Segunda Chance escrita por teffy-chan


Capítulo 2
Capítulo II




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Não tinha aula na Academia durante o fim de semana, mas nem por isso Sasuke podia deixar de treinar. Não se quisesse ficar mais forte. Precisava ocupar sua mente com alguma coisa para que seus pensamentos não voltassem a vagar até o dia em que seu clã foi assassinado, e também desejava melhorar suas habilidades o quanto antes, então por que não unir o útil ao agradável?

Mas seu corpo não aguentaria treinar o dia inteiro de estômago vazio. Precisava se alimentar se quisesse que o treinamento desse algum resultado. Já tinha passado do meio-dia, não era a toa que sua barriga estava roncando.

Geralmente era sua mãe que verificava se precisava comprar comida e que preparava as refeições, mas… bem, ela não estava mais lá. Sasuke se esquecia com frequência de fazer isso e percebeu tardiamente que a geladeira estava vazia. Precisava sair para fazer compras.

Para sua sorte tinha encontrado dinheiro escondido no quarto dos seus pais. Pelas suas contas daria para se sustentar durante alguns meses, desde que não gastasse com bobagens, mas não tinha ideia do que faria quando o dinheiro acabasse.

No caminho para o mercado avistou uma pequena confusão em uma loja que vendia máscaras, amuletos, dentre outros objetos populares durante festivais. Os gritos ficavam mais altos conforme se aproximava e logo encontrou o responsável por eles. É claro que tinha que ser aquele menino barulhento.

— Eu só estava olhando!

— Fique longe da minha loja, seu moleque! É isso que você quer, não é? Então pegue e suma daqui!

O dono da loja arremessou uma máscara com formato de raposa na direção de Naruto. O menino ergueu os braços na altura do rosto para se proteger, no entanto, para sua sorte (ou azar, depende do ponto de vista) o dono da loja errou o alvo. Sasuke estava bem perto da loja quando o homem arremessou a máscara e teria acertado ele se o garoto não tivesse conseguido segurá-la no ar.

— Ah… é o menino Uchiha… — o homem murmurou ao ver que quase tinha acertado a criança errada.

— Ei! O que pensa que está fazendo? — Naruto apontou escandalosamente para Sasuke — Não preciso que você me defenda!

— Não estou te defendendo. Foi esse cara que quase jogou essa coisa em mim — Sasuke respondeu simplesmente, balançando a máscara que segurava. Não estava mentindo, apenas segurou a máscara para não ser atingido. Ajudar Naruto foi mera coincidência — O que você fez para deixar ele tão zangado?

— Eu não fiz nada! — Naruto exclamou ofendido — Só estava olhando as máscaras quando ele começou a gritar comigo. É sempre assim… as pessoas me expulsam e gritam comigo sem eu ter feito nada de errado — ele cerrou os punhos — Mas você não entende isso, certo? É o menino-prodígio da vila afinal.

— Não sou nenhum prodígio — Sasuke respondeu amargo. Estava longe de ser um. Tentou imitar o verdadeiro prodígio de sua família durante anos e veja só o que aconteceu — E isso não tem nada a ver com a história. Eu só perguntei o que você…

— Já disse que não fiz nada! — Naruto gritou uma última vez antes de dar meia-volta e sair correndo, sumindo rapidamente no meio da multidão.

— Ei, tio — Sasuke chamou, ainda olhando na direção em que Naruto tinha desaparecido — O senhor sempre arremessa coisas em crianças?

— O que? — o homem o olhou confuso — Não! É claro que não!

— Então por que jogou essa máscara no Naruto? — ele estendeu o objeto para o dono da loja — Ele estava tentando te roubar ou algo assim?

— Não, ele… realmente só estava olhando as máscaras.

— Ele não podia olhar? — Sasuke insistiu. O homem suava, parecendo estar tentando pensar rápido em alguma coisa que pudesse satisfazer a curiosidade da criança — Não é só o senhor, não é? Os outros adultos da vila também agem diferente com o Naruto. Por que vocês fazem isso?

— Você não precisa se preocupar com isso — ele respondeu no tom mais amável que conseguiu fingir — Sinto muito se te machuquei antes. Pode levar a máscara se quiser como pedido de desculpas.

