Rainha Das Trevas escrita por Iapsa


Capítulo 2
Capítulo I - Freyja


Notas iniciais do capítulo

Olá, lindos! Me desculpem a demora, mas aqui está o primeiro capítulo! Espero que gostem!

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Boa leitura!



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— CAPÍTULO I -

FREYJA

Território da Mancha, ano 5495

O sangue escorreu quente e grosso, manchando o machado e levando o cavalo ao chão, e o homem que o montava tentou alcançar sua lança, mas não foi rápido o suficiente; em poucos segundos, o mesmo machado que executara seu cavalo rasgou seu pescoço.

Em meio aos gritos de batalha e o relinchar dos alazões, ela galopou em frente, implacável como as aves de rapina das montanhas, com seu machado empunhado e sua lança amarrada à cintura, acertando seus inimigos com força enquanto buscava frenética pelo líder do exército Gal. Se conseguisse matá-lo, seu povo bateria em retirada, e o território Maratt estaria protegido.

Rápido como o vento, seu cavalo saltou sobre corpos caídos ao chão, ela balançou seu machado novamente contra os guerreiros oponentes, até finalmente avistá-lo: sua barba castanha manchada de sangue, bem como a pele de seu rosto, alva com marcas em tinta negra próximas aos olhos esverdeados, e as marcas do povo Gal cravadas em seu crânio. A seu lado, um Maratt tombava morto com uma lança no peito.

Entoando um grito de batalha, ela apanhou sua lança e atirou-se sobre o líder Gal, que se defendeu com a lança recém-tirada do corpo de seu inimigo, e atacou-a com toda a força. Ela se esquivou de seus ataques com agilidade, andando para trás como quem não tinha coragem de atacar, mas tudo não passava de um plano; assim que o viu distraído com um movimento, ela passou por baixo de sua arma, e com toda a rapidez que podia, lançou-lhe um golpe na parte traseira da perna, que levou-o ao chão.

Ele tentou arrastar-se para longe, mas ela foi mais veloz; trocou a lança pelo machado, e já o empunhava no ar para findar a vida de seu inimigo, porém, outro guerreiro Gal apanhou-o nos braços antes que ela pudesse.

—Vahall! – ele chamou o líder, e em um instante, colocou-o sobre seu cavalo e partiu para longe, retirando-se da batalha junto a seus companheiros, deixando os guerreiros Maratt para trás.

Após um instante de silêncio, os gritos de comemoração dos Maratt ecoaram pela colina. Mais uma série de batalhas contra os Gal, que já durava meses, estava vencida. Por entre as exclamações vitoriosas e lanças e machados levantados em celebração, ela foi erguida por seus companheiros de batalha, e com a mão que tinha desocupada, tirou sua máscara vermelha.

O suor escorria quente de sua cabeça, manchando a pintura de cor amadeirada em seu rosto e por vezes caindo sobre seus olhos azuis claros, causando ardência. Mas ela não se importava. Acima de todos os guerreiros, o vento batia em seus cabelos loiros, balançando os fios soltos e as mechas desfiadas. Com seu machado erguido e olhando em direção ao sol, que há pouco nascera no horizonte, ela gritou:

—Por Phaschia!

Seus companheiros fizeram um eco para seu grito, mas por entre as saudações à deusa guerreira, outro nome tomou espaço, exclamado repetidas vezes até formar um coro de celebração dos Maratt para sua maior lutadora.

—Freyja! Freyja! Freyja!

Freyja manteve seu machado erguido o mais alto que podia, deixando que o sol tocasse sua pele branca nas partes não cobertas pela armadura de couro, que mantinha seu corpo abafado, porém protegido das lâminas de seus inimigos. A luz brilhante a lembrava do brilho da armadura de Phaschia nas histórias que ouvia desde pequena. Todos os Maratt ansiavam ser como sua deusa, mas a Progenitora havia enviado a Savinya uma criança que não nascera na Mancha para ser a apadrinhada por sua filha guerreira.

