Sunlight escrita por sandsphinx


Capítulo 1
Sunlight


Notas iniciais do capítulo

hello, my lovelies ♥
em primeiro lugar, obrigada por estarem aqui lendo! essa songfic é um universo alternativo da minha longfic shiver, com foco em um personagem original de lá, então para entender bem recomendo ter lido ela primeiro.
em segundo lugar, shiver babes, espero de coração que gostem dessa oneshot!
e, repetindo, a música é 'sunlight' do hozier ♥

ana, essa é apenas parte do seu aniversário (a outra é o próximo capítulo de shiver, supondo que eu o termine), e foi uma ideia que eu tive há um tempinho, mas não tive tempo de escrever por causa da faculdade. o plano sempre foi entregá-la de presente para você, for the jaime content and all. desculpe pelo angst ♥ in other news, gostaria de tomar esse tempinho para dizer de novo o quanto você é uma amiga (&pessoa) maravilhosa, que eu te amo demais, demais, demais, e que desejo para você tudo o que há de melhor nesse mundo!!

boa leitura ♥



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— SUNLIGHT —

Nos momentos mais escuros, sua mãe costumava lhe dizer, é importante se pensar nas poucas certezas de nosso universo (e, para além dele, de todos os universos): que tudo teve um começo e que tudo terá um fim, que as estrelas fazem seu caminho através do céu e que a lua cresce e míngua, o inverno e o verão, o anoitecer e, mais importante ainda, a alvorada. Nosso mundo é um de inícios e finais, ela dizia, mas também de ciclos.

Quando criança, Jaime possuíra o hábito de se deitar na grama úmida da primavera e observar o brilho das estrelas, as crateras da lua, imaginando se seria realmente possível que existissem — ou houvesse existido — outros como ele, perdidos em sua própria casa, mais desesperados por um sopro de ar fresco do que por um mundo grandioso. Perguntara-se centenas de vezes se esses outros garotos haviam conseguido escapar, se haviam encontrado, um dia, um propósito maior, algo que os permitissem escapar de si mesmos; uma estrela em torno de quê girar, clara e resplandecente.

Em sua cidade, o dia amanhecia sempre frio, o sol sempre pálido e distante.


I would shun the light
Share in evening's cool and quiet
Who would trade that hum of night
For sunlight, sunlight, sunlight
But whose heart would not take flight?
Betray the moon as acolyte
On first and fierce affirming sight
Of sunlight, sunlight, sunlight

 

A casa de sua família tinha as mesmas cores de todos os lugares muito ao norte, nunca explosiva, nunca deixando de verdade o inverno para trás. Já a universidade era toda no marrom claro das pedras, das capas de couro dos livros, e também no preto profundo e real das vestes dos estudantes, arrogantes e confiantes depois de uma vida com nome e dinheiro — pele rosada, sorrisos grandes, olhos brilhantes. Perto deles, Jaime tinha certeza que parecia fraco e desbotado, certamente deslocado.

Ele o viu pela primeira vez em uma manhã de sábado, quando carregava livros sob os braços e procurava por um lugar silencioso onde pudesse se entregar por completo às palavras de sábios, poetas e filósofos. O riacho corria num burburinho que poderia em outro mundo ter sido o som constante de uma fonte, e os traços bonitos do rosto do jovem tinham toda a sugestão sussurrada da nobreza.

Ele pendeu a cabeça para trás, cabelos negros roçando seus ombros, olhos estranhos encontrando os de Jaime, os movimentos elegantes em sua indolência. Um sorriso pequeno curvou seus lábios cheios, e Jaime o percebeu familiar e estrangeiro, conhecido como eram conhecidos os fragmentos de lendas que sobreviviam aos séculos.


I had been lost to you, sunlight
And flew like a moth to you, sunlight, oh, sunlight
Oh, your love is sunlight
Oh, your love is sunlight, oh
But it is sunlight

 

A existência de Morzan Hadleigh, Jaime descobriu aos poucos, era gloriosa. Já tendo terminado os primeiros anos de estudo, ele ficara na universidade para ajudar os professores em suas idades avançadas, e atraía seus elogios da mesma forma que atraía o resto dos jovens — ou que atrairia, se não estivessem todos com medo de chegar muito perto e se queimar.

