Romeu & Julieta escrita por Giovanna


Capítulo 3
Sing Me a Song




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/779085/chapter/3

[Sétima temporada, episódio sete]

Katrina havia voltado de outra ronda pelas comunidades, elas eram muitas e nem sempre conseguia embarcar em uma ronda para Alexandria. Por mais que seu maior interesse no momento fosse Carl, ela não descartava que precisava continuar com seus serviços. Ela queria que o Santuário prosperasse tanto quanto os outros.

Não demorou muito para que desabasse em sua cama por alguns minutos, mesmo após o início do apocalipse, ela imaginava como teria sido sua vida sem apocalipse. Questionava-se se em circunstâncias normais teria encontrado alguma carreira ou qual faculdade faria, imaginava que jamais teria se adaptado tão bem ao mundo não apocalíptico.

Por vezes pensava se teria encontrado Carl antes de tudo isso. Era improvável, já que viviam em diferentes cidades e suas vidas eram tão diferentes, mas ainda assim se imaginava encontrando ele em algum parque, em alguma situação regular e se apaixonando por ele da mesma forma.

Carl não saia de sua cabeça. Concluiu que era assim que pessoas apaixonadas se sentiam, desde o primeiro contato, todos os olhares, as conversas curtas e significativas, assim como os atributos do menino a encantavam. Mas ainda assim tudo aquilo era proibido.

Katrina suspirou encarando a pilha de livros a sua frente, um presente de viagem que havia adquirido para si mesma. Eram livros de Shakespeare, estavam velhos, porém repletos de conteúdo. A loira se identificava com a história de Romeu e Julieta, inimigos que se apaixonavam e faziam de tudo para ficarem juntos, não havia terminado a história ainda, mas imaginava que eles teriam um final complicado.

— Igual a nossa realidade. – Ela se enquadrava na história junto de Carl, por mais que duvidasse de que o menino pensasse muito nela.

Uma batida na porta lhe tirou de seus devaneios. Louise uma de suas únicas amigas que partilhavam de mesma idade no Santuário meteu a cabeça para dentro do quarto, um sorriso sugestivo no rosto.

— Adivinha quem está aqui?

— O Drácula? – Katrina chutou rindo com a ideia de ter um vampiro dentre eles.

— Melhor ainda, o herdeiro. – Louise viu a amiga se levantar da cama em um pulo com a surpresa, as engrenagens funcionando tentando imaginar o motivo de sua aparição.

— O que ele faz aqui? – Ela perguntou retoricamente enquanto saia do quarto, sabia que demoraria um pouco para vê-lo na próxima ronda entre as comunidades, por isso se alegrou.

— Ele veio escondido em um dos caminhões. – Louise informou. – Parece que ele deu baixa em alguns Salvadores.

— O que? – Katrina ofegou sentindo o coração começar a bater de raiva.

Deixando Louise para trás, a loira andou em passos fortes para onde imaginou que ele estaria. Errou algumas salas até encontra-lo na sala de descanso. Negan mostrava ao menino sua coleção de esposas, Katrina tentava fortemente não pensar na vida sexual do tio, por isso raramente ligava para a quantidade alarmante de esposas que ele possuía.

Carl sentia que havia cometido um erro ao entrar no caminhão, sua viagem teria sido válida para somente matar alguns Salvadores e não seu líder? Sem fazer alguma coisa, sua casa continuaria em depreciação com a presença constante dos Salvadores em sua cola.

— Katrina! – Negan abriu um sorriso alegre ao ver a sobrinha entrar na sala. – Veja o que o caminhão de Alexandria nos trouxe.

Ele se segurava no pescoço de Carl que se mantinha imóvel, desejando saber se Negan só estava enrolando para mata-lo ou se ele tinha um propósito. Katrina cruzava os braços no peito, os olhos focados em Carl sem saber direito como se sentir, ela imaginou que ficaria feliz em vê-lo, mas o sentimento de fúria ao saber que ele havia matado seus companheiros não lhe deixava.

