o corajoso que subiria o mais alto em seu impulso mais sublime e assim dar o ultimo toque. O que estou fazendo? Estou correndo em direção a bola? Eu não planejei isso! Estou saltando? Saltei! 

Não sei como pulei tão alto, sinto o contato da minha mão direita na bola, tudo parecia em slow motion, a sensação de tocá-la arrepia meu corpo todo. Mas me sinto muito estasiado, não consigo descrever melhor. Ela vai bater ao chão, vai sim, VAI! A bola passou milimetricamente pela rede, tocou o campo adversário, desestabilizado após a curva quem a esperava já se jogando. Só consegui ouvir os sons de atrito e contato dos sapatos lisos dos jogadores com o chão escorregadio.  

— Isso! – Disse o garoto ao meu lado. Tudo ficara em câmera lenta para mim. Havia acertado de primeira, não consegui acreditar! Olhei para o lado, toquei no meu peito, meu coração já estava a mais de 150 batidas. Olhei pro tal Dênis, parecia zangado comigo, minha visão ficou turva... Pelo olhar de Dênis, se não caísse naquele momento, talvez ele mesmo me jogaria no chão após a partida. Está ficando... escuro. 

— EII!  O menino apagou!

— Chamem a professora, AGORA!

O que é isso? Está escuro, não sinto mais meu corpo suando. Na verdade, não sinto mais nada!  Não consigo ver nada, é só escuridão... Espera... Uma luz... uma luz forte, incandescente, seguida de figuras, fleches das minhas memórias apareceram de repente. Tão rápido e explosivo, rompendo a total escuridão que estava imerso, como o Big Bang. As lembranças surgiram dos respingos de luzes iguais a faíscas. 

Os feixes de luzes tomaram forma e começaram adquirir nitidez e perder a luz. São cem? Não! Duzentos, eu não sei mais! O cenário foi coberto por cenas do passado, todas enfileiradas em pequenos quadrados, tomando todo o meu campo de visão! Passam como se eu estivesse sentado no cinema com óculos 3d. Não havia mais escuridão, todo o lugar foi tomado por fragmentos mentais enquanto eu flutuava em meio a elas no centro. Virei a cabeça pra esquerda e olhei o ultimo quadrado inferior: Essa lembrança foi... foi a vez que eu vomitei no meio da rua. Virei à direita no campo superior no primeiro quadrado: essa que está passando agora foi quando desmaiei em um show... As imagens e as lembranças estão passando mais rápido e mais rápido. Foi como se eu estivesse assistindo vídeos no youtube em pequenas telas e, automaticamente, todas elas fossem colocadas na velocidade 2.0. 

As cenas estavam ficando embaçadas e uma luz muito forte começou a crescer em todo o lugar, de repente:  

“Puf” – Eu caí! – Onde estou?

Em um piscar de olhos, eu já estava em outro lugar. Isto é... uma sala? É GIGANTESCA! toda branca e completamente vazia! Não havia móveis, não haviam pessoas, nem mesmo uma a não ser eu. Talvez haja uma semelhança com a vez que Harry Potter se encontra com Dumbledore no último livro, parecendo uma estação de trem. É quase isso, tirando o fato que não há objetos, nem estação de trem ou mesmo um Dumbledore (pensando bem, agora cairia bem um Dumbledore). 

Droga, estou sentado olhando para uma direção, mas, observando bem, todas são iguais! Apenas sei que encontro-me sentado ao chão que como toda a extensão territorial é branca. Tão clara como em uma sala de hospital. Aqui não há noção de profundidade, curvatura, tudo é plano! Não há saída, nem na direita, nem na esquerda. Nenhum dos lados! Me sinto no centro do infinito. Acima era a mesma coisa que na frente e atrás. Na direita e na esquerda; sem profundidade, plano e claro. Me levantei, agora apenas posso correr para ver se há uma porta, uma janela, um horizonte, seja algo, qualquer coisa... devo correr, correr, correr, CORRER! CORRER! CORRER!

Não há nada, eu permaneço no centro, olho ao chão claro tal como o local inteiro e me sinto imerso a uma galáxia, não importa o quanto eu corra, pareço continuar no mesmo lugar. Nossa, me lembrei do episódio do “Bob Esponja” onde o Lula molusco pegou uma máquina do tempo e após uma série de coisas, acaba parando numa sala parecida com essa, e enquanto corria, voltava pro mesmo lugar (Diria que é quase a mesma coisa, mas é mais desesperador vivenciando). Estou ouvindo um zumbido, taparei meus ouvidos! Aiii! Está aumentando, a sala piscou! Piscou de novo... O que é... o que é isso?

