O seu léxico escrita por Astraeus


Capítulo 2
Capítulo I




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Néscio 

nés.ci.o

adjetivo

que não sabe ou não é muito inteligente; ignorante; estúpido; inepto

que não é sensato ou prudente; irresponsável

— E por que você acha que eu vou aceitar essa proposta? — Harry cruzou os braços, se recostando em sua cadeira. Não conseguia acreditar nas palavras que saíam da boca daquele homem. 

— Simplesmente porque você é um Grifinório néscio. — Disse Draco. — E por que isso vai te ajudar também. Pense um pouco: sem mais amigos te perturbando, te falando que você está “sozinho de mais”. Sem mais perguntas intrusivas… E você ainda vai ter a graça da minha companhia. 

Harry franziu o cenho, incrédulo. Poderia não saber o significado de “néscio”, mas ele sabia que Malfoy estava zombando dele. 

— Se você pensar mais um pouquinho, eu acho que sai fumaça dos seus ouvidos. — Draco sorriu torto. Materializando dois pergaminhos, ele completou: — Claro que isso vai ser um acordo com cláusulas próprias para nós dois. 

Harry pegou um dos pergaminhos. As palavras começavam a se revelar. 

Pelo presente instrumento particular, na melhor forma de direito, as partes:

Draco Malfoy, britânico, solteiro, mestre de poções, “CONTRATANTE”

Harry Potter, britânico, solteiro, Prof. de Defesa Contra as Artes das Trevas, “CONTRATADO”

Sendo “CONTRATANTE” e “CONTRATADO” doravante denominadas “Malfoy” e “Potter”, respectivamente. 

Resolvem as partes, de comum acordo, celebrar o presente Contrato de Namoro Falso (o “Contrato”), o qual será regido mediante as seguintes cláusulas e disposições:

E então, começava a cláusula 1, que definia o namoro falso, e tudo que ele implicava. Encontros, presentes, conhecer os amigos e familiares, etc. A segunda cláusula, por sua vez, definia as obrigações do contratado e do contratante. 

E o documento seguia assim, listando proibições, condições, tudo que um contrato real deveria ter. Após terminar de ler o documento, Harry se encontrava com uma tremenda dor de cabeça. 

— Então, o que me diz? — Draco perguntou, apoiando seu rosto em uma de suas mãos. — Concorda com as cláusulas do contrato? Quer alguma coisa a mais?

— Não… Não, eu acho que está tudo bem. — Harry disse, piscando desorientado. — Mas… Mas por quê? Por que você está fazendo isso?

— Você não precisa saber o porquê. Apenas assine. — Draco cruzou os braços, sério. Harry balançou a cabeça, se negando. O loiro bufou, desistindo. Harry era teimoso demais. — Ok, ok. Estou fazendo isso porque meus pais querem que eu me case. 

— E qual é o problema? — Perguntou Harry. — Não é como se você gostasse de alguém, ou gosta?

— Esse não é o ponto, Potter. — Draco respondeu. — Eles querem que eu me case com uma prima minha, Astoria Greengrass. 

Todas as peças pareciam se encaixar. Era por isso que Astoria estava tão desesperada para encontrar alguém para seu primo. 

— E eu sou gay. — Disse Draco, fazendo com que Harry engasgasse com seu chá, mais uma vez. — Qual é, Potter, não é como se fosse um grande mistério. 

Harry tossia. Aquela fora uma bomba e tanto. Não era tão difícil de imaginar as palavras Draco Malfoy e gay na mesma frase, até porque, o loiro nunca tinha tido uma namorada em todos os seus anos de Hogwarts, mas o problema é que aquela possibilidade nunca havia sequer cruzado a mente de Harry, e por isso o choque. 

— Eu não quero me casar com uma mulher que eu nunca vou amar. — Disse Draco. — Além do mais, é uma ótima maneira de sair do armário, não acha? Quer dizer, o público também não sabe de você. 

Harry levantou uma sobrancelha. E Malfoy sabia?

— E você sabe? — Perguntou. Draco suspirou. 

— Você é a definição de “livro aberto”, Potter. — Disse. — Além do mais, se não fosse pelo menos bissexual, não estaria aqui hoje. Enfim, assim você pode se revelar para o mundo bruxo e de quebra parar de ser importunado com perguntas sobre amantes secretos. 

— É, e as perguntas serão sobre um amante específico. — Harry bufou. — Eu ainda não vejo o que eu ganho nessa história. 

