A vida não é uma novela escrita por Laila120


Capítulo 6
Capítulo 6




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Já estava amanhecendo quando Ana chegou ao hospital em que Milena estava internada. Durante o trajeto ela não conseguiu parar de pensar em todas as coisas erradas que aconteceram com elas nos últimos dias. Ela estava com medo de que Milena não quisesse ajudá-la e ficou parada em frente à porta do quarto dela.  

Após pensar em todas as possibilidades e refletir muito, Ana bateu na porta se preparando para o pior.

— Bom dia... — Ana abriu a porta devagar.

— O que você quer? — Milena perguntou, sentando-se na cama. — Eu já não te falei para você não vir aqui?

Ana entrou no quarto e se aproximou de Milena.

— Eu deveria ter escutado você.

 Milena se assustou e bateu a mão na cama para que Ana se sentasse perto dela.

— O que aconteceu? — sussurrou.

— Ontem, quando eu cheguei à minha casa, eu recebi uma ligação. — Ana se aproximou mais ainda. — Ele disse que acidentes acontecem.

Milena colocou o cabelo seu cabelo e olhou para a janela.

— O quê você fez?

— Eu procurei informações sobre o seu acidente — Ana falou, se preparando para ser repreendida.

— O que você descobriram?

— Nada — Ana falou tentando se acalmar. — Você acha que eles vão fazer alguma coisa comigo?

— Eu acho que não. — Ana se acalmou e Milena a encarou: — A ligação foi um aviso.

— Um aviso... — Ana se lembrou de todas as vezes que Milena falou para ela deixar esse assunto quieto.

— Continue a trabalhar, e não venha mais me visitar. — Milena se levantou e caminhou até a porta do banheiro. — Esquece esse assunto e viva sua vida. Eu vou tomar banho.

Assim que Milena fechou a porta do banheiro, Ana foi embora, decidia a não pensar mais sobre o que aconteceu.

Durante a semana Ana se concentrou em seu trabalho; como seu chefe não estava lá, ela não poderia cometer nenhum erro.

O festival sempre acontece na área da fazenda: são montadas várias tendas na praça central e os hóspedes podem experimentar comidas de vários lugares do mundo. 

Por ser longe da cidade, Ana começou a viajar no mesmo ônibus todos os dias e acabou fazendo amizade com o motorista. 

— Eu nem acredito que o festival começa amanhã à noite! — Ana comentou com o motorista do ônibus. — Agora eu só tenho que organizar o mural de fotos, e amanhã cedo vou colocar a decoração em todas as 80 mesas que estão divididas nas tendas.

— Como você consegue ser tão otimista? — perguntou o motorista rindo.

— Eu não sou otimista — Ana respondeu séria. — Mas ultimamente eu acho que se eu não pensar assim vou acabar enlouquecendo.

— Não fale assim, você é tão jovem, só esta começando a vida!

Ana ficou pensando nas palavras do motorista e não ouviu seu telefone tocar.

— Seu telefone está tocando.

Ana agradeceu e viu que era Elice.

— Oi!

— Oi, sumida! Esqueceu de mim?

— Eu só estive muito ocupada. — Ana desceu do ônibus e acenou para o motorista.

— Você vai ficar doente se trabalhar muito. Quando podemos nos encontrar?

— Eu estou indo organizar umas fotos. — Ana percebeu que conversar com Elice talvez ajudasse ela a se distrair de todos os problemas. — Podemos nos encontrar no shopping quando eu acabar?

— Eu já tenho um compromisso hoje à noite — Elice respondeu triste.

— Durante o festival eu não vou ter tempo para conversar com você — Ana explicou.

— Eu não posso te ajudar com as fotos? — sugeriu Elice esperançosa. — Enquanto organizamos as fotos podemos conversar.

— Você é uma hóspede e isso não seria certo. — Ana respondeu de forma padrão. — Porém... ninguém precisa saber que você me ajudou.

— Perfeito! — Elice gritou de alegria. — Eu já estou indo te encontrar.

Ana encontrou Elice na porta do galpão e elas entraram juntas. O galpão estava cheio de caixas cheias de pó. Ana acendeu a luz para procurarem a caixa com as fotos.

— Esse lugar está precisando de uma limpeza urgente! — Elice contatou.

— Concordo. — Ana pegou uma caixa que levantou pó fazendo as duas espirrarem. — Achei a caixa, mas não tem como montarmos o painel aqui.