— Olá Leo! – Aparecera alguém! – Meu camarada... Estava louco para lhe conhecer.

Isso é uma piada? Deixa pra lá, isso não é mais bob esponja, agora é filme de terror! Estou de frente a uma pessoa agora? ... não, a um molde de pessoa! Tem a silhueta de um homem esguio, mas é como se fosse realmente uma sombra, só que não turva, havia massa mesmo e não uma pura miragem! Devo estar louco... Por quê do nada a sala piscou e essa coisa aparece ali, sentada a vinte metros de mim? Vinte metros? Não sei, nesse lugar não sei mais!   

— Pode vir aqui, eu permito! – Disse aquele esboço preto humanoide, com uma voz rasgada de homem, distorcida. – Ahh, me desculpe pela indelicadeza! Eu não permito nada, eu devo a você tudo!

Estava sentado igual a mim, coçara a perna ou... sei lá, algo parecido com isso. Enfim, esse não é o ponto, o que é que ele está querendo dizer?

— Me deve? - Indaguei-o. - O que é você e o que eu devo a você? Aliás, que lugar é esse?

— Ó meu Deus! Você não sabe onde está? – A voz dele teve uma tonicidade que aparentara raiva, se surpreendeu com a pergunta. – Ah, eu não creio! Não creio.

Ele se movimentou, andou para um lado, para o outro, era literalmente um ser completamente negro em molde humano imerso a um continente branco. Não dá pra processar isso!

— Há quanto tempo lhe espero e é isso que tem a me dizer: “O que é você e o que eu devo a você”? Mas que porra!  

— VOCÊ NÃO FALA COISA COM COISA! – Gritei, me levantei rapidamente, mas algo me puxara ao chão, como se houvesse uma gravidade imensa. Como assim? Eu levantei e do nada algo me puxou igual um imã?

— Então não sabe mesmo onde está? Poxa, faz tempo que você não passa aqui, hein?

— Tempo? – Comecei a me desesperar, o que ele quer dizer com tempo? Eu nem sei que lugar é esse.  – Tempo do que? Eu não conheço esse lugar!

— "Aff" – Respondeu aquela forma escura, sem boca, sem olhos, sem rosto, mas me parece familiar... É semelhante a alguém. – Ora, como dizia o velho ditado: “mente vazia é oficina de porra nenhuma”!

— Espera... estamos na minha mente? - Aliás, esse ditado nem existe. 

— Ora, é claro! Você está há tanto tempo sem pensar que não lembra nem como é a sua mente? Pelo visto você não anda usando muito ela!

Eu gelei! Aquela forma falava como se me conhecesse há muito tempo! Era minha mente, então? Se eu estou na minha mente, por quê eu não a reconheci? Deve ser um tipo de ilusão... Não! Eu devo estar em coma no momento, me levaram pro hospital provavelmente, e agora estou entre a vida e a morte, só pode.

— Vem cá, se você ficar desmaiando toda hora, vai acabar precisando levar remédio toda vez que sair.

É isso! Estou tendo uma ilusão! Devo estar sonhando... e – Fui interrompido.

— Sonhando o cacete! – Retorquiu incisivamente. – Apenas desmaiou e veio parar aqui... Em minha propriedade!

— Sua propriedade? Essa é a minha mente, certo? O que quer dizer com sua propriedade?

— Não fala assim comigo... – Do nada aquele ser virou de costas, ouvi um som agudo e uma respiração dificultada por algo, tal como se estivesse emocionado.

— Você está chorando?

— É claro que estou! – Disse o ser, virando pra mim, batendo no chão branco e há mais de vinte metros de distância. – Você veio, não me dá um abraço e ainda grita... O que eu fiz para merecer isso? Abri a minha casa e estou sendo desrespeitada nela.

Agora sim estou pirando! Não era pra menos, vendo um ser sem rosto chorando e me dizendo que sou insensível. Eu sei que sou insensível, sempre fui! Só não esperava vê-lo chorando, na verdade, não esperava vê-lo. Ele chora sem olhos, fala sem boca. 

— Você não disse que estou na minha mente? Como assim: “Abri a minha casa...” Você pode me dizer algo coerente? O que estou fazendo aqui?

