A Year to Remember escrita por Bitiz Morningstar


Capítulo 10
Vida longa ao novo casal


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Perdão pela demora, mas aqui estou eu com um capítulo recheado do mundo da Aria ♥ Isso é o que eu chamo de fogo no parquinho...
Boa leitura ♥ ♥ ♥ ♥



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P.O.V da Aria

Acordei às seis e meia da manhã, com meu alarme personalizado que deixa as meninas doidas de raiva. Uma espécie de “VAMOS ACORDAAAAR E PENTEAR OS CABELOS QUE TÁ NA HORA DE ESTUDAAAAAR”, tocando repetidas vezes. Gravei aos dez anos quando a febre era o gato Tom da internet. Pois é, o alarme tem a voz aguda e esganiçada dele.

— Desliga essa merda, Aria! — Jade falou alto com a voz rouca e sonolenta, seguido de um travesseiro voando em minha direção, que Maria Ísis teve o prazer de arremessar.

— Um dia eu apago essa irritação do seu celular pra gente nunca mais ter que ouvir. — Ísis disse, levantando-se da cama e indo escovar os dentes — Nossa, meu cabelo tá péssimo! Alguém viu o meu leave-in?

— Tá na segunda gaveta da pia, do lado do shampoo a seco da Nat. — avisei.

— Valeu, Ari. Você é a melhor! — Ís agradeceu — Jade, levanta logo que daqui a pouco é o café da manhã e a aula. Anda, criatura!

— Acho que to doente, não vou para a aula... — Jade, cara de pau como sempre, fingindo gripe!

— Se você não parar com essa palhaçada, eu vou aí jogar um balde d’água gelada na tua cabeça e aí sim você vai ficar doente! — ameacei, sem paciência.

— Ih, esquentadinha. Já acordei. — murmurou Jade, levantando-se e pegando seu uniforme.

Após todas nós estarmos prontas e tomarmos café, fomos para as aulas de inglês, espanhol, biologia 2 e história 1, respectivamente. A única realmente interessante delas foi história, e o resto é resto.

Na hora que o sinal bateu para o almoço, fui no quarto deixar meu material, até que ouvi meu celular tocando enquanto carregava. Pensei que fosse algum alarme para tomar algum antialérgico, mas não. Era meu pai que estava me ligando.

 

Aria: Alô?!

Gustavo: Oi filha, tudo bem?

Aria: Oi pai! Tudo sim, e contigo?

Gustavo: Bem também.

Aria: Ah, que bom. Como sabe que eu tava livre nesse horário?

Gustavo: Eu tenho os horários, seu e da sua irmã, pendurados na geladeira.

Aria: Nossa, pra que tanta preocupação?!

Gustavo: Porque hoje à noite temos um jantar especial para vocês conhecerem a minha namorada, Soraya.

Aria: Que brincadeira sem graça, eu tenho aula.

Gustavo: Não é brincadeira, Aria. To falando sério. E você vai voltar amanhã de manhã, não vai perder aula nenhuma.

Aria: Cecília também vai?

Gustavo: As aulas dela são mais flexíveis que as suas, além de ser de noite e o dia dela aqui em casa.

Aria: Verdade. Então você vai me buscar hoje que horas?

Gustavo: Umas quatro e vinte da tarde eu to aí. Separa agora logo algo que você queira levar pro jantar.

Aria: Okay, mais alguma coisa que eu deva saber?

Gustavo: Quase me esqueci! Você vai conhecer a filha da Soraya, Patrícia. Ela estuda com vocês, mas não sei se se conhecem. Ela vai no carro conosco. E seja educada!

Aria: Tudo bem, pai. Beijo.

Gustavo: Beijo filha, te amo.

Aria: Também, tchau.

 

Quando finalmente pousei a mochila no chão — porque a tonta não tinha pensado em tirar das costas enquanto atendia ao telefone —, Ísis entrou no quarto.

— Ari, você tá passando bem? — minha amiga perguntou, preocupada — Tava demorando mais que jogar a mochila no quarto e ir para o refeitório.

— Tudo bem, sim. Meu pai tava me ligando pra dizer que eu vou pra um jantar especial pra conhecer a nova namorada dele. Soraya. Nominho de megera, não?! E ela tem uma filha que estuda aqui, se chama Patrícia.

— Patrícia? Será que é a jararaca em treinamento?

