A Year to Remember escrita por Bitiz Morningstar


Capítulo 9
Revelações


Notas iniciais do capítulo

Oi, amores! Desculpa a pequena demora, mas estou de volta para o último capítulo do ano. Espero que gostem ♥ ♥ ♥ ♥



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P.O.V da Jade

Depois da discussão com Ísis, me senti culpada por não ter dito o que aconteceu entre mim e Amanda, e algo que não deveria acontecer entre nós era briga, pois sempre fomos amigas inseparáveis.

Fiquei em meu quarto lendo um livro qualquer de crônicas do Luís Fernando Veríssimo que minha mãe me deu de Natal, até que uma garota de olhos azuis, pele extremamente branca, cabelos negros e lábios vermelhos, aparentando ser um pouco mais nova que eu, bateu na porta perguntando por mim.

— Boa tarde, você que é a Jade?

— Sou sim. E você, quem é?

Ela não me parecia estranha, era muito familiar o rosto dela, e não tinha nada a ver sobre a semelhança com Branca de Neve(idêntica, até os cabelos curtos).

— Meu nome é Catarina. Eu sou do primeiro ano. Não sei se a gente já se esbarrou por aí alguma vez, mas eu estou aqui para dar um recado e um presente. Será que eu posso entrar? Isso aqui é muito pesado. — levantei da cama e ajudei a carregar o presente. Deixei-a entrar.

— Meu Deus, o que é tudo isso? — estava embasbacada com o tamanho daquele buquê de flores, e em como ele era lindo.

— Agora que vem a parte romântica. — Catarina disse — Meu irmão contou pra mim que vocês se conheceram no sábado e você deu seu número pra ele, mas ele não tinha chamado até agora porque um simples “oi” no WhatsApp é muito sem graça. Eu te devo desculpas, pois tinha esquecido o buquê em casa ontem quando voltei pro internato, e meu pai pôde vir aqui só agora entregá-lo.

— Nossa, muito obrigada! Eu realmente não sei o que dizer. — eu estava tão envergonhada que minhas bochechas doíam de tão quentes que ficaram.

Ela deu “tchau” e foi embora. Fui ver aquelas flores de pertinho e vi o cartão:

“Espero que tenha gostado das flores. São lindas, mas não tanto quanto você! - Théo”

Dei uma risada. Aquele menino não existia, era impossível uma pessoa ser tão incrível(provavelmente ele tem chulé ou ronca, pois não acredito que exista alguém cem porcento perfeito).

Não se passaram cinco minutos, meu celular tocou. Era Théo.

 

Théo: Oi, gostou das flores?

Jade: Você é doido? Eu amei, são lindas!

Théo: Eu sei, fui eu que escolhi. Mas por que sou doido?

Jade: Por um simples motivo: não sabe mandar um oi no zipzop? Eu sei escrever, ok?!

Théo: Então quer dizer que você chama o WhatsApp de zipzop? E eu que sou o doido?!

Jade: É um apelido carinhoso, ué. E eu nunca disse que não sou doida! Já dá pra ver na minha cara, é perceptível o meu problema.

Théo: Qual? Beleza demais? Não sabia que isso era um problema.

Jade: Bobo! E para de falar essas coisas que uma hora eu acredito.

Théo: então vou continuar dizendo até você acreditar.

Jade: É sério, daqui a pouco eu vou ficar que nem um pimentão se você não parar!

Théo: Tudo bem, eu paro por HOJE.

(Silêncio)

Théo: Eu queria te pedir uma coisa.

Jade: O quê?

Théo: Um encontro no sábado. No Outback, por minha conta.

Jade: Topo sim.

Théo: Sério?! Que legal! Mas eu tenho que pedir mais uma coisinha: levar alguma amiga ou prima. Eu sei que não é tão legal, mas o meu primo tá meio mal com uns lances do vestibular e eu prometi pra ele que todas as vezes que eu saísse ele ia junto. O que você acha? Se não quiser, eu converso com ele, de boa.

Jade: Pode ser, sim. Eu peço pra uma amiga vir junto, sem problemas. Aí ficamos de encontro duplo.

Théo: Perfeito! Até sábado?

Jade: Até.

 

Um sorriso bobo invadiu minha face. Eu estava muito feliz, apesar das circunstâncias atuais.

Ainda tinham Alana e Patrícia, que estavam espalhando fofocas ao meu respeito. Nunca tinha conversado com elas e haviam sido totalmente manipuladas pela piranha aguada. Mas aquilo não iria ficar barato.