— Carl. – Ela resmungou.

— Sabe, Carl, minha sobrinha realmente gosta de você. – Negan iniciou. – Mas eu não acho que ela esteja contente com a sua visita.

Carl sentiu os ossos enrijecerem quando Negan apertou seu ombro com força, não gostava de ver sua sobrinha infeliz e seu rosto denunciava-a. Katrina mantinha seus olhos cravados em Carl, esperando qualquer indício de uma explicação do que ele tinha em mente.

Ela queria lê-lo, mas ele era uma incógnita.

— Eu acho que é hora de batermos um papo. – Negan declarou para Carl o arrastando até a outra sala. – De homem, pra homem.

Katrina entrou no quarto do tio e segurou Lucille em suas mãos quando Negan a entregou. Carl continuava duro como uma pedra, imaginando se essa seria a hora que ele morreria. Negan se sentou no sofá a frente dele, apesar da apreensão do menino, ele estava tranquilo, se divertindo com o momento, mas logo isso mudaria.

— Você vai me matar? – Carl teve a coragem de perguntar.

— Te matar? – Negan riu secamente. – Eu devia, já que você matou meus homens. Porque convenhamos, Carl, qualquer pessoa que consiga tirar a vida de outros homens tão facilmente quanto você fez lá embaixo, merece o troco.

O tom de Negan havia passado de divertido para mortal em segundos, seu rosto escondia o sorriso alegre que sempre carregava consigo. Katrina somente observava, mas pensando nos corpos que teria que velar aquela noite.

— O que você vai fazer? – Carl perguntou determinado.

— Você é um garoto esperto. – Negan elogiou. – Você sabe que não posso deixar isso passar, mas você tem bolas garoto. Me encontrar e estar disposto a se arriscar para me matar, não é qualquer um que faça.

Negan se apoiou nos joelhos dando uma bela olhada para Carl, que continuava retesado em sua poltrona. Katrina tentava imaginar o castigo que o tio daria ao menino, algo que ele mereça.

— Por isso, eu quero ver o que você esconde ai embaixo. – o dedo indicador de Negan balançou em direção à bandagem de Carl.

— Não. – Ele respondeu com coragem, claramente na defensiva.

— Dois homens! – Negan gritou fazendo Carl desviar seu rosto e olhar Katrina. – Oh, você não quer que ela veja?

A satisfação no rosto de Negan ao perceber isso, lhe fez regojizar com a ideia do castigo perfeito. Sem desgrudar os olhos de Carl, pediu para Katrina se aproximar. A loira ficou atrás do tio que voltou a recitar.

— Isso é o seu castigo. – Ele explicou. – Toda ação ruim, merece um castigo. Tire a venda.

Carl voltou a encara-los. Katrina mantinha seus olhos fixos nos de Carl, ele sentia vergonha de seu próprio rosto desde que aquele buraco havia sido cravado em sua cabeça. Aos poucos retirou as bandagens, observando o sorriso satisfatório de Negan crescer em seu rosto.

Katrina tentou manter o rosto neutro, mas o buraco era assustador. Remendado com linha e a pele repuxada de Carl, lhe dando um aspecto de mal-feito. Eles não deviam ter muito para cuidar de Carl naquela situação, ninguém almejava a estética no mundo apocalíptico, mas aquilo era terrível.

— Credo! É nojento. – Negan observava com curiosidade o rosto de Carl, o mesmo tentava evitar o olhar de Katrina. – Você já viu isso? O que fizeram com o teu rosto garoto?

A perplexidade no rosto de Negan provocou lágrimas em Carl. Ele abaixou o rosto, esperando que não demostrasse fraqueza naquele momento, mas ele não podia ser forte o tempo todo.

— Oh, droga. Puta que pariu, garoto. – Negan percebeu que havia ido longe demais. – Olha, eu só... esqueço que você é, só um garoto. Não quis magoa-lo nem nada, é só parte do castigo...

