Projekt FORSH escrita por Raquel Severini


Capítulo 1
Capítulo I: Angriff in Hamburg


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoaaaaaaas! Sintam-se muito bem-vindos! Espero que gostem dessa história, que envolve muita ação, mistério e teorias da conspiração. Claro, não pode faltar romance pra deixar tudo mais interessante!

Sem mais delongas, aproveitem!!



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I. Atentado em Hamburgo

23/01/2046, 80km de Hamburgo, 10:49pm.

— Senhora, você está bem?
Tayla despertou de mais um de seus pesadelos com a voz preocupada da assistente de bordo. As pessoas no avião a encaravam com uma expressão de espanto. O casal na fileira ao lado cochichava entre si, desviando os olhos dela ocasionalmente. Tayla reparou que sua respiração saía entrecortada e o corpo estava ensopado de suor. A televisão pendurada no banco da frente mostrava uma repórter em meio a uma manifestação, mas sua mente estava nebulosa demais para entender qualquer coisa.

— ...Manifestantes organizaram um ato em frente ao Conselho de Guerra da Coreia do Sul e exigem que oficiais se posicionem sobre os dados de inteligência vazados...

— Senhora? – A aeromoça chamou-lhe a atenção novamente. – Está assustando os passageiros. Precisa de alguma coisa?

Tayla respirou fundo e desafivelou o cinto de segurança.

— Desculpe. – Disse ela, por fim. – Com licença.

Caminhou até o pequeno banheiro do avião, encarando a própria imagem no espelho. Seu rosto encontrava-se tão branco quanto o de um cadáver. Linha roxas circundavam seus olhos, fazendo-a parecer mais velha do que seus trinta e dois anos. Os cabelos, uma vez de um tom mel brilhante, jaziam secos e sem vida caindo-lhe sobre os ombros de forma desordenada. O cachecol estava torto e as roupas amarrotadas.

Suspirando, Tayla abriu a torneira e abaixou-se, molhando a face na água gelada. Flashes rápidos transpassaram-lhe a mente de maneira involuntária: O som de metralhadoras e granadas; O calor das explosões queimando sua pele, a onda de impacto que lhe arremessou a metros de distância e, por fim, o esquadrão médico correndo em sua direção enquanto sua consciência se esvaía lentamente.  

Treze meses atrás Tayla recebera uma licença provisória das Forças Armadas da Alemanha para se recuperar de lesões graves no cérebro, sofridas em território Suíço. A licença se estendeu devido ao diagnóstico de estresse pós-traumático. Ela voara em direção a sede do Tribunal Militar, em Berlim, onde a corte decidiu por seu afastamento permanente. Dentro de alguns minutos ela estaria a caminho de seu quartel-general para entregar sua arma e assinar os papeis de desligamento. A voz da aeromoça tirou-lhe de seus devaneios: 

— Senhores passageiros, informamos que o avião com destino a Hamburgo pousará dentro de quinze minutos. Por favor, apertem seus cintos.

Tayla saiu da cabine e começou a caminhar de volta ao seu assento. Ela estava a três poltronas de distância, quando o barulho de uma explosão se fez ouvir, vindo da direção do aeroporto. O avião chacoalhou de um lado para o outro, arremessando-a contra uma das janelas. As máscaras de oxigênio caíram do teto, acertando-a. Desorientada, Tayla olhou através do pequeno limiar, percebendo que uma das aeronaves estacionadas na pista estava em chamas. Levantou-se devagar, tentando entender a situação. Os passageiros gritavam e choravam, em pânico. Um senhor que não havia se sentado após o aviso de apertar os cintos tinha se chocado contra a mesa do serviço de bordo e parecia inconsciente. Uma mulher berrava o nome de sua filha, que havia sumido no meio da confusão.

— Senhores passageiros, por favor, mantenham a calma. – A voz da aeromoça soou novamente através das caixas de som. — Informamos que...

Uma nova explosão se fez presente na pista de pouso, dessa vez vinda de um avião de cargas enorme. Os estilhaços voaram em todas as direções. Tayla pode presenciar, com horror, o momento em que a asa do cargueiro atingiu a turbina direita de sua aeronave. O avião tremeu, soltando ruídos tenebrosos, como se fosse partir ao meio a qualquer instante. Tayla foi arremessada, dessa vez para o lado contrário, sentindo quando suas costas atingiram uma nova janela, que se estilhaçou com a força do impacto. Cadáveres voavam entre as fileiras de poltronas com a força da gravidade. Uma aeromoça teve seu corpo jogado contra o teto e gritava enquanto dois homens tentavam agarrá-la. Sem ar e com os ouvidos entupidos pela pressão atmosférica, Tayla observou o avião descer em queda livre e em chamas. Agarrou o cinto de segurança com ambos os braços, tentando afivelá-lo de maneira desesperada.

