Acordei depois de muito tempo. Não sabia exatamente que horas eram, só sabia que a sala em que estava era escura, fria, sem janelas e vazia. O vazio do silêncio. Não era nenhuma surpresa o fato de eu estar amarrada. Algemada, para ser mais precisa. Porém, foi uma surpresa absurda quando depois de simplesmente piscar, vi um par de olhos me fitando.

   Sinceramente, se eu não estivesse presa à um poste eu teria caído para trás. E um turbilhão de pensamentos invadiu minha cabeça quando o dono do par de olhos simplesmente desceu do teto. Grande sonho realizado. estou na mesma sala que o homem-aranha. Ou mulher, diga-se de passagem.

   Então eu comecei a me lembrar vagamente daqueles olhinhos que pareciam sem brilho. Quando estava quase chegando à uma conclusão ela tirou a máscara. Os cabelos loongos e encaracolados caíram pelos ombros e ela disse com uma vozinha infantil que eu conhecia muito bem:

 - Oi! - Os olhos azuis me olharam e ela sorriu. Essa minha vida está virando uma reunião de ex-alunos.

   Não sei como não tinha percebido antes que era a Maione. Acho que aquele azul claríssimo e puro não tinha me convencido antes porque ela não estava sorrindo. Seus olhos até aquele momento tinham mantido uma expressão séria, profissional. 

   -Maai! Descuple interromper este momento de reencontro e o clima feliz de agora. Mas, você virou uma espiã? - A roupa preta indicava que sim, mas eu não sabia ao certo. Nunca me pareceu muito a cara dela.

   -Sim. Você vai me pedir o quê, Strupicio? - ela me perguntou com aquela cara de "Eu só me fodo nessa merda!"

   -Você conhece a Renata e a Luiza certo? - Ela assentiu e fez sinal para eu continuar.- Não me deixe matá-las. Nem você nem a elas. Eu não sei o que esses caras querem, mas eles vão tentar me fazer matar vocês. Por favor.

   - Ok! - E ela me deu um sorrisinho besta e sumiu. Simples assim. O animal era uma figura, mesmo. Dei também um meio sorrisinho ao lembrar das noites em claro no msn.

   Assim que a porta começou a fazer barulho meu sorriso sumiu. Minha razão também deixou meu corpo quando eu reconheci aquela face. Porra, eu só ia editar uma merda de um livro. Por que essas lembranças insistem em voltar?