A vida não é uma novela escrita por Laila120


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Olá :)



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Eram oito horas da manhã quando o ônibus que ia para fazenda partiu, com Ana lá dentro. Uma hora antes ela havia se encontrado com o quarto olho em uma cabana abandonada na área do acampamento. Ele aparentava ter 60 anos, e contou para Ana que o antigo segundo olho, chamado Charles, descobriu que a sua esposa o estava traindo com o chefe da segurança da área da cidade, e, por isso, planejou atos criminosos para prejudicar segurança do resort, fazendo com que o amante da sua mulher fosse demitido.

Ana entendeu o motivo de todos querem manter isso em segredo; afinal, quem quer se hospedar num resort que não é seguro?

Ficando mais tranquila sabendo o que realmente aconteceu, decidiu resolver todas as pendências que ainda tinha, para que pudesse voltar a se concentrar no seu principal objetivo: provar a sua capacidade de herdar o resort.

Ana pegou o seu celular e ligou para Paolo:

— Um... — Paolo atendeu sonolento. — Quem é?

Ana percebeu que ainda era cedo e que provavelmente tinha-o acordado.

— Desculpa! Eu te acordei? — Ana se remexeu na sua poltrona e se apoiou na janela. — Eu vou te ligar mais tarde.

— É a Ana? — perguntou Paolo antes que ela desligasse.

— Sim! — Apesar de já ter escrito um pequeno roteiro do que falar para ele quando tivesse tempo de ligar, Ana se esqueceu de coloca-lo em sua bolsa pela manhã. — Me desculpe, eu não percebi que era tão cedo.

— Achei que você não iria me ligar.

Ana se afastou do vidro, percebendo a quão injusta ela tinha sido.

— Eu estava muito ocupada e acabei esquecendo-me de te ligar...

Antes que Ana terminasse de se explicar, Paolo interrompeu.

— Não precisa se preocupar! — Ana ouviu o Paolo respirando fundo. — Obrigado por me ligar, espero que de tudo certo no seu trabalho, tenha um ótimo final de verão.

— Não! Espera! — Ana gritou, assustando os outros passageiros do ônibus, mas Paolo já tinha desligado.

Se sentindo muito burra por pensar que Paolo estaria até agora esperando pela resposta dela, Ana decidiu não desistir de explicar tudo o que aconteceu para ele e ligou de novo.

— Algum problema? — Paolo perguntou, bravo.

—Você entendeu errado! — Ana tentou explicar. — Eu não sabia como lidar com tudo o que aconteceu.

— Eu não estou entendendo nada — admitiu Paolo. — Você me liga de madrugada depois de esquecer que eu existo, como se nada tivesse acontecido. O que você acha que eu sou?

— Eu sinto muito, mas mesmo assim eu quero tentar me explicar — Ana queria explicar tudo, mas o ônibus já tinha chegado à fazenda e ela teria que começar a trabalhar. — Eu tenho que ir trabalhar. Podemos nos encontrar pessoalmente para conversarmos?

— Eu vou estar ocupado a manhã toda. Que horas você vai almoçar?

Ana se animou por ter conseguido uma chance.

—Eu vou almoçar à uma hora. Você se importa de vir almoçar na fazenda?

— Achei que os restaurantes estariam fechados por conta do evento.

— O restaurante central estará funcionando normalmente por causa dos hóspedes do chalé.

— Combinado então!

Assim que desligou o celular, Ana pegou a sua bolsa e desceu do ônibus. Agora deveria se concentrar em trabalhar.

A manhã passou muito rápido, com Ana correndo por todos os lados. Ao mesmo tempo em que conferia se estava tudo no lugar certo, não parava de pensar no Paolo, apesar de achar ele bonito e diferente, não tinha certeza se realmente gostava dele. Quando se apercebeu, já estava na hora de ir almoçar.

O restaurante era como uma cabana de madeira gigante; ele foi projetado para ser o maior restaurante do resort podendo atender até 800 pessoas ao mesmo tempo. Havia mesas de madeiras em diversos formatos e tamanhos para atender a todas as necessidades dos clientes. Como estava muito quente, Ana escolheu uma mesa redonda próximo do ar condicionado.

Enquanto esperava, Ana reescreveu o roteiro com tudo o que ela precisava dizer para Paolo. Quando acabou de revisar, percebeu que ele já tinha chegado e estava vindo em sua direção. Ana ficou com vergonha de encará-lo a sós e imediatamente chamou o garçom. O garçom chegou junto com Paolo à mesa impedindo que os dois se cumprimentassem.

— Posso anotar o seu pedido? — perguntou o garçom sorrindo.

— Eu vou querer comer frango xadrez... — Ana respondeu rápido enquanto Paolo se sentava na mesa. — E um suco de uva.

