Cicatrizes e Flores escrita por Astraeus


Capítulo 2
Capítulo II




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As aulas que antes eram tediosas para Harry, pareciam muito interessantes. Embora ele ainda não tivesse jeito com poções, era muito bom poder estar no ambiente de Hogwarts novamente, sem nenhum perigo à sua espreita. Era cansativo ir de Hogsmead para Hogwarts à pé todos os dias, mas eles receberam permissão especial de McGonagall para aparatar de volta a suas casas dentro dos campos da escola, o que era um avanço. Tudo era supervisionado por Filch, mas já era alguma coisa.

McGonagall havia se provado ser uma diretora ótima, falando nisso. Ela havia chamado alguns médicos do Saint Mungus e encorajado os estudantes a procurá-los para conversar da guerra. Harry apreciava o gesto, mas ele sabia que era difícil falar sobre o que havia acontecido.

Perdera a conta de quantas vezes ouvira Hermione chegar mais tarde, soluços escapando de seus lábios. A guerra havia sido particularmente difícil para ela, que tivera de obliviar os pais para mantê-los seguros. Agora, ela não tinha um lar para qual voltar, e Harry sabia como aquilo poderia ser doloroso.

Mesmo assim, ela parecia a mesma, ao redor de todos. Doía ver o esforço dela. E por isso Harry se encontrava em Hogwarts depois das aulas, sabendo que teria que voltar para Hogsmead à pé. Hermione havia insistido para que ele fosse a uma sessão de terapia, para deixar os sentimentos dele saírem, uma vez ou outra. Ele não queria magoá-la, e por isso estava ali.

Ele quase foi embora ao ver quem também esperava lá. Cabelos loiro claros e a pele albina se destacavam nos corredores coloridos de Hogwarts. Draco não percebeu que ele chegava até que Harry sentasse ao seu lado - o único banco naquele corredor - enquanto esperava sua sessão.

―  O que você está fazendo aqui, Potter? ― Draco perguntou, mas o escárnio que normalmente estaria presente naquela frase parecia fraco e forçado.

― Eu que te pergunto. ― Harry deu de ombros.

Draco nada disse, voltando a olhar para o espaço vazio entre seus pés, firmemente apoiados no chão. As olheiras profundas pareciam ter piorado desde o julgamento, e Harry imaginou porquê, mas não ousou perguntar. Não se importava, afinal.

― Eu ouvi dizer que McGonagall mandou todos os estudantes da Sonserina para as masmorras durante a batalha de Hogwarts, é verdade? ― Draco perguntou, a voz fraca.

― É. ― Harry disse. ― Por quê?

― Porque foi algo bom. ― Draco disse. ― Assim não daria aos outros mais razões para odiar a Sonserina.

― Como assim?

― Somos uns bastardos metidos à besta, eu sei. ― Disse Draco. ― Mas nós temos famílias, também. E a maioria deles estavam junto de Voldemort. Eu conheço pessoas da Sonserina cujos pais não são comensais, e eles ainda foram mandados para as masmorras. Por que não os deixaram lutar? Mas ao mesmo tempo, eu fico grato por não terem dado a escolha a todos da Sonserina. Ninguém quer lutar contra a própria mãe, ou o próprio pai.

― Mas você ainda foi contra os seus.

Draco riu, seco. ― Você não entende.

― Eu acho que quem não entende é você. ― Harry disse. ― Por que você jogou a varinha para mim? Por que você mentiu quando me jogaram na sua casa?

― Não foi por Hogwarts. Não foi por vocês.

― Então por que foi?

― Você acha que um mundo governado pelo Voldemort seria um mundo bom para alguém? Você acha que seria interessante? ― Draco levantou a voz. ― Você acha que eu tenho capacidade de matar como aquele monstro tinha? Os comensais são só peões, soldadinhos que matam por ele, e eu não quero fazer parte de um mundo em que todos pensam como uma colmeia.

Harry se calou. Nunca havia parado para pensar por aquele lado, mas talvez estivesse dando muitos créditos para Malfoy. No final, ele só pensava em si mesmo.

― Minha mãe mentiu por minha causa. ― Ele disse. ― Ela sabia que se dissesse que você não estava morto, ele mataria todos em Hogwarts. Foi um conflito de interesses, não porque ela queria um mundo livre de Voldemort.

― Pelo menos ela teve a capacidade de chegar a essa conclusão, ao contrário da Bellatrix ou o resto da Sonserina.

― Olha. ― Draco se virou para Harry, claramente irritado. ― Eu não dou a mínima se você continuar vendo a Sonserina como uma casa do mal depois que eu te disser isso, mas pelo menos não saia por aí falando coisas que você não sabe, ok? Nem todos os comensais da morte eram da Sonserina. Quirrell era da Corvinal. Rabicho era da Grifinória. Karkaroff nem era de Hogwarts. Haviam outras casas envolvidas, então pare de agir como se só a Sonserina fosse culpada.

Harry se calou. Sim, aquilo era verdade. Com certeza haviam pessoas de outras casas naquela confusão de comensais da morte, mas talvez ninguém quisesse ver isso. A verdade é que todos querem apontar o dedo para um grupo e declará-lo como culpado e se livrar de qualquer parcela de culpa que poderia vir a ter. A sociedade prosperava enquanto discriminava um grupo, essa era a verdade.

― Além do mais, nem todos os que pertencem à Sonserina são ruins. ― Draco disse. ― Regulus Black, por exemplo. É, eu sei sobre ele. As notícias se espalham. Minha tia, Andrômeda Tonks, se casou com um trouxa e teve uma filha que foi para a lufa-lufa. E aí, o que você acha da Sonserina agora? O que acha dos Black? Nem todos são ruins, e admitir isso é dizer que todos da Grifinória são e sempre serão boas pessoas.

A porta da sala se abriu, e um homem baixinho de óculos na ponta do nariz e com um sério problema de calvície apareceu. Ele chamou o nome de Draco e o loiro entrou na sala, mandando um dedo do meio antes de fechar a porta.

Quem sabe Harry devesse reavaliar suas opiniões.



O destino já havia provado que não gostava de Harry, mas ele parecia querer lembrar o garoto desse fato em momentos aleatórios. Sua nova tortura era que Draco Malfoy e sua gangue eram seus novos vizinhos. Como ele descobrira? Bem, ele pegou Draco parado em frente ao Três Vassouras quando voltava para casa.

Primeiro, ele achou que Draco o seguia. Logo descartou essa ideia, porque não fazia mais sentido. Lembrou-se de seu sexto ano e como havia ficado completamente obcecado com o garoto, a ponto de pensar nele em quase todas as suas horas vagas. Se ele soubesse antes o que ele sabia agora, ele não teria feito tudo isso.

Quando chegou em sua casa, viu Malfoy parar na frente a um casarão ao lado, retirando suas chaves do bolso e abrindo a porta sem olhar para trás.

Harry queria poder não ter olhado para trás.


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