Romeu & Julieta escrita por Giovanna


Capítulo 4
Hearts Still Beating




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Carl entendia muito mais da vida de Katrina agora.

Não havia passado mais de um dia dentro do Santuário, mas fora o suficiente para que Negan o arrastasse de um lado para o outro lhe mostrando todo o sistema do lugar. Por vezes Katrina os acompanhava, Carl a observava cumprimentar crianças e adultos durante a passagem, diferentemente do tio ela era aberta aos moradores, ela não precisava castiga-los.

Castigo. Apesar da humilhação que passara, nada se comparava ao real castigo que era aplicado aos moradores daquele lugar, era de se esperar que eles vivessem a base do medo com Negan, mas Carl não imaginava o que realmente acontecia ali.

Entretanto as imagens do Santuário ficavam para trás, ele estava sendo levado de volta a Alexandria. Parte de seu cérebro queria sair do carro e fugir para de alguma forma avisar aos moradores do seu lar, mas sabia que aquilo era impossível. Além de que, ter a imagem de Katrina completamente adormecida ao seu lado lhe deixava distraído.

Katrina sentiu seu corpo ser balançado gentilmente quando o carro parou, haviam chegado. Apesar de sonolenta, conseguia identificar a surpresa no rosto dos Alexandrinos, eles estavam de volta em menos de dois dias. Negan não disse muito, porém se instalou na casa do xerife de forma fenomenal.

Eles possuíam água encanada, assim como confortáveis camas e comida. O necessário para o corpo humano, Katrina seguia o tio que era guiado por Carl, ele certamente não parecia feliz com a presença do mais velho na casa.

— Uau! – Negan exclamou em um assovio. – Vocês tem uma casa ótima aqui, Carl.

Antes que ele pudesse responder, um choro chamou a atenção no andar de cima. Eles se mantiveram em silêncio, mas a mente de Katrina gritava, eles tinham um bebê na casa.

A passos rápidos o trio subiu as escadas, Negan abriu a porta encontrando um anjinho loiro em forma de bebê. Ela se calou ao ver a imagem de Carl, Katrina imaginou que talvez eles fossem irmãos.

— Ela é tão parecida com você, Katrina. – Negan pegou a menininha no colo. – Sinto saudades da época que eu conseguia te segurar em meus braços.

Katrina deu um meio sorriso, apesar de Negan enfeitar, ela se lembrava de que ele não era uma pessoa magnífica em sua infância. Ele andava bêbado e sempre discutia com Lucille, a real tia da jovem. Porém tentavam mascarar qualquer problema sempre que a visitavam.

Olhando a grosso modo, talvez o apocalipse dos mortos tivesse o ajudado a melhorar.

— Como ela se chama? – Negan olhou para Carl que se mantinha alerta.

— Judith.

— Ora, Judith, já que você acordou, vamos brincar de casinha.

Um sorriso sacana surgiu no rosto do homem, Rick mal podia esperar pelo o que veria em sua própria casa.

Carl ficava sobre os olhos de Negan a todo minuto. Katrina se ocupou em andar por Alexandria por um tempo, aquele era um lugar bonito. Possuía muros fortificados e muita paisagem, de certa forma os invejava, não havia qualquer paisagem no Santuário.

Os Alexandrinos a encaravam enquanto a mesma andava sorridente pelas ruas, não sabia qual era o plano do tio, mas queria aproveitar a oportunidade de estar fora da sua programação para viver um pouco. Mantinha-se alerta a qualquer movimento, mas ela suspeitava que eles não tentariam nada enquanto seu líder não estivesse presente.

A imagem que encontrou quando voltou era perfeita. Carl terminava de arrumar a mesa para o almoço, Negan se encontrava sentado na cadeira principal, Judith estava sendo cuidada pela babá e Katrina sentia que podia se acostumar com aquilo.

O almoço foi em parte silencioso, depois de esperarem por muito tempo para que Rick chegasse, não parecia que ele chegaria a tempo para a macarronada.

Katrina conversava com o tio como se aquele fosse um almoço de domingo em sua própria casa, de certa forma se sentia assim. Carl se mantinha quieto, não gostava de ter Negan em sua casa ou perto de Judith, mas suspeitava que ele não faria nada a mais nova. O menino mal podia se segurar imaginando onde o pai estaria e qual era o motivo de tanta demora.

A loira se retirou da mesa e buscou um cômodo para descansar, pelo jeito não havia qualquer indício de quando Rick chegaria, mas isso não significava que não podia curtir em meio tempo. Girou a maçaneta da porta que escolheu e sentiu que havia sido puxada para o passado.

Aquele quarto a lembrava dos tempos bons. A colcha da cama azul completamente alinhada, gibis amontoados em uma prateleira, uma cômoda para as roupas, um espelho e até mesmo um computador pifado. Katrina sorriu, aquele era o quarto de Carl, mas a lembrava muito de Steve, seu falecido irmão mais velho.

Lembranças atravessavam a mente da garota, Steve era seu herói. Havia a guiado desde o início do apocalipse, mas morreu como um herói salvando um grupo de ser comido por mortos-vivos. Katrina carregava a dor de ter matado o próprio irmão para que ele não se transformasse em um dos monstros, porém mesmo em agonia Steve sorriu para irmã tornando a lembrança menos dolorosa de ser carregada.