— Ih, nem pensei nela. Mas que eu saiba tem umas três Patrícias no primeiro ano e duas no terceiro.

— É, torcer pra que você não seja infernizada fora do internato também.

— Não tenho medo dela, só estresse mesmo. A voz dela é extremamente irritante!

— Não, a voz da Alana que é irritante. A dela até que é normal.

— Pra mim é tudo filhote de Cruz Credo.

— Doida, isso é pra aparência! Elas nem são feias.

— Ah, to nem aí. Sei que sou muito mais maravilhosa que elas e acabou! — ri fraco.

— Jade que fala assim. Você é mais do tipo sentimental que vê bondade em todos, o que tá havendo com o mundo que tá tudo trocado?!

— Para de ser boba, Ís. Eu to normal, e além disso eu convivo há 16 anos com a praga, aprendi alguma coisa. Tá Sheldoniana demais pro meu gosto com esse ódio por mudanças. Assistir TBBT tá é afetando o seu cérebro. — disse em tom de brincadeira.

— Praguinha que amamos, temos que acrescentar isso. E não fala do meu Sheldon!

— Verdade, não vivo sem aquela peste.

— Falando nela, vamos lá almoçar que ela tá esperando a gente.

— Até esqueci que tava com fome! Bora lá. Ah, mas espera que preciso pegar meu vestido esporte fino de emergência e meu salto que combina com ele para pôr na mochila, além do estojo de maquiagem e o perfume, claro!

Após separar tudo e almoçar, tivemos aula de física 2 e matemática 2. Sou de humanas e fim de papo! Eu e Jade mortas de aflição dos professores falando e a gente sem entender porra nenhuma e Ísis lá, toda plena fazendo perguntas extremamente inteligentes e corrigindo professores em cálculos. Como pode alguém tão prodígio assim?! O bom(pro meu proveito) dessa inteligência toda é que não tomo bomba em exatas porque a sabichona nos ensina tudo até entrar em nossas mentes.

Quando bateu o sinal de término das aulas do dia, que no caso toca às quatro da tarde, fui correndo para o quarto pegar minha mochila mágica da beleza e purpurina(como gosto de chamar minha mochila, a que não é da escola) para esperar na porta do internato.

— Ei, esqueceu de nada, não?! — Jade perguntou, como uma expressão risonha.

— Não sei, o quê?! — indaguei.

— Um abraço na gente, tonta! — exclamou Maria Ísis.

— Pensei que vocês fossem me acompanhar até a porta.

— E vamos. — disse Jade.

— Então pronto! Me deem o abraço lá. — disse, e ficando em silêncio.

Comecei a rir da cara delas quando ouviram o que falei.

— Tô brincando, suas bocós! Venham aqui! — as puxei para um abraço.

— Para de ser ridícula, nanica! — Ísis brincou, apertando minhas bochechas.

— Vamos que senão eu vou me atrasar e meu pai vai ficar de mau humor até a gente chegar em casa. — disse aflita.

— Tio Guga é assim mesmo, cruzes! Nem brinca com isso, Ari. — exclamou Jade, fingindo se benzer.

— É, bate na madeira! — Ísis acabou entrando na brincadeira.

Teve uma vez no ano passado que fomos ao shopping, aí iríamos dormir na casa do meu pai. Pedimos para ele nos buscar às nove da noite, mas acabou que a fila da loja de biquínis estava enorme, e Natália tava doida por aquele da coleção desde o dia em que lançou. Acabamos nos atrasando meia-hora, e levamos uma bronca daquelas do meu pai. Moral da história: nunca deixe Sr. Gustavo esperando. Ele é super de boas com tudo, mas odeia esperar e tem pavor de agulha.

Ao chegar na porta, vi Alana e Patrícia paradas ali na frente. Respirei pesado e encarei minhas amigas com aquele olhar de “tenho que ser gentil com a inimiga, o que eu faço?! Me ajudem!”.

— Fica calma, vai dar tudo certo. — sussurrou Jade, dando-me um abraço rápido e um beijo no rosto.

— Jade tá certa, fica tranquila que talvez nem seja tão ruim assim. — Ísis seguiu o raciocínio da doidinha histérica e fez os cumprimentos de despedida da mesma maneira.

— E se for ruim? Péssimo? Horrível e eu prefira a morte? — eu estava sussurrando alto, como se estivesse gritando na nossa linguagem de sussurros.