O garçom anotou seu pedido e se virou para Paolo esperando o pedido dele. Após alguns minutos o garçom decidiu perguntar:

— E o senhor?

— Pode ser o mesmo.

— Com licença, eu já volto.

Assim que o garçom saiu Ana começou a fala o que havia escrito em seu roteiro:

— Me desculpa, eu tive vários problemas no trabalho e acabei descontando em você. Eu sei que estraguei tudo por não prestar atenção no que você estava dizendo ou sentindo naquele dia, e acabei colocando a culpa em você. — Ao sentir que precisava respirar, Ana começou a falar mais baixo e devagar. — Eu não te liguei antes, porque eu não queria ter o trabalho de pensar sobre o que aconteceu e o que eu sinto por você.

— Então já que você me ligou significa que você pensou sobre o que aconteceu e sabe o que sente? — perguntou Paolo curioso.

— Eu pensei, mas ainda não cheguei a nenhuma conclusão. — Ana respirou fundo novamente e conferiu em seu roteiro o que ela havia se esquecido de falar. — Decidi te ligar para conversarmos e tentarmos de novo.

— Entendi! Você me ligou de madrugada, esperando que eu ainda estivesse esperando a sua boa vontade de tentar?

— Eu entendo se você já estiver saindo com outra pessoa. — Ana começou a pensar que já era tarde de mais. — Obrigada por ter vindo conversar.

Por mais que Ana quisesse ir embora, o garçom estava trazendo a comida e seria perigoso voltar a trabalhar de estômago vazio. Contra a sua vontade, começou a comer.  

Após terminarem de comer em silêncio, o garçom voltou, oferecendo de sobremesa um bolo de chocolate. Ana pensou que talvez o chocolate pudesse anima-la e aceitou.

— Sabe... — Paolo decidiu quebrar o silencio entre eles, enquanto Ana partiu um pedaço do bolo para comer. — Você entendeu errado, eu não estou saindo com ninguém. Como você acha que eu conseguiria sair com outra pessoa sabendo que você poderia entrar em contato?

Ana quase não conseguiu comer o pedaço de bolo que tinha colocado em sua boca. Antes que ela pudesse responder, Paolo continuou sua explicação calmamente.

— Meu pai costuma dizer que “pode-se ouvir o sim, até que o não seja falado.”

— Por que você não me disse antes? — Ana ficou tão brava que deixou a sua colher cair com tudo na mesa, fazendo muito barulho, o que chamou atenção do garçom que passava pela mesa deles. — Você podia ter falado assim que eu acabei de falar!

— Eu estava pensando sobre o assunto. — Paolo colocou mais um pedaço do bolo na boca.

— E se eu tivesse ido embora? — perguntou inconformada.

— Você não iria embora sem comer.

— Qual o seu problema com comida? — Ana olhou o seu relógio para ver quanto tempo ainda tinha. — Agora eu já tenho que voltar ao trabalho e nós não conversarmos.

— Nós conversamos sobre o que aconteceu e isso era importante. — Paolo terminou de comer o bolo e abriu a agenda do celular. — Quando nós podemos nos ver de novo?

— Eu não sei — Ana bateu as mãos na mesa irritada. — Eu queria resolver tudo hoje porque, até o festival acabar, eu não terei certeza dos meus horários.

— Então até que horas você vai trabalhar hoje?

— Eu tenho que virar a tolha de todas as mesas da Itália, porque alguém colocou do avesso. — Ana olhou para bolo tentando calcular quanto tempo ela gastaria. — Quando acabar só vou ter tempo de buscar os guardanapos que estão na lavanderia da cidade, tomar um banho e voltar.

— Eu posso te ajudar com as toalhas. — Paolo se ofereceu. — Assim você ganha tempo e nós conversamos.

Mentalmente, Ana fez uma lista com prós e contras de deixá-lo ajudar com as toalhas e percebeu que os prós ganhavam.

— Tudo bem! — disse sorrindo. — Eu só preciso de ir ao banheiro antes.

— Eu vou te esperar lá fora.

Ana estava feliz que tudo se resolveu no final. Ao passar pelo garçom que havia os servido, ele chamou Ana para conversar:

— Desculpa te atrapalhar. Eu posso falar com você um pouco?

— Eu tenho que ir trabalhar. — Ana achou estranho o garçom querer conversar com ela.

— Eu só quero te dar um conselho — explicou o garçom, diminuindo e tom da sua voz. — É melhor você se afastar dele.

— Eu tenho que ir embora!

Ana, confusa, saiu correndo para o banheiro. Por mais esquisito que fosse, ela não conseguia para de pensar no que o garçom falou. Após lavar as mãos e o rosto ela decidiu não pensar muito nisso e apenas se concentrar conhece-lo melhor e concluir o seu trabalho.