“Protegida de Phaschia” era como a chamavam, e Freyja não poderia se sentir mais realizada por ser um orgulho para o povo que a acolhera ainda bebê.

—Vamos voltar à aldeia. – disse um guerreiro de pele escura e máscara também vermelha – Estamos fora há muito tempo, Ewrock nos aguarda.

Os demais Maratt manifestaram concordância, e, aos poucos, apanharam seus cavalos e armas para voltar para casa. Freyja andou até uma égua branca, que mesmo na agitação comemorativa de seu povo, a aguardava.

—Vamos, Iris. – disse, montando. Antes que ela ao menos pudesse perceber, já cavalgava junto a seus companheiros para o leste do território da Mancha, onde o restante de seu povo aguardava as boas notícias das batalhas.

Eles haviam deixado a grande aldeia Maratt já havia meses, e, nesse meio tempo, haviam vivido em acampamentos improvisados pelo caminho, sempre prontos para batalhar, até que o último confronto chegasse. Agora, ele estava vencido, mas os guerreiros estavam cansados, e ainda havia um dia inteiro a galope até chegarem em casa.

O caminho até a aldeia era repleto de montanhas, rios e bosques. Mas os cavalos Maratt, já acostumados com isso, passavam por todos os obstáculos sem hesitar. O dia estava ensolarado, e o céu, limpo, e assim permaneceu até o pôr do sol, quando os guerreiros finalmente avistaram as primeiras plantações de sua aldeia.

Freyja cavalgava em meio aos outros, sua máscara erguida acima de seu rosto, de forma que o vento esbarrava em sua pele, de uma forma muito confortável, ela podia dizer, fazendo seus cabelos voarem como a crina de Iris. Freyja amava as batalhas; o som do brandir dos machados, as lanças de pontas afiadas, era tudo que ela nascera para viver. Defender seu povo era seu dever supremo; desde seus quatorze anos ela se juntava aos demais guerreiros para empunhar sua lança contra os Gal, que sempre tentavam, em vão, tomar as terras de seus inimigos. Mas enquanto Freyja estivesse viva, eles não conquistariam território Maratt.

Banhados pela luz alaranjada do fim da tarde, os guerreiros chegaram a seu povoado, saudados por todos que os viam. De todos os cantos da aldeia, homens, mulheres e crianças saíam de suas tendas para comemorar, criando um clima de festa que logo tomou conta de todo o povo.

—Por Phaschia! Por Phaschia! – exclamavam os aldeões, e os guerreiros os imitavam, enquanto empinavam em seus cavalos para se vangloriar da vitória, e os desaceleravam para se encaminhar para a tenda principal, onde Ewrock vivia. E ele já havia saído de sua morada para recebê-los.

Usando vestes em tons de marrom, costuradas com couro e uma capa de pele de lobo, ele se afastou da entrada da tenda e andou até os guerreiros, seguido por uma mulher de olhos castanhos e pele clara cravada com desenhos, que vestia roupas similares. Ao redor, o povo aplaudia e festejava.

—Vencemos, Ewrock! – o guerreiro de pele escura comemorou – Os Gal recuaram para suas terras, e acredito que não ousarão nos atacar tão logo.

Ewrock, com seus cabelos escuros e longos, e algumas linhas de expressão no rosto, que denunciavam sua idade, sorriu largamente.

— Nossos guerreiros honraram o povo Maratt mais uma vez! – exclamou ele, ainda mais alto que as comemorações do povo ao redor – Phaschia sorri para nós hoje!

Por entre as exclamações de vitória, Freyja viu o guerreiro de pele escura, enquanto desmontava de seu cavalo, se virar em sua direção.

—Somos agraciados pelo sorriso de Phaschia, certamente – disse ele, com satisfação, quando Freyja também desmontou – mas seu poder e proteção, é a apenas um de nós que ela concede.