— Respira pra oxigenar o seu cérebro, que não tá lá essas coisas, e vai que ele acabou de chegar. — Ísis deu o seu último sussurro(pelo menos do dia, que eu fosse ouvir) e me virou, dando um leve empurrão para que eu fosse depressa.

— Boa sorte! — Ouvi Jade falar.

Como resposta fiz um coração com as mãos.

Entrei no carro, no banco do carona. Patrícia foi atrás sozinha. Comecei a conectar meu celular com o bluetooth do rádio para pôr minha playlist, e rezando para que ficasse naquele silêncio que estava(até porque se meu pai perguntasse sobre nos conhecermos, eu falaria sobre o que aconteceu com Jade).

Como, obviamente, minhas preces não foram atendidas, meu pai começou a puxar assunto:

— Patrícia, você é de que ano mesmo?

— Segundo ano, tio. — a pau mandado respondeu. Sério mesmo que ela chamou o meu pai de tio?! Eu só podia estar ouvindo coisas!

— Mesmo ano da Ari. São da mesma sala? — Gustavo perguntou. O desconforto em minha face era aparente, porém consegui disfarçar olhando para a janela do carro, fingindo me interessar pela paisagem do campo.

— Somos sim, pai. Mas ela anda com a Amanda. — disse, tentando abafar minha indignação.

— A Amanda filha da Cristina? — ele indagou, sem parar de olhar para a estrada.

— Essa mesmo. — concordei, roendo-me de raiva.

“Sabia que Patrícia, Amanda e mais uma menina estavam espalhando boatos para a escola inteira de que a Jade é suicida e bulímica?!”, nos meus pensamentos eu estava contando tudo para meu pai, mas me lembrei que não poderia fazer aquilo. Ela deveria, sim, ser punida, porém tinha que me lembrar que a quenga é filha da namorada do meu pai. O clima ficaria pesado demais no jantar se eu simplesmente contasse.

Ao finalmente conseguir conectar o celular, coloquei o álbum Singular: Act I da Sabrina Carpenter para tocar, e o silêncio finalmente pairou.

Antes de irmos para casa, buscamos Cecília na escola(como era mais ou menos horário da saída dela ficou ainda mais fácil).

— Boa tarde, família! Como estão? — disse meu pequeno raio de luz entrando no carro enquanto comia algumas jujubas — Epa, você eu não conheço! Qual o seu nome?

— Sou Patrícia, e você?

— Cecília. Então você que é a filha da tia Soraya?

— Sou sim.

— Ela é muito legal, Aria! Você vai ver hoje. Ela me deu de presente aquela casa da Barbie que eu tinha pedido pra mamãe, que disse que tava muito caro.

Então quer dizer que ela estava comprando a minha irmã? Aquilo estava muito pior do que eu pensava!

Chegando em casa, instintivamente fui para meu quarto. Joguei minha mochila na cama e fui na minha escrivaninha ligar o computador. Ainda era seis da tarde. O jantar começava às oito e meia da noite, ou seja, começaria a me arrumar quando faltasse duas horas para o evento.

Quando o notebook finalmente iniciou, abri o FaceTime para fazer uma chamada de vídeo múltipla, com todas as quatro. Enquanto esperava alguém atender, tranquei a porta.

 

(chamada iniciada)

J: Alô?

A: Ninguém tá conseguindo ligar pra Nat, mesmo?! Ela tá incomunicável desde que foi suspensa!

I: Mandei mensagem pra ela, mas não foi nem entregue.

J: E eu tentei pra casa dela e pro celular da tia Mari.

I: Vamos ficar calmas que uma hora ela aparece. Se estivesse morta a gente já teria tido notícias.

A: Credo, Ísis! Que mórbido.

I: Ué, eu só disse a verdade.

J: Vamos para os finalmentes: por que você convocou essa reunião?

A: Como vocês sabem, a mocreia tá aqui em casa.

J: Sim.

A: Pois bem, a mãe dela tá comprando a Ceci com brinquedos caros.

I: Eu se tivesse a idade dela também gostaria de ser comprada com brinquedos caros.

J: Hahah, idem!

A: AMADAS, ISSO É SÉRIO!

I: Ok, continua.

A: Vou conhecê-la daqui a pouco, ela ainda não chegou.