— Com certeza meu nariz não vai aguentar. — Elice espirrou de novo. — Devia ser proibida a entrada de pessoas nesse lugar.

— A entrada nesse lugar é restrita a funcionários da organização de eventos — Ana explicou, tentando entender porque esse galpão não era limpo. — Vamos embora.

Ana encontrou uma sala próxima do galpão, que apesar de ser escura e ficar no subsolo, era muito limpa. Elas colocaram um quadro de camurça apoiado na parede e espalharam as fotos no chão para escolherem as mais bonitas.

— Você fez alguma coisa de interessante além de trabalhar nessa última semana? — Elice perguntou escolhendo uma foto para colocar no mural.

— Como assim? — Ana ficou preocupada que Elice talvez possa ter investigado sobre o acidente de Milena sozinha. — Você fez alguma coisa de diferente?

— Só passeios com a minha família, que foram muito chatos. — Elice colou algumas fotos com as pontas em cimas de outras fotos. — Você acha que vai ficar estranho se eu colar um pouco em cima?

— Não vai ficar parecendo um erro? — Ana perguntou se afastando quadro para olhar de longe. — Realmente parece que colaram errado.

— Tudo bem. Só que os erros nem sempre são ruins. — Elice tirou as fotos e colou de novo. — Tornam a vida mais divertida não acha?

— Com certeza não! Toda vez que eu erro, nunca acaba bem. — Ana lembrou que a única vez que tudo meio que deu certo foi depois do show quando Paolo pediu para sair com ela, e no final também foi um erro porque o encontro foi horrível. — Até quando dá certo, eu acabo sofrendo no final. — Ana escolheu algumas fotos para colocar na parte de baixo do mural. — Por isso eu decidi que não vou mais a encontros, nem sair para me divertir, enquanto não acabar o verão.

— Você foi a um encontro? — gritou Elice, assustando Ana que deixou as fotos caírem no chão. — Foi tipo um encontro amoroso? Quando você foi? Como ele era? O que vocês fizeram?

— Eu só fui almoçar com uma pessoa e acabou não dando certo. — Ana pegou as fotos e as colou no mural.

— O que aconteceu? — Elice perguntou preocupada.

— Nada. Só não deu certo. — Ana olhou para o mural pronto e gostou de como as fotos pareciam transmitir felicidade. — Vamos guardar as fotos que não usamos para irmos embora.

— Eu não vou embora até você me contar o que ele te fez! — Elice sentou no chão e olhou seria para Ana.

— O encontro foi chato e ele é um ignorante muito sem graça. — Ana também sentou no chão e desabafou.

— Se você não gosta dele, porque saiu com ele?

— Ele é um hóspede e me ajudou com um trabalho, e sei lá! — Ana tentou entender o que aconteceu.

— Você saiu com um hóspede! — Elice cruzou os braços sem acreditar. — Você não queria me dar o seu número de telefone porque eu era uma hóspede e aceitou ir ao encontro com um...?

— Eu sei! — Ana gritou com arrependimento. — Eu nunca deveria ter feito isso. Acredita que ele nunca tinha ido a um encontro?

—Sim — Elice respondeu, não entendendo o que havia de errado. — Ninguém é obrigado já ter tido um encontro amoroso. Acho que aqui no Brasil até pode ser comum os jovens saírem entre si, mas em muitos lugares do mundo isso é bem restrito.

— Não tem nada a ver. Ele disse que o pai dele é muito controlador — Ana explicou.

— Quantos anos ele tem? — Elice perguntou, tentando entender o ponto de vista da Ana.

— Ele tem 17 anos. Eu acho que o pai dele controla toda a vida dele, provavelmente ele não deve ter amigos. — Ana se lembrou de como nas novelas o protagonista se sentia triste por não poder fazer nada que ele queria.

— O que ele fez de errado durante o almoço? — Elice perguntou, cada vez mais calma. 

— Ele reclamou que eu estava comendo muito — Ana respondeu triste. — Eu não entendo por que a quantidade de comida que comi era importante para ele.

— Talvez isso tenha sido um elogio, talvez ele goste de pessoas que comem bastante — Elice tentou justificar. — O que mais ele falou?

— Com certeza não foi um elogio. — Ana procurou lembrar o que ele havia dito de insuportável. — No final, quando um guarda chamou nossa atenção ele não deixou eu me defender. Não estávamos fazendo nada de errado, nós poderíamos conversar com o guarda e não simplesmente obedecer.