Na mesma hora lembrei-me de Natália. A doida deveria estar super tranquila lendo um gibi do Chico Bento na praia, do jeito que ela é.

Queria que Nat estivesse aqui. Se estivesse eu já teria me resolvido com Ísis.  Aquela loira sempre teve uma facilidade tão grande em apartar brigas e ajudar a fazer as pazes, mas se mete em confusões como ninguém.

Continuei lendo meu livro, até Aria entrar no dormitório e começar a gritar comigo:

— Vai contar agora o que aconteceu entre você e a Amanda pra Ísis! Já estou de saco cheio por não poder falar com nenhuma das duas e mesmo assim me olham torto achando que estou do lado de alguém, sendo que não estou!

— Olha lá como você fala comigo, porque não sou as suas coleguinhas, não! E o problema é total dela de ser curiosa demais. Não posso guardar alguns segredos só pra mim? — a fúria subiu em meu corpo.

— A questão não é guardar algo pessoal. O que tá realmente acontecendo aqui é que você tá escondendo alguma coisa que tem a obrigação de contar pra gente! Lembra do pacto que fizemos, que deveríamos contar tudo de importante umas às outras?

— Não enche, Aria! Você não acha que eu já não passei por coisa o suficiente? Que era humilhada quando mais nova e por causa da Amanda eu estou sendo feita de bobo da corte novamente?! Olha as piadinhas, os boatos, as mentiras que estão rolando ao meu respeito!

— Olha, eu vou te deixar sozinha. Quando quiser contar tudo o que houve pra mim e pra Ísis, nos procure. Antes disso, nem fala com a gente. — Aria se virou em direção à porta, abrindo-a.

— Eu já não estava falando, mesmo! — depois que gritei, ela saiu e bateu a porta com força, fazendo um barulho bem alto.

Comecei a chorar. A medida que as lágrimas rolavam, vinham flashes do passado, atormentando-me novamente, porém tinha um em específico que insistia em continuar indo e voltando pelos meus pensamentos.

 

*flashback on*

 

— Você não é nada, só um saco gordo de lixo! — Amanda gritava enquanto me chutava e empurrava para uma espécie de almoxarifado — Quer ver que ninguém vai sentir a sua falta se ficar presa um tantinho aqui?

— Por favor, não faz isso! — minha voz de desespero a instigava, fazendo com que seus olhos brilhassem cada vez mais — Por que você me odeia tanto? O que eu te fiz, Amanda?

— Você existe! Me causa repulsa ver você sendo tão amada por suas amigas e eu, que sou tão melhor que a Jade perfeita e idiota, não ter ninguém. E você vai pagar.

Ela pegou um cabo de vassoura e começou a acertar com força em meus braços e coxas. Chorava de tanta dor, e meus gritos eram abafados com medo de que alguém ouvisse e piorasse tudo.

Fiquei muito tempo trancada lá, e quando as meninas perguntaram onde estava, menti dizendo que tinha me sentido mal e ido na pracinha perto dali respirar um pouco.

 

*flashback off*

 

Acordei daquele transe tenebroso por conta do sinal tocando, avisando a hora do jantar.

Segui para o refeitório, estava com fome e além disso precisava me distrair ao máximo, ficar mais relaxada.

Apesar de eu odiar abacaxi, a comida estava ótima. Pelo menos não tinha passas na salada, o que já era um avanço, pois minha mãe quando fazia, sempre pusera uva-passa nela.

Como não tinha companhia pra sentar, acabei ficando sozinha em uma mesa. Pensei que fosse ficar sozinha, mas como nem tudo são flores, Alana e Patrícia chegaram e sentaram naquela mesma mesa que eu estava, alegando que era a mesa delas!

— Olha só, Lan, quem é a mais nova ladra de mesas da Lucy West! — disse Patrícia, zombando de mim.

— Relaxa, Pati. Essa depressiva nojenta vai sair daqui por bem ou por mal. — Alana riu com ironia.

— Qual é o problema de vocês? — perguntei cheia de raiva. Como uma pessoa pode falar assim com alguém que nunca conversou?!

— Como é que é?! — exclamou Patrícia, perplexa.

