Colegas de apartamento escrita por calivillas


Capítulo 5
Precisamos conversar




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  Ele me olhou de um jeito duro, constrangedor, me fazendo me sentir péssima, tinha os braços cruzados diante do peito nu, de um modo desafiador, então, eu penso que não tenho nada a temer, afinal, foi um simples equívoco, nada demais, todo mundo comete erros na vida, não é verdade? Saio do banheiro.

— Bom...Boa tarde, Ed — digo, em um tom falsamente animado.

— Boa tarde, Paula — ele fala, sério, passa por mim, indo em direção do banheiro.

É o momento! Fale o que tem para falar, antes que feche a porta!

— Ed, sabe... sobre hoje mais cedo, eu só pensei...

— Que eu fosse um canalha e estive abusando de uma garota bêbada — completou de modo seco.

— Não! Quer dizer, que foi estranho, encontrar aquela garota quase nua correndo no meio da casa, então, eu confundi as coisas. Eu queria pedir desculpas a você.

— Deixe para lá, Paula — Ele se virou, entrou no banheiro e fechou a porta.

Fiquei olhando para a porta fechada, pressentindo que a situação não estava totalmente resolvida entre nós, estou muito mal com isso, assim resolvi fazer algo especial, uma espécie de compensação, uma tentativa para selar a paz.

Fui para a cozinha, pensando em fazer minha arma secreta, o meu delicioso macarrão com queijo. Verifiquei se tinha todos os ingredientes que precisava, coloquei meus fones de ouvido e comecei a trabalhar, ao ritmo da música. Rapidinho, a travessa estava no forno, enchendo o apartamento com aquele cheiro apetitoso, deixando o lugar mais aconchegante, como um lar de verdade, estava ficando nostálgica.

Considerei como foi bom sair de casa, viver a minha própria vida, ser dona do meu nariz, mesmo ainda dependendo financeiramente dos meus pais, ao mesmo tempo, sentia falta dos pequenos confortos e mordomias de casa, do aconchego da família.

O macarrão no forno já estava quase pronto, uma linda crosta dourada vai se formando, e enquanto esperava, arrumando a cozinha, recebi uma mensagem de Felipe, avisando que precisaria estudar para uma prova importante, prometendo que nós nos veríamos amanhã, tinha que confessar que fiquei bem decepcionada, com saudades daqueles beijos, mas o que podia fazer? Assim, decidi que faria o mesmo, iria estudar.

Por fim, o queijo estava, lindamente, derretido, dourado e crocante e como cheirava bem! Perfeito! A cara estava deliciosa, me sentia tão orgulhosa pelo meu trabalho. Coloquei a mesa para dois, no instante que Ed passou por mim, de bermuda e camiseta e chinelos

— Você vai sair? — É uma pergunta retórica.

— Vou à praia.

Passou direto por mim, sum sequer olhar para o meu lindo macarrão, e foi até a geladeira, tirou o litro de leite, encheu um copo e tomou em um único gole.

— Eu fiz almoço para nós dois — digo, com suavidade.

Ele olhou para a travessa sobre a mesa, sem nenhuma emoção.

— Já combinei com os meus amigos. Vou nessa — Deixou o copo sujo em cima da pia, abriu a porta e saiu.

Fiquei olhando para a porta fechada, sem acreditar, não tinha outra opção senão me sentar e comer sozinha.

Durante o resto da tarde, sozinha, no meu quarto, troquei mensagens com Juliana contando sobre a festa e tudo mais, estudei e troquei mensagens com Felipe, e nenhum sinal de Ed, que devia ter ficado bastante aborrecido mesmo.

Falei com a minha mãe, contei as novidades, ainda não contei sobre o meu novo companheiro de apartamento, estou certa que nunca entenderiam essa situação, vou ter que preparar muito bem o terreno.

Lá pelas tantas, ouvi a porta da frente abrir, mas não tive coragem de aparecer. Notei o som da geladeira sendo aberta, o micro-onda funcionando, risadas e vozes. Espera aí, risadas e vozes?

 Com cautela, fui até a sala, e sentados no sofá, bem próximos, estão Ed e uma garota, bem bonita, que não conhecia, eles conversavam com intimidade, cada um com um prato do meu macarrão na mão. Ed parecia estar de muito bom humor, eles perceberam a minha presença.