— HAHAHAHA – Começou a rir sem boca. Caiu para trás e começou a bater com a mão direita e esquerda, repetidas vezes ao chão, como se tivesse ouvido a piada mais engraçada do mundo. – Ai, ai, desculpe, é inevitável essa minha troca de humor.

— Está bem, te perdoo! – Disse eu, sem saber bem o que estava dizendo, mas ele me assusta! Havia de ser respeitoso. – Por favor, me diga, o que é tudo isso: essa sala, esse lugar... você.

— Eu? – Ele apontou o dedo pro próprio peito.

— Sim... por favor!

— Eu sou tudo... e também nada; ao mesmo tempo...  

Fiquei mais nervoso ainda, o que ele queria dizer com “Eu sou tudo e também nada ao mesmo tempo”?

— Sou o dono desta camada aqui da sua mente. Nesta sala as lembranças se passam, as sensações, mas nada aqui é interessante, afinal, você não pensa nada!

— Então... você é uma parte da minha mente?

— ERRADO! – Disse ele, levantando agora mais raivoso. 

— Então o que você representa na minha mente exatamente?

— Sou a dor que você sente, sou aquilo que você chama de medo, sou aquilo que você chama de pânico, sou o que você chama de melancolia, raiva, tristeza, excitação, histeria, felicidade, ansiedade e rancor! Paradoxalmente, eu sou uma representação semiótica de um amontoado de emoções extremadas e, finalmente, EU SOU VOCÊ!

— Você sou eu? – Ótimo, percebi que ele gostava de anime; visto tal menção adaptada de Fullmetal Alchemist. Mas por quê? Fiquei perplexo, ele disse que eu era ele, mas essa coisa está na minha mente... então ela é só uma parte de mim, não? – Mas, senhor... – Me interrompera.

— Senhor é o cacete, sou tão novo quanto você!

— Ok – continuei. – Se você é tudo isso, então é apenas uma forma compilada dos meus sentimentos... você não sou eu! É só uma coisa que pertence a mim.

— Errado de novo! – Ele sentou mais uma vez. – Eu sou você! Afinal, você é apenas isso: uma aglomeração de sentimentos incontroláveis esporádicos e sem sentido... você sou eu!

Ele queria dizer que sou descontrolado? Ah droga, isso não faz o menor sentido, ele está jogando comigo, tenho certeza!

— Não mesmo! – Respondi agora me levantando. – Se você é apenas parte da minha mente que corresponde as minhas sensações, então eu controlo você!

— HAHAHAHAHAHAHAHA

Aquele ser caíra mais uma vez em gargalhada. Literalmente caiu no chão, bateu o braço esquerdo e direito novamente no chão várias vezes. Achava que eu era o show do George Carlin, é? Não aguentei, corri atrás dele!  

— O que é? Você quer me pegar? Esqueça! Pode correr, correr, correr e vai continuar por aí! Será a mesma coisa de novo e de novo!

A "gravidade" - Ou qualquer coisa do tipo - me puxou novamente e eu sentei.

— Então do que está rindo?

 - É porque é muito irônico você falando que irá me controlar!

— Do que está falando? A mente é minha, eu me controlo sim!

— Uhm... é mesmo? – Ele coçou o queixo, parecia agora sarcástico. Mexeu o pescoço e sua cabeça se moveu rapidamente para a direita e para esquerda. – Então veremos!

Ele abriu os braços, o cenário ficou escuro e agora pequenas telas de todos os lados apareciam novamente! Todas inundando o cenário como se fosse filmetes, fitas rápidas de momentos meus... Espera, há algo de semelhante em todas elas!  

— Está vendo? Essas cenas de choro, transtornos pós-traumáticos, ataques de pânico, isso tudo são situações suas que se compilaram.  Elas são representações práticas dos seus sentimentos e de suas sensações desconfortáveis. 

Quando comecei a entender, olhando fixamente fascinado para todos aqueles momentos, eu os via sem sentir sensações de nervoso só de lembra-las, parecia que quem as controlava não era mais eu, se fosse em outra situação, estaria suando.  

— Exatamente, sou eu! – Disse ele.  

— Você pode ler minha mente?

— Seu idiota, já estamos na sua mente! Tudo que pensa ecoa pra mim, eu sou ligado a você porque eu sou você! E esse território é meu!

— Seu? Este lugar pode ser ou não controlado, mas ainda é minha mente.