Ele recebeu Jaime em sua vida com um sorriso pequeno e olhos brilhantes, o agraciando com suas reflexões quietas e seus artigos inteligentes, com seus comentários cortantes e elogios discretos. Parecia se interessar por Jaime mesmo que ele fosse tão pálido em comparação, como se o abismo entre os dois não o incomodasse em nada, lhe fazendo perguntas macias e pedindo também sua opinião.

Jaime não havia antes sentido que pertencia àquele lugar, não havia sido capaz de se aproximar das dezenas de jovens de boas famílias, mas sentia que, talvez — apenas talvez — de alguma forma na sombra de Morzan ele próprio brilhasse mais forte.


All the tales the same
Told before and told again
A soul that’s born in cold and rain
Knows sunlight, sunlight, sunlight
And at last can grant a name
To a buried and a burning flame
As love and its decisive pain
Oh, my sunlight, sunlight, sunlight

 

Tendo entrado uma vez em sua órbita, se afastar era impossível. Morzan o atraía como um imã, constante e insistente, e Jaime se deixava levar porque sabia não ter escolha — porque encontrara uma vez o calor naqueles olhos tão frios, e não poderia em mundo algum ter evitado procurá-lo de novo; porque achava ter compreendido um de seus sorrisos mínimos, e quis desvendar todos os outros; porque sentiu contra a própria pele o roçar de seus dedos, e ansiava por mais contato.

Jaime se encontrava o procurando com o olhar mesmo quando não estavam juntos, querendo compartilhar com ele as ideias que tinha tarde da noite, e, às vezes, até mesmo examinado os traços bonitos de seu rosto, abaixado para ler um livro ou erguido para observar as estrelas.

E ainda mais impressionante: Morzan o ouvia com atenção e de bom grado.


All that was shown to me, sunlight
Was somethin' foreknown to me, sunlight, oh sunlight
Oh, your love is sunlight
Oh, your love is sunlight
But it is sunlight
Oh, your love is sunlight
Oh, your love is sunlight
But it is sunlight, sunlight

 

Durante o verão, Jaime descobriu, finalmente, como Morzan queimava quente: os dedos longos traçando linhas de fogo por sua pele, desenhando as sardas pálidas de seu rosto, descendo por seu peito. Descobriu como seus olhos se tornavam impossivelmente escuros, como seus lábios tinham o gosto rico de vinho, de luz, de possibilidades infinitas.


Oh, all these colors fade for you only
Hold me, carry me slowly, my sunlight
Oh, all these colors fade for you only
Hold me, carry me slowly, my sunlight

 

Jaime lhe confessou seus segredos mais profundos e suas maiores inseguranças, compartilhou histórias de sua infância e as mais peculiares de suas crenças. Conversavam em murmúrios nas noites escuras, preguiçosos e seguros sob cobertores pesados, enquanto Jaime enroscava os dedos em seus cabelos escuro e Morzan falava naquele tom distante e curioso, contemplando problemas muito maiores que os dois.

— Você acha — Jaime ousou perguntar uma vez, inebriado pelo alívio de não ter as ideias de sua mãe, sobre universos e realidades, recebidas com desdém — que é possível que existam outras versões de nós, de alguma forma, em algum lugar? Acha que há algum outro mundo em que nossos caminhos se cruzaram, em que nos conhecemos também?

Era uma pergunta absurda, ele sabia antes mesmo de tentar colocá-la em palavras; inspirada por histórias para crianças contadas sob árvores antigas em uma cidade pequena, baseada em sonhos e imaginação, e não em fatos e pesquisas. E ainda assim, Morzan a considerou com calma, e parecera ter a resposta pronta.