— Oi — a garota me cumprimentou, de um modo animado, quando reparou que estava ali parada. — Você deve ser a Paula?

— Sim, sou — respondi, sem tanto entusiasmo, percebendo que os dois ainda estavam com a roupa da praia

— Sou Adriana. Drica.

— Ah!

— Seu macarrão está muito bom — Ela apontou com o garfo para o prato.

— Obrigada. Boa noite, vou dormir — Eu me virei e fui em direção ao quarto.

— Boa noite — Ouvi nas minhas costas.

Por que estava tão aborrecida? E só mais uma garota. Francamente, não sei o que elas veem nele. Na verdade, ele até que é bem bonito, mas só isso.

 Eu me deitei no escuro de porta fechada, mesmo assim, continuei a ouvir vozes, sussurros e risinhos vindo da sala, me deixando ainda mais irritada, virei e revirei na cama, coloquei o travesseiro sobre a minha cabeça, na tentativa de conseguir silêncio, contudo, é impossível, até, que por fim, paz, adormeço.

No dia seguinte, acordei mais cedo, animada para me reencontrar com Felipe, eu me arrumei mais do que de costume, fiquei um tempão no banheiro, tentando fazer uma maquiagem que não parecesse que estou maquiada. Por fim, eu me admirei no espelho, achei que estava muito bom, só um pouco mais de batom clarinho, mas dei um pulo assustada, ao ouvir as fortes batidas na porta.

— Ei, Paula! Vai ficar aí muito tempo ainda? — Ed gritava do lado de fora.

— Desculpe, já estou saindo — disse e me apressei, abri a porta e sai. — Foi mal.

Ele me olhou de cima a baixo, achei que iria dizer algo, mas, simplesmente, entra no banheiro e fecha a porta, dou de ombros, peguei a minha mochila e vou embora.

 Cheguei no mesmo lugar de sempre, na frente do prédio da faculdade, ansiosa, desejando muito que Felipe já estivesse lá, mas doce ilusão, então, me sentei e esperei e esperei, até que, finalmente, ele chegou e se sentou do meu lado.

— Oi, garota bonita — disse, me dando um beijo.

À tardinha, voltei para casa, sozinha, porque Felipe teria mais aulas, depois precisava estudar, mesmo assim combinamos nos encontrarmos no dia seguinte. Felizmente, Ed não estava em casa, não sei por quanto tempo vou aguentar esse clima pesado entre nós. Talvez, precise tomar uma atitude para nós dois termos uma conserva muito séria, mas, por enquanto, para me distrair dou um jeito no apartamento.

Estava passando aspirador e ouvindo música, quando esbarrei sem querer na porta do quarto de Ed, que abriu um pouquinho, aquilo foi uma tentação, pois desde que me mudei para cá, nunca dei nenhuma olhadinha lá dentro. Enfim, a curiosidade superou o meu bom senso, tirei os fones dos ouvidos, abri um pouco mais a porta, levei um susto, pois, mesmo na penumbra, descobri que o lugar não era tão bagunçado como eu esperava, é claro, que havia algumas roupas espalhadas, a cama estava desfeita e os livros e cadernos empilhados sobre uma escrivaninha, junto com um computador, dei um passo à frente. Invadi a privacidade de Ed me fez sentir, ao mesmo tempo, excitada e culpada. Dei mais um passo para frente e olhei em volta, vi os títulos dos seus livros, o nome do seu perfume e até algumas fotos presas em um painel.

Por sorte, tenho um bom ouvido e estava atenta, a tempo de ouvir a porta da frente se fechar, corri para fora, fechei a porta do quarto dele e continuei o meu trabalho com dissimulada inocência, quando ele surgiu no corredor.

— O que está fazendo? — ele me perguntou, acima do som do aspirador de pó.

O que ele acha que eu estou fazendo?

— Limpando.

— Precisa de ajuda?

— Você quer ajudar? — indaguei, descrente.

— Não, mas eu moro aqui, não é? — Ele deu de ombros

— Sim, você mora. Nós dois moramos.

— Por isso, estive pensando que precisamos conversar.


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