— “Como é que é” pergunto eu! Vocês nunca nem falaram comigo, não me conhecem e ainda assim tiram conclusões precipitadas sobre mim, espalhando boatos e fofocas a meu respeito. E repito: qual o problema de vocês? Será que é para agradar a rainha Amanda ou só por serem duas mimadas metidas a valentonas?! Vão caçar o que fazer ao invés de me importunar! — empurrei meu prato de comida(acabei deixando um pouco, mas tinha perdido a fome), e levantei com força. A cara de espanto delas era a melhor possível. Como não sabiam mais o que falar, acabaram dizendo o mais sem-noção possível:

— Tá revoltadinha, ela!

Continuei andando sem olhar para trás, e enquanto isso mandei o dedo do meio bem alto para que elas pudessem ver, seguido de um ”me erra!” em volume máximo.

Escovei meus dentes no banheiro do nosso dormitório, mesmo. Aria já estava no quarto, sentada na escrivaninha enquanto falava com sua mãe sobre o dia.

Dei mais uma olhada para meu lindo buquê de flores e deitei em minha cama, pegando o notebook e abrindo duas janelas: uma para o YouTube(um fone de ouvido e músicas relaxantes no volume mínimo)e outra para o wordpad, fazer alguns resumos das últimas aulas que tive, para ser mais fácil de estudar futuramente.

Estava terminando o último resumo quando Ísis chegou. Olhei pra ela com o olhar mais frio que consegui e voltei a escrever, só que daquela vez sem os fones.

Escutei o barulho de passos ágeis batendo no assoalho, e nenhuma das meninas estava mais lá. Fui rapidamente até a porta e elas estavam discutindo ali, mas o som estava tão abafado...

Peguei meu copo de vidro que fica na cabeceira para pôr água e cuidadosamente o encaixei entre a porta e minha orelha.

Esses filmes que vejo serviram de alguma coisa. Cultura não tão inútil assim, utilidade pública!

“Ah, faça-me o favor! Você tem dúvida de que a Jade tá atrás da porta escutando tudo?! Se bobear tá com um copinho na mão pra tentar ouvir melhor!” foi uma das coisas que ouvi de Ísis. Deus, como alguém pode me conhecer tão bem assim?!

Após Maria Ísis terminar a conversa, pulei rapidamente na cama e me ajeitei tentando agir naturalmente, e parecer como se não tivesse saído dali.

— Para de fingimento que todo mundo sabe que você tava ouvindo. — Aria entrou já falando isso.

Sem me render, perguntei:

— Ouvindo o quê?

— Para de show que tu não é a Xuxa e deixa de ser sonsa que a gente te conhece desde sempre. E eu nem sei porque tava tentando limpar a tua barra se você quer saber, você nem merece.

Com a cara mais lavada do mundo, perguntei em som de deboche:

— Então tá falando comigo agora?!

— Tá tão difícil de falar contigo hoje, que só Deus na minha vida! Você tá sendo completamente egoísta, Jade. Mas não vou entrar nesse assunto, vou é terminar de ver Atypical que eu ganho mais. — disse Aria com decepção no olhar.

— Ari, eu sei que todas estão bravas e magoadas por acharem que não confio em vocês, mas a questão é que eu não queria lembrar. Não queria reviver algo que me assombra já faz dois anos. — começaram a cair algumas lágrimas solitárias por minha face — Nesses últimos dias que passaram, hoje principalmente, muitas memórias vieram à tona, e eu percebi que independente de não contar para vocês eu iria sofrer com aquilo do mesmo jeito. Mas só vou contar quando a Ísis chegar, pode ser?

— Tudo bem, só não chora. Tudo passou e nada nem ninguém vai mais te fazer mal. — Aria disse enquanto me abraçava, tentando me acalmar.

— Estou tão cansada, preciso beber água. — falei, dirigindo-me para a porta.

— Pode deixar que eu pego, é a minha vez de encher o jarro d’água. — Aria levantou-se rapidamente em direção ao corredor.

Bebi o líquido em meu copo e agradeci.

Passaram-se algumas horas até que ela chegasse, duas e quarenta e dois da manhã, para ser exata.

— Precisamos conversar — afirmei — Você sabe muito bem que não pode me ignorar pra sempre! Eu vou contar o que aconteceu com a Amanda.

Fingindo não dar muita importância, Ísis se sentou em sua cama e olhou para mim, dizendo um “pode falar” quase inaudível.

Muitos flashbacks vieram à tona naquele momento. Agressões físicas e verbais sobre mim repercutidas por Amanda e outros valentões que ela se atracava para fazerem aquilo comigo. Piranha desde sempre, diga-se de passagem.