— Status, atenção, o prazer da minha companhia, sossego em sua vida amorosa… Uma vida sexual, que aposto que seria novidade para você… — Disse Draco. 

— Eu não! — Harry disse, alto demais, atraindo olhares para os dois. Abaixando a voz, ele completou: — Eu não vou transar com você, Malfoy!

O loiro simplesmente deu de ombros. — Você é quem perde, não eu. — Ele disse, com seu sorriso torto e petulante, pretensioso. 

Harry se levantou, indignado. Não escutaria nem mais uma palavra daquele homem, que só o zombava. Aquele era, com certeza, o pior encontro que já havia tido em toda a sua vida. 

Saiu da casa de chá com um Malfoy indignado ao seu encalço. — Potter! — Ele exclamara. — Potter! — O chamava, mas Harry não daria ouvidos. 

Ele não falava com Malfoy desde o final de sua vida escolar em Hogwarts. Ele conseguira um emprego qualquer no ministério enquanto Harry decidira seguir a carreira de auror. Não demorou muito para que os dois desistissem desses cargos e fossem atrás de coisas que realmente combinavam com eles. 

De acordo com os rumores, Draco havia montado um boticário e agora vendia os mais diversos tipos de poções. Harry, por sua vez, se tornara professor de Defesa Contra as Artes das Trevas em Hogwarts. 

Os dois pareciam viver em mundos diferentes, e o fato de que Draco simplesmente aparecia fazendo-lhe propostas absurdas irritava o menino-que-sobreviveu. 

— Potter! Não me ignore! — Disse Malfoy, o que só irritou Harry ainda mais. Ele era sempre esse homem obcecado por atenção. — Harry, por favor!

Aquilo fez com que o moreno parasse. Tanto o espanto de ouvir seu nome sendo dito por aquela voz rouca, que normalmente só soltava veneno; quanto ouvir as palavras “por favor” saindo da boca de um Malfoy. 

— Talvez você esteja feliz assim, e eu não posso culpá-lo. — Disse ele. — Mas eu estou desesperado. Eu não posso viver mais nem um dia da minha vida mentindo para os meus pais. Eu não posso viver nem mais um dia com eles falando sobre casamento comigo, porque eu sei que eles vão querer que eu me case com uma mulher, e eu não posso fazer isso. 

Harry suspirou. Aquilo era golpe baixo, jogar a carta do “meus pais querem que eu me case com uma mulher e eu não posso viver no armário o resto da vida”. 

Se virou para Malfoy. 

— Vamos fazer o seguinte. — Harry se aproximou. — Eu aceito, mas você vai ter que adicionar algumas coisas no contrato. 

— Qualquer coisa. — Draco disse, o cenho franzido. Parecia desconfiado, embora estivesse disposto a fazer qualquer coisa. 

— A minha primeira condição é que não podemos mentir um para o outro. — Ele deu um passo na direção de Malfoy. — A segunda é que nós temos que sair com os amigos um do outro, e temos que nos comportar pacificamente. — Mais um passo. — E a terceira… você não pode se apaixonar por mim. 

— Isso não vai ser um problema, Potter. — Disse Draco, sorrindo torto, pretensioso. — Eu nunca me apaixonaria por alguém como você. 

Harry o encarou, esperando uma resposta. De onde aquelas palavras tinham vindo? 

Harry deu-lhe um sorriso zombeteiro. Não perderia a chance de debochar da cara de Malfoy, mesmo se não soubesse do que estava falando. 

Draco levantou uma sobrancelha, estranhando toda aquela zombaria e deboche vindas de Harry. E ele pensava que o homem fosse uma batata. 

— Que tal nós discutirmos isso em um lugar mais calmo? — Draco perguntou, e Harry deu de ombros, colocando suas mãos nos bolsos do casaco. — Ótimo. — Ele disse, pegando o braço esquerdo do outro, como se aquilo não fosse nada demais, nada estranho. — Para onde vamos, querido? 

Harry deu um riso incrédulo, revirando os olhos. Aquele Malfoy era uma figura. 

— Para casa, meu bem. — Harry retrucou, fazendo com que o loiro torcesse o nariz.

— Precisamos melhorar isso, Potter. 

Harry balançou a cabeça, sem acreditar como ele conseguia de meter naquelas situações.

Aparataram, deixando a Casa de Chá da Madame Puddifoot para trás, dando um passo a maior confusão de suas vidas.


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