Ele parecia inverter tudo! Igual uma lavagem cerebral, contudo, funcionava porque me sentia persuadido, não sei se pela confiança ou pela veemência. Toda vez que tentara me persuadir, mostrava um comportamento estranho. Seu pescoço e cabeça se movimentavam lentamente para os lados.

— Então você administra todos os meus sentimentos agora, é?

— Ora! Afinal ele tem um “cérebro”! – Começara a rir de novo com aquela voz esquisita dele - Desculpe, não pude deixar de perceber o quão estranho é usar o nome da parte anatômica que representa o controle da mente, dentro da própria mente. Pelo menos pra mim é engraçado... Ah, e se fosse em outra situação você também acharia. Confessa! – Estava certo dessa vez, eu realmente acharia engraçado. Ele riu mais um pouco e voltou ao assunto – A resposta pra essa pergunta sua é difícil!

— Espera aí... um segundo: Se você administra os meus sentimentos, por quê eu estou sofrendo?

— Porque essa não era minha tarefa, era sua! – Afirmou ele, apontando pra mim. – Sou o resultado da sua falta de controle. Como você não conseguiu controlar, alguém teve que fazer isso! Você criou isso que vê agora! Eu nasci de ti e ocupei aqui, pois você não reivindicou seu próprio controle, eu nasci da sua terceirização emocional.

Se ele tinha razão, então todas as vezes que eu vomitei de nervoso, suei frio de raiva, chorei de vazio... foi porque eu não me controlei e aquilo ali foi se juntando e criando uma alto-consciência depreciativa? Então... significa que ele aquilo é só uma personificação que tomou o controle, tal qual se uma anarquia dentro de mim. 

— EXATO! Uma anarquia, meu camponês destituído de terras e trabalhador! Tu és o ditador que outrora viajara e nos deixara na perdido na quietude dessa vila! Mas agora hei de tomar-lhe os meios de produção e destituirei sua governança despótica e coercitiva. - Ótimo, além de babaca ainda gosta de fazer jogos sarcásticos fazendo alusões políticas. Alguém me mata, por favor! -  Resumido, amigão, você não saíra mais daqui.

Ficarei ali? Não! Eu não posso! Enquanto estiver ali, ficarei em coma? Não! Talvez eu morra, eu não sei bem...Talvez eu já esteja morto, no caminho da perdição na transição pro além! De qualquer forma, a única forma de sair daqui é destruindo... – Me interrompeu.

— Me destruindo, Leozinho? Como você destruirá sentimentos?

Droga, aquilo lia minha mente! Ele começara a mexer a cabeça para um lado e para o outro. Terei de conviver com o monstro que criei aqui, se não arranjar uma solu... – Fui interrompido.

— Monstro? Assim você me ofende, Léo! Eu não sou um monstro, só estou na vanguarda.

Ah droga, ele me irrita muito! Não dá pra pensar sem ele saber tudo aqui. Toda vez que penso ele vira a cabeça para um lado e para o outro, como se tivesse que interceptar a minha mente... Na verdade, não parece tão difícil.

— Somos a mesma coisa, não há como desfazer tudo isso! O descontrole só será vencido com o controle, serei eu então!

É isso! Eu não posso controlá-lo, eu tenho de controlá-lo! Melhor... eu tenho que me controlar... já entendi! Finalmente uma luz! Já sei o que farei:  

— hahahaha - Comecei a rir.

— Está rindo de que, mente vazia?

— Estou rindo porque realmente eu não posso controlar esse lugar, afinal, quem controla é você: uma personificação de mim... Mas pense, meu amigo sombra! – comecei a me movimentar que nem ele. Sentei-me igual, segui o seu jogo. – Pare pra revisar: por quê está me perguntando do que estou rindo?

— Do que está falando?

— Ora, você não intercepta minha mente, sombrinha? Acho que não descobriu o meu plano!

— Você está blefando, eu posso ler sua mente...

— Ah é? – Olhei pra ele desafiando-o – Então leia minha mente agora!

Ele mexera a cabeça para um lado e para o outro, como da última vez, porém mais lentamente e por um período de tempo maior. Agora entendi, ele não sabe o que estou pensando agora! Significa que finalmente estou conseguindo controlar essa conexão entre meus sentimentos e meu raciocínio. Ele fechou os punhos, parecia irritado. Tenho de continuar provocando: 

— Não consegue, né? Parece que você tinha razão, eu não controlava minha mente, mas agora posso controlá-la, entretanto, só conseguirei sair daqui depois de controlar você!

