— Quer assistir um filme? — sugeriu Pyotr, diante de mim.

— Desistiu do desafio? — perguntei.

— Não, é só pra ouvir. Tipo um podcast.

— Hmm. E que filme seria?

— Bom, eu tô sem internet desde anteontem, então a gente vai ter que se contentar com os DVDs da minha irmã. — disse Pyotr, e percebi que ele já estava de pé. Ele era bem mais alto que eu.

Sorri por perceber a sorte que tinha. Eu estava vivo e saudável, e tinha a melhor pessoa do mundo diante de mim.

— Quer ajuda pra procurar? — disse, ao retornar do transe.

— Não. — Ele abriu a porta e fechou atrás dele. Peguei o violão de novo, puxando-o pelo braço, e posicionei meus dedos para um Ré. Toquei. Não soou certo. Meu dedo estava uma casa para o lado errado.

Droga.

Ajeitei, e fiz o mesmo movimento. Agora sim.

A porta se abriu novamente, e se fechou atrás dele.

— Eu não faço ideia de que filme é esse. — disse. Ouvi o barulho do Xbox One dele ligando, e depois o de um DVD sendo ejetado. Ele deve ter colocado o que tinha nas mãos e ligado a TV.

Me concentrei apenas nos sons que ele fazia, tentando imaginar seu corpo se movimentando. Ouvi passos na minha direção, três ou quatro, e a cama se ajeitando sob seu corpo.

Zac Efron começou a cantar depois de alguns segundos. Imaginei-me trocando um olhar com Pyotr. Ele odiava musicais. Mas não disse nada.

High School Musical, o clássico das melodias pop açucaradas. Com personagens rasos e uma fotografia simplista, diria ele.

Em determinado momento do filme, eu puxei a venda para cima. Tomei cuidado para que Pyotr não percebesse o som do tecido em atrito com meu cabelo.

O nariz pequeno e ajeitado, a boca levemente saltada, as orelhas desenhadas. A venda preta, que parecia azul marinho na luz que a televisão emitia. Eu me aproximo.

Coloquei, com algum cuidado, minha mão sobre a dele, e ele não recuou.

A mão se ajeitou por debaixo da minha, e o vi corar.

Me recostei novamente sobre as almofadas, e deixei que a venda caísse novamente sobre meus olhos.