The Crow - A História Recontada One-Shot escrita por Tetekah18


Capítulo 1
Primeiro encontro - Halloween




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—Shelly, tem certeza que é seguro sair?— Sarah perguntou à mais velha.

—Claro. Acho até melhor.— disse enquanto subiam no ônibus.

Era Halloween e elas sabiam que o maior foco de incêndios criminosos na cidade era no bairro em que viviam. Shelly Webster teve a ideia de sair de lá. Havia um show interessante em algum canto do centro da cidade. Ela não queria deixar a mais nova vagando pelas ruas ou confinada no pequeno apartamento que a garota vivia com a mãe. Não, Shelly considerava Sarah mais do que isso, desde que conheceu Sarah na volta para casa após o turno em uma lanchonete. Havia um ano e meio que ambas se esbarraram na rua, distraídas atravessando o asfalto. Uma bela trombada que fez o skate da Sarah parar no outro lado da rua.

Desde então, as duas passaram a se encontrar. Elas dividiam algumas angustias como a ausência de seus pais, que no caso da pequena loirinha de olhos azuis apenas, ocorria pelo descaso de sua mãe. E bem, a mais velha tentava amenizar esses impactos, como não permitir que Sarah ficasse até tarde na rua ou sem se alimentar por tempo demais.

—Isso está realmente bom?— Sarah pergunta já sentada em um dos bancos quando o ônibus ganha velocidade.

Shelly havia conseguido uma capa preta e dentaduras plásticas na tentativa de caracterizar a menor. Com seu batom vermelho, simulando sangue nos cantos da boca de Sarah.

—É claro que está!— disse com empolgação. -Você fica bem de cabelo solto.— sorriu gentil afagando as madeixas da mais nova, que deu de ombros. —É melhor não reclamar, a minha roupa não está lá essas coisas.

—Pelo menos é convincente.— Sarah sorriu travessa dando uma olhada no uniforme surrado de garçonete.

—Bota convincente nisso!— Shelly ironiza.

Em algum tempo, chegaram a parada desejada.

—Para onde estamos indo?— a mais nova pergunta, incomodada pela falta do skate. Era uma mania e companhia constante.

—É um bar aqui perto...

Se Shelly tinha juízo? Talvez. Ela tinha acabado de completar vinte e dois anos e sua única amiga de verdade era uma garota de treze.

—Vão me deixar entrar?— Sarah perguntou estranhando.

—Você confia em mim?

—Claro!— a mais nova estava quase ofendida.

—Então não se afaste mais do que meu braço pode alcançar.— Shelly empurra o cotovelo no braço dela, estava divertida e animada em uma de suas poucas noites de folga.

—Deixa eu ver até onde posso ir.— Sarah murmurou estendendo o braço da mais velha, que soltou uma bela risada.

Depois de uma caminhada, onde o que mais se viam eram pessoas, adultas ou crianças, fantasiadas, elas chegaram ao bar. Não era dos mais cotados, mas havia uma banda nova que iria se apresentar, tecia bons comentários por aí. Shelly havia ficado interessada ao ouvir sobre de um dos clientes da tarde. Não resistindo de curiosidade, acabou arrastando Sarah para seu primeiro "show". Claro que não seria nada grandioso, além do mais ambas não tinham dinheiro. Shelly estava economizando, ainda não sabia se tentaria entrar na universidade futuramente. Nem mesmo pode se candidatar na comunitária, ela ficou órfã e com poucas opções. Tinha que trabalhar ou não sobreviveria, o que apenas a fez ver seus sonhos se distanciarem a cada tarde, como o sol se despedindo do horizonte.

O lugar não tinha seguranças ou algo assim, a entrada de Sarah foi tão fácil como no estabelecimento de quinta que sua mãe trabalhava. O ambiente cheio e as luzes amenas e o som de cacofonia provocado pelos cabos conectados a caixas de alto-falantes. Ambas tentaram tapar os ouvidos, entretanto, sorrindo. Sim, era só mais um indicativo que chegaram na hora certa. A apresentação logo iria começar.

Se direcionaram para um canto vazio no bar. Pela lateral, conseguia uma visão distante do palco. Cinco caras estavam se posicionando enquanto algumas notas eram tocadas esporadicamente dos instrumentos.