— Todos os mundos — ele disse, tão absolutamente certeiro. — Não há universo algum onde não nos conhecemos, Jaime Hargrave, onde eu não te reivindico e onde você não é meu. Somos tão inevitáveis quanto o movimento dos planetas, quanto a chuva no verão, quanto o nascer do sol.

E Jaime se aqueceu por dentro ao ouvir a resposta cheia de convicção, por mais que, em um canto  mais silencioso de sua mente, ele ouvisse também as palavras não ditas.


Each day, you'd rise with me
Know that I would gladly be
The Icarus to your certainty
Oh, my sunlight, sunlight, sunlight
Strap the wing to me
Death trap clad happily
With wax melted, I’d meet the sea
Under sunlight, sunlight, sunlight

 

Que Morzan eventualmente se afastou, escapando por entre seus dedos como fumaça, não foi uma surpresa. Jaime entendera há muito que o que havia entre eles queimaria como um incêndio, rápido e devastador, e deixaria para trás apenas cinzas; sabia que algo tão brilhante não poderia durar muito; estava preparado para um relacionamento fugaz como as folhas no outono.

Apreciou, então, cada instante como se fosse o último: cada sorriso, cada olhar, cada beijo. Quando os últimos realmente chegaram, se entregou completamente, desesperado por aqueles últimos raios de luz que mantinham afastada a escuridão.


Oh, your love is sunlight
Oh, your love is sunlight
But it is sunlight
Oh, your love is sunlight
Oh, your love is sunlight
But it is sunlight
Oh, your love is sunlight
Oh, your love is sunlight
But it is sunlight
Oh, your love is sunlight
Oh, your love is sunlight
But it is sunlight

 

Jaime entendeu também, mais tarde, que era capaz de sobreviver no escuro, mesmo que as cores que vira uma vez pálidas houvessem passado a parecer verdadeiramente cinzentas, longe daquela explosão de mil tons. Entendeu que havia em outros lugares paz e contentamento, até mesmo uma felicidade calma e satisfatória.

Mas não conseguia, mesmo anos depois, não parar para pensar naqueles meses tão breves de sua juventude. Na avalanche de novos conhecimentos e na descoberta de um mundo novo, em uma voz perigosa se provando mansa, em uma luz tão clara que o cegava. Perguntava-se sobre outros mundos, se em outros eles também se conheceram e se em algum deles teriam tido um fim diferente, e chegava sempre à conclusão de que Morzan tivera a razão, tanto no que dissera quanto no que guardara para si.

Eles foram tão inevitáveis quanto o inverno, Jaime sabia, tão duradouros quanto a primeira neve, com todo o brilho e a promessa de uma estrela cadente. Ele se lembrava das palavras de sua mãe, sobre começos e finais e ciclos, e refletia sobre um sol que só nascia para se pôr, sobre um dia que sempre, sempre dava lugar à noite.

Era aquela toda a certeza do mundo, e, mais do que uma tragédia, era também seu único conforto.


Sunlight, sunlight, sunlight, sunlight, sunlight


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Notas finais do capítulo

Também nas palavras de Hozier:
sit in and watch the sunlight fade
honey, enjoy, it's gettin' late

E é isso, meus amores ♥ espero que tenham gostado!! Eu peguei os lyrics no Genius, então qualquer erro a culpa é deles (tho pela minha experiência eles tem os lyrics certos com mais frequência que outros sites). E, dentre todas as outras músicas maravilhosas do álbum mais recente do Hozier, gostaria de destacar também No Plan, e 'there will be darkness again' como algo bom, e também admitir que chamar alguém de sunlight me parece a coisa mais adorável, mesmo que não apresentada aqui como algo bom (você ter a luz como algo nocivo e a escuridão como algo bom é uma ideia pela qual eu estive um pouquinho apaixonada nesses últimos dias também, buy anyhow).
Vou parar de falar agora (skjsajskajs sorry) e apenas dizer de novo que realmente espero que tenham gostado ♥ Nos vemos nos reviews, e amo vocês ♥

(Ana, feliz aniversário atrasado mais uma vez & keep on being amazing)



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