Sasuke lançou um último olhar irritado ao homem e se afastou sem dizer mais nada. Conhecia aquele olhar, era igual ao que seu pai exibia quando conversava com os caçadores Ambu. Era alguma “conversa de adultos” que Sasuke não podia ficar sabendo. E detestava que escondessem as coisas dele.

Seguiu seu caminho e fez as compras, mas, àquela altura já estava muito tarde para cozinhar alguma coisa então comprou bolinhos de arroz prontos. Poderia cozinhar algo para a janta mais tarde. Acabou levando a máscara de raposa consigo, mesmo sem desejá-la. Estava se perguntando se deveria guardar o objeto ou simplesmente jogar fora quando avistou Naruto correndo, aparentemente fugindo de algum adulto que pretendia puni-lo por alguma travessura de novo. Naruto parou de correr quando chegou na orla da floresta, apoiando as mãos nos joelhos ofegante.

— O que você fez agora? Jogou lama nas roupas do varal de alguém? Sequestrou um cachorro? — Sasuke perguntou, aproximando-se dele e sobressaltando o menino.

— Não, mas gostei dessa ideia da lama — Naruto respondeu — O que está fazendo aqui?

— Eu estava pensando no que deveria fazer com isso e… você queria, não é? — Sasuke estendeu a máscara que tinha ganhado de presente.

— Eu já disse que não preciso de nada seu! — Naruto reclamou, mas tirou a máscara da mão do garoto mesmo assim.

Sasuke suspirou e sentou-se na grama, deixando as compras ao seu lado. Pegou apenas a caixa com bolinhos de arroz que tinha encomendado para a viagem e depositou em seu colo. Aquilo pareceu chamar a atenção de Naruto e o menino sentou-se ao seu lado, lançando um olhar muito mal disfarçado para o almoço do garoto.

— Por que aquele cara arremessou a máscara em você? — Sasuke perguntou enquanto devorava um bolinho — Por acaso você pichou a loja dele ou algo assim?

Pensando bem, aquele seria até um motivo plausível. Naruto forçou a memória por um instante, mas tinha certeza de que nunca tinha feito nada com aquela loja.

— Eu nunca fiz nada contra ele. Nunca fiz nada contra ninguém. As pessoas simplesmente parecem me odiar apenas porque eu existo — Naruto cerrou os punhos, enterrando as unhas na palma das mãos — Eu só estava olhando as máscaras e aquele velho idiota me expulsou da loja. As pessoas sempre me expulsam de tudo quanto é lugar!

— Bem, você está sempre pichando as casas — Sasuke observou — Isso não vai fazer com que as pessoas gostem mais de você.

— Faço isso para que as pessoas prestem atenção em mim! Para que percebam que eu existo! — Naruto exclamou, encarando-o — Todo mundo sempre me ignora e eu simplesmente não sei o porquê. Os adultos me odeiam e mandam seus filhos ficarem longe de mim, então as outras crianças também não se aproximam… eu só queria saber o motivo de me odiarem tanto.

Então ele também não sabia… se nem o próprio Naruto sabia o motivo de ser desprezado pelos adultos da vila, não tinha a menor chance de Sasuke descobrir. Não que isso fosse de sua conta, é claro. Era apenas aquela costumeira sensação irritante em saber que os adultos estavam escondendo alguma coisa dele, mas não conseguia descobrir o que era.

Também não deixava de ser curioso como Naruto era tão diferente dele. Naruto queria ser notado, queria se aproximar das pessoas, fazer amigos. Sasuke tinha intenções completamente opostas. Sendo um Uchiha ele não podia evitar de ser notado, mas preferia ficar sozinho do que rodeado por estudantes que Sasuke julgava inferiores a ele. Ou adultos que sempre exigiam o máximo dele por ser um Uchiha. Principalmente aqueles que o olhavam com pena por ser o último deles.

Era aqui que ele provavelmente deveria dizer alguma coisa para consolar ou confortar Naruto, mas nunca foi muito bom em compreender os sentimentos das pessoas. Além do mais ele mal conhecia aquele garoto, tinha outras coisas nas quais precisava se focar, então o que estava fazendo ali sentado conversando com ele?