—O que vão querer?— um homem mal encarado e rechonchudo perguntou do outro lado do balcão.

—Refrigerante?!— Sarah comentou meio insegura olhando para Shelly, que estava mais preocupada com o homem com cara fechada observando a mais nova.

—Algum problema?— Shelly ousou.

—Só essa noite já vi uns quatro adolescentes aqui.— murmurou com cara fechada indo para o fundo pegar as bebidas.

Shelly conseguiu relaxar um pouco. Se até agora não foram expulsas, era um bom sinal. O homem voltou com duas garrafas de vidro com refrigerantes e destampou com o pequeno abridor de garrafas, preso na madeira da bancada por uma cordinha branca.

—Obrigada.— responderam juntas. Shelly passou a mão no alto dos cabelos da Sarah. Ela não era muito fã de receber essa ação, mas com Shelly era diferente. Sabia que não era algo para inferiorizar, mas uma demonstração de carinho explicito, algo que valorizava ao extremo.

—Aqui é a Hangman's Joke e vamos agitar o seu Halloween!— o vocalista diz animado no microfone.

Sarah olha eufórica para Shelly. Esse seria o melhor dia das bruxas que a pequena passava. Depois da garçonete aparecer em sua vida, tudo havia mudado. Era como se a vida tomasse um sentido mais feliz. Para Shelly, um novo sentido surgiu, além de se manter viva. Mesmo que estivesse para desistir de tudo que um dia desejou, ela sabia que podia fazer por alguém o que não teve a oportunidade e tinha mais motivos para sorrir com a mais nova sempre perto.

Ambas estavam animadas tentando acompanhar as músicas, ainda, desconhecidas. Riam e dramatizavam as canções. Mesmo em público e com tanta gente no local, Shelly se deliciava em escutar a voz grave e rouca, hora ou outra, no final de frases ou palavras soltadas na música. O rock nunca pareceu tão atrativo para ela. As letras sentidas, a emoção na voz e todo aquele ambiente a faziam arrepiar hora ou outra dependendo da entonação do vocalista ou o toque instrumental mais forte ou progressivo. O que destonava em relação a empolgação pura da Sarah.

Cansadas no final da apresentação, sentaram nos bancos altos do bar.

—Isso foi incrível!— Sarah praticamente grita para a mais velha.

—Eu sei!

—Fico agradecido pelo elogio.— uma voz soa atrás delas, que ao se virarem dão de cara com o vocalista da banda.

As duas se calaram e olharam entre si. Não sabiam o que fazer até Sarah se soltar:

—Você foi demais.— comentou. —Quem escreve as músicas?

Shelly ficou curiosa e o cara a sua frente sorriu de lado. Ela o achou atraente, com seus cabelos castanhos compridos, olhos levemente puxados e um queixo másculo; entretanto sabia que cara nenhum se aproximava dela. Ainda mais com uma garota de treze anos a tira colo.

—Eu as escrevo.— respondeu orgulhoso.

—Querem mais alguma coisa?— o mesmo homem de antes encarava os três.

—Uma água, Broke.— o grandalhão virou-se emburrado. —E se puder...- continuou fazendo o homem parar. —coloque um limão dentro.

—Não seja abusado, Draven.— o homem murmurou por cima do seu ombro.

—Você o conhece?— Sarah questionou curiosa.

—Sim, toco aqui com frequência.— sorriu e olhou para Shelly. —Posso me sentar?— apontou para uma banqueta ao lado dela.

—Não tem porque não.— ela deu de ombros.

—Ele é sempre assim?— Sarah insistiu.

—Quem?— ele perguntou confuso, desviando os olhos da mais velha.

Sarah olhou assustada para o homem mau encarado quando ele retornou, pousando o copo com certa ignorância na frente do vocalista.

—Muito obrigado.— agradeceu com um amplo sorriso, fazendo Shelly prender a respiração. Ele deu alguns goles e quando o homem estava longe ele falou em um tom médio. —Estava falando dele?— apontou.

—Não faça isso.— Shelly abaixou a mão dele, não queria problemas com aquele cara.