O sorriso de Ewrock aumentou no que ele olhou para Freyja. Ela mirou-o com força no olhar, mas uma força satisfeita.

—Preparem as celebrações! – Ewrock ordenou ao povo – Façam a maior fogueira, e tragam as melhores caças para o banquete! Enquanto isso, os guerreiros se juntarão a mim em minha tenda.

Em poucos segundos, o povo Maratt se agitou, alguns guardando os cavalos dos guerreiros, outros ainda aplaudindo, e a grande maioria já começando a preparar a festa para comemorar a vitória sobre os Gal. Os guerreiros, por outro lado, apenas seguiram para dentro da tenda de Ewrock. Freyja foi uma das últimas a entrar, seguida apenas pelo próprio líder e a mulher que o acompanhava.

—Agora me conte, Jackant – ele pediu ao guerreiro de pele escura, conforme os demais formavam uma roda – o que fez Vahall abandonar a batalha?

Jackant não hesitou:

—Freyja. – respondeu ele, olhando para a jovem guerreira mais uma vez – Foi ela quem o feriu, e o teria matado, caso um dos guerreiros Gal não o resgatasse a tempo. Após isso, eles bateram em retirada.

Ewrock assentiu, com mais satisfação ainda, mas não pôde falar, pois a mulher que o acompanhava foi mais rápida.

—Não me espanta. – ela disse – Desde o dia em que Freyja foi encontrada, soubemos que ela era uma protegida de Phaschia. Me lembro do momento em que Gora profetizou isso. Não esqueçam que foi graças a mim que Freyja não morreu abandonada em Oryna.

Ela sorriu com o canto dos lábios, e Freyja também.

—Você tem minha gratidão eterna, Varsya. – a jovem guerreira disse – Na verdade, sou grata a todos os Maratt por me acolherem e criarem. Phaschia me trouxe a este povo, e este é o povo que eu defenderei até minha morte.

Os guerreiros ergueram seus braços no ar com um grito de guerra, e Freyja os imitou.

—A gratidão é nossa, querida Freyja. – disse Ewrock – Graças a você, hoje nosso povo está seguro.

—Mas não estará por muito tempo. – a interrupção veio de um guerreiro do outro lado da roda, que vestia uma armadura de couro escuro, e tinha cabelos também longos, porém muito negros, e presos em uma trança – Os Gal podem ter recuado agora, mas, em breve, estarão de volta para tentar tomar nossas terras.

—Aonde quer chegar, Rolf? – perguntou Varsya. O guerreiro de cabelo trançado continuou:

—Devemos atacá-los enquanto estão vulneráveis. Matamos muitos de seu exército hoje, e seu líder está ferido, talvez sequer sobreviva. Este é o momento de dizimarmos os Gal para sempre!

Por um momento, a tenda ficou em silêncio, tornando possível ouvir as conversas do povo do lado de fora, que ainda preparava a festa. Freyja, no entanto, não ficou quieta por muito tempo.

—Isso não é o que devemos fazer, Rolf. – ela afirmou – Há quatorze anos os Maratt não conquistam mais terras, desde que Ewrock assinou a Grande Trégua, que também foi assinada pelos Gal...

—A Grande Trégua nunca interferiu nas batalhas dentro do território da Mancha. – interrompeu Rolf, sério.

—Mas se quisermos que estas batalhas algum dia cheguem ao fim, não podemos conquistar as terras dos Gal à força. – Freyja não se deixou intimidar pelo tom do companheiro de batalha – Nos defenderemos quando eles nos atacarem, como fizemos nos últimos meses, e protegeremos nossas terras, mas não devemos dizimá-los. Devemos esperar que eles vejam que a guerra eterna não é a solução.

—Freyja tem razão, Rolf. – disse Jackant – Todos sabemos que, há séculos, Maratt e Gal foram um mesmo povo: os adoradores dos gêmeos da luta.

—Mas desde a Grande Batalha da Mancha eles já mataram muitos dos nossos. – insistiu Rolf.