Naruto havia dito que queria ser seu amigo… como se um perdedor fracote que sequer conseguia acertar uma Kunai no lugar certo pudesse ser seu amigo. Mas também não havia nenhuma outra pessoa capaz de lhe compreender melhor do que ele. Olhou de soslaio para Naruto e notou que o menino tinha desistido de tentar disfarçar e agora olhava fixamente para a caixa com bolinhos de arroz em seu colo. Sasuke suspirou novamente antes de pegar um dos bolinhos e oferecer ao garoto.

— Aqui, pode ficar com um.

— O que? Tem certeza? — Naruto arregalou os olhos surpreso. Hesitou muito mais em aceitar o bolinho do que quando tinha feito com a máscara.

— Você está praticamente babando em cima do meu almoço. Pegue logo — Sasuke mandou. Naruto aceitou o olhinho feliz e o devorou quase de uma vez só.

— Valeu. Não pensei que você fosse tão legal — ele falou de boca cheia.

— Eu não sou legal — estranhamente o elogio o incomodou. Estava acostumado a ser elogiado por suas habilidades como ninja, mas não por sua personalidade, que não era das melhores.

— Não precisa ficar com vergonha — Naruto riu — Mas por que você me deu o bolinho? As outras crianças não costumam ser legais comigo.

— Você me disse que os pais delas não deixam que elas se aproximem de você, certo? Minha mãe não está mais aqui para me dizer se você é ou não má companhia… nem o meu pai… nem ninguém — Sasuke deixou a caixa de comida vazia de lado e abraçou as próprias pernas, apoiando a cabeça nos joelhos.

— O que aconteceu com a sua família? — Naruto estava curioso, mas tinha tato suficiente para perceber que aquele era um assunto difícil para Sasuke falar.

— Você ouviu os outros alunos falando na classe no outro dia, lembra? Foram todos assassinados — Sasuke murmurou sem encará-lo.

— Sim, mas por quê?

— Eu não quero falar sobre isso — Sasuke colocou-se de pé e pegou as sacolas de compras — Já passei tempo demais aqui, preciso voltar a treinar.

— Então é por isso que eu nunca te vejo no parque nem nos arredores da vila quando não estamos na Academia? Você está sempre treinando? — Naruto perguntou — Cara, você deveria agir mais como uma criança de vez em quando.

— Eu não tenho tempo para agir como uma criança! Preciso ficar mais forte logo!

— Por que tanta pressa em ficar mais forte? Você ainda tem sete anos, não é? Acho que temos a mesma idade — Naruto arriscou — As outras crianças da classe também brincam de vez em quando depois da Academia.

— E é exatamente por isso que são tão fracas. Eu preciso ficar mais forte o quanto antes, não posso perder tempo brincando com vocês — Sasuke respondeu rispidamente.

As palavras doeram não apenas em Naruto, mas nele mesmo também. Tinha apenas sete anos, mas não podia agir como a criança que era. Precisava se focar ao máximo no treinamento, mas não era só isso. Também precisava aprender a como cuidar da casa, fazer as tarefas domésticas que raramente prestava atenção em como sua mãe realizava, e a parte mais difícil: cozinhar. Às vezes sentia vontade de ir no parquinho e brincar no balanço, mas tinha outras prioridades.

— Ah, é? Você se acha melhor do que todo mundo, não é? No fim das contas não passa de um convencido mesmo — Naruto acusou — Eu ainda vou ficar mais forte do que você, espere só para ver!

— Você? Mais forte do que eu? — Sasuke deixou escapar uma risada — Você não sabe nem acertar Shurikens no alvo.

—Talvez eu não consiga agora, mas com certeza vou conseguir te derrotar um dia!

— Então você precisa treinar mais se quiser me derrotar, Naruto — Sasuke sorriu. Naruto ia rebater, mas percebeu que o menino não estava debochando dele como de costume. Na verdade, ou Naruto muito se enganava ou aquilo era um desafio.

— Eu também vou treinar! E vou ficar mais forte, você vai ver — Naruto abriu um largo sorriso.

— Boa sorte com isso — Sasuke deu meia-volta retomou o caminho de casa. Duvidava muito que aquele perdedor pudesse ficar mais forte. Aprender a arremessar Kunais e Shurikens talvez, porém, mais forte do que ele? Jamais! No entanto não custava nada dar um pouco de incentivo para aquele menino desajeitado, não é?


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