— Eu não entendi nada! — Elice riu. — Talvez estivesse com medo de que algo acontece com vocês, se o pai dele é tão controlador assim. Provavelmente ele ficou do medo do pai brigar com ele. 

— Pensando por esse lado, faz sentido. — Ana começou a pensar que talvez ela tivesse exagerado.

— Ana, eu acho que você não deu nenhuma chama chance ele. Depois do encontro o que você falou para ele?

— Eu ainda não mandei mensagem para ele — Ana respondeu envergonhada.

— Eu não acredito! — Elice bateu as duas mãos nas pernas. — Você tem que falar para ele que você não gostou e não quer mais sair com ele, ou falar que quer tentar de novo! Mas tem que falar como ele! Deixar ele sem resposta é como se você quisesse o fazer sofrer.

— Tem razão, eu vou ligar para o Paolo ­­— Ana decidiu, percebendo que estava cometendo um erro. — É melhor irmos embora.

— Paolo? — Elice perguntou surpresa.

— É o nome dele. Você conhece? — Ana perguntou curiosa.

— Eu não lembro. — respondeu Elice levantando, do chão. — É melhor eu ir embora logo, se não vou me atrasar.

Elice saiu correndo da sala e deixou Ana carregando o mural de fotos em direção ao caminhão que levaria o quadro para festival.

Quando estava quase chegando ela esbarrou em alguém.

— Me desculpa. Você está bem?

— Como eu estaria bem?

Ana reconheceu a voz da garota e torceu para que ela não a reconhecesse.

— Sinceramente estou ficando cada vez mais decepcionada com os funcionários do hotel. — A garota se levantou e pegou o celular. — Qual o seu nome e o nome do seu chefe?

— Foi um acidente — Ana tentou acalmar a garota. — Eu vou chamar alguém para te levar ao hospital e...

— Espera um pouco! — A garota olhou fixamente no rosto de Ana. — Você é a garota da confusão na loja.

— Sim — Ana respondeu.   

— Eu não acredito que eles permitem que funcionários frequentem as mesmas lojas que os clientes.

A garota virou para o outro lado e começou a mexer no celular, ignorando a presença da Ana.

Ana pegou o celular e começou a ligar o seu chefe, porém ele não atendeu. Ela percebeu que teria que tentar resolver sozinha.

— Com licença?

Ana tentou chamar a atenção da garota para conversarem, quando de repente a garota largou o celular e se virou para encarar os olhos de Ana. 

— Você tem muita sorte de eu estar muito atrasada. — A garota jogou seus cabelos para trás e respirou fundo. — Como eu sou uma pessoa muito boa, vou ter dar mais uma chance; se você cruzar o meu caminho de novo, pode ter certeza que eu te denuncio à mesa central!

A garota foi embora correndo e deixou Ana muito curiosa.

A mesa central é formada por um grupo de pessoas muito influentes financeiramente e que comandam tudo que acontece dentro resort. Eles podem fazer o que quiserem desde demitir funcionários até a construção de um prédio novo. A única pessoa que tem mais poder de decisão que eles é o avô de Ana, já que é o dono daquele terreno e fundador do resort.

Devido à grande influência os próprios funcionários evitam falar sobre o assunto, fazendo com que a grande maioria dos funcionários que não estão em posições de comando nem sequer saiba da existência deles.

Ana ficou curiosa imaginando se aquela garota era importante, pois ela conhecia alguém da mesa central. Ela deixou o quadro dentro de um caminhão e foi para casa pensando nisso.

Eram cinco horas da manhã e o celular de Ana recebeu uma ligação. A garota não reconheceu o número, mas como estava meio dormindo acabou atendendo.

— Bom dia quinto olho, eu sou o quarto olho.

— Aconteceu alguma coisa? — Ana levantou-se correndo e acendeu a luz. — Eu vou já para aí.

— Não aconteceu nada! — a voz respondeu rindo.

Ana percebeu que nunca havia falado com o quarto olho e achou estranho ligar para ela tão cedo.

— Então porque você me ligou tão cedo?

— Eu quero te contar o que aconteceu com o antigo segundo olho.

Ana segurou a respiração e se sentou na cama.

— Podemos nos encontra? — perguntou com a voz calma.

Naquele momento Ana esqueceu tudo que havia acontecido e deixou a sua curiosidade falar mais alto:

— Sim!


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler essa historia (imagine uma cara fofa)
Gostaria de agradecer a beta reader Luna, por sempre ser tão paciente e atenciosa.
Nos vemos em Janeiro de 2021;)



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