—E nós matamos muitos deles. – Freyja contrapôs – Estamos em um momento de trégua agora. Eu digo que, após nossas comemorações, selemos um acordo de paz com os Gal.

—Estas são as palavras da maior guerreira Maratt? – Rolf desafiou – Da protegida de Phaschia? O que acha que ela diria a respeito disso?

A forma como ele falava era um tanto sarcástica. Porém, Freyja não se deixou irritar por ela.

—Phaschia é a justiça na forma de uma lança, a força por trás das armaduras, não uma usurpadora. – disse, calmamente – Por isso, mesmo quando os Maratt conquistavam terras, não escravizavam crianças, nem violavam mulheres, diferente dos Gal. Nós conseguimos evoluir para algo melhor que isso, agora cabe a nós ajudar os Gal a fazer o mesmo, assim como Phaschia ajudou Lanot depois que Hanahra o aleijou.

Rolf encarou Freyja duramente. Em seus olhos, uma raiva enrustida se fazia visível.

—Eu digo que Freyja está certa. – Ewrock murmurou, por fim – Proporemos um acordo de paz para os Gal. – os demais guerreiros sinalizaram concordância – Mas agora, devemos comemorar nossa vitória. Preparem seus estômagos para a comida e a bebida! Esta noite, celebramos Phaschia, e celebramos nossos guerreiros!

Todos, inclusive Ewrock e Varsya, soltaram gritos de comemoração. Freyja fez o mesmo. O único que permaneceu em silêncio foi Rolf. Enquanto os outros saíam da tenda para se juntar à festa, Freyja teve tempo de olhar para ele uma última vez, e perceber que ele lhe correspondia, com a mesma raiva sombria de alguns segundos atrás.

Porém, ela não deu atenção a isso. Apenas deixou Rolf para trás quando saiu da tenda, e poderia ter ido junto aos outros se juntar às celebrações, mas, antes disso, se afastou um pouco do centro da aldeia para andar até uma tenda específica. Normalmente, em uma celebração como aquela, não haveria ninguém por ali, mas ela não se espantou quando encontrou, ao lado da tenda, uma mulher com vestes avermelhadas e cabelo escuro desfiado e trançado, raspado nas laterais da cabeça.

—Eis a grande Freyja. – disse ela, sorrindo. Freyja não pôde evitar de fazer o mesmo.

—Sentiu minha falta? – ela brincou.

—Mais do que você imagina. – respondeu a outra. Freyja então correu em sua direção e a abraçou, ao que ela retribuiu imediatamente – Eu queria ter ido junto a vocês...

—Não era necessário, Latvia. – Freyja disse – Pelo menos você estava segura.

—Estava. E se eu esperasse por qualquer outro, teria sofrido com a angústia a cada dia... Mas não você. Eu nunca duvidei que voltaria viva, nem por um instante.

Os olhos de Latvia, de um verde desbotado, tinham um brilho aliviado naquele momento. Freyja se aproximou dela, sorrindo, e seus lábios então se tocaram, como se matassem cada centímetro da saudade que as duas haviam sentido por todos aqueles meses.

—Vamos nos juntar aos outros para celebrar. – disse Latvia.

—Quero você primeiro... – Freyja sussurrou.

—Não, não perca sua primeira noite de comemoração. – Latvia aconselhou – Você fez por merecer, tenho certeza.

As duas se entreolharam por mais um momento, e Freyja, então, sorriu.

—Vamos. – disse, segurando a mão de sua amada – Afinal, teremos tempo para nos encontrar mais tarde...

—Na árvore? – Latvia perguntou.

—Na árvore, meu amor. – Freyja respondeu, correndo para o centro da aldeia, com Latvia a seu lado.


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Notas finais do capítulo

E aí, estão gostando? O que acharam da Freyja? Se preparem, porque no capítulo de amanhã, vocês vão saber onde a Ahthalia está agora...

Boa noite, espero que tenham gostado!



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