Foi então que o acidente chegou em seu clímax. O avião se chocou contra a pista de pouso, atingindo as outras duas aeronaves em chamas em alta velocidade. O som dos freios podia ser ouvido, mas não havia tempo o suficiente para parar. Em desespero, Tayla notou que estavam indo de encontro ao aeroporto. Antes que ela pudesse pensar em qualquer coisa, um alarme estridente se fez ouvir dentro de sua cabeça. Memórias que não eram as suas lhe invadiram como uma corrente d’água irrefreável:  Círculos entrelaçados, símbolo das olimpíadas. A expressão de surpresa de um homem, vestido com um kimono branco, ao ser arremessado contra o tatame. Seus próprios pés, embora não parecessem seus, subindo ao primeiro lugar no pódio e então o peso da medalha de ouro, colocada cuidadosamente em seu pescoço.

O avião se chocou contra a parede de vidro revestida do aeroporto, fazendo-a voltar a realidade. Pessoas corriam para todos os lados, aterrorizadas, tentando esquivar-se da aeronave em chamas. Algumas foram esmagadas, outras atingidas por destroços. Quando, por fim, o gigante de aço parou, Tayla percebeu que uma troca de tiros acontecia do lado de fora. As portas de emergência do avião que sobreviveram ao impacto foram abertas e uma rampa de plástico inflou-se automaticamente. As pessoas que não se feriram gravemente começaram a correr para fora, derrubando outros passageiros no caminho.

— Esperem! – Tayla gritou, mas sua voz parecia um sussurro infantil em meio ao caos. – Não saiam!

Uma fumaça negra invadiu o lado de dentro da nave, ressecando seus pulmões. Tonta, Tayla abaixou-se em frente a uma das janelas estilhaçadas e olhou para baixo, notando que os passageiros que conseguiram sair estavam sendo alvejados na troca de tiros. Se ela permanecesse do lado de dentro morreria asfixiada pela fumaça tóxica ou queimada pelas chamas. Se saísse, poderia ser atingida em meio ao confronto. Decidida, Tayla cobriu o rosto com o cachecol e buscou sua mala em meio a destruição da aeronave. Por sorte, seu bagageiro fora amassado de forma que não se abrira na queda. Pegou um dos extintores de incêndio e bateu-o com todas as forças contra a fechadura, até quebrar a tranca. Em desespero, abriu a bolsa, encontrando sua pistola do lado de dentro. Hesitou por alguns segundos, encarando o metal polido e prateado. Suas crises devido ao estresse pós-traumático podiam se agravar se ela se envolvesse em um confronto armado novamente. 

— Socorro! – Uma voz infantil se fez ouvir, dos fundos do avião.

Tayla agarrou a pistola, decidida a salvar tantas vidas quanto pudesse e correu em direção ao pedido de ajuda. Encontrou uma garotinha, com não mais que seis anos, com a perna presa às ferragens. Os cadáveres de seus pais ainda estavam agarrados a ela, em uma pose protetora.

— Por favor, me ajude! Eu não quero morrer! – Berrava a garota.

— Está tudo bem. Qual é o seu nome? – Tayla conseguiu murmurar, com a voz rouca.

— Erika! – Berrou ela. – Por favor, não me deixe aqui!

— Não se preocupe, eu vou te tirar daí, Erika. – Tentou tranquiliza-la.

Tayla puxou a garota pelos ombros com toda força que possuía. Ambas caíram sobre o chão quando a perna da jovem se soltou. Estava terrivelmente machucada e fraturada em dois diferentes locais.

— Por favor, meu pai... minha mãe! – Chorava a garota, agarrada ao braço de Tayla.

— Eu sinto muito... – Tayla sussurrou. – Precisamos ir...

— Não! Por favor, ajude eles! – Gritava a garota, em desespero.

Pesarosa, Tayla agarrou Erika e colocou-a sob suas costas, amarrando-lhe as pernas ao próprio torso com o cachecol.

— Vai ficar tudo bem! – Gritou a ex-militar. – Segure firme e não solte, entendeu?

Correndo, Tayla deu uma última olhada pela janela, tentando localizar os terroristas. Se jogou contra a rampa inflável, descendo em alta velocidade com a garota agarrada a ela. Enquanto escorregavam, um terrorista encapuzado atravessou a sua frente, atirando nos civis que corriam em meio ao tumulto. Tayla mirou e atingiu-o na cabeça, sem pensar duas vezes. O corpo caiu no chão, com uma poça de sangue espalhando-se lentamente. Ela continuou correndo, sem olhar pra trás. O aeroporto estava um caos, com pessoas circulando de um lado para o outro. Havia feridos por toda parte. Os bombeiros evacuavam os sobreviventes, enquanto o som de sirenes de ambulância ressoava nas ruas. Tayla conseguiu chegar perto dos banheiros e escondeu-se atrás de uma pilastra, constatando que era impossível cruzar o saguão. Cerca de trinta policias trocavam tiros com um número incerto de terroristas, escondidos por toda a extensão da plataforma de embarque.
Antes que ela sequer pensasse no que fazer, tiros foram disparados em sua direção, atingindo a pilastra de concreto. Erika gritou, agarrando-a com força. Tayla olhou rapidamente na direção do saguão, percebendo que dois terroristas se escondiam atrás das mesas dos agentes de voo. Assim que a rajada parou, Tayla desamarrou Erika e disse:

— Assim que eu atirar, rasteje até o banheiro com as mãos na cabeça e não saia até eu ir busca-la, entendeu?