“Insignificante”, “gorda”, “horrorosa”, “pega ninguém”, “esquisita”, “estúpida”, “ridícula”, “nareba”, “escrota”, e vários outros ecoavam em minha mente.

 

“Você não é nada! Ninguém liga pra você.”

 

“Se mata! Ninguém sentiria sua falta.”

 

Pensar nas crueldades de Amanda me deixava cada vez mais fraca, tensa e acabada. Revivia tudo ao dizer aquilo em voz alta.

Cada comentário maldoso, cada soco ou arranhão, eu sentia. O medo se interligava às batidas descompassadas de meu peito. As lágrimas insistiam em rolar por meus olhos inchados e minhas bochechas vermelhas, fazendo-me sentir cada segundo mais destroçada por dentro.

Maria Ísis não tinha uma reação definida em seu rosto, enquanto Aria estava perceptivelmente prestes a chorar.

Senti-me leve ao terminar de contar meus relatos. Acabara de abandonar um peso enorme na estrada de minha jornada.

Aliviada. Essa era a palavra certa para usar naquele exato momento.

Foi aí que desabei. O choro não parava um segundo sequer. A cada lágrima, cada soluço, eu me sentia cada segundo mais limpa, como se algumas pequenas partes de meu coração estivessem se cicatrizando.

Ainda calada, Ísis me deu um singelo abraço. Podia senti-la dizer telepaticamente um “está tudo bem, eu estou aqui”.

— Obrigada por me contar. Significou muito. — Ís falou olhando em meus olhos.

— Bom, vamos parar de chorar, né?! — Aria interviu, limpando as lágrimas de suas bochechas — Quero saber que flores belíssimas são essas e quem que te deu.

— A irmã do Théo, que é do primeiro ano, veio aqui me entregar. São lindas, né?! — comentei, arrancando suspiros de minhas amigas.

— E ele disse mais alguma coisa além do bilhete? — perguntou Ísis.

— Ele me ligou e disse que queria que eu fosse no Outback com ele, no sábado. Mas um encontro duplo. — soltei a bomba.

— O QUÊ??!! — as meninas ficaram perplexas.

— Como assim encontro duplo? — Aria me perguntou, com muita curiosidade nos olhos.

— Ele vai levar o primo dele, que tá mal por conta do vestibular, e eu vou levar uma amiga... — dei uma pequena pausa dramática — Que no caso é você, dona Maria Ísis.

— Eu? A louca e infantil? — perguntou Ísis, abismada.

— Você não é infantil e nem louca, sua doida! — exclamei.

— Jade, você percebeu que essa frase não fez nenhum sentido, né?! — perguntou Aria, segurando o riso.

— Ah, qual é?! Isso não vai ser o fim do mundo se você for comigo. Por favorzinho, morena mais linda do mundo! — implorei fazendo biquinho. Sempre funciona.

— Tudo bem, mas com uma condição.

— A que você quiser, diva perfeita. — falei, tentando massagear o ego de minha amiga.

— Nunca mais esconde nada de mim. Eu te amo e me importo com vocês mais do que comigo mesma. — pediu Ísis.

— Isso nunca mais vai acontecer, ouviu?! Nunca mais. Te amo, minha lunática das pelúcias. — falei, abraçando-a e dando um beijo em sua bochecha.

— Então tá tudo bem mesmo e todas nós estamos nos falando, né?! — Aria perguntou.

— Tá tudo certo, sim! — exclamei, soltando um dos meus gritinhos típicos.

— Shhh, sua maluca! Já são quase três e meia da manhã! — sussurrou Ísis, fazendo uma careta assustadora.

— Xi, desculpa. Me empolguei tanto que acabei esquecendo. — disse, rindo fraco.

— Falando no hora, já tá super tarde e daqui a pouquinho a gente tem aula. — Aria nos lembrou — Boa noite, meninas. Vou dormir já que todas nós resolvemos o que tinha pra ser resolvido.

— Boa noite. — eu e Ísis dissemos em uníssono.

E lá se foram parte dos meus problemas. Me fortifiquei contando para as meninas, e sentia que meus medos se diminuíram. Nunca mais deixarei Amanda me pisar, e encararei a mocreia de frente com coragem. A Jade medrosa tinha ido embora, deixando no lugar a Jade que não perdoa ninguém.

Aquela cobra que me espere com os olhinhos bem abertos, porque vou acabar com ela na força do ódio.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Comentários fazem uma autora muito feliz ♥ Beijos, feliz natal e um próspero ano novo! Até ano que vem com mais um capítulo de AYTR ♥



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