Após terminarem de arrumarem as toalhas de mesa, Ana foi para o ponto de ônibus e Paolo quis fazer companhia para ela.

— Você mentiu para mim! — reclamou Paolo.

— Eu fiz o quê? — Ana perguntou, imaginado que provavelmente Paolo estava tentando fazer uma piada. Ela já havia entendido que ele adorava contar piadas, mas era péssimo. 

— Você disse que era só virar as toalhas, mas nós tivemos que tirar o arranjo do centro da mesa e a toalha branca que estava em cima da toalha que colocaram do lado errado. — Enquanto falava Paolo mexia as mãos simulando pegar os objetos da mesa. — E depois ainda tivemos colocar tudo de volta.

Ana riu com a frustação dele e em quão cansado ele parecia estar.

— Eu disse que iria demorar muito. E graças a sua ajuda, eu acabei mais rápido.

— Rápido? — perguntou sem acreditar. — Nós ficamos quase três horas fazendo isso!

— Tem razão, se eu tivesse que fazer tudo sozinha não teria conseguido terminar antes do inicio do festival.

— O funcionário que fez isso deveria ser demitido! — Ana parou de andar após perceber que Paolo estava falando sério. — O que foi?

— Todo mundo pode cometer erros! — Ana explicou, triste, lembrando como ela mesma sempre erra. — Se você vai demitir um funcionário novo e inexperiente assim que ele cometer o primeiro erro é melhor nem contratá-lo. Todo mundo erra quando começa algo novo.

— Eu entendo o que você está querendo dizer — explicou com calma. — Mas quando um funcionário comete algum erro, a empresa perde dinheiro tentando concertar.

— Se toda vez que alguém cometer um erro for demitido, ninguém teria um emprego. Não se trata de errar e sim de como consertar o próprio erro. — Ana voltou a andar enquanto pensava. — Você já trabalhou?

— Eu nunca trabalhei, mas estou estudando para... — Paolo coçou a cabeça pensando. — Digamos, assumir o lugar do meu pai.

— O seu pai é dono de alguma empresa?

— Não é bem uma empresa. É complicado explicar... — Paolo parou e avistou um ônibus se aproximando do ponto. — Aquele é o seu ônibus?

— Sim!

Ana começou a correr para chegar ao ponto antes do ônibus, deixando Paolo para trás. Por sorte, o motorista era seu conhecido e esperou no ponto. Ela se despediu rápido de Paolo e entrou no ônibus.

Assim que Ana sentou na sua poltrona acabou dormindo pelo cansaço, e quando acordou já havia chegado à cidade. Ela foi correndo para sua casa para tomar banho e trocar de roupa.

O sol já estava se pondo quando Ana saiu da lavanderia com uma sacola cheia de guardanapos. Ao passar pela sorveteria do shopping, escutou algumas pessoas discutindo, e quando olhou dentro da loja viu Elice discutindo com a garota da confissão da loja. Querendo ajudar a sua amiga, Ana entrou na loja, mas desistiu de ajudar e ficou escutando a conversa:

— Eu quero sorvete de morango! — Emily ordenou para o atendente, que estava encolhido atrás do balcão.

— Ele já disse que acabou! Você é surda ou está com muita cera no ouvido? — perguntou Elice rindo.

— Fica quieta, sua praga! — A garota reclamou enquanto batia no ar. — Eu quero sorvete de morango. Se eles quiserem, tenho certeza que podem conseguir.

— Esse é o seu problema Emily! Não dá para ter tudo o que você quer — Elice falou calma e paciente. — Eu sei que você gosta de experimentar sabores exóticos, por que você não pede o de jabuticaba ou aquele que tem jaca?

    — Do que adianta fingir ser boazinha, se quando virarmos as costas você é a primeira a atirar pedras. — A garota jogou seus cabelos para trás e se virou para o balcão. — Eu vou para mesa e ficarei esperando o meu sorvete de morango.

— Sim, senhora! — brincou Elice.

— Nem pense em fazer alguma coisa para destruir essa viagem! — a garota ameaçou enquanto subia as escadas para o andar de cima da sorveteria.

Ana ouviu seu celular tocar e viu uma mensagem perguntando se ela já tinha saído. Percebendo que estava atrasada, ela correu para fora da loja. Após entrar na van que a levaria, junto com alguns garçons, para a fazenda, ela encostou sua cabeça no assento e fechou os olhos tentando processar tudo o que ela havia escutado. Ana queria entender por que Elice estava agindo de forma calma e fria, e como as duas garotas se conheciam.

Ao chegar à cabana que os funcionaram usavam para se trocar e deixar os seus pertences, Ana foi chamada para uma reunião geral com a equipe da organização. Ao entra na sala, ela não conseguia acreditar no que estava vendo.


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Notas finais do capítulo

Até mais!



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