— Esquece. – Carl pediu fazendo sua franja cair sobre o olho.

— Sério, fora as piadinhas, você é radical. Isso não deve fazer tanto sucesso com as garotas... – Katrina sentiu os ombros do tio ficarem tensos, ela notou que ele já sabia como ela se sentia em relação a Carl e não curtia nem um pouco. – mas eu juro pra você, ninguém vai mexer contigo com essa aparência.

Carl levantou o olho algumas vezes durante o discurso, mas ele continuava ressentido. Negan tentava fazer o garoto se soltar depois do castigo, o achava de certa forma muito especial e queria conhece-lo um pouco mais. Além da paixonite da sobrinha por ele, que o fazia se interessar em saber mais sobre o menino, para entender o que ela havia visto em Carl.

— Sabe, Katrina gosta muito de cantar. – Negan se levantou. – Por isso, eu quero de você cante para mim.

Carl encarou a loira a sua frente, ela continuava a encara-lo, porém não havia repulsa em seu olhar, ela parecia analisa-lo. Katrina tentava entender o que se passava com Carl, tentando visualizar o seu lado da história e tudo o que ele havia passado. Ela queria de certa forma, convence-lo a ficar.

O garoto desatou a cantar sob o olhar fixo de tio e sobrinha. Sua voz se mantinha baixa, quase trêmula, Carl se lembrava da mãe sempre que cantava aquela canção. Seus olhos seguiram Negan enquanto sua boca continuava entonando as notas musicais, o rei do Santuário beijou a testa da sobrinha com compaixão, Carl não entendia a relação deles de modo algum.

Katrina entregou Lucille para o tio que saiu da sala nos últimos acordes da música de Carl. Ela ficaria encarregada de cuidar do menino enquanto eles preparavam a viagem de volta para Alexandria, a loira manteve seus olhos em Carl apesar do silêncio.

— Você acha que eu sou um monstro. – Carl desviou seu olhar dela.

— Todos somos monstros, Carl. – a voz de Katrina foi mais baixa do que ele podia imaginar. – Não é a sua aparência que te transforma em um, mas seus atos.

Carl levantou seu olhar para Katrina, havia uma ponta de dor e decepção em seu rosto. Ela não sentia repulsa alguma pela aparência do menino apesar da surpresa inicial, ela estava ressentida com as vidas que ele havia tirado.

— Você está triste por causa daqueles caras.

— Aqueles caras, - ela soou incrédula enquanto se sentava no sofá a frente. – eram a minha família.

— Eles são assassinos. – Carl se lembrava do rosto deles no primeiro encontro com os Salvadores.

— Assim como eu. – Katrina deu de ombros. – E agora como você.

— Não me compare a eles. – Carl bufou.

— Essa é a verdade, Carl. – Katrina buscou o olhar do jovem. – Podemos estar em lados diferentes da história, mas ambos somos jovens assassinos presos nessa situação.

— Exato! – O garoto se levantou. – Somos iguais em muitos aspectos, mas é você que apoia roubar outras comunidades e matar por diversão!

— O sistema funciona. – Katrina fechou a cara. – Nos ajudamos pessoas.

— Deixando as outras a mercê da morte!

— O que? – Katrina se irritou se levantando. – Vai me dizer que você nunca precisou primeiro pensar em si mesmo depois de tudo isso?

Carl se manteve em silêncio. Ele se lembrava das pessoas que havia matado ou que sabia que haviam morrido para que ele tivesse um teto sobre a cabeça, ele podia dizer o que fosse, mas para chegar onde estava precisou passar por cima de outras pessoas.

— Nos fazemos o que precisamos pra sobreviver, Carl. – Katrina respirou mais calma. – Eu não ligo se você acha isso errado ou se considera todos nós um bando de assassinos, eles são a minha família e eu faria de tudo por eles.

O silêncio reinou a partir dali, pela primeira vez, Carl encarava a realidade pelos olhos de Katrina.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Romeu & Julieta" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.