J: Vocês vão comer o quê?

A: Lagosta a termidor com canapés de salmão e vinho do Porto.

I: Tira a gente daqui! Queremos comer comida chique também!

A: Infelizmente não dá pra fazer isso nem em pensamento, mas vejo se levo um marmitex pra vocês amanhã.

J: Nossa heroína!

A: O jantar aí vai ser o quê?

I: Arroz, feijão, bife e batata frita.

J: Tomara que a batata seja crocante.

A: Deixa de ser enjoada, Jade! Saiba que muitas escolas só fazem arroz, feijão e atum.

I: Agradeço todos os dias pela comida daqui ser boa porque puta que pariu, eu sou enjoada demais. Qualquer coisinha e eu passo mal.

A: Lembra daquela vez no shopping que...

I: Ih, nem fala que já fico com náuseas.

J: Vai no banheiro e fica lá até as náuseas passarem. Acabei de tomar banho e to cheirosinha. Não quero que vomite em cima de mim que nem daquela vez! Não esquece que você tá do meu lado nesse exato momento.

A: Ainda bem que to bem distante hahah!

I: Ai, é só força de expressão! To bem, sério.

J: Então tá.

I: Mas diz aí: onde a rata tá?!

A: Na sala com a Cecília.

J: Não dê nenhum passo em falso. Essa daí é do tipo que te observa até achar algo pra te chantagear, aí você acaba presa em alguma cilada. Vê bem o que você faz, esconde suas coisas significativas ou comprometedoras e coloca uma senha forte nos teus aparelhos eletrônicos pra ela não conseguir entrar. E nunca vire as costas pra ela, a não ser que queira morrer esfaqueada.

I: Onde você aprendeu isso? No Jackie Chan?

J: Que Jackie Chan, o quê! As ameaças da Amanda serviram pra alguma coisa. Tenho os olhos bem abertos e em alerta pra qualquer parada.

A: Valeu pelas dicas.

J: Se ela dormir aí, faz com que ela durma no quarto da Cecília, e não no seu. E tranque a porta!

I: Você tá de fones?

A: Lógico, vai que estejam ouvindo atrás da porta!

J: Lindíssima, falou tudo.

A: Girls, to indo lá. Melhor eu começar a me arrumar agora pra não me atrasar. Sabem como eu sou hahahah.

I: Ok, vai lá. E boa sorte!

J: Boa sorte, Ari!

A: Obrigada, amo vocês!

(chamada finalizada)

 

Depois de desligar o computador e colocar no celular a minha playlist de banho, entrei no chuveiro. Lavei o cabelo e fiz uma rápida hidratação. Finalizando, hidratei o corpo com óleo de banho. Enxaguei para tirar o excesso e peguei a toalha para me secar.

Sequei o cabelo com secador, fiz babyliss nas pontas e prendi de uma forma que não amassasse. Na maquiagem, utilizei uma base de cobertura média, para deixar um acabamento natural, e apliquei corretivo nas olheiras. Uma sombra marrom nas pálpebras só para definir o côncavo e um tantinho de pigmento dourado no canto interno dos olhos. Um pouco de iluminador, pó compacto e blush. Finalizei com um batom vermelho.

Coloquei o vestido — um modelo vermelho bordô ombro a ombro com a frente da saia um palmo acima do joelho, e atrás um pouco abaixo do mesmo — e calcei um scarpin preto.

Estava pronta.

— Aria, o jantar já vai sair. — Cecília gritou, batendo na porta.

— Já vou, pequena. — gritei de volta.

Sim, em menos de 15 segundos totalmente pronta já havia perdido toda a classe e elegância, só por gritar. É, eu realmente nunca seria a rainha de Genóvia. Se bem que a Mia era uma garota comum antes de tudo aquilo acontecer...

Foco! Deveria me portar bem à mesa e ser sofisticada.

Saí do quarto, passando a chave e escondendo atrás de um porta retrato meu com Ceci e meu pai, em cima de uma mesinha de canto no final do corredor. Chegando na sala, recebi um elogio de meu pai.

— Como você está deslumbrante, Aria! Não esperaria menos vindo de você. — disse dando um beijo em minha testa.

— Bobagem, é só meu vestido de emergências. — falei, escondendo o fato de amar um pouco de atenção.

