Nosso Amor Único escrita por Lyssa Silver


Capítulo 13
Capítulo 13




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ANASTASIA

 

Me encontrava extremamente indignada com o descaso que o delegado nos tratou ao irmos registrar a queixa contra o cara que tinha agredido o Christian e a moça. Mesmo com os policiais relatando o que viram, o cara só iria passar a noite na prisão, por perturbar a ordem pública e depois ia ser liberado.

— Eu ainda acho injusta toda essa situação, ursão – comentei, emburrada, enquanto tirava minha maquiagem no banheiro da minha suíte.

— Também estou revoltado, amor – Christian falou, saindo do box, com uma toalha enrolada na cintura – A moça sofreu fraturas em algumas costelas e o imbecil do delegado se recusou a seguir adiante com a queixa, só porque a mulher era trans.

— Um absurdo mesmo. Isso só acontece porque não tem quem lute de verdade por nós. Eu queria que tivesse alguém para dar apoio à nós. Com certeza, tudo seria mais fácil de se resolver. E eu não me refiro só aos casos que envolvem a polícia e sim a tudo – murmurei, virando-me para ele, já me aproximando do mesmo – Como está o seu lábio, amor?

— Um pouquinho doloroso.

— E está um pouco inchado também – informei, dando uma olhada melhor no pequeno corte, quase ao centro do lábio inferior dele.

— Oh, Deus! Vou ficar beiçudo! – Christian exclamou, exageradamente dramático, fazendo nós dois rir, então dei um selinho nele e me afastei para terminar de limpar minha pele antes de ir tomar o meu banho.

 

★ ★ ★ ★ ★

 

— Ursinha? – ouvi Christian me chamar, assim que saí do closet, vestida em um dos meus Baby Dolls.

— Oi, ursão – murmurei, já me jogando na cama, aconchegando-me a ele, que assistia algo na televisão – O que foi?

— Eu estava pensando aqui no que você disse aquela hora, sobre ter alguém para dar apoio à nós, transgêneros. Não sei se daria certo, mas porque a gente não poderia ser esse alguém? Poderíamos criar uma ONG.

Um sorriso logo se formou em meus lábios e eu me sentei, de frente para ele.

— Sério, amor?

— Sim, ursinha. Podemos ter um lugar onde acolhesse e ajudasse pessoas transgêneras de todas as idades. Que desse aquele suporte familiar para os parentes deles.

— E que tal um abrigo para os casos igual ao seu, que ficam sem para onde ir após serem expulsos de casa, amor?

— Também é uma excelente ideia, ursinha.

— Podemos fazer, ou melhor, vamos fazer, ursão! – exclamei, mega animada, fazendo Christian sorrir – Eu estou tão feliz, meu amor. Vamos poder ajudar vários trans com apoio psicológico. Minha mãe tem alguns amigos que eu sei que vão nos ajudar com isso.

— Que bom, amor. Também podemos tentar ajudar aqueles que desejam fazer a cirurgia de troca de sexo.

— Sim! E com oportunidades de emprego também!

— Temos que encontrar um lugar ou dois lugares, não sei, para montarmos a ONG e o Abrigo – ele ressaltou.

— Amanhã podemos começar a resolver isso, amor – falei, me sentando sobre o quadril dele, já me inclinando e o enchendo de beijinhos pelo rosto – Obrigada, ursão – agradeci, tomando seus lábios num beijo, mas logo me afastei quando Christian reclamou de dor, fazendo-me sorrir – Tadinho do meu amor. Está dodói.

— Foi por uma boa causa, ursinha.

— Verdade, mas não faça isso de novo, por favor – pedi, me deitando em seu peito nu – Odeio te ver machucado assim ou pensar que poderia ter acontecido algo pior.

— Ei, não pense nisso, meu amor – ele disse, afagando minha costa.

— Você é o meu Super-homem – murmurei baixinho, fechando os olhos por alguns segundos.

— E você é a minha Supergirl.

Sorri.

— Você sabe que eles dois são primos, né?

— Um incestozinho entre primos não faz mal a ninguém – ouvi Christian falar e eu ri, já me sentando e o encarando.

— Não quero ser a sua Supergirl não. Eu quero ser a Mulher-Maravilha.

Ele sorriu, assentindo com a cabeça.

— Ok, minha Mulher-Maravilha linda.

 

★ ★ ★ ★ ★

 

UM ANO E CINCO MESES DEPOIS

Estávamos nos bastidores do The Ellen DeGeneres Show, ao qual fomos convidados para aparecer. Ultimamente, fazíamos muito isso. Dávamos várias entrevistas em diversos canais de televisão, íamos a eventos, organizávamos debates, manifestações, palestras educativas e motivacionais em vários lugares, principalmente em escolas e faculdades.