Katrina sentia os olhos marejados, estar naquele quarto tão parecido com o do irmão era nostálgico. Nenhuma regalia que Negan pudesse lhe dar seria maior do que aquele presente de estar em um ambiente que lhe trazia memórias tão boas de Steve.

— O que você faz aqui? – a voz apressada de Carl a trouxe de volta a realidade.

Carl sentia que Katrina estava invadindo seu espaço, por mais que não conseguisse considera-la como uma Salvadora ruim. Enxergar o mundo a sua volta diante da perspectiva da jovem havia lhe trazido o sentimento de compreensão completa sobre ela.

— Desculpa, eu só... – As palavras morreram na boca de Katrina, o sentimento de perda a tomando de uma única vez, ainda era doloroso saber que Steve não estava mais com ela.

— Você está chorando?

Carl que havia adentrado ao quarto a encarava. Os olhos vermelhos e molhados não combinavam com a imagem que ele tinha de Katrina, uma pessoa sensível era a última coisa que ele imaginou que ela poderia ser. Mas porque ela estava chorando?

— Está tudo bem? – Carl perguntou incerto.

— Seu quarto, ele é... – ela fechou os olhos respirando fundo, sentia-se vulnerável naquele momento. – Ele é igual ao quarto do meu irmão.

Carl era rápido de pensamento, nunca havia ouvido falar no irmão de Katrina. Isso não era um bom sinal. Por um momento pode contempla-la como um ser humano, não uma Salvadora ou inimiga, mas uma menina que havia perdido pessoas importantes para sua vida.

— Sinto muito. – Carl sentia a compaixão correndo por suas veias, vê-la de forma tão frágil era quase poético se não fosse triste.

— Ele se chamava Steve. – Katrina comentou depois de um tempo em silêncio, segurava o pingente em seu pescoço. – Ele era perfeito. Sempre brincava comigo, me fazia rir e cuidava de mim constantemente. Ele me protegia até mesmo das formigas.

Um riso nasalado escapou de Carl, podia imaginar um jovem loiro como Katrina, cuidando de uma menininha e a rodopiando pelo quintal. Ela realmente o amava, por isso era evidente a dor que sentia pela falta de Steve.

— Ele até mesmo me protegeu quando nosso pai tentou comer minha carne. – A feição de Katrina era indecifrável, ela havia voltado à cena de fuga de sua casa quando os pais foram infectados. – Ele precisou matar nossos pais, eu era muito nova e não conseguia me proteger sozinha.

Katrina desabou ao lado de Carl, a cabeça descansando entre as mãos que tremiam ao se lembrar de Steve chorando pelas noites seguintes ao ter matado os pais. Os cotovelos apoiados nos joelhos, sem se importar com o que Carl pudesse fazer.

Mas para sua surpresa, o garoto não tentou mata-la ou faze-la de refém, gentilmente Carl encostou a palma de sua mão nas costas de Katrina, não queria assusta-la. Podia sentir o corpo pequeno da loira tremendo, ele se sentia solidario.

Katrina podia não ter matado os pais, mas carregava o peso da morte de Steve que era praticamente a mesma. Carl sabia melhor do que qualquer um qual era a dor de perder alguém tão próximo.

A menina fungou enxugando os olhos, não podia se aprofundar mais na dor que havia enterrado há tantos anos. Lembrar-se da morte de Steve só a deixava para baixo.

— Sinto muito, por você ter visto isso. – Katrina evitou o olhar de Carl, não sabia como se sentir em relação a tê-lo tão perto de si agora.

— Eu entendo. – Carl sentiu a voz tremer, nunca falava sobre aquilo. – Eu perdi alguém importante também.

— Sua mãe? – Katrina o olhou, ele parecia surpreso. – Fica meio óbvio, Michonne não poderia ser sua mãe, ela parece muito nova.

Os dois riram brevemente, Katrina sabia como quebrar o clima de qualquer coisa. A mão de Carl continuava em suas costas, ora para cima ora para baixo, Katrina sentiu a respiração pesar, seus olhos focados no de Carl passaram a intercalar pela boca rosa do menino.

Carl não sabia definir o que sentia, mas algo se remexia dentro dele. Sua mente tentava gritar que ela era a inimiga e que ele devia esfaqueá-la ali mesmo, porém ele não a ouvia. Seu olho se mantinha fixado na imagem angelical de Katrina, apesar do nariz vermelho como uma rena do papai Noel e os cílios molhados, seu coração batia dizendo que aquela era a imagem mais bonita que já havia visto.

Instintivamente, Katrina se aproximou de Carl, agora podia sentir o hálito de macarrão com molho que o garoto jazia. Sem que pudesse raciocinar um próximo passo, Carl beijou os lábios da moça, sua mão acariciando o rosto doce de Katrina.

A loira sentiu sua mente explodir, era seu primeiro beijo. Não sabia como agir ou como se mover, mas queria tocar Carl. Suas mãos se agarraram a blusa de flanela que ele usava, podia sentir que ele estava quente e de alguma forma era ainda mais magro do que ela conseguia imaginar.

Negan achou estranho ver os dois adolescentes descerem ao mesmo tempo do segundo andar e se juntarem a ele. Enquanto balançava na cadeira da varanda com Judith em seu colo, Negan ainda esperava a chegada de Rick sem sequer imaginar que Romeu e Julieta se prostravam ao seu lado.


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