— Quero que você conheça a Soraya, ela acabou de chegar. — falou meu pai, com a expressão facial um pouco tensa.

Apareceu na sala uma mulher muito bonita. Alta, magra, pele bronzeada, nariz arrebitado, cabelo moreno iluminado, olhos castanhos claros com reflexos verdes. E detalhe! Essa obra toda enfiada num vestido vermelho com um decote gigante no busto e uma fenda na perna esquerda. E o pior é que não ficava nem um pouco vulgar, mas muito elegante.

— Aria! Que bom que finalmente nos conhecemos! O Gustavo me falou tanto de você e como você é linda e inteligente, mas não pensei que fosse tão linda assim. — disse a mãe de Patrícia, me puxando para um abraço. Grudenta, não?! — E gostamos da mesma cor! Se bem que o seu é um lindo bordô, e o meu é um vermelho tradicional.

— Eu amo todos os tons de vermelho, é a minha cor favorita. — disse, um pouco sem graça. Não sabia que ela puxaria assunto assim tão rápido. Deve ser mesmo uma megera, mas não pensei que fosse tão manipuladora assim.

— A minha também, junto com verde musgo. — falou a mulher. Aquilo era alguma armação? Só podia ser.

— Ei, a minha também! Verde musgo é tudo! — fiquei estranhamente empolgada falando de cores com a namorada do meu pai. Por favor, alguém me interna!

— É muita coincidência, não é?! Acho que vamos nos dar bem! — falou por fim. Dois segundos depois olhou para Patrícia, que não tinha nem reparado que estava ali. Ela estava sentada no sofá da sala, mexendo no celular.

A jararaca em treinamento usava um vestido, que batia um pouco acima do joelho, cinza de tule com flores bordadas na parte do corpete e uma sandália de salto prateada.

— Patrícia, vem aqui! — pediu Soraya. A menina se levantou no mesmo instante e foi até ela — Eu sei que vocês já se conhecem, o Gustavo me falou. Por que não conversam um pouco?

— A gente não faz parte do mesmo círculo social, digamos assim. — disse olhando para a criada da Amanda.

— É uma pena, mas isso não impede de se conhecerem melhor. Afinal, vão se ver com mais frequência fora do internato por conta do nosso namoro. — explicou a mulher.

— Aria, por que não mostra seu quarto pra a Patrícia? Ocorreu um imprevisto aqui e o jantar vai sair um pouquinho mais tarde. — falou meu pai.

— Claro, pai. — obedeci, mas lembrando do que Jade tinha dito para mim — É por aqui.

Passamos pelo corredor e paramos na segunda porta à esquerda.

— É aqui, só um instante. — disse, me afastando e indo rapidamente até o final do corredor para pegar a chave escondida.

— Por que tranca o seu quarto? — perguntou Patrícia, com o olhar duvidoso.

— Cecília gosta de entrar escondido para pegar chocolates. — falei como se fosse óbvio. Não poderia simplesmente soltar um “ah, é porque não confio em você e nem nas suas amiguinhas estúpidas”, porém vontade era o que não me faltava.

— Entendi...

— Senta aí na minha cama, sem cerimônias. — disse.

Ela se sentou e ficou olhando para o nada. Fechei a porta e caminhei até ela, ganhando do nada um choque de adrenalina.

— Olha aqui, Patrícia, não é porque “viramos família” que eu vou esquecer o que você fez com a minha melhor amiga. Agora no jantar eu vou contar o que vocês fizeram com a Jade, e você vai pagar bem caro o preço de ser maldosa. Não sei o que a Amanda te falou, mas eu não sou do tipo de perdoar. — cuspi as palavras na cara dela, olhando bem para aqueles malditos olhos castanhos.

— Já acabou com o show? — perguntou para mim com ar de deboche — Se você contar pra minha mãe sobre os boatos que espalhamos, eu conto pro seu pai daquela prova de química que você roubou no ano passado! Não iria querer que seus pais soubessem que a filhinha perfeita é uma ladra mau caráter, ou quer? — ameaçou a cobra, espalhando um tantinho do seu veneno.

— Como sabe disso? — perguntei incrédula.

— Amanda nos contou muita coisa sobre vocês. Me aguarde se tentar fazer algo contra nós.

— Você não faria isso...

— Ah, você quer pagar pra ver?!

— O jantar está na mesa, meninas! — apareceu Cecília abrindo a porta.