— E desde quando tem peito pra isso, bela adormecida de quadra?

— Aliás, você nem questionou quando eu disse "minha mente" pois, no final, essa é a verdade! Obrigado por me ajudar!

— Esse lugar agora é meu! Você deixou isso tudo solitário e eu agora controlo! Aproveite o “monstro” que criou, pois agora que estou aqui, não vou deixar você sair tão fácil!

Se desestabilizara e não conseguia mais entender o que eu pensava! Até que faz sentido, ele está nervoso e eu estou raciocinando friamente, enquanto ele não conseguir controlar essa sala que provavelmente é conectada a minha mente, não conseguirá ler meus pensamentos! Eu desfiz a ligação após raciocinar... será essa a chave?  

"TRAMMM" - Que barulho é esse, o lugar tremeu? Essa sala está tremendo toda agora!

— O que você fez, “boa noite Cinderella”?  

— Eu não fiz nada!

— Já disse, nessa sala eu mando!

— Sim..., mas eu mando em você!

A sala começou a tremer novamente e mais fortemente! O negócio negro vibrou e se desfigurou por segundos, olhou para um lado e para o outro, mas eu não entendi porquê, pensei que ele mexeu na realidade!

— AHHH! – Ele gritou e pôs a mão na cabeça, ficara de joelhos. Parecia transtornado, sua voz distorcida afinava e engrossava rapidamente. – Você é um bosta! Eu controlo essa sala, eu a criei! Não deixarei que tente me controlar!

— Você não tem escolha, afinal, você é o resultado do meu medo, da minha insegurança, da minha raiva, de tudo... Mas a sala não ficou tremendo porque pensei em controlá-la seu idiota! 

— Então por que ela está tremendo?

— É porque agora eu estou controlando você! Estou controlando meus sentimentos, não é? Isso afeta a sua existência! 

O cenário começou a se despedaçar como vidros quebrando, conseguia ouvi-los despedaçando, tudo se quebrando! Minhas mãos estavam como em divisões de vidro partido, e, de repente, estava de novo imerso ao escuro e uma luz branca veio, só que dessa vez eu flutuava em meio ao escuro e cenas começaram a tomar o lugar sombrio pela terceira vez.

Droga! Os feixes de luz voltaram! Pareciam riscos indo por todas as direções: em cima, embaixo, na esquerda, na direita! Os riscos de luzes semelhavam mais a respingos de chuvas em excepcional contraste a escuridão do lugar.  Se expandiram e não pareciam mais respingos, cresciam em todas as formas. Os riscos formavam nas laterais, na base, viraram quadrados de luz e começaram a crescer progressivamente, juntamente olhei para os quadrados de luzes que adquiriram não só forma bem como também nitidez. Viraram todos eles cenas da minha vida, igualzinho a antes de eu entrar na sala! Ouvi um zumbido. – Que barulho é esse?

Ah não! As cenas dos lugares começaram a se distorcer pouco a pouco, e um som fino e agudo insuportável aumentou. "De novo não!" As cenas se movimentam tão rápido quanto ao som que se propaga ensurdecedor. A luz quase me cegara e o som doera todo meu tímpano! Nunca havia sentido uma dor tão forte, minha boca começou a salivar, meus olhos começaram a tremer junto com meu corpo... Tudo está... distorcendo, eu... estou perdendo os sentidos. Os meus olhos estão virando,  o sangue desce pelas minhas orelhas, meu nariz, meus olhos e minha boca. Acho que é o fim! Não acordarei no hospital, não acordarei nunca mais, é o fim, a morte certa! Não há mais cenários, não há saída, só sofrimento, apenas dor, eu acho que esse é... o meu ponto de colapso!   

— AHHHHHHHHHH

— O que foi, Leonardo? Está bem? – Disse o garoto que estava ao meu lado no jogo de vôlei. Eu estava acordado novamente, sentado no chão, suando agora quente...

— Ah, então quer dizer que ele já acordou? Fernando, não precisa chamar mais os médicos!

— Ai! – Estava sentindo uma dor de cabeça tremenda. – Quanto tempo eu apaguei?

Eles olharam pra mim, olharam uns para os outros e disseram:

— Uns 5 segundos...

— hã? 


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Notas finais do capítulo

Obrigado pela leitura e bom final de semana a todos!



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