De: neverland@gmail.com
        Assunto: com assunto (?)
        14 de Maio, 23:47 

E aí?

Talvez você tenha desconfiado pela demora (quer dizer, não sei, penso que existam possibilidades de que você possua a informação de que eu sou atualmente um desocupado fodido), mas ainda não tinha certeza se deveria ou não responder esse e-mail.

Nada contra você, é claro. Lugares surreais parecem uma boa coisa para se pensar quando se começa a criar uma lista, embora eles sejam um pouco assustadores, também, de acordo com os exemplos que você me deu. Uma escola depois do horário de fechar? É que nem um filme/jogo de terror quando a música para, saca? Você já tá na merda, e aí vê que vai afundar nela ainda mais. Tipo assim.

...

Você, você, você, você.

Já escrevi tantos "você" em tão poucas linhas que só pensar nesse e-mail me dá desgosto. Espero que não ligue para repetições, porque não me surpreendo que elas aconteçam mais - ao menos de vez em quando. Será que devo enviar esses trecos com alguma página de sinônimos aberta em outra guia? Diga-me (você).

Mas então, o que é que eu tava falando mesmo?

Ah, sim. Sobre não responder.

Fiquei matutando por algum tempo se seria mais simples chegar nela (na terapeuta) depois e fingir que nunca recebi nada, ou até que enviei e nunca tive resposta, ou o mais brilhante dos planos: Mandar uma linha com um "eu te respondi, tu me respondeu, seguimos assim" e aí dar uma de doido enquanto ria na cara dela, falando sobre nossas inúmeras experiências de cartas eletrônicas trocadas - que nunca existiram.

Eventualmente, percebi que possivelmente isso seria bem mais trabalhoso, então desisti. Acabou que aqui estou eu, pra descobrir quando tempo mais até que paremos de nos responder ou que os e-mails se transformem em coisa de uma, duas linhas, só pra gente fingir que realmente estamos seguindo a ''''sugestão'''' da dôtora.

Como você pode perceber, estou positivo, até então.

Eu também ainda não sei do que vou falar, de todas as milhares de coisas e assuntos que tenho para compartilhar, considerando o quão limitados estamos sobre o quê e como (hah), mas imagino que a gente consiga "blábejar" alguma besteirol.

(Gostou? Tipo blábláblá?

...)

Embora teoricamente não vai rolar, tenho um pouco de medo que ela peça nossos e-mails depois de um tempo e comece a xeretar em tudo que a gente fala. Uff.

Até agora, eu não escolhi um codinome maneiro pra assumir, e que você possa me chamar. Se não rolar nada até o fim desse e-mail, talvez eu coloque uma coisa esquisita tipo "tchutchatchatchutchutcha", e a gente coloca um sertanejo pra chorar a dor (não de corno, dessa vez) que a vida dá. 

Será que eu devo ter medo de você ficar pensando a respeito de bundinhas de abelhas? Seria isso um fetiche de inseto ou algo assim? Apesar de que é a primeira vez que eu vejo alguém comentar sobre como bundinhas peludinhas são um amor.

Espero não ter estragado sua doce visão de abelhas — ou sim, porque eu sou do mal. Mwahaha.

Eu não gosto tanto de falar sobre, mas talvez seja porque eu tenho alergia a pólen. Eu começo a me coçar, espirrar, meus olhos ardem às vezes e é horrível. Em contrapartida, eu acho algumas flores tão bonitinhas, e isso é um pesar tremendo.

Me cite flores que não tenham pólen.

Mas e aí, me fala, eu ainda tenho cara de I.A ou de vampiro sexy que bebe virgens?

— Pirlimpim
(Viu? Encontrei um, embora eu tenha tirado o último "pim". Será que assim parece menos infantil?)

Câmbio, desligo.
(Tenho quase a certeza que usei isso errado.)