— Já estamos indo, Ceci. — disse a peçonhenta, sorrindo vitoriosa enquanto caminhava até a sala.

Como era possível? Ninguém além das meninas sabia daquilo. Foi um passado um tanto sombrio.

Eu estava louca com todas aquelas provas e não conseguia acompanhar mais nada, e com um surto e um impulso eu peguei a prova de química 2, tirei fotos dela e coloquei no mesmo lugar em que estava guardada — na gaveta do professor Renato, no armário de química da sala dos professores.

Andei até a sala de jantar e sentei em meu lugar da mesa. Os canapés estavam tão bem organizados na bandeja de inox que nem pareciam de verdade, o vinho já estava posto em todas as taças, fora a de Cecília, que tinha suco de uva dentro, e as lagostas impecáveis no centro da mesa.

— Hoje é um dia muito importante para nós, pois é o primeiro de muitos jantares reunidos como uma família. — ouvir meu pai dizer aquelas palavras me dava uma vontade absurda de vomitar. — Sei que parece cedo para vocês, mas estamos juntos já faz uns seis meses, e é com muita alegria que dizemos para vocês que vamos... — ele estava esperando que Soraya completasse a frase. Por favor que seja algo como adotar um cachorrinho!

— Nos casar! — exclamou a mulher, empolgada. Que dia foi aquele?! Acordei descobrindo que meu pai tinha uma namorada, depois que ela era a mãe da menina que me odiava, aí recebi uma ameaça de surpresa e por fim vou ser irmã postiça da rapariga! Será que tem como piorar?!

— Parabéns ao casal. — foi o que eu  consegui dizer — Se me derem licença eu vou ao banheiro, volto em cinco minutos.

— Sem pressa, querida. — disse Patrícia, sorrindo para mim. Estava um pouco tonta, tinha a sensação de que iria desmaiar ou sei lá.

Entrei em meu quarto e peguei minha garrafinha de água. Fui até a gaveta de remédios, abri uma dipirona e engoli rapidamente, bebendo com o conteúdo da garrafa. Fiz o meu treinamento de respiração para poder me acalmar e voltei para a mesa. Em meia hora o remédio faria efeito.

— Tudo bem, filha? — perguntou meu pai, com o semblante preocupado.

— Tá tudo sim, só precisei ir ao banheiro. — falei enquanto tomava um pouco do vinho. Merda! Eu estava tomando álcool, o remédio não faria efeito algum. Tomara que seja mito popular...

— Tem certeza? Parece que está pálida. — indagou Soraya.

— Tá tudo sim, é só porque eu acordei muito cedo hoje. O dia foi puxado no colégio.

— Pra mim não foi nada puxado, foi tudo normal. — falou Patrícia enquanto pegava mais um canapé.

— Eu e as meninas estudamos depois das aulas por conta própria, além da Ísis dar aulas de reforço de matemática para fixar a matéria. — disse enquanto colocava uma lagosta no prato.

— Bem que você podia fazer isso, filha. Suas notas em matemática nunca foram lá essas coisas. — comentou a mãe da cobrinha.

O restante do jantar foi tranquilo, conversamos banalidades. A comida estava deliciosa, e acabou sobrando exatamente o prato que levaria para as meninas.

Despedi-me de todos e fui para meu quarto. Patrícia iria dormir no quarto de Cecília, e minha irmã dormiria comigo em minha cama.

Tirei toda a maquiagem, escovei os dentes, lavei o rosto e coloquei meu baby-doll de gatinho da Pucket.

Apaguei as luzes, liguei a televisão no canal animal e deitei em minha cama.

Estava quase pegando no sono, até que algo me cutucou.

— Ari, tá acordada? — sussurrou minha irmã em meu ouvido. Ainda bem que era ela, de relance pensei que fosse algum tipo de assombração.

— To sim, meu bem. O que houve? — perguntei entre bocejos.

— Não consigo dormir, canta a música do elefante pra mim? — pediu, fazendo biquinho.

— A da formiga e do elefante? — indaguei — Faz tempo que você não me pede pra cantar essa música pra você, achei que tivesse esquecido dela.

— Minha música favorita, amo quando você canta.

— Tudo bem, mas só uma vez, ok?! — disse, enquanto me ajeitava na cama e mexia nos cabelos de Cecília.