Entretanto, essa exposição toda da gente na mídia, lutando pelos direitos dos transgêneros, além de resultar em mais investidores e parceiros para a ONG Together With You e para o Abrigo Happy Dreams, nos trouxe também vários comentários negativos e cruéis de pessoas, tanto conservadoras e religiosas quanto intolerantes.

Todavia, sabíamos que esse tipo de ataques verbais viriam assim que nos expuséssemos abertamente para o mundo e não nos permitimos abater-se por isso, pois existiam várias pessoas que contavam com o nosso apoio e se caíssemos, o nosso sonho de ajudar os outros cairia conosco também.

— E agora, vamos receber no palco o casal transgênero mais famoso dos últimos meses! Anastasia Steele e Christian Grey!

Assim que ouvimos ela falar adentramos o palco, de mãos dadas, sorrindo para a Ellen, que nos recebeu em pé, dando logo um abraço em nós dois.

— Eles não são mesmo lindos juntos, pessoal? – ela perguntou à platéia à medida que sentávamos no sofá branco ao lado da poltrona dela e entrelaçávamos nossas mãos novamente – Eu estou muito feliz de receber vocês aqui hoje.

— Nós que nos sentimos muito honrados em estar aqui, Ellen – falei, sorrindo.

Sempre fui a que tomava a frente, respondendo a maior parte das perguntas nas entrevistas, a que falava mais nos debates e palestras. Christian não gostava muito dos holofotes, de ser o centro das atenções, devido a timidez dele.

— Primeiramente, eu quero saber quando foi que vocês se descobriram e tomaram a decisão de mudar.

— Bom, tanto eu quanto o Christian sempre soubemos que havia algo diferente com a gente, pois ficávamos incomodados com a forma que éramos tratados, assim como toda criança que nasce trans. Assim que ela tem uma noção de quem ela é como pessoa, o que acontece principalmente na faixa etária dos 04 aos 08 anos, ela vai fazer aos pais a temida pergunta “Mamãe, papai, eu sou menino ou menina?”.

— Isso aconteceu com vocês?

— Não – eu e Christian respondemos juntos, já sorrindo um para o outro, então o deixei falar.

— Eu me descobri aos 08 e aos 10 contei para os meus pais, que não vieram a aceitar muito bem, então nos afastamos e até hoje não mantemos contato. Eles querem a menininha deles de volta, mas eu não posso ser o que eles desejam – Christian disse, dando de ombros, com um meio sorriso triste nos lábios.

— Já eu contei bem mais tarde para os meus pais. Por volta dos 15 anos. E minha mãe me deu mega apoio com isso, mas meu pai não e o mesmo saiu de casa e das nossas vidas.

— Demorou muito a transformação de vocês?

— Acho que... Cinco anos? – Christian indagou, me encarando e eu assenti com a cabeça – É por aí – ele disse, voltando a olhar para Ellen – O processo foi numa média de cinco anos para nós dois.

— E como foi que vocês se conheceram?

— Através de um site de relacionamento – informei.

— Mentira! Peraí? Existe um site de relacionamento só para transgêneros? – Ellen inquiriu, fazendo uma cara de espanto, parecido com aquele emoji do celular, com as mãos nas bochechas.

Não nos aguentamos e acabamos rindo dela.

— Aqui nos Estados Unidos, não tem esse tipo de site. Fizeram recentemente um no Reino Unido, mas no nosso caso, foi em um site normal mesmo – Christian respondeu, parecendo mais a vontade com a entrevista.

— Ele me mandou uma mensagem tarde da noite...

— Porque ela ficou com preguiça de preencher as perguntas do perfil.

— Está vendo, amor? Minha preguiça uniu nós dois – comentei, fazendo todos rirem.

— E aí, o que aconteceu? – Ellen perguntou, rindo.

— A gente conversou e nos empolgamos tanto, que só viemos falar que éramos transgêneros no primeiro encontro.

— Deve ter sido um baita susto para vocês dois.

— Eu achei que ela estava tirando onda com a minha cara. Que tinha, de algum jeito, descoberto sobre mim e quis fazer uma brincadeira de mal gosto. Ainda bem que era verdade – Christian falou, me olhando.

— Para mim foi uma surpresa. Eu me encontrava uma pilha de nervos, mas de alguma forma, me sentia tão bem conversando com ele, perto dele. Não fazia ideia que Christian era, mas com certeza foi algo já escrito em nossas vidas.

— Foi o destino, então? – Ellen indagou.

— Ah, com certeza, foi o destino sim – ele murmurou, trocando um olhar carinhoso comigo, já erguendo nossas mãos entrelaçadas e beijando a minha.


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