—O que?— ele tirou sua mão da dela, mesmo gostando do contato. —Isso?— e voltou a apontar com o polegar.

—Exatamente.— murmurou nervosa, fazendo a mesma ação de antes e o viu soltar uma risada.

Ela corou e só então percebeu que segurava a mão dele, soltou-a.

—Esse é o natural dele.— murmurou dando outro gole.

Sarah fez uma leve careta, enquanto Shelly se recuperava de sua vergonha.

—A propósito, qual o nome das senhoritas?— sorriu galante.

—Eu sou a Sarah- a mais nova começou e em seguida apontou —e ela é a Shelly.

No fim das contas estava provado o quão falante a Sarah era com a segurança que a presença de sua amiga passava. Além do mais, nem ela ou vocalista não ligavam para os modos cordiais.

—Você não disse o seu nome.— Shelly ousou. A frase saiu de sua boca num impulso, mas esse fato não fez o sorriso daquele cara ser menor.

—Me chamo Eric Draven.— ele centrou seus olhos nos dela para responder.

Eric Draven, um cara sonhador. Podia-se dizer duas coisas dele em um primeiro olhar: um playboy ou um arruaceiro, mas não era nenhuma delas. Por mais que escondesse tudo atrás de seu sorriso. Em seus vinte e quatro anos, trabalhando em um restaurante chinês, onde dormia, e fazendo bicos, como o show dessa noite, ele se virava. Estava contente com o resultado da banda que formou com seus amigos. A marca deles começava a correr pelas ruas de Detroit, era apenas o primeiro degrau na escada do sucesso que deseja subir.

—Eric!– um de seus amigos o chamou ainda aproximando-se com o resto da banda. —Vamos andar até aquela festa que te falei. Vai com a gente?— o amigo perguntou desconfiado ao olhar para Shelly, sentada ao lado dele.

—Não vai dar.— ele deu o mesmo sorriso convencido seguido de uma feição dramática. -Ao menos tenham a decência de guardar os instrumentos.

Entregou a chave, parecia ser de um carro, ao amigo, que o olhou com um sorriso de canto.

—Tudo bem, vamos lá galera!— disse dando meia volta com os caras, que hora ou outra viraram para trás e cochichavam algo.

—Você não vai apresentar a banda?— Sarah perguntou curiosa.

—Talvez um dia, baixinha.

—Eu ainda vou crescer.— revirou os olhos.

—Acho que está na nossa hora de ir.— Shelly pronunciou após um minuto de silêncio.

—Posso dar uma carona.— ele se ofereceu.

—Acho melhor não.

—É mais seguro que andar sozinha com uma criança.— ele argumentou.

Sarah mostrou os dentes da dentadura de plástico, já reposicionada em sua boca. Era algo cômico de se ver.

—Tudo bem.— Shelly se deu por vencida.

Era melhor se arriscar a sair com esse cara que pelo menos tinha referências a ficar abandonada à própria sorte com Sarah. Só agora ela havia compreendido o quão arriscado era trazê-la àquele bar numa noite de Halloween.

—Mas tem uma condição...

—Qual?— Shelly desconfiou.

—Eu quero o seu telefone.

Ela parou um segundo para pensar no caso.

—Eu não tenho onde anotar...— disse tentando sair daquela situação.

—Sem problema.— ele molhou os lábios antes de aumentar o tom de voz sem desviar o olhar de Shelly. —Broke!

—O que é agora?— reclamou o gordo mal-humorado.

—Preciso de papel e caneta.

Resmungando horrores, Broke fez o que pediu.

—Você me deve mais essa, Draven.— empurrou uma folha amassada e uma caneta com a tampa rachada para o meio deles. —Ande logo, não tenho a noite toda.

Eric acenou para ela em direção ao papel. Shelly o pegou meio incerta e anotou o número fixo de sua casa. Pensou seriamente em escrever errado de proposito, mas algo dentro dela a impediu.

—Vamos lá?— ele perguntou a ela com a mão estendida.

—Só vou entregar quando nos deixar em casa.— Shelly disse abraçando a mais nova.

Ele estreitou os olhos.

—Justo.


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Notas finais do capítulo

Xo Xo
Beijos da raposa!



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