Mamãe cantava essa música para mim quando eu era bebê, e repassei para a Cecília quando ela nasceu. Por mais que minha mãe cantasse pra ela, ela sempre preferiu a minha versão. “A Formiga e o Elefante”, do Wilson Simonal.

Ao terminar de cantar, Ceci já estava dormindo. Sempre foi o maior sonífero dela.

Adormeci alguns minutos depois.

Assustada, acordei com meu pai batendo na porta. Cecília não tinha acordado, pois dormia feito pedra. Nem se chegasse batendo panela ela acordaria — eu tentei uma vez!

— Ari, se arruma que temos que sair daqui a vinte minutos. — disse meu pai, olhando para o Rolex em seu pulso.

— Já vou. — disse enquanto me levantava. Ainda eram cinco da manhã.

Tomei um banho rápido, coloquei o uniforme, peguei minha mochila com meus pertences e fui até a sala de estar.

— Não vai tomar café, Aria? — perguntou Soraya, sentada no sofá, com uma camisola que parecia ser de stripper ou sei lá.

— Prefiro comer no internato, mesmo. As meninas estão todas lá, adoro a companhia delas. — disse enquanto bebia um copo d’água. Depois que vi na internet que beber água em jejum fazia bem pra saúde, era a primeira coisa que bebia de manhã.

— Entendi... — falou a mesma, olhando para a televisão enquanto procurava algum canal específico na TV, como se fosse a dona da casa.

— Filha, vamos lá? — indagou meu pai enquanto olhava para os lados — Cadê a Patrícia?

— To aqui, só estava terminando de calçar o tênis. — disse a vaca enquanto saía do quarto de minha irmã.

— Filha, vem cá dar um beijo na mamãe. — Soraya disse, sendo prontamente atendida por um beijo da cobrinha em sua bochecha.

Caminhamos até a garagem, no subsolo do prédio, e entramos no carro de meu pai. Eu no carona e ela no banco de trás.

Novamente pus meu celular no bluetooth, porém daquela vez coloquei uma playlist somente da Ariana Grande, minha cantora favorita desde que começou a fazer sucesso em Victorious.

Não teve engarrafamento, o trânsito estava bom. Uma hora depois chegamos lá.

Despedi-me de meu pai e andei depressa para poder chegar o mais rápido possível em nosso dormitório. Pus a mochila do lado de minha cama e vi que as meninas ainda estavam dormindo.

De fininho cheguei do lado de Ísis e pulei em cima dela, fazendo com que desse um grito, assustando Jade.

— Que foi, Ísis? Que susto — gritou Jade com a mão no peito.

— Sou eu, gente! — disse entre minhas gargalhadas.

— Sua louca! Quase me matou de susto! Esqueceu que sou cardíaca?! — disse Ísis sem saber se me abraçava ou dava um tapa em meu braço. Ela optou pelo abraço.

— Conta pra gente como foi o jantar. — pediu Jade, levantando-se da cama e desligando o ar-condicionado — Trouxe nossa comida?

— Sim, tá aqui na minha mochila bem embrulhadinho. Aliás, deixa eu colocar logo aqui no frigobar. — afirmei, abrindo a mesma e pondo a comida na mini-geladeira.

— Ui, a gente nem precisa ir pro refeitório hoje! Podemos assistir Nerve com você. — disse Ísis — Eu e Jade vimos ontem à noite e ficamos apaixonadas, certeza de que não nos importaríamos de assistir novamente.

— Tudo bem, pode ser. — falei — se levantem logo, vamos tomar café! Depressa.

— Okay, senhorita mandona! — exclamou Jade.

O resto do dia foi tranquilo. Tivemos as aulas da manhã, na hora do almoço contei detalhadamente como foi o jantar ao invés de vermos Nerve. Elas comeram a marmita e eu um pacote de biscoitos que havia levado comigo em minha mochila.

Fomos para as últimas duas aulas do dia. Lanchamos, jantamos e aí sim assistimos ao filme — perfeito, por sinal. Terminamos e ainda era cedo, porém estávamos um tanto exaustas, e então fomos dormir.

— Boa noite, meninas. — disse, desligando o último abajur que iluminava o quarto.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Comentários deixam uma autora muito feliz! Obrigada por lerem, novos vemos no próximo capítulo. Ah, e leiam Birds Know How to Fly, não irão se arrepender ♥



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