A garota assentiu e abaixou-se. Tayla correu em direção as mesas, atraindo a atenção dos terroristas, que começaram a atirar em sua direção. Ela retaliou, descarregando o pente. Acertou o braço de um deles, que caiu para trás disparando o fuzil para o alto. Sem balas e em uma posição vulnerável, ela não tinha escolha senão seguir em frente.
Tayla deslizou sobre a superfície de vidro da mesa e caiu atrás dos balcões. O terrorista que ela atingira estava sendo amparado pelo outro que, ao vê-la, ergueu o AK-47 em sua direção. Com um raciocínio rápido, Tayla arremessou sua pistola vazia na cabeça do homem, que atirou para todos os lados, desorientado. Com um rolamento ágil para evitar as balas, Tayla parou em frente a ele e segurou a ponta do fuzil com uma mão, virando-o para o alto. De novo, as memórias falsas a invadiram sem seu consentimento. Tayla aplicou uma série de golpes de taekwondo no terrorista, como se aquele estilo de luta lhe fosse familiar durante toda sua vida. Socos rápidos entre as costelas, no pescoço e no rosto nocautearam-no. Antes que o terrorista restante tivesse chance de se recuperar, Tayla desferiu um chute giratório em sua cabeça, quebrando-lhe o pescoço com um som aterrador.
Sem chance de entender como havia feito aquilo, um par de braços fortes agarrou-lhe os braços para trás das costas, derrubou-a no chão e algemou-a. Uma pistola foi apontada para sua cabeça enquanto ela encarava os policiais, aturdida.

— Quem é você!? – Indagou um deles. Na pequena costura acima de seu bolso, lia-se: M. Ritter.

— Meu nome é Tayla Abigail Chroe. – Respondeu ela, rapidamente. – Sou tenente das Forças Armadas da Alemanha. Por favor, confiram no meu colar de identificação.

Ritter virou-a para cima com agressividade e puxou o cordão em seu pescoço. Duas placas de identificação tilintaram sob a corrente de metal. O policial puxou um dispositivo eletrônico do bolso e passou-o sob o código que havia escrito na superfície, conferindo as informações em um visor. Suspirando, ele retirou as algemas.

— Aqui diz que você foi desligada. – Comentou ele.

— Sim. – Tayla massageou os pulsos doloridos. – Eu estava naquele voo. Acabo de voltar do Tribunal Militar.

— Belo dia para se aposentar. – Retrucou o homem, parecendo irritado.

Então Tayla lembrou-se.

— Há uma garotinha no banheiro! Por favor, ajudem-na! Sua perna está quebrada.

— Markus, Joahnes. – Ritter sinalizou com uma das mãos e os dois oficiais saíram em disparada. Em seguida, acrescentou para Tayla: - Está ferida? Consegue andar?

— Estou bem. – Respondeu ela, levantando-se.

— De qualquer forma, tenha certeza de receber os primeiros-socorros. Um posto de emergência provisório foi montado do lado de fora, devido as circunstâncias.

— Obrigada. – Tayla acenou e caminhou para fora, sentindo os nervos a flor da pele.

Apesar do conselho de Ritter, ela passou direto do posto de emergência. Repórteres de diversos jornais já se aglomeravam em frente a saída do aeroporto, filmando o acontecido. Tayla estava desorientada e exausta demais para pensar em qualquer outra coisa se não sua casa. Ela teve que caminhar por duas quadras para conseguir pegar um ônibus, já que os oficiais tinham cercado o perímetro ao redor do aeroporto.

Durante o trajeto, Tayla não conseguia parar de remoer os acontecimentos. Primeiro, um alarme ressoando dentro de sua cabeça. Depois, memórias que não eram as suas. Ela nunca tinha visto uma competição ao vivo durante as olimpíadas e, mesmo assim, lembrava-se claramente do pódio, da faixa, do lutador caído no chão e até mesmo do peso da medalha. Finalmente, o acontecimento mais estranho: os golpes que ela utilizara para nocautear os terroristas. Uma sequência de socos e um chute giratório característicos do taekwondo. Embora ela nunca os tivesse praticado, Tayla os executara com a perfeição de um profissional.

Tayla desceu do ônibus alguns quarteirões depois. Ela estava cansada demais para perceber que, ao longe, uma vã de observação negra a perseguia.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam da nossa super Tayla? fodona demais, não?



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